quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O rei está nu


Wikileaks e a comunicação proporcionada pela nova mídia contribuem para a criação de uma democracia de fato
  
Pedro Carrano, 
de Foz do Iguaçu (PR)


A página criada por Julian Assange, em 2006, na Suécia, ao expor mais de 250 mil documentos de vários Estados e embaixadas, revelou que vivemos em sociedades mal informadas, o que aumenta a demanda por uma democracia real e por mais transparência – dentro do raciocínio do jornalista Ignacio Ramonet.
Hoje, o grupo suspendeu suas atividades em busca de recursos, após o bloqueio feito pelas operadoras de cartões de crédito Visa, Mastercard, Paypal e Bank of America, em clara retaliação por parte de empresas e governos ao projeto. “Esse é provavelmente o mais forte ataque que Wikileaks sofreu (...) isso nunca aconteceu antes. Nós abrimos um sistema que esperamos nos traga nova informação para expor a corrupção”, disse o jornalista islandês Kristinn Hrafnsson durante o encontro.
Os idealizadores do Wikileaks se revelaram desapontados com a mídia corporativa dos países centrais, caso dos periódicos Der Spiegel (Alemanha), The Guardian (Inglaterra), El País (Espanha) e Le Monde (França), uma vez que nenhum deles mostrou interesse em estabelecer uma parceria na divulgação das informações. “A grande mídia não está acostumada a trabalhar junto, estão muito próximas aos governos, trabalhamos com organizações independentes, mais críticas, com bloggers”, narra, quem particularmente se revelou desapontado com o jornal New York Times (EUA), tido como um periódico de esquerda nos EUA.
As resoluções finais do I Encontro Mundial de Blogueiros se posicionaram contrárias a perseguições no espaço digital. “Os participantes condenam o processo de judicialização da censura e se solidarizam com os atingidos. Na atualidade, o WikiLeaks é um caso exemplar da perseguição imposta pelo governo dos EUA e pelas corporações financeiras e empresariais”, diz o documento final do encontro.

Desenvolvimento tecnológico e mudanças sociais

Numa conjuntura mundial pós-11 de setembro de 2001, marcada pelas invasões dos EUA e o bloco de países aliados contra o Afeganistão, Iraque e, recentemente, Líbia, o monopólio daqueles governos não foi apenas o de decidir sobre a guerra, mas também dominaram tudo o que se registrou sobre os conflitos. “Até poucos anos atrás, a CNN dominava a informação e hoje em dia está em crise e pode ser que desapareça. Perderam o monopólio da informação”, defende o jornalista Ignacio Ramonet, fundador do jornal Le Monde Diplomatique, em sua conferência durante o Primeiro Encontro Mundial de Blogueiros.
Hoje, com novos atores presentes nos blogs, redes sociais e páginas web, esse monopólio se acabou, o que provoca um stress nos meios tradicionais, de acordo com Ramonet. O jornalista espanhol faz a distinção entre o que seriam os “novos meios” frente à crise dos “meios tradicionais”. Nesse contexto, os Estados autoritários apresentam maiores dificuldades para controlar a informação.
Ramonet defende que os próprios profissionais jornalistas, frente a esses novos atores, enfrentam uma crise de função. “Os novos meios já não funcionam com a lógica dos meios tradicionais, do jornalista que busca só a informação. Estamos avançando para uma democratização da comunicação, não cabe dúvida de que temos avançado. A inteligência coletiva é superior à proeza individual, que é a lógica dos meios tradicionais”, polemiza.
Esse cenário gera um impacto sobre todo o ramo e a produção de informações, uma vez que observa-se hoje a “Produção de notícias com milhões de voluntários. O preço da informação abaixou enormemente, substituiu-se os jornalistas pelos blogueiros gratuitos (…) há um proletariado – e um mercenariado – do saber e da notícia, graças aos meios super abundantes”, afirma Ramonet, reconhecendo que esse quadro não é necessariamente sinônimo de liberdade de expressão. “São empresas (caso do Facebook) cotizadas na bolsa, se nutrem da nossa energia comunicadora, assim como as empresas telefônicas. Quanto mais nos comunicamos, mais enriquecemos os grandes conglomerados”, analisa Ramonet.
Na medida histórica, Ramonet defende que a atual revolução nos meios de comunicação em décadas recentes é algo só comparado ao que significou a invenção da imprensa por Gutemberg (1453). “Os câmbios estruturais na comunicação sempre repercutem nos câmbios na sociedade”, diz.

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