terça-feira, 17 de julho de 2012

Eleições. Mas pode chamar de Contrarreforma




Retomo um tema que continua me entalando a garganta. No dia 10 de maio de 1933, montanhas de livros foram criadas nas praças de diversas cidades da Alemanha. O regime nazista queria fazer uma limpeza da literatura e de todos os escritos que desviassem dos padrões impostos.
Centenas de milhares queimaram até as cinzas.
Albert Einstein, Sigmund Freud, Thomas Mann, entre outros, foram perseguidos por ousarem pensar diferente da maioria. A Alemanha “purificou pelo fogo” as idéias imundas deles, da mesma forma que, durante a Contra-Reforma, a Santa Inquisição purificou com fogo a carne, o sangue e os ossos daqueles que ousaram não concordar com seu ponto de vista sobre o mundo. A opinião pública e parte dos intelectuais alemães se acovardaram ou acharam pertinente o fogaréu nazista, levado a cabo por estudantes que apoiavam o regime. Deu no que deu.
Amigos jornalistas contam que membros de igrejas e templos pediram a fiéis que destruam escritos que tratassem de direitos humanos. Que se livrassem de tudo o que não tenha a ver com a visão violenta e, portanto, errada que eles têm do que seja amor. O pessoal que sente saudades da Idade Média saiu do armário. Armados por muitos de nós, da imprensa, que conseguimos cristalizar a imagem deturpada de que “direitos humanos” é coisa de defender bandido, matar crianças e proibir as pessoas de terem fé.
Direitos humanos tratam exatamente do contrário. Considerando que todas as pessoas nasçam iguais e livres, por todas compartilharem da raça humana, merecem ser tratadas com o mesmo quinhão de Justiça e dignidade.
Direitos humanos, portanto, incluem liberdade religiosa e de associação, direito à saude, à educação, à cultura, a ter uma identidade, a andar livremente, a falar e defender posições sem ser agredido, a não ter medo de passar fome ou de viver na miséria, poder participar do processo político, de eleger e ser eleito, do direito a não ser expulso de sua casa e ter uma moradia, do direito à segurança, à integridade do seu corpo, a um julgamento justo, de ser tratado com respeito.
De ser visto pelo outro como um semelhante e ser tratado como tal.
Mas também de ser amado por quem quisermos, de decidir o destino de nosso próprio corpo e de nossa vida, de não ter medo da opressão da maioria.
Nesta eleições municipais, não importa em quem você vote, não importa quem você queira no poder.
Mas não deixe os mesmos ventos que sopraram em 1933 continuarem a se espalhar pelo Brasil do início do século 21. Em 2010, estratégias eleitorais equivocadas alimentaram um monstro, a Intolerância, que continua sendo incentivado a cada dia, pelo ódio, pelo irracional. Pelo medo.
O problema é que, dependendo de como forem as campanhas eleitorais, ele não vai parar nos dias 7 ou 28 de outubro. Vai seguir crescendo. E quando tiver devorado o pouco de dignidade que conseguimos garantir às minorias, não se dará por satisfeito. Virá atrás das míseras liberdades individuais que não corresponderem às crenças e opiniões de parte da população.
Se assim for, que este período não seja chamado de eleições, mas de Contra-Reforma. Agora com a participação de protestantes e grupos católicos que foram perseguidos séculos atrás.

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