terça-feira, 24 de junho de 2008

Documento revela que Conselho Superior do Ministério Público quer dissolução do MST


A violência do Estado, por meio das ações da Brigada Militar, contra os movimentos sociais foi tema da audiência pública da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, realizada nesta terça-feira, na Assembléia Legislativa gaúcha. No encontro, foi exibido um vídeo com treze atos de violência contra os movimentos sociais. O deputado Dionilso Marcon (PT) denunciou a violência utilizada pelo comando da BM no dia 11 de junho, no Parque da Harmonia e em mais 12 eventos recentes. Naquela ocasião, o comandante da BM declarou publicamente que os manifestantes eram baderneiros e impediu que prosseguissem até o Palácio Piratini, onde estava programada uma grande manifestação contra a corrupção no governo Yeda Crusius.

Na audiência, também foi divulgada a ata do Conselho Superior do Ministério Público que deliberou a formulação de uma política de intervenção do MP pelo fim do MST, de suas escolas, pela investigação do Incra, da Conab e da Via Campesina. O documento de três páginas sugere o impedimento de marchas, de deslocamentos dos agricultores, assim como a desativação de acampamentos. Também sugere o cancelamento do alistamento eleitoral dos agricultores sem terra nas regiões em conflito e a formulação de uma política oficial do MP com a finalidade de “proteção da legalidade no campo”.
Na avaliação dos movimentos sociais, o documento do MP e as ações da BM comprovam que a Constituição Federal está sendo violada. O documento aponta vários níveis gradativos de repressão: O primeiro, segundo a denúncia dos movimentos, seria a identificação, grampeamento telefônico e de mails de manifestantes, lideranças e de parlamentares; o segundo, com a prática de violência com o uso de gás e balas de borracha, tropas de choque, prisão de manifestantes; num terceiro e último estágio seria a proibição de existência legal de associações e a mudança na legislação penal. Clique AQUI para ler a íntegra do documento do MP.

A perigo, EUA já vislumbram aliança petrolífera com o Brasil


O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, disse nesta segunda-feira (23) que está surgindo uma nova área de cooperação entre os dois maiores países das Américas: petróleo. Após a descoberta de importantes reservas do combustível em águas profundas do litoral brasileiro, os norte-americanos já enxergam o país como fornecedor e estudam possibilidades de parcerias entre empresas nessa área.


''Se a Petrobras quiser embarcar o petróleo para os Estados Unidos, tenho certeza que os EUA estarão muito dispostos a receber esse combustível'', disse Sobel. Depois de ressaltar que a decisão cabe ao Brasil e a Petrobras, ele acrescentou que ''os EUA esperam que o Brasil se torne um importante fornecedor de combustível fóssil no futuro''.


Segundo o embaixador, será ''natural'' que o Brasil exporte petróleo para os Estados Unidos na medida em que disponha de excedentes por conta da proximidade entre os dois países. Ele enfatizou que a Petrobras já possui refinarias nos EUA. A estatal brasileira adquiriu recentemente uma planta em Pasadena, Texas. Para garantir a segurança energética e reduzir a dependência de regiões politicamente conturbadas, os EUA buscam diversificar as fontes de petróleo.


Embora o Brasil ainda não seja um fornecedor relevante, as vendas de petróleo do país para os EUA aumentaram dez vezes em valor, saltando de US$ 330 milhões em 2004 para US$ 3,1 bilhões em 2007, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No ano passado, o petróleo ultrapassou aviões e ocupou o posto de principal item da pauta de exportação.


Sobel – que participou nesta segunda-feira do Fórum Brasil-Estados Unidos realizado pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) e pelo Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami – também enxerga oportunidades de parcerias com petrolíferas norte-americanas como Exxon e Chevron, ou empresas fornecedoras de serviços como a Halliburton.


O embaixador ressaltou que funcionários do governo norte-americano devem em breve vir ao Brasil para discutir o assunto. Na próxima semana, chega ao país o secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff. ''Neste estágio, estamos procurando maneiras de ajudar se formos solicitados'', afirmou Sobel.


Fonte: Valor Econômico



segunda-feira, 23 de junho de 2008

Persona - Ingmar Bergman


Persona
(Persona)
Persona.Ingmar.Bergman.DVDRip.XviD.MakingOff.Org

Inédito em vídeo e DVD no Brasil, Persona é simplesmente um dos maiores filmes da história do cinema, e uma das obras centrais do mestre Ingmar Bergman, apresentada aqui em versão integral restaurada e remasterizada.
Uma atriz teatral de sucesso sofre uma crise emocional e emudece. Para se recuperar, parte para uma casa de campo, sob os cuidados de uma enfermeira, que a admira e tenta compreender a razão de seu silêncio. Isoladas, as duas mulheres desenvolvem uma relação de forte intensidade emocional.
A impressionante seqüência inicial, as atuações viscerais de Bibi Andersson e Liv Ullman, a brilhante direção de Bergman fazem de Persona uma experiência cinematográfica fascinante e inesquecível.


