Cristiano Morsolin
Adital
Aconteceu no final de Julho em Campinas o IV Congresso
Internacional de Pedagogia Social.O IV CIPS ocorreu em duas universidades de Campinas (UNICAMP e UNISAL) e em São
Paulo (PUC/USP/MACKENZIE).
O Unisal Campinas, campus São José, sediou nos dias 25, 26 e 27 de julho,
o IV Congresso Internacional de Pedagogia Social & Simpósio de Pesquisa
Pós-Graduação, evento dedicado a discutir as teorias, as práticas e a
profissionalização da Pedagogia Social, entendida como Teoria Geral da Educação
Social. A quarta versão teve como tema
"a hora e a vez da Educação Social". A escolha do tema foi
impulsionada pelos pareceres favoráveis no Congresso Nacional ao projeto de lei
5346/2009, que torna a Educação Social uma profissão.
A realização do evento se deveu ao esforço conjunto de várias
universidades em reunir pesquisadores e professores do Brasil e do exterior
(Uruguai, Colômbia, Angola, Espanha, Portugal) num evento que trouxe um
importante retorno social para a educação brasileira.
Geraldo Caliman, professor da Universidade Católica de
Brasília, Programa de Mestrado e Doutorado
em Educação Cátedra UNESCO Juventude Educação Sociedade (muito
conhecido na Europa, como experto da "Università
Pontificia Salesiana" de Roma(1)declarou que "A Pedagogia Social é uma
disciplina da área da Educação que estuda a dimensão social da educação em suas
diferentes manifestações: na educação não-formal, nas situações de conflito
(recuperação de dependências, prevenção de violências), e nas intervenções
miradas que se utilizam das técnicas de animação sociocultural. A Educação
Social como prática da Pedagogia Social existe no Brasil há muito tempo. Mas
somente agora o Brasil tenta sistematizar Pedagogia Social como teoria geral da
educação social. Estamos no "IV Congresso Internacional de Pedagogia Social”,
uma série que se iniciou em 2006 e se repete em 2008, 2010 e agora em 2012 (2).
Roberto da Silva, 54 anos, é paulista, formado em
Pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso, tem cursos de mestrado e
doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), onde atua como professor e
pesquisador. No campo da Educação, criou 21 Centros Educacionais Unificados
(Ceus), nos principais bolsões de pobreza de São Paulo, onde os jovens estão
mais vulneráveis à violência e às drogas. Cada Ceu é um complexo educacional,
cultural e esportivo, com jornada de ensino ampliada.
O professor é um dos principais organizadores de um
encontro nacional sobre Pedagogia Social: "O Congresso Internacional de
Pedagogia Social, em sua quarta edição, foi um evento dedicado a discutir de
maneira ampla teoria, prática e profissionalização da Pedagogia Social,
entendida como Teoria Geral da Educação Social. A quarta versão tem como tema
"A hora e a vez da Educação Social".
A escolha do tema foi impulsionada pelos pareceres
favoráveis no Congresso Nacional Brasileiro ao projeto de lei 5346/2009, que
torna a Educação Social uma profissão. Caso seja aprovado, o fato será um marco
em nosso país, pois demandará, tanto no âmbito das políticas públicas de
formação de trabalhadores sociais quanto no âmbito da formação acadêmica,
profissional e técnica e ainda no âmbito das iniciativas de requalificação,
aperfeiçoamento e especialização profissional, uma alocação de recursos humanos
e materiais e uma logística consideráveis. Este novo quadro será reforçado
institucionalmente no evento por meio da Assembleia Geral da ABRAPSOCIAL-
Associação Brasileira de Pedagogia Social mostrando a importância, portanto, do
fortalecimento no âmbito acadêmico, político e institucional da Pedagogia
Social e da Educação Social. A sua realização é também um esforço conjunto de
várias universidades em reunir pesquisadores e professores do Brasil e do
exterior num evento que poderá trazer um importante retorno social para a
educação brasileira.
