Samir Oliveira no SUL21
Ex-deputado estadual e fundador do PDT no Rio Grande do Sul, Carlos
Franklin Paixão Araújo afirma que o partido está “descaracterizado” e
“afastado das raízes do trabalhismo” no país. Após romper com a sigla em
2004 e permanecer ausente da política desde então, o ex-marido da
presidente Dilma Rousseff (PT) voltará a se filiar ao PDT em março deste
ano.
O retorno de Carlos Araújo ao PDT ocorre às vésperas da convenção que
irá eleger o comando nacional da sigla – que permanece com o
ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi desde a morte de Leonel Brizola, em
2004. Carlos Araújo retorna ao PDT para ajudar os netos de Brizola a
disputar a hegemonia no partido.
Nesta entrevista ao Sul21, Carlos Araújo fala sobre a
situação do PDT no país e no Rio Grande do Sul e defende uma maior
formação política dos seus militantes. Para o ex-deputado, o trabalhismo
é doutrina que irá levar o brasil ao socialismo. “Pretendo me filiar em
março. O trabalhismo é o caminho brasileiro para o socialismo. Quero
participar dessa luta”, explica.
Com 75 anos de idade, Carlos Araújo é natural de São Francisco de
Paula e ingressou clandestinamente na Juventude do Partido Comunista
Brasileiro aos 14 anos – sigla na qual militou até 1957. Formado em
Direito pela UFRGS, começou a ter contato com Leonel Brizola durante a
campanha da Legalidade, em 1961. Após o golpe militar, em 1964,
ingressou na luta armada e foi um dos dirigentes da VAR-Palmares. Foi na
guerrilha que conheceu sua ex-mulher, Dilma Rousseff, com quem foi
casado durante 30 anos, de 1969 a 1999. Graças ao relacionamento com
Carlos Araújo, Dilma veio morar em Porto Alegre, já que o marido
encontrava-se detido na Ilha do Presídio, durante os anos 1970. Ainda
hoje, Carlos Araújo é uma das pessoas mais próximas de Dilma, com quem
teve uma filha, Paula, e compartilha um neto, Gabriel.
Após eleger-se deputado estadual em 1982 e reeleger-se por mais duas
legislaturas, Carlos Araújo – que também disputou a prefeitura de Porto
Alegre em 1988 e 1992 – abandonou a vida pública, devido a um enfisema
pulmonar que vem lhe causando complicações desde 1995.
“O trabalhismo é uma corrente de pensamento que tem como base a defesa dos direitos sociais no capitalismo”
Sul21 – Como o senhor avalia a situação atual do PDT no país?
Carlos Araújo – O PDT está um pouco descaracterizado,
se afastou das raízes do trabalhismo. Falta ao PDT uma prática social
maior, uma maior participação nos movimentos sociais. O partido deveria
se voltar aos grandes problemas nacionais, mas não faz esses debates. A
atuação é muito tímida. Internamente, é preciso haver mais democracia,
discussão e revezamento de poder no PDT. Não podemos ter lideranças que
se eternizam no poder.
Sul21 – Como o partido vem administrando a era pós-Leonel Brizola?
Carlos Araújo – Sempre é difícil administrar um partido
após a perda de um grande líder. Leva tempo até que se encontre um
rumo. O PDT procura esse rumo, mas não tem encontrado. A perda de um
grande líder sempre gera embaraços, cria dificuldades e barreiras a
serem superadas.
Sul21 – Foi um erro do partido ficar tão dependente do Brizola?
Carlos Araújo – Acho que não. A história tem mostrado,
principalmente nos países emergentes, que as forças sociais se
estruturam em cima de grandes lideranças. Líderes como Fidel Castro,
Hugo Chávez e Leonel Brizola discursam durante muito tempo. Fidel chegou
a falar por 14 horas seguidas. O Brizola já discursou por 7 horas.
Esses líderes aprenderam que a educação para a consciência das massas é
formada, em grande parte, pela audição. Esses líderes se destacam e é
muito difícil formar um partido com eles. O PT tem um grande líder, mas o
partido depende muito do Lula. É bom para o PT ter estrutura, conseguir
caminhar sozinho, mas é algo muito difícil.
Sul21 – O senhor ajudou a fundar o PDT no Rio Grande do Sul. O que o partido representava em sua origem?
Carlos Araújo – O PDT sempre representou o trabalhismo.
