Nepal - Diário Liberdade
- A história do idioma kusunda lembra a do galego-português da Galiza.
Numa situação mais extrema, também o povo que o falava foi levado a
pensar que "não servia para nada".
No Nepal registam-se dezenas de línguas e etnias ainda vivas, entre
os quais o idioma Kusunda vai viver tanto tempo como a sua derradeira
falante, Gyani Maiya Sen. Trata-se de uma aldeã de 75 anos que possui
nela todo o património milenar do seu povo, depois de que
progressivamente os seus e as suas compatriotas abandonassem o idioma
próprio.
Há outras pessoas que sabem algumas palavras ou expressões, mas
nenhuma que o fale fluentemente, como sim faz Gyani Maiya Sen, que
mantém a prática lingüística apesar de não ter com quem falar em língua
kusunda, que para além de nom ter mais falantes constitui um idioma
isolado, sem parentesco conhecido com as restantes línguas do Nepal.
Gyani Maiya Sen pertence a um povo das florestas nepalesas,
historicamente desprezado pelas etnias maioritárias, o que levou as
pessoas a abandonarem progressivamente o idioma próprio, que "não servia
para nada", e a aprenderem o idioma do poder, o nepalês, por sua vez
pertencente à família indo-ariana e falado, além de por 17 dos 29
milhões de habitantes do Nepal, em regiões do Butão, da Índia e de
Mianmar (antiga Birmânia).
Dezenas de línguas e grupos étnicos dentro das fronteiras nepalesas
No Nepal, coexistem mais de cem grupos étnicos que falam dezenas de
idiomas, a maioria pertencente às famílias linguísticas sino-tibetana,
indo-europeia, austro-asiática e dravidiana.
Mas o kusunda parece estar fora dessas categorias, sendo uma língua
isolada, tal como o idioma basco e o coreano, para só referirmos um
exemplo europeu e um outro também asiático.
'É uma língua estranha, mas gosto de aprendê-la. Tem alguns sons
guturais, como os que se encontram no árabe e no turco', descreve o
professor Gautam Bhojraj, estudioso nepalês da língua kusunda, só
descoberta por ocidentais em 1995, por um antropólogo austríaco, mas
desde esse momento bastante estudada e catalogada.
Para Gautam, o problema é que a última falante de kusunda tinha
começado a esquecer a sintaxe e a morfologia, e também não tinha os
contextos necessários para pôr sua língua em prática. 'Se perguntarmos a
alguém como se diz uma palavra específica em sua língua, ela talvez não
consiga responder, mas a palavra certamente aparecerá quando precisa
ser usada no contexto apropriado'.
Os contextos de Gyani Maiya eram os que lhe proporcionava sua mãe até
sua morte, já faz 25 anos: ambas usavam o kusunda apenas quando
precisavam dizer algo sem que as demais pessoas presentes entendessem. O
último estertor 'natural' do kusunda, portanto, funcionou como uma
espécie de código secreto.
Com Agências, Wikipédia e Chuza!
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