Gênero: Drama
Diretor: Ingmar Bergman
Duração: 83 minutos
Ano de Lançamento: 1966
País de Origem: Suécia
Idioma do Áudio: Sueco
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0060827/

Qualidade de Vídeo:
DVD Rip
Vídeo Codec: XviD
Vídeo Bitrate: 1058 Kbps
Áudio Codec: MP3
Áudio Bitrate: 121
Resolução: 544 x 400
Formato de Tela: Tela Cheia (4x3)
Frame Rate: 23.976 FPS
Tamanho: 700 Mb
Legendas: No torrent


- Indicado ao Bafta de Melhor Atriz (Bibi Andersson)

- Vencedor dos Prêmios Guldbagge de Melhor Atriz (Bibi Andersson) e Melhor Filme

- Vencedor dos Prêmios da Sociedade Nacional dos Críticos de Filmes (NFSC), EUA, de Melhor Atriz (Bibi Andersson), Melhor Diretor (Ingmar Bergman) e Melhor Filme


Esta edição deixa de lado, o titulo brasileiro original que sempre foi considerado ridículo, "Quando Duas Mulheres Pecam". É um dos grandes filmes do mestre Ingmar Bergman, notável em vários aspectos, inclusive por ter sido o primeiro trabalho com sua então nova mulher, a atriz norueguesa Liv Ullman, que seria sua parceira em algumas outras obras primas e com quem trabalha até hoje.
Começa de forma inesquecível (e original na época) mostrando o processo de projeção de um filme com um velho cartão queimando, o fotograma, o desenho animado, o filme antigo e mudo, a morte da ovelha (meio Buñuel), a mão pregada na cruz como Cristo. Deixando claro que é cinema. A seguir, as primeiras imagens são cadáveres. Mas um menino magro (o mesmo ator de "O Silencio") acorda e coloca o óculos para ler um livro, depois vê a câmera, que se torna o rosto de uma mulher (provavelmente seria o filho dela no útero, esperando para nascer). Entram os letreiros todos vanguardistas, predominando o branco, repetindo imagens que já vimos.
A historia começa com uma porta se abrindo e entrando a enfermeira Alma (Bibi Andersson). Bergman disse que concebeu o filme depois de perceber que a semelhança entre as atrizes Bibi (que também havia sido sua namorada) e Liv. É bem descrito pelo trailer original americano que diz que "Persona" "é o reconhecimento da nossa terrível solidão, nossa singularidade, nossa inabilidade de se comunicar com os outros. É uma confissão de nossos medos, do homem,do fracasso, da morte. É o drama do desespero, o silencio, o terror indescritível da vida em todos os aspectos. É um drama da sensibilidade da pele, de rostos e palavras não entendidas. Persona é uma ilusão estiçalhada,uma vitória sobre o silencio".
Popularizou o termo Persona que é o nome da máscara teatral greco-romana e, por extensão, também as mascaras que usamos na vida profissional ou pessoal. Um dueto para as duas atrizes emolduradas pela fotografia genial de Sven Nykvist. Rodado na própria casa e ilha do diretor, em Faro. Bibi fala o tempo todo e Liv diz apenas uma única palavra, "nada".

por Rubens Ewald Filho

Coopere, deixe semeando ao menos duas vezes o tamanho do arquivo que baixar.


Arquivo(s) anexado(s)
Arquivo anexado Persona.Ingmar.Bergman.DVDRip.XviD.MakingOff.Org.torrent(filme)
Arquivo anexado persona._1966_.pob.1cd._3093086_.zip(legendas)

Piratas do mundo inteiro, uni-vos!


