Por Altamiro Borges
A mídia brasileira, que tanto bravateia sobre liberdade de
expressão, nada tem falado sobre a regressão autoritária vivida atualmente no
Paraguai. Ela apoiou, aberta ou dissimuladamente, o “golpe constitucional” na
nação vizinha e, por isso, faz silêncio. Nos últimos dias, 28 profissionais da
TV Pública do Paraguai foram demitidos numa autêntica operação macartista de
caça as bruxas. O jornal Página 12, da Argentina, publicou recentemente uma
reportagem que evidencia a gravidade da situação.
Assinada pela jornalista Mercedes López, a reportagem relata
que o governo deposto de Fernando Lugo começou a trabalhar um projeto de tevê
pública em meados de 2010. O canal foi ao ar pela primeira vez em dezembro do
ano passado, mas seis meses depois foi vitima da conspiração das elites
paraguaias. “O golpe de Estado nos surpreende quando a televisão estava
consolidando a sua aliança com movimentos sociais e setores acadêmicos,
estudantis e culturais”, explica o cineasta Marcelo Martinessi, ex-diretor da
emissora.
Demissões e mentiras esfarrapadas
Diante das ameaças de fechamento da TV Pública, Martinessi
renunciou ao cargo. O governo autoritário se comprometeu a manter o canal no ar
e garantiu que não haveria represálias. A emissora se transformou no polo de
resistência dos setores democráticos, com manifestações diárias em frente à sua
sede. No programa “Microfone Aberto”, lideranças populares criticavam os
golpistas e exigiam a volta de Fernando Lugo. O espaço democrático, porém,
durou pouco tempo.
“As autoridades da Secretaria de Informação começaram a
buscar uma maneira de desarticular a equipe de trabalho do ‘Microfone Aberto’.
Foram demitidos 28 trabalhadores. A maioria teve participação ativa na semana
de resistência. Argumentaram que não há orçamento, mas é uma desculpa para
justificar a depuração ideológica que está havendo”, relata a jornalista. Em
meados de agosto, Cristian Turrini assumiu a direção da TV Pública. Ele foi
presidente da empresa de telecomunicações Calypso Wireless, nos EUA.
Turrini garante que é apenas um gestor. “Não pertenço a
nenhum partido, há cinco meses voltei ao Paraguai depois de morar 22 anos nos EUA
e eles precisavam de um administrador”. Ele justifica as demissões alegando falta
de dinheiro. “Não há recursos, os contratos venceram há três meses”. Martinessi
contesta esta versão. “O governo Lugo destinou US$ 2,5 milhões à TV Pública.
Pelo decreto 9097 de junho [pouco antes do golpe], este montante seria
destinado à rede de repetidoras. Não se sabe por que alegam falta de recursos”.
Os programas mais críticos exibidos pela emissora, como o “Entre
nós” e “Patrimônio Cultural”, já foram retirados do ar. Aos poucos a TV Pública
vai sendo asfixiada, para a alegria da mídia privada que apoiou o golpe. Os
jornais ABC Color e La Nación e o canal Tele Futuro, que fizeram de tudo para
desestabilizar o governo de Fernando Lugo, agora dão total apoio ao golpista
Federico Franco. “A concentração da mídia no Paraguai é, talvez, tão injusta
quanto à da terra”, conclui a repórter do jornal Página 12.
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