Foto: AP/Ashraf Amra |
A atual investida de Israel contra a Faixa de Gaza, denominada de “Pilar
Defensivo”, tem como suposto objetivo defender o povo israelense dos
mísseis lançados por combatentes do Hamas que atingem o sul do país. Mas
será que é apropriado chamar de guerra ou de defesa quando um dos lados
é uma superpotência militar e o outro, um grupo político armado sem a
organização e a estrutura de Forças Armadas?
É verdade que a organização palestina dispara
foguetes contra o território de Israel, mas é preciso analisar a sua
verdadeira capacidade militar. Desde que o conflito teve início, na
quarta-feira (14/11), três israelenses foram mortos pelos mísseis,
enquanto pelo menos 95 palestinos perderam suas vidas e centenas ficaram
feridos. Ao longo deste ano, nenhum israelense foi vítima dos projéteis
e apenas alguns ficaram feridos em comparação a dezenas de palestinos
mortos que, em sua vasta maioria, eram civis.
Os projéteis lançados pelos palestinos procedem de diferentes locais e
estão longe de integrar o moderno mercado de armas. Enquanto muitos são
produtos domésticos, outros são equipamentos da década de 1990. Com
alcance de 6 a 25 milhas, esses mísseis não possuem a tecnologia
necessária para mirar alvos no território israelense e acabam por
atingir, muitas vezes, terrenos inabitados. Além disso, na maior parte
dos casos, os militares israelenses conseguem interceptar os foguetes
pelo seu avançado sistema de defesa, mantendo uma taxa de 90% de sucesso
nos casos. Nos últimos seis dias, cerca de 740 misseis foram lançados e
apenas 30 atingiram Israel.
Além de possuir poucos recursos financeiros, o Hamas encontra grande
dificuldade em comprar armas por conta do bloqueio israelense nas
fronteiras da Faixa de Gaza. Tudo o que consegue provém de túneis
ilegais. O grupo palestino tão pouco possui uma estrutura militar comum
às Forças Armadas, com treinamento regular e corpo de oficiais. Seus
combatentes não atuam em batalhas, mas sim em ações de guerrilha.
É este o corpo organizacional que uma das Forças Armadas mais potentes
do mundo enfrenta hoje. Com orçamento militar anual ao redor dos US$ 12
bilhões, Israel recebe ajuda de US$ 3 bilhões dos Estados Unidos para
investir em equipamentos. Jatos de tecnologia militar de última geração
bombardeiam a Faixa de Gaza e sistemas de defesa aprimorados derrubam os
projeteis.
Há uma imensa assimetria na capacidade de cada um dos lados de infligir
danos e sofrimento devido ao domínio militar total de Israel na região.
Esse fato transparece no número desproporcional de mortos e destruição
afligida. Até agora, mais de um terço das vítimas palestinas são civis, incluindo crianças e idosos, e o número parece estar apenas aumentando.
Se Israel é tão superior militarmente ao Hamas e em poucos dias já
conseguiu destruir grande parte do território palestino, por que
realizar uma operação? Se o objetivo das autoridades era atingir o
grupo, por que não optar apenas por ações de seu desenvolvido serviço de
inteligência contra seus líderes?
Essas perguntas parecem ingênuas, mas, com certeza, foram consideradas
pelo governo e pelos chefes de segurança do país, que escolheram
deliberadamente a opção militar. Não podemos nos esquecer da afirmação
de Eli Yishai, vice-premiê de Israel, de que o objetivo da operação "é mandar Gaza de volta para a Idade Média".
Longe de ser uma ruptura com a política israelense para a Faixa de Gaza,
a nova investida integra as iniciativas de ocupar e sitiar o território
palestino que vão desde o bloqueio econômico e militar à expansão de assentamentos israelenses.
E, para aqueles que não se lembram, essa não é a primeira vez que as
Forças Armadas atacam a Faixa de Gaza em uma suposta luta contra o
Hamas. Em 2009, as autoridades realizaram a operação “Chumbo Fundido”,
que, em apenas 22 dias, deixou 1.434 palestinos mortos, incluindo 1.259
civis.
Até os dias atuais, os palestinos não conseguiram se recuperar desses
ataques pela falta de materiais de construção disponíveis, que
permanecem bloqueados por oficiais israelenses nas fronteiras. De acordo
com relatório das Nações Unidas de setembro deste ano, apenas 25% dos
edifícios danificados na investida foram reconstruídos.
Analisando os dados da operação, o professor norte-americano Norman
Filkenstein conclui que não houve uma guerra, mas sim um massacre contra
o povo palestino. Será que o que estamos assistindo nesses últimos dias
na Faixa de Gaza não deve receber essa conotação, em vez de “guerra” ou
“ação defensiva”?
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