Cid Andrade


Hakim Bey é o pseudônimo de Peter Lamborn Wilson, americano, escritor, poeta e anarquista radical. Dos anos 70 pra cá lançou uma série de ensaios e livros avassaladores, tendo se tornado ícone da contracultura, admirado por jovens esquerdistas e libertários em todo o mundo; tendo inclusive influenciado personagens célebres contemporâneos (e eles já o admitiram publicamente) como Michael Moore e Marilyn Manson. Diz-se que Bey também foi uma importante influência para os ideais e métodos guerrilheiros do sub-comandante Marcos. O depoimento de seus leitores e admiradores é sempre muito parecido: "Ler Hakim Bey foi um soco no estômago, me fez ver coisas que estavam ali diante do meu nariz e me alertou para outras sobre as quais nem desconfiava". Já Hakim Bey, enquanto persona, é envolto em mistério: não dá entrevistas, não se deixa filmar, não revela seu endereço. Dá aula em uma universidade de Nova York e sabe-se que mora numa cidadezinha a 200 km de Manhattan. E só. Não tem computador, muito menos e-mail. E segundo algumas poucas entrevistas, não esperava que fosse tornar-se um ídolo da atual juventude guerrilheira. Sua obra-prima é o livro T.A.Z, sigla para Temporary Autonomous Zone, que segundo ele são a chave e o método para o bem sucedimento da revolução que está em curso. Hakim prevê o choque, cada vez mais intenso, entre o atual modelo de sociedade baseado em grandes corporações, capitalismo selvagem, exclusão social e ausência de privacidade, e a parcela da população que visa a interrupção deste processo e a retomada de antigos (ou a tentativa de novos) sistemas sociais. Em seus ensaios, desenvolve o conceito das utopias piratas, como exemplo recente de sociedades justas e calcadas na mais extrema das democracias. Explica que, ao contrário do que a Igreja e a história moderna contam, os piratas não devem ser confundidos com meros ladrões marítimos e, sim, vistos como renegados, expulsos de seus países, invariavelmente por terem ideais que batiam de frente com a ordem. Partiam em barcos e aportavam em algum cantão do mundo para criarem sociedades alternativas. A mais célebre, e teoricamente mais bem sucedida, foi Libertatia, na ilha de Madagascar, costa leste da África. Hakim também transcorre sobre o conceito da jihad, normalmente traduzida pelos ocidentais como "guerra santa" e usada para dar nome ao radicalismo islâmico, mas que na verdade quer dizer "revolução permanente e onipresente, em cada ato, em cada momento". Diz que após a Terceira Guerra Mundial, estamos vivendo a Quarta, entre as corporações e qualquer coisa que possa dificultar suas ações rumo ao crescimento e lucro cada vez maior. E é justamente por ocasião desta Quarta Guerra Mundial ­ que prevê a conquista de territórios em áreas como genética, nanotecnologia e cyberespaço, ou seja, aspectos que podem mudar o destino da humanidade ­ que Hakim defende o uso das TAZ, guerrilha, arte e música como principais mecanismos de resistência. Pesquise sobre esse cara e suas obras e você vai descobrir indícios do tamanho da resistência jovem existente hoje no mundo (que é menor do que deveria ser e bem maior do que imaginamos). Bey é referência de grupos democratas nos EUA, de ecologistas radicais, defensores das liberdades individuais, músicos e piratas contemporâneos como os que lotam todo ano a Defcon, ou ainda os dinamarqueses dos BlackBlocks, que tocam o rebu em qualquer manifestação anti-corporativa. Pesquise sobre este cara e você vai descobrir que tudo isto que eu citei aqui, aparentemente sem muito pé nem cabeça, é apenas a pontinha do iceberg que ele criou ao longo dos últimos 30 anos.

Louis Armstrong - First Class Jazz - 2006

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01 - Louis Armstrong - Coal Cart Blues [02:57]
02 - Louis Armstrong With Gordon Jenkin's Orch [02:54]
03 - Louis Armstrong & The Allstars - New Orle [06:45]
04 - Louis Armstrong With Louis Jordan & His T [03:07]
05 - Louis Armstrong - When It's Sleepy Time D [03:16]
06 - Louis Armstrong - Introduction + Basin St [06:19]
07 - Louis Armstrong & Ella Fitzgerald - Moonl [03:44]
08 - Louis Armstrong - Introduction + Dear Old [04:21]
09 - Louis Armstrong - And the Angels Sing [02:55]
10 - Louis Armstrong & Ella Fitzgerald - I Won [04:47]
11 - Louis Armstrong & Ella Fitzgerald - Bess, [05:31]
12 - Louis Armstrong & Oscar Peterson - Blues [05:16]
13 - Louis Armstrong & Oscar Peterson - What's [02:43]
14 - Louis Armstrong - Shadrack [02:47]
15 - Duke Ellington & Louis Armstrong - Solitu [04:55]
16 - Duke Ellington & Louis Armstrong - It Don [03:58]
17 - Louis Armstrong - A Kiss to Build A Dream [04:35]
Alimentos, artigos de luxo






Quem de nós imaginou entrar numa butique para comprar arroz, feijão, verduras e carne? Talvez não estejamos longe disso. O preço médio dos alimentos triplicou nos últimos doze meses.

No ano passado, os donos do mundo investiram na indústria da morte - a fabricação de armamentos - US$ 1,34 trilhão, 45% a mais do que há dez anos, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz. Em gastos militares, os governos aplicaram 2,5% do PIB mundial. Por cada habitante do planeta, US$ 202 foram destinados a alimentar as bestas do Apocalipse com mísseis, bombas, minas e artefatos nucleares. Em resumo: segundo a FAO, comparado com os gastos em alimentos, o valor consumido pelos armamentos superou-os 191 vezes!

