Com 95% dos votos contados, os resultados mostram
que o Nova Democracia e o PASOK terão obtido 32%. O líder do Syriza, a
coligação de esquerda que quadriplicou os votos e alcança o segundo
lugar na eleição, propõe um governo de esquerda para romper com o
memorando e diz que "Merkel tem de perceber que as políticas de
austeridade sofreram uma grande derrota". Resultados na Grécia são um
“sinal importante que o povo grego dá à Europa”, afirmou a eurodeputada
do Bloco Marisa Matias. (Notícia em atualização.)
Alexis Tsipras na declaração da noite eleitoral. Foto Orestos Panagioutu/EPA
O resultado das eleições gregas representa um autêntico terramoto
político: os dois partidos da troika (Nova Democracia e PASOK) sofreram
uma queda acentuada em relação às eleições de 2009, com os socialistas a
baixarem 30% e os conservadores 14%. A coligação Syriza, que se opõe ao
memorando da troika, confirma-se como a segunda força política grega e a
primeira da esquerda. Alexis Tsipras, o líder da coligação, diz que o
resultado de hoje mostra que os gregos e os europeus querem "cancelar o
memorando da barbárie" a que a troika tem sujeitado o seu país nos
últimos anos. Quando os líderes políticos fizeram as suas declarações,
havia incerteza sobre se os partidos apoiantes do memorando serão
minoritários no parlamento grego - mesmo com os 50 deputados que são
automaticamente atribuídos ao partido vencedor, a Nova Democracia. Na
sua declaração aos apoiantes, Tsipras propôs a formação de um governo de
esquerda e disse que esta eleição é "uma mensagem de derrube" do
governo da troika.
"A nossa proposta é a de um governo de esquerda que, com o apoio do
povo irá recusar o memorando e pôr fim ao rumo pré-determinado do país
para a miséria", afirmou Tsipras, que disse estar certo que a subida
meteórica do Syriza não se deve a uma pessoa ou partido em especial, mas
a esta proposta que repetiu na campanha eleitoral. A coligação parceira
do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu e no Partido da Esquerda
Europeia - de que Tsipras é vice-presidente - venceu as eleições em onze
círculos eleitorais, incluindo a capital Atenas.
O líder do PASOK falou antes de Tsipras e reagiu à derrota histórica
- o partido deve perder mais de dois terços dos votos que teve na
última eleição - dizendo que procurará formar um governo com os partidos
que apoiam o memorando. Evangelos Venizelos disse estar certo que os
resultados deste domingo "excluem o velho sistema dos dois partidos" no
governo.
Antonis Samaras, líder do partido mais votado, reagiu aos resultados
conhecidos com duas condições para dar início à formação do governo: a
manutenção do euro e a mudança das políticas do memorando da troika para "ter crescimento e dar alívio à sociedade grega".
Os resultados eleitorais - numa altura em que estão contados 96% dos
votos - dão 19% para a Nova Democracia, 16,7% para o Syriza, 13,3%
para o PASOK, 10,5 para os Gregos Independentes, 8,4% para o KKE (PC
grego), 6,9% para os neonazis da Aurora Dourada e 6,1% para a Esquerda
Democrática. A extrema-direita do LAOS, que participou e depois rompeu
com o governo da troika, não deverá eleger deputados, obtendo 2,9%. A
abstenção está estimada em 35%. A Nova Democracia vence em 38 círculos
eleitorais e o Syriza em 13, mas a coligação de esquerda ganha nos mais
populosos, incluindo todos os que elegem mais de dez deputados. O PASOK
ganha as eleições em quatro círculos e o KKE sai vencedor em apenas um.
Em comunicado, o KKE já veio rejeitar a proposta do Syriza,
classificando esta força de social-democrata e acusando-a de servir para
impedir a radicalização da sociedade grega. Para a secretária-geral
Aleka Papariga, o resultado do partido não foi uma surpresa, mas a
distribuição dos votos indica que o KKE não conseguiu mobilizar o
sentimento antitroika do povo grego desta eleição, nem mesmo nos
tradicionais bstiões eleitorais comunistas, perdendo votos nas zonas
urbanas, onde disputa deputados com os neonazis. O surgimento em força
da Aurora Dourada - sobretudo no voto urbano e nos bairros populares -
veio abalar a política grega.
Resultados na Grécia são um “sinal importante que o povo grego dá à Europa”
“Já felicitámos o dirigente e o candidato da coligação de esquerda,
com quem temos excelentes relações e com quem temos feito um caminho
conjunto no sentido de combater esta Europa de austeridade”, informou
Marisa Matias.
A eurodeputada do Bloco de Esquerda considera que, com estes
resultados, o povo grego “rejeitou a deriva neoliberal de austeridade”.
“O que é muito importante porque é um sinal claro de que o povo grego
está aberto a que outras propostas surjam, que não sejam sempre neste
mesmo caminho”, disse, sublinhando ainda que “rejeitou uma outra, de
rejeitar o projeto europeu, porque a Europa pode ser outra coisa”.
Para Marisa Matias, porque “nunca colocaram a hipótese da saída do
Euro, nem da União Europeia, mas antes lutaram por um projeto europeu
que seja mais solidário e mais consistente”, os gregos dão “um sinal
muito importante quer à Europa, quer a Portugal”, que está “numa
situação muito semelhante à da Grécia”.
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