Por Martín Granovsky, do Página 12 via SUL21
O presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, não pretende cruzar
os braços após sua derrubada do poder no país. Oficialmente, Federico
Franco, ex-vice de Lugo, está no comando do país, mas,
extraoficialmente, o agora ex-presidente vem mantendo articulações
locais e internacionais para tentar retornar ao palácio presidencial.
Em entrevista concedida na noite de domingo (24) ao jornal argentino Página 12,
Lugo conta que está conversando com cidadãos, com líderes sindicais e
políticos, e que ainda mantém unido o primeiro escalão de seu governo. O
ex-presidente também justifica a reação pacífica que adotou ao que
qualifica como “golpe de Estado parlamentar”. “Nos submetemos ao
impeachment e aceitamos o veredito para evitar derramamento de sangue”,
explicou.
Página 12 – Franco diz que o senhor é o responsável por
qualquer represália externa que o Paraguai possa receber. Que só o
senhor pode evitar os conflitos internacionais.
Fernando Lugo – Cospem em você e ao mesmo tempo
dizem que você é bonito. Não são castigos ao Paraguai. Estamos diante de
um grande movimento de solidariedade internacional no qual participa o
teu país também. A Argentina é um país irmão, um vizinho muito próximo
que conhece muito bem a realidade paraguaia.
Página 12 – Retirou o embaixador Rafael Romá.
Lugo – A Argentina fez o que, dentro de sua
soberania, considerou que seria útil para a liberdade e a soberania de
um país que quer a democracia como o Paraguai.
Página 12 – E se a solidariedade ao Sr. se converter em problemas para os cidadãos, como o senhor reagirá?
Lugo – Lamentavelmente, muitos inocentes podem
sofrer as consequências. Eu quero o melhor para o Paraguai e por isso
repudio o atual regime.
Página 12 – Na madrugada de domingo, em frente à sede da
televisão pública, o senhor defendeu uma resistência pacífica. Essa será
a tática?
Lugo – Sim, já começamos a resistência pacífica e um
não reconhecimento da Presidência que se instalou depois do golpe de
Estado parlamentar. E já é possível ver as manifestações de cidadãs e
cidadãos, elas existem e são crescentes e pacíficas. Se expressam contra
o que o Parlamento decidiu naquela sexta-feira negra. Também faremos
uma reunião de gabinete.
Página 12 – Quando?
Lugo – Às 6h (desta segunda-feira, 25). Todos os
meus colaboradores que integravam o gabinete ministerial quando
estávamos no governo irão participar.
Página 12 – Quando o senhor se despediu dos chanceleres da Unasul, disse a eles que voltaria ao seu trabalho político nas bases.
Lugo – E já começamos a fazer isso. Vamos unir forças com os movimentos sociais e os sindicatos.
Página 12 – Sempre dentro da lógica da não violência?
Lugo – Sim, sempre.
Página 12 – Por isso na sexta, quando o senhor foi deposto, teve uma atitude pacífica?
Lugo – Exatamente. Nos submetemos ao impeachment e
aceitamos o veredito para evitar derramamento de sangue. Somos contra
todo o tipo de violência e neste dia havia a possibilidade de violência e
repressão. Hoje, já com o espírito sereno, as manifestações da
cidadania são exemplares. É o que se pode ver nas ruas ou nas
transmissões do Canal 13.
Página 12 – Essa forma de ação política será também adotada no interior do Paraguai?
Lugo – Sim e estamos tranquilos para essa tarefa. É
por isso que nossa atitude na sexta-feira foi muito bem pensada. Há
muita violência no Paraguai. Naquela sexta-feira, os mercadores da morte
estavam rondando. O impeachment foi injusto, irracional e sem
argumentos, mas precisávamos reagir da forma como reagimos. Era o
melhor.
Página 12 – O dinamismo da suas ações aumentará?
Lugo – Estamos saindo às ruas e conversando com os
cidadãos. Hoje mantivemos uma série de reuniões com líderes sociais e
políticos. O repúdio está crescendo, estou certo disso. Haverá uma
consolidação do repúdio contra a Presidência que surgiu após a minha
destituição.
Página 12 – Franco insiste em dizer que o Congresso apenas
aplicou o artigo da Constituição que estipula os procedimentos do
impeachment.
Lugo – É interessante destacar o que disse o
presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. A ferramenta do impeachment é
válida do ponto de vista jurídico e constitucional, mas os
congressistas exageraram na maneira como agiram.
Página 12 – Os congressistas poderiam dizer que votaram com maiorias qualificadas.
Lugo – Foi um simples acordo de cúpulas feito entre os dirigentes dos três partidos tradicionais.
Página 12 – Na sua primeira aparição pública após a
destituição, o senhor disse que havia setores políticos vinculados ao
narcotráfico. A quem o senhor se referia?
Lugo – Há muitos parlamentares acusados de ter uma
grande participação em negócios ilícitos. O narcotráfico está presente
em alguns setores da política. Há investigações que foram publicadas e
denunciadas.
Tradução de Samir Oliveira.
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