Como uma teoria das práticas institucionais e como
disciplina científica ao mesmo tempo, a Pedagogia Social conta com tradições
próprias de pensamento na Europa e em certa medida na América Latina. Ainda
assim, o que no Brasil entendemos como Teoria Geral da Educação Social será
problematizada enquanto teoria dos conflitos sociais, os quais marcam as
instituições e os sujeitos, notadamente em espaços não escolares. Decorre daí a
nosso ver, a importância de um congresso internacional, que com um amplo leque
de atividades, ajude a fortalecer o debate teórico, as práticas humanas e a
profissionalização na área (3).
Debates
Carlos Brandão (UNICAMP) e Danilo Streck (UNISINOS)
debateu com Rúbia Cristina Cruz e atual presidente da Associação Brasileira de
Pedagogia Social a inserção da Educação Social na política educacional
brasileira após a regulamentação da Educação Social no país, que pode ocorrer a
partir do parecer favorável emitido pelo congresso brasileiro em 14.12.2011.
São questões importantes para este debate as políticas de financiamento e de
formação inicial e continuada, o papel das ONGs, o perfil profissiográfico do
Educador Social, a estruturação de uma carreira e a atuação do profissional da
Educação Social em diferentes espaços, inclusive escolares.
Erineu Foerste (UFES) e Francisca Rodrigues de
Oliveria Pini (IPF), com mediação de Jacyara Silva de Paiva (Universidade
Estácio de Sá-ES), apresentaram um amplo painel sobre os diferentes campos de
atuação do Educador Social, abordando, simultaneamente, o campo de trabalho, a
formação e a pesquisa, apontando para as possíveis contribuições da Educação
Social em áreas tradicionalmente não atendidas pela Educação Escolar,
especialmente a alfabetização de adultos, a educação prisional o campo e a rua.
Representante do Conselho Regional de Psicologia de
Campinas, o experiente Padre Haroldo Rahm, fundador da instituição que leva o
seu nome, juntamente com Verônica Regina Muller, coordenadora do Programa
Multidisciplinar de Estudos, Pesquisa e Defesa da Criança e do Adolescente, da
Universidade Estadual de Maringá, debateram com João Clemente de Souza Neto as
perspectivas atuais para o trabalho de temas difíceis com crianças e
adolescentes, tais como sexualidade, drogas e ameaças de morte, referenciadas
em experiências bem sucedidas no Brasil.
Jorge Camors (UDELAR-Uruguai), conduziu o painel de
discussões sobre as experiências e o atual estágio de desenvolvimento da
Educação Social em diferentes países da América Latina e África. Cristiano
Morsolin abordou a sua luta como educador social de rua para acolher os jovens
urbanos ameaçados pelas máfias nas grandes cidades colombianas. A mesa se
completa com as contribuições do colega Francisco Macongo Chocolate, de Angola,
que versou sobre a infância e a escola e a educação social em seu país. São
países com diferentes histórias e diferentes propostas educacionais, mas que
enfrentaram questões pontuais recorrendo aos princípios da Educação Social,
especialmente no enfrentamento das altas taxas de homicídio decorrentes do
narcotráfico, na superação de limitações impostas por longos períodos de guerra
ou na integração da população indígena ao sistema escolar (4).
A Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e
Sociedade, uma rede de pesquisas internacional coordenada pelo Prof. G. Caliman
lança o Relatório
Anual 2011 (Clique aqui para ver o relatório)(em inglês e português). O relatório é enviado à UNESCO e contem todas as
atividades realizadas pelos docentes pesquisadores e Universidades associados às
redes (5).
Carta aberta à ONU: é
necessária uma visão mais completa da realidade das crianças que trabalham ou
vivem na rua
Prossegue o debate sobre as
modalidades de abordagem à problemática dos meninos e meninas que trabalham na
rua.
Para o operador de redes
internacionais para a defesa dos direitos da criança na América Latina e
co-fundador do Observatório Selvas, Cristiano Morsolin, a violência social, nas
suas mais diversas manifestações como conflito armado, criminalidade, violência
institucional e de gênero, "é um dos problemas mais graves que existe hoje na América
Latina”.
