Rodrigo Brandão,
Educom
Laerte
Braga é ativista da comunicação na internet desde antes da explosão das
redes sociais e da blogosfera. Formado em filosofia, jornalista e
analista político, o blogueiro juizforano acompanha com atenção e
comenta quase diariamente as revelações, pelo coletivo Wikileaks, dos
segredos das potências hegemônicas - principalmente os EUA - e seus
perigosos laços em várias partes do mundo, inclusive na América Latina.
Educom
- Laerte, sabe-se que a Google Inc. passou recentemente a ser
controlada pelo governo dos EUA. No Encontro de Blogueiros da Zona da
Mata (Juiz de Fora, novembro de 2010) você revelou que a CIA agora é
proprietária do Google. Pode explicar melhor como isso tudo ocorreu? O
Google se transformará num braço da espionagem de Washington?
Laerte Braga
- Desde o advento do rádio os norteamericanos se preocupam com o
controle da informação. E mesmo antes, mas numa dimensão menor, já que
os veículos existentes, principalmente jornais, mantinham aquele caráter
romântico do jornalismo. Essa preocupação ganhou foros organizados já
na Segunda Grande Guerra e, com a Guerra Fria, passou a fazer parte do
todo do Império. E incluindo todas as mídias disponíveis. Hollywood, por
exemplo, exerceu e exerce um papel importante nesse contexto de
dominação. De lavagem cerebral. Há uma frase de George Bush, me parece
que dele, que diz o seguinte: “Todos nos criticam, mas todos querem ser
iguais a nós”. É o que vendem, o sonho, o desejo, do que imaginam ser
civilização, sendo barbárie. Ou como na canção do Subdesenvolvido, do
antigo CPC da UNE: “O brasileiro pensa como americano, mas não come como
americano”. Essa preocupação, que era inclusive concorrência com a
extinta União Soviética se acentuou em rádios como a Voz da América,
rádios que especificamente transmitiam em chinês para os chineses, russo
para os russos, espanhol para os cubanos, descobrindo e acrescentando
no processo a televisão. Essa mídia se transformou no mais poderoso
veículo de comunicação do século passado e ainda desse século. A guerra e
a derrota política e militar no Vietnã acentuaram a necessidade de
controle da informação pelas mídias existentes, ao perceberem que a
opinião pública é um poderoso ingrediente contra situações indesejadas
quando se movimenta, se põe a caminhar.
A revolução cubana, por
seus reflexos na América Latina principalmente, ao lado de programas
assistenciais como a Aliança para o Progresso, trouxe a presença
norteamericana para mídias nacionais (caso do grupo Globo no Brasil), já
que reconheceram o papel preponderante da comunicação, decisivo na
alienação e na desinformação, no vender o peixe capitalista. No curso
desse processo as mídias foram sendo incorporadas às políticas
norteamericanas, imperialistas e gradativamente se constituindo em fator
de importância capital para os objetivos dessas políticas. Para se ter
uma idéia, antes mesmo da Globo, a antiga TV Tupi, do grupo Diários e
Emissoras Associados, dispunha de jornalistas aliados aos
norteamericanos. Em 1957, quando do lançamento do primeiro satélite
artificial na história, o Sputinik, em meio ao espanto de todas as
pessoas no mundo, a sensação era de que a União Soviética vencia a
corrida espacial e usava isso como propaganda, tanto quanto usou o
primeiro vôo tripulado, a cadelinha Laika e depois o primeiro vôo
tripulado por um homem, o de Yuri Gagarin. Mas como dizia, o lançamento
do Sputinik levou o apresentador Flávio Cavalcanti, num programa
especial na antiga Tupi, a iniciar uma campanha a que chamo de recuperar
terreno junto à opinião pública embevecida com os feitos soviéticos.
Flávio Cavalcanti era ligado a Carlos Lacerda, ambos de extrema-direita e
ambos partícipes em dimensões diferentes do golpe de 1964.