Os EUA faturaram, em 2007, 45% da venda de armas no mundo. Este mercado é, hoje, dominado por 41 empresas estadunidenses e 34 da Europa Ocidental. Nos últimos dez anos, os gastos militares dos EUA aumentaram 65%, ultrapassando o que se investiu na Segunda Guerra Mundial. É o preço das intervenções no Iraque e no Afeganistão.

Além dessa desproporção brutal entre o que se investe na morte (armas) e o que se aplica na vida (alimentos), a crise do petróleo, com o barril acima de US$ 130, eleva assustadoramente o valor dos alimentos. Nos últimos 50 anos, industrializou-se a agricultura, o que aumentou em 250% a colheita mundial de cereais. Isso não significa que se tornaram mais baratos e chegaram à boca dos famintos.

A agricultura passou a consumir petróleo na forma de fertilizantes (eles representam 1/3 do consumo de energia na lavoura e tiveram aumento, nos últimos doze meses, de 130%), pesticidas, máquinas agrícolas, sistemas de irrigação e transporte - dos caminhões que fazem chegar o alimento no mercado ao motoqueiro entregador de pizza.

A agricultura industrializada consome 50 vezes mais energia que a agricultura tradicional, pois 95% de todos os nossos produtos alimentícios exigem utilização de petróleo. Apenas para criar uma única vaca e entregá-la no mercado se esvaziam seis barris de petróleo, cada um contendo 158,9 litros.

A elevação do preço do petróleo abre um novo e vasto mercado para os produtos agrícolas. Antes, eles eram destinados ao consumo humano. Agora, são também voltados a nutrir máquinas e veículos. O preço do petróleo tabela o de alimentos simplesmente porque se o valor do combustível de uma mercadoria exceder o seu valor como alimento, ela será convertida em agrocombustível.

Quem vai investir na produção de açúcar se com a mesma cana se obtém mais lucro gerando etanol? É óbvio, o açúcar não desaparecerá da prateleira dos supermercados. Apenas será oferecido como artigo de luxo, para compensar os investimentos de quem deixou de produzir agrocombustível.

Não se trata de ser contra o etanol, e sim de ser a favor da produção de alimentos, de modo que sejam acessíveis à renda média mensal do brasileiro, que é de R$ 873. E ninguém ignora o regime de trabalho escravo e semi-escravo que predomina nos canaviais do Brasil, conforme recente denúncia da Anistia Internacional. Aliás, é urgente que o Congresso Nacional aprove a PEC 438/2001 contra o trabalho escravo. Infelizmente o Planalto acaba de editar a Medida Provisória que desobriga o registro em carteira até três meses de trabalho. Quantos bóias-frias não ficarão, agora, condenados ao regime perpétuo - e legal - de trimestralidade laboral sem direitos trabalhistas?

Algumas empresas de produção de etanol obrigam os trabalhadores a colher até 15 toneladas de cana por dia e pagam o salário, não por horas trabalhadas, e sim por quantidade colhida. Segundo especialistas, tal esforço causa sérios problemas de coluna, câimbras, tendinites, doenças nas vias respiratórias devido à fuligem da cana, deformações nos pés em razão do uso dos "sapatões", e encurtamento das cordas vocais por força do pescoço curvado durante o trabalho.

Na colheita, os trabalhadores são acometidos de sudorese em virtude das altas temperaturas e do excessivo esforço. Para cada tonelada de cana é preciso desferir mil golpes de facão. Os salários pagos por produção são insuficientes para lhes garantir alimentação adequada, pois, além dos gastos com aluguéis e transporte dos locais de origem até o interior de São Paulo e de Minas, remetem parte do que recebem às famílias.

O regime atual de trabalho reduz o tempo de vida útil dos cortadores para cerca de 12 anos. Em 1850, quando o tráfico de escravos era livre e a oferta de mão-de-obra abundante, a vida útil desses trabalhadores era também de 10 a 12 anos. A partir da proibição de importar negros, o melhor tratamento dispensado aos escravos ampliou sua vida útil de 15 a 20 anos.

Se o governo federal deseja promover o crescimento econômico com desenvolvimento sustentável, sem antagonizar essas duas metas de nosso processo civilizatório, é preciso evitar os males apontados acima e fazer a reforma agrária, de modo a multiplicar as áreas destinadas à produção de alimentos, contrabalançando com as que, hoje, são ocupadas pelo agrocombustível.


[Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros].


* Frei dominicano. Escritor.

domingo, 22 de junho de 2008

Reflexões de Fidel

A verdade e as diatribes


Sabe-se que nos países industrializados e ricos as pessoas gastam em alimentos, na média, cerca de 25% de sua renda. Os que pertencem a povos que foram mantidos no subdesenvolvimento econômico usam para o mesmo fim 80% de sua renda. Muitos passam fome física e sofrem enormes desigualdades sociais. As taxas de desemprego são usualmente duas ou três vezes maiores. A mortalidade infantil assume proporções ainda maiores e a expectativa de vida se reduz a dois terços daquela dos países ricos. O sistema é simplesmente genocida.