É uma corrente de pensamento que tem como base a defesa dos direitos
sociais no capitalismo. Getúlio Vargas, que é o fundador do trabalhismo,
quando tomou o poder, em 1930, tinha que responder à seguinte pergunta:
“Como vai ser o processo de desenvolvimento capitalista no Brasil?”.
Então ele disse: “O meu governo terá como base uma democracia social,
uma democracia política e uma democracia econômica. O Estado será um
indutor do desenvolvimento, mas as rédeas do processo estarão nas mãos
das forçais sociais”. Ele usava essa expressão: “Forças sociais”. Em
seguida, as elites paulistas e mineiras se levantaram, em 1932, dizendo
que esse projeto não servia para o país. Eles acreditavam que as forças
sociais não conseguiam gerir o capitalismo no Brasil, defendiam que só
quem poderia fazer isso era o capital internacional. Queriam que os
representantes do capital internacional desenvolvessem o capitalismo
brasileiro.
“Embora tenha feito e esteja fazendo grandes governos, o PT perdeu a sua auréola”
Sul21 – Esse embate existe até hoje no país?
Carlos Araújo – Continua. Por isso tentaram derrubar o
Getúlio em 1932 e em 1937. Por isso conseguiram derrubá-lo em 1945 e o
levar ao suicídio em 1954. Foi a mesma questão que levou a derrubarem o
Jango em 1964. Getúlio dizia que a hegemonia do processo político tem
que estar com as forças sociais. Em 1866, quando houve a primeira
eleição na Inglaterra, perguntaram ao Marx – que dirigia a Internacional
– como os trabalhadores deveriam votar. Havia um candidato capitalista e
outro que representava o regime monárquico anterior. O capitalismo
naquela época era terrível, com crianças morrendo nas fábricas,
trabalhando 20 horas por dia. Marx respondeu que os trabalhadores
deveriam fazer uma aliança com os capitalistas. E disse que o ideal
seria que, nessa aliança, os trabalhadores tivessem a hegemonia. Ele
dizia que os trabalhadores seriam capazes de desenvolver o capitalismo
com mais sabedoria do que os próprios capitalistas, dando um sentido
mais social a ele. Foi isso que Getúlio falou. É isso que aconteceu nos
governos Lula e acontece no governo Dilma. É o desenvolvimento do
capitalismo com as rédeas do processo nas mãos das forças sociais. É a
única forma de desenvolver o capitalismo e dividir o bolo enquanto ele
vai crescendo. Se não vai tudo apenas para um lado. O trabalhismo
representa essa visão do desenvolvimento capitalista.
Sul21 – O PDT não alimenta mais o discurso do trabalhismo?
Carlos Araújo – Não está mais adotando esse discurso e
está muito desvinculado dos movimentos sociais. O PDT perdeu muito
espaço, mas ele pode ser recuperado. Há um espaço para que o PDT avance.
Embora tenha feito e esteja fazendo grandes governos, o PT perdeu a sua
auréola. Isso nos faz pensar em como será no futuro. Sem o PT, surgirá
outro partido para ocupar seu espaço? É uma questão muito delicada e o
trabalhismo tem um papel a desempenhar nesse contexto, desde que esteja
envolvido com os movimentos sociais.
Sul21 – O PDT pode voltar a disputar o poder dentro da esquerda?
Carlos Araújo – Sim. Esse é o destino do PDT, por isso o
partido precisa retomar o seu caminho. O Brizola concorreu por duas
vezes à Presidência. Em uma, ele perdeu por pouco no primeiro turno e
apoiou Lula no segundo. Na outra eleição, foi vice do Lula. Nosso
caminho é esse, é marchar junto com as forças de esquerda.
“Quem é de esquerda e está na política institucional tem que ser militante. Tem que pular muro e subir morro”
Sul21 – O senhor retornará ao PDT?
Carlos Araújo – Pretendo me filiar em março. Eu estava
esperando melhorar um pouco a saúde. Sou trabalhista, penso que o
trabalhismo é o caminho brasileiro para o socialismo. Quero participar
dessa luta.
Sul21 – Quando o senhor tomou essa decisão?
Carlos Araújo – Essa decisão foi construída. O que me
levou a acelerar o processo foi eu pensar que os netos do Brizola têm um
papel a cumprir no partido. Eles estão sendo muito injustiçados dentro
do PDT. Isso me levou à aproximação com eles.