Vamos
dar um salto na história e chegarmos aos dias de hoje. As novas
tecnologias, a aldeia global, a comunicação instantânea, o fim da União
Soviética, não só significaram facilitação para o domínio e o controle
da informação pelos EUA como permitiram que os avanços viessem a ser
efetivos, já no controle de empresas em diferentes países pela política
de concentração da propriedade das mídias em poucas mãos. No Brasil são
dez famílias, no máximo. No mundo inteiro, gigantescas corporações
alinhadas com Washington e todo um processo de controle da informação,
como verificamos agora no caso do WikiLeaks – que rompe esse caráter
absoluto, hegemônico e monopolista. O WikiLeaks já despertou os
tentáculos do império para tentativas de controle da Internet e da
informação. Criou-se, ao longo desses anos, o mundo do espetáculo, muito
bem definido por Guy Debord no livro “A Sociedade do Espetáculo",
editado no Brasil pela Contraponto. O ser humano objeto, agindo e
vivendo em função de uma verdade única. Tanto pode ser a do Jornal
Nacional, como a da Veja, da Folha de S.Paulo, ou a dos canais de tevê
venezuelanos que tentaram o primeiro golpe midiático da história em 2002
contra o presidente Chávez, como o cinema do “combate ao terrorismo”,
da eficiência violenta e brutal (que permeia as pessoas, aí o segredo de
Tropa de Elite) - mas a televisão ainda é o principal veículo de
desinformação. A própria religião, hoje, as seitas neopentecostais,
todas oriundas de ramos norteamericanos, cumprem esse papel de
alienação, de transformar o ser em objeto. Isso foi visível nas últimas
eleições no Brasil. Dando outro salto, no governo Bush, aperfeiçoados os
torniquetes da comunicação, controlados os grupos considerados
indispensáveis aos propósitos do império e já sob a chamada nova ordem
política e econômica (sem a União Soviética), o governo dos EUA iniciou
um processo típico do capitalismo em parceria com as grandes corporações
mundiais e retrato do neoliberalismo.
Falemos de tercerização. O
presidente Barack Obama, ao final do seu primeiro ano de mandato,
constatou que boa parte dos chamados serviços de inteligência (e outros
noutras áreas) haviam sido transferidos para a iniciativa privada
através de terceirizações, na prática, privatizações. A comunicação que,
numa certa medida, já o era (caso das ligações do grupo Globo com
empresas dos EUA, da emenda votada e aprovada no governo FHC sobre
participação de capital estrangeiro em empresas de rádio e tevê
nacionais), passou a ser operada pela iniciativa em termos de serviços
de inteligência e a própria CIA, na tentativa de controle de um veículo
que começa a se tornar indigesto para o império. No esquema de empresas
laranjas, assumiu o controle de muitas e importantes estações – digamos
assim – disponíveis na Internet. Caso do Google. Se algum de nós
procurar os donos do Google, vai ver que simplesmente não existem. São
vários, pulverizados na mágica das ações, mas - sempre há um mas - no
fundo, é a CIA. O controle do Google foi adquirido no final do governo
Bush. Essa preocupação do governo Obama com o assunto, para além do
Google, diz respeito, principalmente, à perda de poder do Estado. Num
país onde o próprio Banco Central é privatizado e cabe a ele o poder de
emissão da moeda, Obama imaginou reverter as terceirizações no setor de
inteligência, comunicação e forças armadas e confessou-se impotente. “Só
conseguiremos anular sete por cento dos contratos”, afirmou num
relatório interno amplamente divulgado. Contratos de terceirização, de
privatização. Por esse motivo, particularmente, entendo que os EUA hoje
não são mais uma federação, mas um conglomerado que enxergo como
terrorista em sua prática junto a países e povos do resto do mundo. O
controle do Google não significa transformá-lo em instrumento direto de
ação propagandística, mas, até quanto isso se fizer válido, em controle.
Em venda da ideologia capitalista. O disfarce do que chamam aqui de
“avanço tecnológico”, “liberdade de expressão”, dentro dos limites
traçados pelo império. Ao lado do Google há vários outros instrumentos
na Internet, o grande alvo dos norteamericanos hoje, o que ainda escapa
ao controle do império, todos já sob controle ou sujeito a ceder a
pressões, como os que abrigavam o WIKILEAKS e deixaram de fazê-lo. O
projeto do senador Eduardo Azeredo existe sem tirar uma única vírgula em
vários outros países e está dentro desse contexto.