Nas Reflexões que escrevi três dias atrás, afirmei: ''Nosso país demonstrou que pode resistir a todas as pressões e ajudar os outros povos''. Poderia a Europa dizer o mesmo?

O informe publicado pela Unesco [organização da ONU dedicada à educação], ontem, 20 de junho, afirma que Cuba ocupa o primeiro lugar entre todos os países da América Latina, tanto em matemática e leitura, no terceiro ano do ciclo fundamental, como em matemática e ciências, no sexto ano, entre mais de 200 mil crianças de 16 países, examinadas ao longo de dois anos; situa-se mais de 100 pontos acima da média regional. É a segunda vez que a Unesco outorga este título a nossa pátria.

É de se compreender que nenhum país onde os direitos humanos sejam sistematicamente violados alcançaria tais níveis de conhecimento.

Então, por que se bloqueia Cuba há 50 anos?

Porque se calunia Cuba?

Por que se cria obstáculos para todo acesso à informação técnica e científica?

Por que se deseja conduzir Cuba a um sistema econômico-social insustentável, que não oferece solução para nenhum dos problemas da humanidade?

Alguns milhões de cidadãos bolivianos, equatorianos, uruguaios, argentinos, brasileiros, centro-americanos e de outros países da América Latina emigraram para a Europa, onde agora poderão ser brutalmente devolvidos a seus países de origem, caso não cumpram todos os requisitos exigidos pela nova lei anti-imigrantes.

O que é pior: um número várias vezes maior de cidadãos do México, América central e do Sul emigrou para os Estados Unidos, cruzando fronteiras, muros e mares, sem documentação alguma ou Lei de Ajuste que os proteja ou estimule a emigrar. Mais de 500 deles morrem a cada ano. Milhares de outros perecem anualmente no México e América Central, vítimas do crime organizado, de disputas pelo mercado de drogas dos EUA, cujo consumo as mais altas autoridades daquele país não podem nem querem combater.

O subprocurador José Luis Santiago Vasconcelos declarou que o tráfico de seres humanos é a segunda entre as atividades ilegais mais lucrativas. Quando se trata de cubanos, os lucros são comparáveis aos do narcotráfico: ''Cobram até US$ 10 mil por indivíduo'', informou.

O dinheiro procede dos EUA> Penso que o México não pode se converter em paraíso do tráfico de migrantes quando até os próprios guardas costeiros americanos interceptam e devolvem as pessoas capturadas no mar.

O México não tem a obrigação de permitir que lhes imponham uma versão da política de ''pés secos'' e ''pés molhados''.

Em Cuba não existe crime organizado, nem há impunidade para o tráfico de drogas. Este é combatido com eficácia e sem ensangüentar a nação. O governo dos EUA só não o reconhece por cinismo.

Não escrevi nenhuma diatribe contra a Europa, simplesmente disse a verdade. Se ela ofende, não é culpa minha.

Para poupar espaço, sequer mencioneis na Reflexão de ontem a exportação de armas, os gastos militares, as aventuras bélicas da Otan, às quais se agregam os vôos secretos e a cumplicidade européia para com as torturas praticadas pelo governo dos EUA.

Ignoro se alguém foi preso, em qualquer ponto de Cuba, por violar alguma lei. Isso nada tem a ver com a Reflexão, que solicitei que fosse divulgada apenas por Cubadebate. Relacionar as duas coisas é arbitrário. Usarei este site na internet no ritmo que julgar pertinente. Não abusarei da paciência de ninguém. E não cobro um centavo, meu trabalho é gratuito.

Não sou nem nunca serei chefe de facção ou grupo. Nnao se pode deduzir, portanto, que existam pugnas dentro do partido. Escrevo porque continuo lutando e faço-o em nome das convicções que defendi em toda a minha vida.

Fidel castro Ruz,
21 de junho de 2008

* Fonte: http://www.prensa-latina.cu

sábado, 21 de junho de 2008

Vivaldi - Concertos - The English Concert Trevor Pinnock [ 5 CD]


Vivaldi - Concertos - The English Concert Trevor Pinnock CD1 @ 320

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01. Concerto in G alla rustica -I- Presto
02. Concerto in G alla rustica -II- Adagio
03. Concerto in G alla rustica -III- Allegro
04. Concerto for Oboe and Violin in Bb -I- Allegro
05. Concerto for Oboe and Violin in Bb -II- Largo
06. Concerto for Oboe and Violin in Bb -III- Allegro
07. Concerto in C con molti stromenti -I- Allegro molto
08. Concerto in C con molti stromenti -II- Andante molto
09. Concerto in C con molti stromenti -III- Allegro
10. Concerto for 2 Violins in G -I- Allegro molto
11. Concerto for 2 Violins in G -II- Andante (molto)
12. Concerto for 2 Violins in G -III- Allegro
13. Concerto for Oboe in A Minor -I- Allegro non molto
14. Concerto for Oboe in A Minor -II- Larghetto
15. Concerto for Oboe in A Minor -III- Allegro
16. Concerto for 2 Mandolins in G -I- Allegro
17. Concerto for 2 Mandolins in G -II- Andante
18. Concerto for 2 Mandolins in G -III- Allegro

