quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Educadores criticam conceito de sustentabilidade no FST


Alessio Surian, da COFIR, em sua palestra | Foto: André Carvalho/Sul21

Vivian Virissimo no SUL21

No segundo dia do Fórum Mundial de Educação, educadores da Itália, Espanha e Burkina Fasso debateram na manhã desta quarta-feira (25) novas estratégias de educação não formal que questionem o modelo capitalista de desenvolvimento. Também criticaram as noções de sustentabilidade difundidas pelas empresas que, na visão deles, confundem o debate ambiental. Eles apresentaram metodologias diferentes de intervenção política e social para abordar o impacto das mudanças climáticas e suas consequencias para o planeta. O Fórum Social Temático (FST) é uma etapa que antecede as atividades da Cúpula dos Povos que será realizada durante a Rio+20 em junho no Rio de Janeiro.
Com o tema Justiça Ambiental: as práticas educativas para a construção de um mundo possível, o primeiro painelista, o italiano Alessio Surian, da COFIR, começou ressaltando a necessidade de superar o conceito de “sustentabilidade” para que sejam construídas políticas que garantam de fato a justiça ambiental. Ele também falou da necessidade de reconhecimento das diferentes formas de educação, que não se reduzem aos espaços da escola para difundir e estimular momentos de aprendizagem críticas. “É necessário fazer uma ponte entre educação formal e não formal. Sempre, quando falamos em educação, o assunto é reduzido à escola e há muitos lados negativos quando se tem um monopólio dos processos”, falou o italiano.
O espanhol Fernando Ballenilla da Red Ires contou a experiência de um coletivo de professores que trabalham a educação contrapondo o conceito de sustentabilidade com a temática do esgotamento dos combustíveis fósseis. “Estudando sobre o assunto e vimos que a escassez dos combustíveis de petróleo não poderia cobrir o modelo de civilização que nós tínhamos. Estamos numa crise ambiental e de recursos, que é sobretudo uma crise capitalista”, destacou. O professor também comentou que a produção de biocombustível também terá impactos drásticos na produção de alimentos no mundo com a crescente destinação da terra para produção de biocombustíves. Para ele, o debate sobre sustentabilidade é falso, uma vez que a sustentabilidade passa por frear o crescimento dos países e isto não estaria acontecendo.
“Seriam necessários três mundos para que toda a população mundial vivesse como um europeu e cinco como um estadunidense. A situação da natureza é desastrosa. Dizer que estamos trabalhando pela sustentabilidade é dizer que temos que decrescer e neste momento não estamos numa situação de sustentabilidade, pois estamos mantendo e até superando as taxas de crescimento. Como podemos ser sustentáveis se estamos crescendo?”, questionou.
Aminata Boyle contou sua experiência como educadora popular na formação de comunidades nômades de Burkina Fasso. Ela trabalha numa organização não governamental com o conceito de justiça ambiental com os indivíduos desta comunidade que têm suas atividades tradicionais afetadas pelas mudanças climáticas. No dia-a-dia com os integrantes da comunidade, Aminata contou que trabalha com a teoria do brasileiro Paulo Freire e com metodologias da Ong suíça Crianças do Mundo. “Processos educativos devem levar em conta a dimensão humana destas comunidades e sua cultura milenar. Para termos uma educação inclusiva temos que adorar estratégias com reflexão critica sobre as questões ambientais”, contou.

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