Repórter da Agência Brasil
Brasília – O compositor e mulit-instrumentista Hermeto Pascoal, que
acaba de lançar o DVD Hermeto Brincando de Corpo e Alma feito apenas com
sons obtidos a partir do corpo, tem muito a ensinar. Apesar de ser o
professor dos sonhos para muitos estudantes, o músico tem encontrado
muitas dificuldades para emplacar um de seus maiores projetos: o Templo
do Som, uma escola de música que, além de repassar sua vasta experiência
de vida, tem a ambição de ensinar músicos e pretensos músicos a fugir
dos padrões cada vez mais comuns à música contemporânea.
“Infelizmente não tive apoio financeiro de ninguém. Se eu quisesse
montar outra coisa para fazer sensacionalismo e que desse mais dinheiro…
mas [na música] o que dá dinheiro é sempre burrice. O câncer da alma
chama-se dinheiro”, lamenta o multi-instrumentista que ainda não
conseguiu patrocínio para fazer o projeto ir adiante. “Hoje estão dando
cursos de música eletrônica até nas universidades. É triste, porque esse
é o tipo de coisa dirigida a quem, na verdade, não é músico. Usar
computador é programar a alma. E quem é músico [de verdade] não quer
saber disso”.
Para Hermeto, as escolas de música tendem a fazer com que músicos
repitam formas musicais já existentes, sem agregar aquilo que considera a
matéria-prima da boa música: o sentimento. “O que não se pode é colocar
o saber na frente do sentir”, disse ele à Agência Brasil. “Na teoria
[musical] é a mesma coisa. Colocar teoria é colocar o saber na frente do
sentimento. Aprender teoria não é aprender música. Você tem de ter a
música na cabeça inclusive para poder escrevê-la, até porque, depois de
terminar uma música, eu tendo a esquecê-la totalmente”.
Hermeto diz o que falta para tocar o projeto Templo do Som. “Preciso
apenas de um lugar que dê para fazer minha escola, para educar o
pessoal por meio da música, passando minha experiência de vida e todas
as coisas que sinto, sem padronizações e sem cobrar caro dos alunos”,
diz. “Patrocinador que não tem inteligência musical não vai me
patrocinar. E eu também não vou procurá-lo. Quero alguém que, de fato,
ame a música”.
Edição: Fábio Massalli
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