Com o
Google vinculado ao sistema de inteligência do Império e seus
associados, como Israel e União Europeia, a que riscos o usuário e o
ativista da internet passam a estar expostos?
O Google,
como qualquer ferramenta usada pelo que chamo de conglomerado terrorista
EUA/Israel Terrorismo S/A, é capaz do controle das informações que por
ali correm. O satélite Echelon, lançado durante o governo Bush, controla
todos os e-mails enviados em qualquer canto do mundo e os classifica
por palavras-chave. Em um processo de filtro, para identificar os
adversários do império, os críticos, e assim monitorá-los na rede,
jogando todas essas informações no mesmo saco das políticas terroristas
agora reveladas pelo WikiLeaks. O risco que corre o usuário é
principalmente esse. Não há privacidade e nem segurança, o que não
significa que se deva abandonar a luta, mas começar a refletir sobre o
futuro da comunicação pela Internet e, com certeza, pensarmos canais
capazes de manter essa característica de independência, liberdade de
expressão absoluta. A propósito dessa liberdade de expressão absoluta
lembro-me sempre de uma história curiosa, pois a resposta correta foi
dada por um presidente/ditador, Costa e Silva, a um grupo de senhoras
paulistas, pela moral e pelos costumes, que foi pedir a ele censura a
alguns filmes exibidos após a meia-noite em uma rede de TV. Costa e
Silva, grosso como sempre foi, perguntou às senhoras se alguém conduzia
suas mãos ao botão que liga a tevê e ao seletor de canais para
assistirem àqueles filmes e arrematou: “assiste quem quer, o horário é
adequado”. Em se tratando de informação, a liberdade de expressão não
pode e não deve ser adjetivada, por isso mesmo, é absoluta sem
necessidade de explicitar o termo.
Apuramos que o
consórcio CIA-Google iniciou em 2010 seu primeiro projeto, como definem,
"avaliar websites e 'prever o futuro da economia'". Ou seja, fazer
planejamento estratégico de longuíssimo prazo através de espionagem na
rede. Isto, na sua avaliação, já fez os internautas em geral, mas
sobretudo os ciberativistas perceberem como será forte o controle da
Web?
Essa terceira resposta complementa a segunda. O
ponto de partida da Internet, vamos definir assim, é controlado pelos
EUA. Paralisar a rede num determinado momento é um “privilégio” deles.
Mas de tal forma a rede se tornou importante e decisiva, tão vital no
mundo dos negócios que isso se torna inviável. Haveria que ser uma
situação extrema. E interessa ao império manter um sistema de
comunicação que atinja, num segundo, a todo o mundo, mas livre dos
riscos de ações como a do WikiLeaks. Eu creio que Julian Assange e seus
companheiros tenham pensado nos riscos e nos desafios que iriam e estão
enfrentando, mas conscientes da impossibilidade de parar o tráfego de
notícias, documentos etc, optaram por enfrentar o império. Com isso,
foram reforçadas políticas de controle da Internet (no Brasil, o projeto
Eduardo Azeredo, escrito em Washington) e outras ações fora da rede. A
própria prisão de Assange e uma série de crimes como sequestro,
assassinatos seletivos, além, evidente, de políticas de longo prazo para
controle geral, uma espécie viva e perigosa de Grande Irmão. Encontros
de blogueiros, discussão de software livre (quando era governador do Rio
Grande do Sul, Olívio Dutra iniciou esse tipo de debate), tudo isso e
mais alguma coisa se fará sempre necessária, se percebermos que a guerra
global passa em grande parte pela Internet, porque é hoje uma guerra em
que a informação tem papel decisivo. Os norteamericanos tomaram
conhecimento dos mortos na guerra do Iraque, já que a mídia tradicional
não citava tais baixas, num flagrante de caixões sendo desembarcados
numa base aérea dentro do território dos EUA.
Diante dos
desdobramentos da publicação de, até o momento, menos que a décima parte
dos cerca de 250 mil cabos revelados pelo WikiLeaks, avaliamos que está
mais do que nunca consolidada a importância estratégica e histórica da
internet 100% livre. Por outro lado, você não acha que os vazamentos
podem fazer com que as potências hegemônicas, através dos domesticados
organismos multilaterais (ONU, OMC, Gatt, UE, OEA etc), imponham à
comunidade internacional mecanismos cada vez mais agressivos de
controle?