Sul21 – Foi difícil o rompimento com o PDT em 2004?
Carlos Araújo – Foi, eu senti muito. Mas era uma
conjuntura em que eu não queria mais permanecer no PDT nem em partido
nenhum. Foi um afastamento. Saí para ficar mais livre, para não dizerem
que eu desobedeci às normas do partido. Mas continuei muito amigo dos
companheiros trabalhistas, nunca me afastei totalmente. Nunca tive
vontade de ingressar em outros partidos.
Sul21 – Com o retorno ao PDT, o senhor pretende voltar a disputar eleições?
Carlos Araújo - Não vou concorrer. Vou ajudar na
formação de quadros e em tudo o que eu puder. Como eu fiquei doente, é
muito difícil permanecer na política institucional. Quem é de esquerda e
está na política institucional tem que ser militante. Tem que pular
muro e subir morro.
“Há uma crise partidária na esquerda. Os partidos estão muito desorganizados e não formam seus militantes”
Sul21 – Qual a importância da convenção nacional do PDT para renovação do partido?
Carlos Araújo – É muito difícil que haja uma renovação
agora. O estatuto do PDT é muito rígido e autoritário, dá muito poder à
executiva e ao diretório nacional. É muito difícil furar esse cerco. Eu
estou retornando ao PDT e participando de uma corrente que quer sacudir o
partido, que vai disputar a convenção. Estamos tentando fazer uma
conciliação, para verificar se há trânsito dentro do partido.
Acreditamos que o Alceu Collares é um bom candidato para essa transição.
Precisamos ter um candidato que consiga unificar o partido, que está
muito dividido. E que seja um candidato de transição, fixando regras
para uma nova eleição e aproximando as correntes para construir a
unidade possível.
Sul21 – Essa transição seria para realizar reformas no estatuto?
Carlos Araújo – Sim, para oxigenar o partido. O
estatuto precisa ser mais democrático e adequado a nossa realidade. O
estatuto atual foi feito pelo Brizola, que já havia perdido um partido e
não queria perder outro. Então ele fez um estatuto extremamente
centralizado e muito rígido. Agora não temos mais uma liderança do vulto
do Brizola, por isso precisamos adequar o estatuto à nossa realidade.
Sul21 – Então a intenção é lançar um candidato de
conciliação? Não haverá um candidato de oposição ao atual grupo que
comanda o PDT?
Carlos Araújo – Se não der, iremos lançar sim esse
candidato. Tentaremos fazer a conciliação até onde der. Se não for
possível, lançaremos um candidato, mesmo que seja para perder.
Sul21 – Os irmãos Juliana Brizola (deputada estadual gaúcha),
Carlos Brizola (deputado federal licenciado e atual ministro do
Trabalho) e Leonel Brizola (vereador do Rio de Janeiro), todos netos de
Leonel Brizola, fazem parte deste movimento. Quem mais integra o grupo?
Carlos Araújo – Dos integrantes gaúchos eu destacaria o Afonso Mota (secretário estadual do Gabinete dos Prefeitos) e o deputado federal Giovani Cherini. Também há muitos prefeitos.
“O prestígio do Lula e da Dilma é muito grande. Mas essa força eleitoral fantástica não se expressa da mesma forma como grande força política”
Sul21 – É um grupo majoritariamente formado por gaúchos?
Carlos Araújo – Não, temos apoios nos estados. Minas
Gerais nos apoia. Há esforços em vários estados. Essa análise deve ser
feita mais adiante. Na segunda-feira (4) tem uma reunião da executiva
nacional que fixará as regras para a convenção nacional.
Sul21 – O ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi – afastado da
pasta por denúncias de corrupção e presidente nacional da sigla desde a
morte do Brizola – prejudicou o partido?
Carlos Araújo – Eu não gostaria de pessoalizar nada.
Prefiro não abordar esse assunto, ao menos no momento. Quero travar a
luta interna em um nível estritamente político.
Sul21 – Mas no entendimento do grupo do senhor, os dirigentes atuais do PDT são responsáveis pela situação que vocês criticam.
Carlos Araújo – Sim. Queremos democratizar o partido.