Na ordem do dia dos
trabalhos da 19ª Sessão do Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra (de 27 de
fevereiro a 23 de março 2012), foi a apresentação de uma relação global sobre
as crianças, eles/elas, que trabalham ou vivem na rua. Uma carta aberta ao Alto
Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Sra. Navanethem Pillay,
firmada por 74 especialistas do mundo acadêmico e da sociedade civil de tudo o
mundo, toma as distâncias e propõe um novo método.
A carta, realizada com a contribuição de 74
especialistas de todo o mundo, através da coordenação de Cristiano Morsolin,
para a América Latina, e de Antonella Invernizzi e Brian Milne, para a Europa,
África e Ásia, abre-se manifestando de imediato uma preocupação: "Examinamos os
documentos e o material apresentados no sítio, e acreditamos que se deva criar
um questionário mais amplo e melhor estruturado de tais conhecimentos, para
sustentar e promover políticas válidas e eficientes, como também para promover
os direitos das crianças que trabalham e/ou vivem na rua; estão ausentes alguns
aspectos que requerem um aprofundamento maior, como, por exemplo, a importância
de reconhecer os direitos econômicos, sociais e culturais (DESC) das crianças e
dos adolescentes”.
A carta aberta assinala, além disso, o limitado do estudo,
que analisa somente os anos de 2000 a 2010, esquecendo toda a produção
acadêmica precedente: "Não estão incluídas todas as opções derivadas das
pesquisas e das experiências anteriores a 2000, que acreditamos deveriam estar
disponíveis para o planejamento e a formulação de políticas e programas. Não
sabemos se este é um resultado esperado ou não; todavia, parece que a abordagem
baseada nos direitos humanos está esmagada pela perspectiva protecionista e/ou
assistencialista, mas não por uma visão inclusiva”.
Os especialistas propõem um exame exaustivo
sobre: as exigências de pesquisa e as metodologias; a agência das crianças e
adolescentes e a sua participação; o conjunto das pesquisas e da experiência
adquirida nos últimos 30 anos; a variedade dos contextos econômicos, sociais,
culturais e políticos; uma abordagem baseada nos direitos humanos, que seja de
orientação aos governos e às organizações.
"Acreditamos que seja fundamental que nesse
processo se reflitam todas as abordagens e todas as metodologias” – sublinha-se
na carta apresentada por ocasião da atual Sessão do Conselho dos Direitos
Humanos das Nações Unidas, em Genebra.
Entre os subscritores da carta estão o Reitor da
Universidade Politécnica Salesiana, do Equador, Pe. Javier Herrán; Jaap E. Doek, Presidente da Comissão ONU pelos direitos da
criança no 2001-2007; Lucero Zamudio,
coordenadora da Rede Latino-americana de Mestrados em direitos da infância;
Maurício Roberto da Silva, Professor da Universidade
Chapecó-Santa Catarina; Manfred
Liebel, coordenador da rede de Universidades Europeias ENMCR; Aurelie
Leroy-CETRI (6).
Essa carta foi apresentada no
IV Congresso Internacional de Pedagogia Social CIPS e no Brasil teve o apoio do
Senador Cristovam Buarque (7).
Sobre o assunto, interveio também o Ministro para a Cooperação Internacional
e a Integração, da Itália, Andrea Riccardi. Respondendo às 74
Personalidades do mundo acadêmico e da sociedade civil que em abril último
enviaram uma Carta Aberta ao Alto Comissário da ONU, Sra. Navanethem Pillay, o
Ministério italiano sublinhou a "importância de submeter a exame, na tutela dos
direitos das crianças que trabalham e vivem na rua, todo o denso patrimônio
experiencial e cultural amadurecido com o andar dos anos. Quanto se pede é que
o louvável esforço, mantido pelo Alto Comissário pelos Direitos Humanos em
favor do bem-estar de todas as Crianças e Adolescentes do Mundo, possa utilizar
entre os seus instrumentos uma moldura de referência mais flexível, que possa
levar em conta as diversas abordagens com as quais se tentou enfrentar um tema
de tamanha delicadeza e complexidade”.