É o que está em curso. O uso de ferramentas de
repressão sem qualquer escrúpulo, inclusive jogando por terra um dos
principais argumentos dos norteamericanos em sua cruzada histórica de
terrorismo contra outros povos: a democracia e a liberdade de imprensa, a
liberdade de expressão. O WikiLeaks fez com a máscara caísse, e a
verdadeira face do verdadeiro terrorismo aparecesse com sua hedionda e
repulsiva característica de barbárie. Há, sim, tentativa de imposição de
mecanismos de controle. O projeto Azeredo no Brasil é isso. As pressões
sobre a chamada mídia privada (inteiramente dominada) e, levando em
conta a prisão de Assange, as tentativas que estão sendo elaboradas para
extraditá-lo para os EUA – um crime sem tamanho – são formas de tentar
sufocar, intimidar os que lutam contra esse modelo escravagista. Se não
houver reação tanto dos que militam na rede mundial de computadores,
organização e enfrentamento mesmo, certamente seremos esmagados. A
percepção de confronto, de guerra global é decisiva e mais ainda: a
comunicação via Internet é uma das linhas de frente, se não for a mais
importante nos dias atuais, das mais importantes com certeza.
Recentemente
um embaixador brasileiro foi à "Globo News" dizer que "agora mais do
que nunca é necessário controle rígido do que se escreve e fala na
internet". O Império pode nos impor uma vacina contra o surgimento de um
novo Julian Assange?
O interessante no canal Globo News
é que ele se permite algumas notícias que a rede Globo não veicula nos
canais abertos. Mas ao mesmo tempo se volta, e esse é o objetivo maior,
para a classe média, que pode pagar por tevê fechada, vendendo a
ideologia capitalista na forma de sabão que lava mais branco, sabonete
que mata as bactérias e germes, higienizadores de vasos sanitários que
poupam a mulher (e que mantêm o preconceito, limitam a mulher ao papel
de dona de casa num determinado momento e em outros ao de quase
prostituta, mostrando-a capaz de abrir as pernas para alcançar a chave e
encontrar a palavrinha mágica, “sucesso”). É a perversidade
capitalista. Não assisti ao programa, não sei qual é o embaixador, mas
sei que é política da Globo News convidar diplomatas aposentados, muitos
deles oriundos da ditadura, para emitir opiniões fartamente ilustradas
com raciocínios bem elaborados. Tudo vendendo a ideologia capitalista,
no conjunto da sociedade do espetáculo. É possível perceber que já
existe uma discussão sobre o conceito de liberdade de expressão. E
colocam o tema de uma forma canalha. Será que os cidadãos têm o direito
de conhecer ações terroristas e pouco recomendáveis, digamos assim, do
Estado, todas como intuito de “protegê-lo”? É uma formulação cínica,
hipócrita, que se presta a jornalistas venais como William Bonner,
William Waack, Miriam Leitão, Lúcia Hipólito, Alexandre Garcia (ativo
dedo duro na ditadura militar até ser demitido por assédio sexual). Ou
seja, justifica o papel que esses bonecos ventríloquos cumprem dentro do
processo da comunicação. Não foi por outro motivo que Bonner disse a
estudantes de jornalismo e professores de uma faculdade paulista que
“essa notícia não vai sair, pois contraria os interesses dos nossos
amigos americanos”. A notícia dizia respeito à decisão do presidente
Chávez de vender gasolina pela metade do preço nos postos da petrolífera
venezuelana, na área atingida pelo furacão Katrina e objeto de
comentários de um sobrinho do ex-presidente Kennedy, que os EUA deveriam
agradecer a Chávez a atitude humanitária, já que Bush, então
presidente, não fizera o mesmo. Quanto a Assange, estão tentando
demonizá-lo. Imagine o seguinte. Se numa conversa informal, entre sete
amigos, digamos, um virar-se para outro e em voz baixa e disser que
outro dos presentes tem o hábito de bater carteiras, a notícia corre por
todos e certamente, mesmo sendo mentira, muitos irão acreditar ou
cercar-se de cuidados com o “punguista”. É como tentam fazer com
Assange, rotulá-lo de tarado sexual, de criminoso sexual e assim desviar
o debate do principal: os documentos e seus conteúdos. É uma forma de
vacina, a desqualificação do inimigo. Num mundo sem fronteiras isso
serve como fator de inibição, na cabeça deles, quanto a futuros
Assanges. A luta pela extradição de Assange para os EUA tem esse
sentido, prendê-lo, condená-lo a prisão perpétua por crime de
“espionagem” e eliminar futuros Assanges. Trabalham com essa lógica
cínica no caso da pena de morte. Como se funcionasse como fator de
intimidação da violência comum. Aplicam à política, aos inimigos do
Grande Irmão.