Queremos que o PDT tenha uma vida política interna permanente, não só em
época de eleição. Há uma crise partidária na esquerda. Os partidos
estão muito desorganizados e não formam seus militantes. Os jovens
querem cursos, mas os partidos não dão. O PDT tem uns cerca de 600
jovens atuantes em Porto Alegre, que disputaram os DCEs da UFRGS e da
PUCRS com chapa própria. Tem bastante dirigente jovem atuando. Mas eles
estão sedentos por conhecimento e por discussão política. É um absurdo
eles não saberem onde buscar conhecimento, quais livros ler. Eu fiz uma
reunião com esses jovens na terça-feira (26), vou começar a dar cursos a
eles nos sábados à tarde. Eles querem discutir e participar e a
esquerda não está ocupando plenamente esse espaço de debates.
Sul21 – Por que não?
Carlos Araújo – Talvez por estar no poder. São as
chamadas “consequências do poder”. Há uma certa acomodação. Todos os
quadros políticos vão para o aparelho do Estado e ficam envolvidos em
atividades burocráticas. Teria que haver uma maior formação política.
Mas, ao mesmo tempo, os quadros precisam ir para o aparelho do Estado,
precisam governar. É uma questão complicada.
“A principal questão colocada hoje é a do bem estar do conjunto da sociedade ainda no capitalismo. Uma revolução socialista não está na ordem do dia”
Sul21 – Com a chegada do PT e seus aliados ao poder, outros
grupos políticos fazem fortes críticas à esquerda deste projeto que está
no governo do país há 10 anos.
Carlos Araújo – Há uma fragmentação. Mas, veja bem: na
sociedade, o prestígio do Lula e da Dilma é muito grande. Todas as
pesquisas demonstram muito apoio da população. Mas essa força eleitoral
fantástica não se expressa da mesma forma como grande força política. Há
um descompasso.
Sul21 – No campo ideológico, mudou o debate na esquerda?
Anteriormente, principalmente nos anos 1960 e 1970, havia mais forças
organizadas defendendo a superação total do capitalismo. Essa bandeira
já não é mais defendida por muitos desses grupos hoje.
Carlos Araújo – Isso muda com o governo Lula. O mundo
impôs essa mudança. O Vietnã, a China, Cuba e a União Soviética
mostraram que, nos termos em que colocaram, foi inviável a construção do
socialismo numa época em que o regime capitalista ainda era muito forte
no resto do mundo. Lênin, quando estava no poder na União Soviética,
elaborou a Nova Política Econômica, a chamada NEP. Era uma política de
desenvolvimento do capitalismo. O que está em discussão hoje é a
viabilidade do socialismo. Ele é viável somente em um país? Ou é viável
somente quando houver um grande desenvolvimento internacional do
socialismo?
Sul21 – Na sua avaliação, existe algum país plenamente socialista hoje em dia?
Carlos Araújo – Não. Existe um certo nível de bem estar
social em alguns países, como a Suécia. Mas isso foi conquistado em
cima de outros países. O capital sueco no Brasil é muito forte. A
principal questão colocada hoje é a do bem estar do conjunto da
sociedade ainda no capitalismo. Uma revolução socialista não está
colocada na ordem do dia. Quem quiser fazer isso pode ter um pequeno
espaço em alguns lugares, não terá um espaço significativo. A realidade
demonstra isso. O que fazem Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa em
seus países? Eles estão desenvolvendo o capitalismo para tirar a
população da miséria. Mas é claro que esses governos vão se fortalecendo
e a América Latina vai se unindo.
“A internacionalização do capital é um processo em direção ao socialismo. É um processo de desenvolvimento capitalista, mas é, também, um processo em direção ao socialismo”
Sul21 – É possível passar desta etapa de gestor do capitalismo ao socialismo pleno?
Carlos Araújo – A internacionalização do capital é um
processo em direção ao socialismo. É um processo de desenvolvimento
capitalista, mas é, também, um processo em direção ao socialismo. O
capitalismo vai se internacionalizando, rompendo fronteiras nacionais e
se fragmentando. Hoje um controlador de uma grande empresa tem 10% do
seu capital. Socializar essa empresa já não significa mais tirar das
mãos de uma única pessoa. Se a GM (General Motors) for nacionalizada
hoje, por exemplo, quem irá sentir essa medida a não ser uma meia dúzia
de acionistas mais significativos, que possuem 5% ou 8% das ações? Não
estou dizendo que já estamos no socialismo. Mas, como dizia Marx, a nova
sociedade é gerada no útero da atual sociedade.