"A construção de um quadro adequado de
referência seria possível através de uma rede de especialistas (provenientes,
p. ex., do mundo universitário, das associações especializadas da sociedade
civil e das agências da ONU) que trabalhem juntos. Nos anos ’90s esse diálogo
foi levado à frente pelo Grupo de trabalho internacional sobre o trabalho de
menores (IWGCL). É necessário prosseguir nessa direção” – sustenta Cristiano
Morsolin, um dos Promotores da Carta Aberta.
Na América Latina, enquanto isso, já estão sendo
feitas pesquisas sociológicas sobre o fenômeno dos meninos e meninas de rua,
com análises comparadas aos resultados emersos em países e contextos
socioculturais diferentes, que mostraram as caminhadas de emancipação infantil
e as boas práticas construídas (8).
O Observatório SELVAS vai lutando pela aplicação
da Convenção Internacional. O cumprimento dos direitos de meninos, meninas e
adolescentes está longe de se consagrar como eu analisei na nota "20
anos da Convenção dos Direitos da Criança: A infância ainda em risco”,que foi publicada na web da Comissão de Direitos Humanos do
Senado Federal de Brasília (9), o tema do
trabalho infantil no Brasil esta na mia nota "BRASIL: 12 de junho, dia
Nacional de Combate ao Trabalho Infantil”, que foi publicada por
o ex Vice-Ministro Gonzaga Patriota (10).
NOTAS:
(1) CALIMAN, G. Pedagogia
Social na Itália. In: SOUZA NETO, J.C. – SILVA, R. da – MOURA, R. (Org.)
Pedagogia Social. São Paulo: Expressão e Arte –
UNESCO, 2009, p. 51-60.
(2) http://socialeducation.wordpress.com/2012/08/06/iv-congresso-internacional-de-pedagogia-social-campinas-sp/
(3) http://www3.fe.usp.br/secoes/inst/novo/eventos/detalhado.asp?num=697
(4) http://www.fe.unicamp.br/cips4/ementas.html
(5) http://socialeducation.files.wordpress.com/2012/08/relatc3b3rio-final-cc3a1tedra-unesco-ucb-2011-2012.pdf
(6) http://www.infoans.org/1.asp?sez=1&doc=7633&Lingua=5
(7) Especialistas alertam que urbanização exclui milhões de crianças , 07 MARÇO 2012 http://cristovam.org.br/portal3/index.php?option=com_content&view=article&id=4704:especialistas-alertam-que-urbanizacao-exclui-milhoes-de-criancas&catid=160:infanciaejuventude&Itemid=100124
(8) http://www.infoans.org/1.asp?sez=1&sotSez=13&doc=7902&lingua=5
(9) http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=7409:20-anos-da-convencao-dos-direitos-da-crianca-a-infancia-ainda-em-risco&catid=17:crianca-e-adolescente&Itemid=163).
(10) http://gonzagapatriota.com.br/2011/12-de-junho-dia-nacional-de-combate-ao-trabalho-infantil/
(2) http://socialeducation.wordpress.com/2012/08/06/iv-congresso-internacional-de-pedagogia-social-campinas-sp/
(3) http://www3.fe.usp.br/secoes/inst/novo/eventos/detalhado.asp?num=697
(4) http://www.fe.unicamp.br/cips4/ementas.html
(5) http://socialeducation.files.wordpress.com/2012/08/relatc3b3rio-final-cc3a1tedra-unesco-ucb-2011-2012.pdf
(6) http://www.infoans.org/1.asp?sez=1&doc=7633&Lingua=5
(7) Especialistas alertam que urbanização exclui milhões de crianças , 07 MARÇO 2012 http://cristovam.org.br/portal3/index.php?option=com_content&view=article&id=4704:especialistas-alertam-que-urbanizacao-exclui-milhoes-de-criancas&catid=160:infanciaejuventude&Itemid=100124
(8) http://www.infoans.org/1.asp?sez=1&sotSez=13&doc=7902&lingua=5
(9) http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=7409:20-anos-da-convencao-dos-direitos-da-crianca-a-infancia-ainda-em-risco&catid=17:crianca-e-adolescente&Itemid=163).
(10) http://gonzagapatriota.com.br/2011/12-de-junho-dia-nacional-de-combate-ao-trabalho-infantil/
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