A julgar pela sanha do Império e associados
para encarcerar Julian Assange, percebe-se que o impacto do vazamento
dos cabos e as consequências do escancaramento das manobras das
potências ainda não foram avaliados com a necessária profundidade, até
porque ainda há muito material a ser revelado. Seria 2010 o ano que
marca o auge da revolução da informação? Qual o principal efeito do
episódio WikiLeaks sobre a geopolítica e as comunicações?
Penso
que é preciso percebermos que, ao mudar o eixo do caso Assange – dos
documentos e seus conteúdos para o “crime sexual” –, a mídia privada em
todo o mundo busca evitar um conhecimento e uma discussão concreta do
que, de fato, acontece e quais as práticas terroristas reveladas. É uma
forma de evitar o debate, colocar em cena outro ponto, a liberdade de
expressão e seus limites. Usam o patriotismo, a chamada responsabilidade
como argumento. As ditaduras diziam e dizem isso, “liberdade mas com
responsabilidade”. E assim mantêm o grande público ligado, caso do
Brasil, ao início do BBB11 e longe das prisões indiscriminadas,
sequestros, estupros, torturas, ações terroristas de todos os matizes
via de regra imputadas aos adversários e sempre praticada por eles, os
donos, os senhores do conglomerado terrorista EUA/Israel Terrorismo S/A.
É importante divulgar o conteúdo dos documentos a exaustão, bater fundo
nesse contexto - conteúdo -, mostrar a barbárie sob a qual vivemos com o
rótulo de democracia, os objetivos do império, organizar essa luta que,
necessariamente, será de sindicatos não pelegos, não cooptados,
conscientes do papel do movimento sindical, dos movimentos sociais, dos
blogs - qualquer que seja a dimensão desses blogs. Enfim, enfrentar essa
tentativa de evitar que a opinião pública saiba que os “punguistas”
nessa história toda são os norteamericanos e suas colônias européias
(Grã-Bretanha, Itália, Alemanha, Suécia etc) e associar a luta rotulada
de “terrorista” à busca de liberdade real, sem adjetivos, por povos do
mundo inteiro, notadamente palestinos, iraquianos, afegãos, colombianos,
muitos outros. Tanto quanto lutar contra golpes desfechados contra
governos populares, caso da Venezuela, Bolívia, Equador e outros, a
exemplo do que aconteceu em Honduras.
Há um aspecto interessante
nisso tudo. A revelação de documentos que dizem respeito ao Brasil, a
cobiça sobre o nosso petróleo, a forma como têm agido embaixadores
norteamericanos, por si só, justificam uma interpelação ao governo dos
EUA sobre esse tipo de prática. Mas ficamos silentes. Como justificam a
adoção de políticas de segurança para preservamos recursos como
petróleo, água, nióbio etc, que, a meu juízo, num mundo onde a
tecnologia é fundamental, nos remete a outra necessidade imperiosa. A
reestatização de empresas como a Vale e a Embraer, primordialmente. E a
garantia que a Petrobras terá o monopólio estatal do petróleo pleno e
assegurado, mesmo porque, nesse item, é o desejo da imensa maioria dos
brasileiros, tenho certeza. O WikiLeaks desmontou o edifício da mentira
absoluta da mídia privada em boa parte dos países do mundo, em quase
toda a América Latina. O grande dilema dessa mídia hoje é ter que
renegar o direito de liberdade de expressão e tentar colocar freios ou
limites nessa liberdade, ao percebê-la com mão dupla. Isso por si só
gera uma perspectiva diversa na geopolítica e nas comunicações e tanto
quanto a eles, que querem colocar a mordaça. Cabe a nós resistir, lutar e
organizar essa luta acima de tudo no processo de formação e consciência
em cada ambiente, em cada universo, cada um dos nossos universos.