Sul21 – Voltando ao tema do PDT: o partido no Rio Grande do Sul é muito diferente do PDT nacional?
Carlos Araújo – O partido sempre foi bastante
concentrado no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. E sempre enfrentou
resistências históricas em São Paulo. Mas isso não significa que não
possam ter lideranças em outros estados, o PDT está se fortalecendo.
Sul21 – No Rio Grande do Sul, o PDT aderiu ao governo Yeda
Crusius (PSDB) após perder as eleições de 2006 com Alceu Collares e, em
2010, concorreu ao lado de José Fogaça (PMDB). Como o senhor avalia
essas ações?
Carlos Araújo – Foram equívocos. Isso se confirmou com a
eleição da Dilma. Naturalmente, se formou uma aliança em torno da
candidatura dela no Rio Grande do Sul, inclusive com setores do PMDB
liderados pelo Mendes Ribeiro Filho. Esses equívocos fazem parte da
política, mas não podem se repetir.
Sul21 – O que o senhor defende para o PDT em 2014 no Rio Grande do Sul?
Carlos Araújo – Há uma discussão em torno desse
assunto. Uns defendem candidatura própria, outros querem aliança com o
PMDB e outros querem permanecer apoiando o governo Tarso Genro. Eu
defendo que o PDT apoie o atual governo em 2014, mas com uma maior
participação política nas decisões e com um acordo para que o PT apoie o
PDT em 2018. O PDT é muito forte no estado, precisa ter candidato, mas
agora não é o momento, o partido ainda não está suficientemente
organizado e com força expressiva para isso.
“Defendo que o PDT apoie Tarso em 2014, mas com uma maior participação política nas decisões e com um acordo para que o PT apoie o PDT em 2018”
Sul21 – O PDT precisa reivindicar a indicação do vice-governador em uma eventual aliança com Tarso em 2014?
Carlos Araújo – Isso é inevitável. Parece que o PSB
está tentando um caminho próprio, isso faz com que o PDT passe a ser o
parceiro próximo do Tarso.
Sul21 – Em Porto Alegre, depois de muito tempo o PDT conseguiu vencer uma eleição para a prefeitura.
Carlos Araújo – Vários fatores influenciaram. Um deles
foi a construção de uma ampla frente política. E os candidatos
adversários não tinham muita força política e eleitoral. Isso também
pode pesar a favor do Tarso. Com todas as críticas que se pode ter ao
seu governo, não há uma liderança expressiva para enfrentá-lo.
Sul21 – A senadora Ana Amélia Lemos é a grande aposta do PP. Ela conquistou 3,4 milhões de votos em 2010.
Carlos Araújo – Ela tinha mais potencial antes das
eleições municipais. Ela é uma candidata que tem uma expressão
eleitoral, mas ficou enfraquecida por não seguir as determinações do seu
partido em 2012.
“É justo que o PSB tenha candidato à Presidência, mas é preciso apresentar um programa de governo, dizer o que quer e a que vem”
Sul21 – Voltando a Porto Alegre, o senhor disse que um dos
fatores que favoreceram a vitória de José Fortunati foi a construção de
uma ampla aliança. Mas até que ponto uma aliança tão ampla e diversa se
sustenta politicamente? A de Porto Alegre contém partidos aliados e
partidos que fazem oposição aos governos Dilma e Tarso, como o DEM, o
PPS e o PSDB.
Carlos Araújo – As alianças muito amplas são
trabalhosas de serem administradas. O Fortunati vai ter que se desdobrar
para conseguir governar com uma aliança tão ampla. Começam a vir
exigências, principalmente fisiológicas. E essas alianças atingem, de
certa forma, o perfil político do governo. Eu sou favorável a alianças.
Às vezes são composições que não queremos fazer, mas não existe outra
saída. É uma questão delicada, principalmente quando são alianças muito
amplas, que podem levar o governo ao imobilismo.
Sul21 – Outro partido que está querendo disputar espaço político e se lançar eleitoralmente à Presidência é o PSB.
Carlos Araújo – O PSB tem sido um companheiro de viagem
na esquerda. Provavelmente terá um candidato à Presidência, o que é
justo, mas precisa apresentar um programa de governo. É indispensável
que o PSB diga o que quer e a que vem. O PSB precisa explicar quais as
suas diferenças com o PT, o PDT e o PCdoB. Isso ainda não está colocado.
Tomara que o partido permaneça sempre como força de esquerda.
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