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Vivaldi - Concertos - The English Concert Trevor Pinnock CD2 @ 320

01. Concerto for Strings in A major - I. Allegro
02. Concerto for Strings in A major - II. Adagio
03. Concerto for Strings in A major - III. Allegro
04. Concerto for Violon in E major "L'amoroso" - I. Allegro
05. Concerto for Violon in E major "L'amoroso" - II. Cantabile
06. Concerto for Violon in E major "L'amoroso" - III. (Allegro)
07. Concerto for Bassoon in E minor - I. Allegro poco
08. Concerto for Bassoon in E minor - II. Andante
09. Concerto for Bassoon in E minor - III. Allegro
10. Concerto for Flute in G major - I. Allegro
11. Concerto for Flute in G major - II. Largo
12. Concerto for Flute in G major - III. (Allegro)
13. Concerto for Viola d'Amore and Lute in D minor - I. Allegro
14. Concerto for Viola d'Amore and Lute in D minor - II. Largo
15. Concerto for Viola d'Amore and Lute in D minor - III. Allegro
16. Concerto for Oboe and Bassoon in G major - I. Andante molto
17. Concerto for Oboe and Bassoon in G major - II. Largo
18. Concerto for Oboe and Bassoon in G major - III. Allegro molto

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Vivaldi - Concertos - The English Concert Trevor Pinnock CD3 @ 320

01. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°1 in D major - I. Allegro
02. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°1 in D major - II. Largo e spiccato
03. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°1 in D major - III. Allegro
04. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°2 in G minor - I. Adiago e spiccato
05. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°2 in G minor - II. Allegro
06. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°2 in G minor - III. Larghetto
07. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°2 in G minor - IV. Allegro
08. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°3 in G major - I. Allegro
09. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°3 in G major - II. Largo
10. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°3 in G major - III. Allegro
11. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°4 in E minor - I. Andante
12. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°4 in E minor - II. Allegro assai
13. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°4 in E minor - III. Adiago IV. Allegro
14. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°5 in A major - I. Allegro
15. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°5 in A major - II. Largo
16. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°5 in A major - III. Allegro
17. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°6 in A minor - I. Allegro
18. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°6 in A minor - II. Largo
19. "L'estro armonico" op. 3 - Concerto n°6 in A minor - III. Presto

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Vivaldi - Concertos - The English Concert Trevor Pinnock CD4 @ 320

01. Concerto No.7 in F -I- Andante
02. Concerto No.7 in F -II- Adagio
03. Concerto No.7 in F -III- Allegro
04. Concerto No.7 in F -IV- Adagio - Allegro
05. Concerto No.8 in A minor -I- Allegro
06. Concerto No.8 in A minor -II- Larghetto
07. Concerto No.8 in A minor -III- Allegro
08. Concerto No.9 in D -I- Allegro
09. Concerto No.9 in D -II- Larghetto
10. Concerto No.9 in D -III- Allegro
11. Concerto No.10 in B minor -I- Allegro
12. Concerto No.10 in B minor -II- Largo e spiccato
13. Concerto No.10 in B minor -III- Larghetto - Adagio - Largo - Allegro
15. Concerto No.11 in D minor -II- Largo e spicatto
16. Concerto No.11 in D minor -III- Allegro
17. Concerto No.12 in E -I- Allegro
18. Concerto No.12 in E -II- Largo
19. Concerto No.12 in E -III- Allegro

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http://rapidshare.com/files/122552592/vivaldipinnock4.part2.rar

Vivaldi - Flute Concertos, Op. 10 (Orpheus Chamber Orchestra feat. Patrick Gallois) CD5 @ 320

01. N° 1 in F major "La tempesta di mare" - I. Allegro
02. N° 1 in F major "La tempesta di mare" - II. Largo
03. N° 1 in F major "La tempesta di mare" - III. Presto
04. N° 2 in G minor "La notte" - I. Largo
05. N° 2 in G minor "La notte" - II. Presto (Fantasmi)
06. N° 2 in G minor "La notte" - III. Largo
07. N° 2 in G minor "La notte" - IV Presto
08. N° 2 in G minor "La notte" - V Largo (Il Sonno)
09. N° 2 in G minor "La notte" - VI. Allegro
10. N° 3 in D major "Il gardellino" - I. Allegro
11. N° 3 in D major "Il gardellino" - II. [without tempo]
12. N° 3 in D major "Il gardellino" - III. Allegro
13. N° 4 in G major - I. Allegro
14. N° 4 in G major - II. Largo
15. N° 4 in G major - III. Allegro
16. N° 5 in F major - I. Allegro ma non tanto
17. N° 5 in F major - II. Largo cantabile
18. N° 5 in F major - III. Allegro
19. N° 6 in G major - I. Allegro
20. N° 6 in G major - II. Largo
21. N° 6 in G major - III. Allegro

Total Size: 587,81MB

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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Uruguai: Tomografia da Crise Social



Por Juan Luis Berterretche.

