terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Irã deixa de exportar petróleo para França e Inglaterra


A decisão iraniana é mais simbólica do que prática e terá pouco impacto nas importações de petróleo dos dois países. Mas a medida tem impactos indiretos. Em primeiro lugar sobre os preços mundiais e, em segundo, sobre a tensão que reina no estreito de Ormuz, por onde trafega hoje 35% do petróleo mundial que circula por via marítima, ou seja, um total de 15 milhões de barris diários. A produção iraniana representa entre 4 e 5% da produção mundial de petróleo. O artigo é de Eduardo Febbro.


O Irã fechou a válvula do petróleo que vendia para a França e a Inglaterra, em represália pela pressão insistente com que Paris e Londres fazem sobre Teerã e pelo embargo ao petróleo iraniano decidido em janeiro passado pelos 27 países da União Europeia. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores iraniano, Alireza Nikzad, declarou que “o Ministério do Petróleo cessou suas vendas ás empresas britânicas e francesas”. Nikzad precisou que “planejamos fornecer nosso petróleo a outros clientes”.

A decisão iraniana é mais simbólica do que prática e terá pouco impacto nas importações de petróleo da França. Em 2011, estas importações alcançaram 58 mil barris por dia, o que equivale a 3% das necessidades francesas. Jean Louis Schilansky, presidente da União Francesa de Indústrias Petroleiras, disse que a medida iraniana “não tem consequências práticas diretas”. Ele afirmou também que a França havia “parado de importar petróleo iraniano desde 2011”. A Inglaterra se encontra em uma situação similar.

No dia 23 de janeiro, a União Europeia decretou um embargo “gradual” sobre o petróleo proveniente da república islâmica, que deve entrar em vigor no próximo dia 1º de julho. A UE também decidiu sanções contra o Banco Central iraniano, com a meta de frear o financiamento do programa nuclear do Irã. Os novos contratos petroleiros com Teerã foram de fatos proibidos pelos europeus com efeito imediato. Na semana passada, os embaixadores de seis países europeus – França, Itália, Grécia, Portugal, Espanha e Holanda – foram “convidados” pelo Ministério de Relações Exteriores iraniano. Os representantes diplomáticos receberam uma advertência sobre as consequências da suspensão dos contratos petroleiros.

A pressão repercutiu de imediato no preço do petróleo que chegou ao seu nível mais alto desde maio de 2011. Se a maioria dos especialistas descartam que a medida iraniana tenha consequências diretas nos países envolvidos, os mesmos coincidem em assinalar o impacto indireto da mesma. Em primeiro lugar sobre os preços mundiais e, em segundo, sobre a tensão que reina no estreito de Ormuz, por onde trafega hoje 35% do petróleo mundial que circula por via marítima, ou seja, um total de 15 milhões de barris diários.

A produção global iraniana representa entre 4 e 5% da produção mundial. Segundo país da OPEP, o Irã produz 3,5 milhões de barris diários, dos quais exporta 2,5 milhões. Cerca de 20% do petróleo iraniano é vendido aos países da União Europeia (600 mil barris por dia), principalmente Espanha, Italia e Grécia, e 70% vai para a Ásia. Os países mais afetados pela resposta iraniana à pressão da União Europeia são Grécia, Itákia e Espanha, que cobrem 14% de sua demanda de petróleo com importações do Irã. Os sinais vermelhos acenderam em vários pontos. A mecânica de sanções e contra-sanções é um degrau a mais de uma larga série de provocações de ambas as partes. A onda de sanções que emanam desde os centros de poder levou o Irã a ameaçar fechar o estratégico estreito de Ormuz.

Além disso, Teerã enfrenta uma outra frente de pressão com Israel. Tel Aviv esfrega as mãos com a ideia de lançar um ataque punitivo contra o Irã, o que, segundo essa lógica, restauraria sua já desgastada legitimidade regional. Ambas as capitais protagonizam uma controvérsia aberta com acusações cruzadas, cujo último capítulo foram os atentados contra diplomatas israelenses na índia, Georgia, e Tailânda. Israel responsabilizou o Irã por esses ataques sem apresentar prova alguma.

Os ocidentais e Israel continuam denunciando o programa nuclear iraniano. Segundo Teerã, este não tem fins militares, mas para os ocidentais o enriquecimento do urânio e a velocidade com que Teerã desenvolve sua estrutura nuclear só tem uma explicação, e é militar, o que é negado pelo Irã. O cenário parece já montado com vistas a uma confrontação militar. Washington não podia ser mais explícito quando pediu a Israel que não realizasse uma ação militar “prematura”. Os lobos mostram os dentes: sanções, acusações e ameaças. Pela segunda vez no ano, e na história da república islâmica instaurada em 1979, o Irã despachou barcos de guerra para o Mediterrâneo.

Tradução: Katarina Peixoto

Um comentário:

InfoMapps disse...

Muito bom seu blog, continue assim.
InfoMapps
http://www.infomapps.com/