México: EUA ou Colômbia?
Ficaram para trás as promessas de que o Tratado de Livre Comércio da América do Norte aproximaria o México dos níveis de vida dos EUA e do Canadá. A realidade é que o quadro hoje se parece a uma segunda Colômbia, com a expansão do narcotráfico e da violência. Dois países adeptos do livre comércio e os mais estreitos aliados dos EUA no continente. A análise é de Emir Sader.
Emir Sader - Carta Maior
Os EUA prometeram ao México que, se assinasse o Tratado de Livre Comécio da América do Norte (Nafta), se tornaria um novo Estados Unidos. O México está prestes a se tornar uma Colômbia. O comércio do México com os EUA totaliza mais de 90% do comércio total, caracterizando uma dependência brutal do país do norte, nem sequer afetada pelos intercâmbios de livre comércio com a forte economia canadense. ´
Os investimentos norte-americanos não chegaram ao conjunto do país, ficaram limitados praticamente às areas da fronteira norte com os EUA, nas chamadas zonas de maquila, onde se instalam partes de empresas estrangeiras para explorar o trabalho barato – sobretudo de mulheres e crianças não sindicalizados – com operações que não demandam qualificação, pagando até 10 vezes menos que nos EUA.
Mas mesmo estes investimentos foram duramente afetados, quando a China passou a oferecer condições de investimento melhores, com mão-de-obra ainda mais barata. Grande parte dessas empresas se deslocou para a Ásia.
Hoje, o México é devastado pelo tráfico de drogas. Situado ao lado do mercado que consome grande parte da droga que se produz no mundo, se construíram imensos corredores de tráfico para os EUA, controlado e disputado por uma feroz guerra de cartéis, que produz uma quantidade cada vez maior de vítimas, das formas mais cruéis possiveis.
O governo de Felipe Calderon está em processo de assinatura de acordo com o governo Bush similar ao da Operação Colômbia. Houve sete reuniões militares este ano e o acordo deve ser anunciado em Quebec, em um encontro entre os presidentes dos EUA, do Canadá e do México. Em troca de equipamento militar, o México deverá conceder uma maior presença de militares norte-americanos no seu território, incluindo a de um oficial dos EUA em cada vôo.
Será a maior ajuda norte-americana depois da concedida a Colômbia, com um total de 350 milhões de dólares, ainda muito abaixo dos 5 bilhões concedidos ao governo de Uribe. Os militares mexicanos resistem ao acordo. Já tiveram experiências negativas: no governo de Ernesto Zedillo, em 1997, receberam mais de 70 aviões, mas a maioria rapidamente quebrou, foi devolvida, tendo havido muitas mortes de militares em acidentes com esses aparatos.
O proprio presidente Calderon declarou que o problema, na verdade, está do outro lado da fronteira, dado que os EUA fazem poucos esforcos para combater o consumo de drogas. De fato, não há nenhum grande capo do narcotráfico preso nos EUA, embora o governo norte-americano pressione constantemente a Colômbia e a outros países da região para que extraditem os lideres dos cartéis – como acontece com o recentemente detido no Brasil. Além disso, o presidente mexicano reiterou reclamação contra os mau-tratos aos quase 40 milhões de mexicanos – quase um de cada três nascidos no México – nos EUA.
Enquanto isso, anuncia-se que houve sete encontros entre os líderes dos cartéis do narcotráfico – do Golfo e de Sinaloa, os mais fortes - para repartir entre si os territórios, com o compromisso de respeitá-los e o fim das execuções. Ja o governo dos EUA prepara uma nova ofensiva com a participação da DEA, da CIA, do FBI e da Agência Nacional de Segurança.
Em suma, ficaram para trás as promessas de que o Tratado de Livre Comércio da América do Norte aproximaria o México dos níveis de vida dos EUA e do Canadá. A realidade é que o quadro hoje se parece – pela expansão generalizada do narcotráfico e da violência correspondente – a uma segunda Colômbia no continente. Dois países adeptos do livre comércio e os mais estreitos aliados dos EUA no continente.