Infantilização da pobreza

O fenômeno da infantilização da pobreza é mais grave no Uruguai que no resto dos países da região. A metade da população uruguaia que vive em condições de pobreza é composta de crianças e adolescentes que, aliás, são menos de um terço (29%) da população total do país. As cifras da pobreza infantil indicam que este é o setor mais vulnerável diante das variações da economia. Em 2001 a metade (50,53%) das crianças menores de 6 anos estavam na linha da pobreza. Em 2003, em seguida à crise financeira, este percentual chegou a 67%. No final de 2006 as crianças vivendo em condições de pobreza voltam a ser a metade (49,58%) do total de crianças menores de 6 anos. Apesar da melhora relativa dos últimos anos, o problema segue sendo grave e persistente. (1)

Vinte por cento das crianças que ingressam no sistema educativo primário chega com algum problema de atraso no peso ou na estatura ou alguma dificuldade de caráter cognitivo. Embora isto não seja resultado unicamente da pobreza, esta é o fator principal. É preciso buscar as causas desta situação de pobreza extrema, a exclusão social nas deficiências do sistema sanitário (2).

Em março de 2008 uma informação preliminar do Ministério de Saúde Pública sobre um índice fundamental para medir a situação da infância, apresentou cifras alarmantes. A Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) até o primeiro ano de vida cresceu durante 2007 em relação ao ano anterior. A taxa de TMI situou-se em 11,9 a cada mil crianças e o crescimento em relação a 2006 é de 13,5%. A taxa de mortalidade infantil no Uruguai é o dobro que em Beijing. (3)

O cenário dos adolescentes e jovens não é muito melhor. 33% deles vivem em situação de pobreza e 22% dos que são maiores de idade estão desempregados (4). Ou seja, há 3 vezes mais desempregados entre os jovens maiores que no conjunto de todas as faixas etárias. A taxa de desemprego nacional alcança 7,6%.

Como conseqüência da insuficiência de ingresso das famílias, a escassez de recursos do sistema educativo, a deficiência na qualidade de ensino e os baixos salários dos professores do ensino médio, a deserção no Ciclo Básico (até o terceiro ano do ensino médio) e no Bacharelado (os seis anos do ensino médio) tem cifras pavorosas. 40% dos estudantes que ingressam no secundário abandona antes de concluir o Ciclo Básico e dois terços dos estudantes de ensino médio não concluem o bacharelado.

“A escolaridade ou níveis de atividade que exibem os adolescentes uruguaios de níveis baixos e da classe média estão entre os piores da América Latina, ainda em relação a países mais pobres e com maiores problemas sociais”. “No caso do Uruguai, os adolescentes (entre 15 e 17 anos) que não assistem à educação formal e são inativos em lares com um ambiente educativo baixo superam os 25%, a pior porcentagem na América do Sul e só superada na América Latina por Honduras (27%).” (5).

“Tomando em conta o total dos adolescentes entre 15 e 17 anos à margem da educação e do trabalho na América Latina o índice varia entre 3,26% na Bolívia e 20, 46% em Honduras. Em média Uruguai tem 12,68% de adolescentes em todo o país que não estudam nem trabalham, acima da média latino americana que está em 12%.” (6).

Fortalecimento dos sindicatos e conquistas trabalhistas

Com a aprovação por parte do governo de algumas medidas e leis que eram prioritárias no programa da central sindical se conseguiu uma forte sintonia entre o executivo e a corrente majoritária (grupo Articulación) dentro do PIT-CNT.

As principais medidas adotadas a favor dos sindicatos foram a instalação dos Conselhos de Salários, a Lei de Negociação Coletiva e a Lei de Foros Sindicais. Esta última garantiu proteção jurídica à atividade sindical. Esta mudança na legislação nacional conduziu a que 97% dos trabalhadores privados, 99% dos trabalhadores públicos e 33% no setor rural (7) estejam amparados por convênios coletivos (8). Em 2006 houve 206 convênios e acordos.

Por conseqüência da instalação dos Conselhos de Salários, entre março de 2005 e janeiro de 2008 o salário real se incrementou em 17,7% no setor público e 14,8% no âmbito privado (9).

A recuperação salarial dos funcionários públicos da administração central (nucleados no COFE) durante o atual período de governo alcançou 19,5%.

