Rachel Duarte no SUL21
Ao completar 500 dias, as gestões da presidenta Dilma Rousseff (PT) e
do governador gaúcho Tarso Genro (PT) receberam críticas públicas de
sindicatos de diversas categorias em um ato unificado realizado no Rio
Grande do Sul. A manifestação ocorreu em frente ao Palácio Piratini
desde as primeiras horas desta segunda-feira (14) e durou toda a manhã. O
carro de som e centenas de manifestantes fecharam a Rua Duque de Caxias
e gritavam palavras de ordem cobrando compromissos de campanhas dos
gestores públicos e criticando medidas adotadas pela União e o governo
Tarso em relação aos servidores públicos.
Diversos cartazes expressavam problemas comuns na esfera federal e
regional, na avaliação dos sindicatos. Como o não cumprimento dos
índices mínimos constitucionais em saúde e educação. No âmbito nacional,
os protestantes acusavam o governo Dilma de desonerar a folha de
servidores e priorizar terceirizações e privatizações nas ações de
gestão. Já no caso do governo gaúcho, a cobrança era pelo não pagamento
das RPVs, elevados juros do Banrisul, sucateamento do Instituto de
Previdência do RS (IPE) e o já conhecido grito dos professores pelo não
pagamento do piso nacional do magistério.
“O Tarso que tanto quis subir nos caminhões dos movimentos sociais
durante a campanha eleitoral, completa 500 dias do segundo ano de
mandato com reajustes e aumentos de Cargos em Comissão e benefícios de
isenções fiscais para os empresários”, comparou o presidente da
Associação dos Servidores da Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do
Sul – ASCE, Érico Côrrea.
A mini-reforma da previdência apresentada pelo executivo gaúcho ainda
no ano passado e que foi novamente enviada para aprovação do
legislativo gaúcho, alterando aumentando a alíquota da previdência para
13,5%, também esteve na lista de reinvidicações levadas na porta do
governador Tarso Genro.
“Um, dois, três, quatro, cinco, mil. Ou param as reformas ou paramos o
Brasil”, gritavam os servidores oriundos de diversas localidades do
estado. Os líderes do ato salientavam dos microfones do carro de som às
12 horas de luta de algumas classes trabalhadoras que vieram de São
Borja e outros locais distantes de Porto Alegre. Aos que entravam no
Palácio Piratini, os manifestantes mandavam recados ao governador. “CCs
entram a essa hora para trabalhar
(quase 10 horas). Operários estão de pé desde as 5 da manhã. E, os
reajustes só saem com muita luta”, disse a porta-voz do carro de som.
Contra auxílio-moradia de juízes
O recente reajuste aprovado no Tribunal de Contas do Estado do Rio
Grande do Sul (TCE-RS) que permite o pagamento de auxílio-moradia aos
juízes ainda não foi digerido pelo Sindicato dos Servidores da Justiça
no RS (Sindjus-RS). Presentes no ato, os sindicalistas criticaram o
direito concedido aos magistrados de receber R$ 115 mil de auxílio
moradia. O valor é distribuído de forma parcelada ao longo dos meses
sobre um salário que já está dentre os mais altos do Estado.
“Enquanto isso nos sobra o arrocho salarial, um rombo na previdência e
rotineiras práticas de assédio moral no judiciário. Somos explorados
com um volume de demandas humanamente impossível de vencer nos cartórios
na mesma velocidade que os despachos são feitos nos gabinetes dos
juízes. Recorrentes casos de lesões físicas por esforço repetido são
registrados e nos acusam de fazer corpo mole para o trabalho”,
exemplificou o sindicalista Osvaldir da Silva.
Um governo ainda fora da lei
A principal motivação do ato unificado de algumas centrais sindicais
foi atender a convocação do Cpers/Sindicato que organizou um dia
estadual de paralisação para esta segunda-feira (14). A data é
considerada marco por completar 500 dias do governo gaúcho, que ainda
não cumpre os critérios da Lei Nacional do Piso do Magistério no estado.
Uma solução parcial e provisória para adequar o Rio Grande do Sul à
lei federal assinada por Tarso Genro quando era ministro da Justiça foi
proposta pelo governo estadual no final de abril. Em acordo com o
Ministério Público Estadual do RS, a proposta foi o pagamento de uma
parcela complementar a 20 mil professores que ainda não recebem R$
1.451, valor estipulado como piso nacional da categoria. “Eles sentam às
escondidas e depois apresentam um acórdão já assinado e homologado e
explicando como eles pretendem fazer para não pagar o piso e atacar as
nossas carreiras. Servidores do MP com salários de R$ 24 mil se acharam
no direito de sentar com o goverandor para definir como um governo não
cumprirá uma lei que irá afetar e trazer consequências para os
trabalhadores”, acusou a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira.
Como a medida proposta como pagamento parcial do piso não irá incidir
sobre o plano de carreira do magistério, Rejane alegou que o sindicato
dos professores não irá permitir “que um órgão público como o MP-RS, que
deveria garantir a legislação, se atrele ao executivo para legitimar
artimanhas para o descumprimento da lei do piso”.
De acordo com a legislação federal, em seu artigo quinto, o piso deve
ser reajustado anualmente tendo como base o custo por aluno do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb). Entretanto, o governo gaúcho sempre
reitera que o piso dos professores deve ser corrigido pela variação da
inflação, calculada pelo INPC.
Para ilustrar o discurso dos dirigentes sindicais, falas do
governador Tarso Genro quando ainda era candidato nas eleições de 2010,
em debates com as categorias, foram reproduzidos no carro de som. “Eu
estou formalmente, politicamente e moralmente comprometido com o piso
salarial dos professores”, ouvia-se Tarso dizer em uma dessas gravações,
onde o agora governador acrescentava que “a lei que instituiu o piso
teve o seu parecer de constitucionalidade no ministério da Justiça,
quando eu era ministro, e essa lei leva a minha assinatura”.
Ao final da reprodução da fala de Tarso Genro um coro de vaias foi feito em frente ao Palácio Piratini.
“É um governador que não honra o que disse e escreveu ao Cpers. Que
vergonha para o nosso estado ter um governador que coloca um conjunto de
projetos em regime de urgência para evitar debate com o serviço
público. Por isso que estamos aqui para marcar os 500 dias de um governo
fora da lei que não cumpre o que prometeu. Se alguém tinha ilusão que
este governo iria ser de palavra, agora já sabe”, afirmou Rejane.
Ao final do protesto, os manifestantes soltaram balões pretos
simbolizando o luto em relação aos 500 dias dos governos Dilma e Tarso.
Antes de deixar os materiais e voltar aos municípios de origem, os
sindicalistas se comprometeram em retornar ao Palácio Piratini para
novas manifestações. Por parte do Cpers, no dia 30 de maio está
organizada uma redução nos horários nas escolas estaduais.
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