Numa
conjuntura marcada pela transformação do Google em braço do condomínio
político-empresarial-militar do Império e seus "aliados", qual a
urgência e qual a importância estratégica de os ativistas da
democratização da comunicação somarem esforços para derrubar o PL 84/99,
o "AI-5 Digital" do senador, a partir de 1º de fevereiro deputado
federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG)?
Eduardo Azeredo é
aquele sujeito que, se tiver que falar e andar ao mesmo tempo, não
consegue, tropeça e cai. O tipo calado, traiçoeiro, covarde, submisso
aos poderosos, venal, pronto a todo e qualquer trabalho sujo que se faça
necessário. Em Minas o classificam de “banana”. Mas um “banana”
indigesto. É empregado do capital estrangeiro. Do conglomerado
terrorista EUA/Israel Terrorismo S/A. Num dos muitos documentos vazados
pelo WikiLeaks fala-se em “militares e políticos cooptáveis”. Vale
dizer, compráveis. Azeredo, como o ex-comandante da FAB, o brigadeiro
Heleno, faz parte desse grupo. O projeto de lei que apresentou, o 84/99,
foi redigido em Washington, adequado à realidade de cada país. E cada
Azeredo da vida, em seu país, apresentou-o como proposta. É um
funcionário subalterno que agora vai virar deputado, não tinha força
para reeleger-se senador, como não se reelegeu governador. Mas vai
continuar a exercer esse papel. Somos um país onde é necessário
refundar, por exemplo, nossas forças armadas, ainda permeadas por um
alinhamento com Washington, sobretudo depois dos expurgos de oficiais
nacionalistas e progressistas pelo golpe de 1964. E onde são necessárias
as tais reformas políticas, como forma de criar perspectivas não de
renovação, como costumam dizer, mas de avanços na direção da democracia
popular. A Internet é fundamental para isso, é decisiva, o canal
adequado para que possamos promover a formação e a organização popular,
criar mecanismos de participação popular, para além de comprar no
Mercado Livre. Os blogs são fundamentais. Nas cidades podemos promover
debates intensos sobre problemas específicos dessa realidade imediata, a
cidade, como sobre temas nacionais, internacionais, a realidade global
como a temos hoje. A participação de categorias de lutadores do povo,
como petroleiros, camponeses, operários de um modo geral, tudo isso é
vital para que possamos sobreviver como nação soberana e até como ser
humano e não peça da engrenagem dessa máquina de moer gente que é o
capitalismo em sua forma hedionda de neoliberalismo posta a nu pelo
WikiLeaks.
A grande contribuição do WikiLeaks é que de forma
diferenciada, dentro de cada um dos blogueiros, que lutamos na Internet,
há um Julian Assange. E sentir e entender isso, transformando em
prática de luta, é fundamental, até porque só assim conseguiremos trazer
essa luta para as ruas. Uma é consequência da outra e tem que ser. A
resistência ao projeto Azeredo é um dos pontos fundamentais da luta,
mesmo porque sabemos que não temos um Congresso em boa parte
comprometido com o Brasil e os brasileiros. Muitos parlamentares, como
Azeredo, têm, às portas de seus gabinetes a placa, “vende-se qualquer
coisa, até mãe se preciso for”. A democracia que temos é bem definida
por Millôr Fernandes: “Democracia – extraordinário modelo de organização
social, composto de Três Poderes e cem milhões de impotências”. A
internet nos permite tanto quanto aos nossos inimigos, o império
norteamericano e o que ele significa, a reação imediata e global, por
isso vivemos uma guerra global. É uma guerra de resistência,
sobrevivência e, por isso mesmo, é preciso avançar. E um detalhe
fundamental. Se a luta palestina, por exemplo, ou a luta pela
preservação de nossas riquezas, pelo monopólio estatal do petróleo,
enfim, as lutas populares eram travadas, antes da Internet, numa
determinada proximidade, hoje, ela está dentro das nossas casas e somos
todos palestinos, petroleiros, camponeses. É uma conquista que
precisamos materializar nas ruas.