Os docentes da Administração Nacional de Educação Pública (ANEP) conseguiram uma recuperação salarial de 24% e os funcionários não docentes da Universidade da República, 36%. Em Saúde Pública os médicos tiveram 100% de aumento em relação ao seu salário mínimo.

Os avanços não se restringiram aos incrementos salariais. Quase a metade dos convênios aprovados estabeleceu novos benefícios de salário indireto. Licença natalidade, por estudo, feriados especiais, adicionais por antiguidade e gratificações, adicional noturno, direito a roupa de trabalho e transporte, etc. Inclusive redução da jornada de trabalho como no setor da bebida que baixou de 8 para 6 horas diárias com igual salário.

Outra disposição legal que favoreceu aos trabalhadores foi a Lei de Terceirizações que fazia responsáveis dos cumprimentos dos direitos dos seus trabalhadores terceirizados às empresas que terceirizavam sua relação trabalhista. Também foi abolido o decreto que permitia despedir postos de trabalho. Esperando uma sanção definitiva do parlamento, existe um projeto para equiparar o regime de folgas entre públicos e privados.

As conquistas salariais, os benefícios indiretos e a maior proteção legal à atividade sindical redundaram em um aumento dos sindicalizados e dos grêmios aderidos ao PIT-CNT. A central de Trabalhadores passou de 120.000 a 280.000 afiliados entre 2003 e 2008.

Continua um núcleo duro de pobreza

Analisando as cifras de pobreza (lares com ingresso entre $2.292 e $4.732) e indigência (lares com ingresso menor que $2.292) desde março de 2005 à data que comprovamos que os planos do atual governo (10) fizeram diminuir a pobreza em 13,8% (algo mais que 100.000 pobres a menos) e reduziram a indigência à metade (34.000 indigentes menos que em 2004). (11).

Mas se considerarmos o desenvolvimento das cifras de pobreza e indigência da última década vemos que ainda está longe de alcançar os percentuais que o país tinha no final da década passada. Em 1999 os montevideanos que viviam abaixo da linha da pobreza eram de 16,2% da população da capital. Em 2001 o percentual subiu a 18,4%; em 2002 a crise financeira mergulhou na pobreza a 23,5% dos montevideanos e em 2004 quase um terço (31,8%) da população da capital era de pobres. Em 2007 mais da quarta parte (26,5%) da população da capital está abaixo da linha da pobreza. Em termos de pobreza hoje se está um 10% pior que em 1999. (12)

A redução da pobreza alcançada durante o atual governo se limitou a setores sociais de pobreza recente que, havendo descido à pobreza como conseqüência da crise de 2002, se foram recuperando no marco da reativação econômica. Ao mesmo tempo se mantém um núcleo duro de pobreza que nem os planos do MIDES nem a relativa recuperação salarial conseguiram abater.

É importante saber que mais de 15% dos assalariados urbanos do país e 35% dos trabalhadores informais estão abaixo da linha da pobreza. Existindo bolsões de pobreza maior entre os trabalhadores da agricultura e pecuária, da pesca, da construção e da exploração de minas. Quando se combina a ocupação com a idade temos resultados ainda piores: entre os menores de 25 anos que estão no trabalho doméstico a pobreza alcança 40%.

Descontentamento

No primeiro trimestre de 2008, a quantidade de horas de greve aumentou 41%. 64% da agitação do trimestre se deveu a greves no setor privado. Em particular na construção pelo crescimento dos acidentes de trabalho. O ponto mais alto da agitação no setor público foi por conta dos trabalhadores da Prefeitura Municipal de Montevidéu e pelas mobilizações dos professores primários. Também os professores do secundário e os funcionários da Universidade da República realizaram greves. Os trabalhadores do ensino reclamam melhoras a incorporar na Rendição de Contas. Os funcionários das instituições públicas realizaram uma greve de 24 horas e outra série de medidas.

“As reivindicações vão continuar enquanto os avanços sejam insuficientes. Não nos importa se esta luta poe em perigo um novo triunfo da Frente Ampla.” Esta é a opinião de Joselo López da Confederação dos Funcionários do Estado (13).

Na reunião dos 400 delegados aos Conselhos de Salários com o executivo do PIT-CNT se definiram algumas pautas para a negociação com as patronais que indicam um descontentamento com o obtido pelo movimento sindical até agora em termos de aumento salarial.

Em primeiro lugar começa a ficar claro que a recuperação salarial partiu do nível baixíssimo de ingressos que impôs a crise econômica de 2002. O salário real médio diminuiu 23,3% entre 2000 e 2005. Muitos sindicalistas são conscientes que nos convênios coletivos apenas se recuperou 50% do salário perdido (14).

Em 2006 e 2007 a produção nacional cresceu 6,6% e 7% no primeiro trimestre de 2008. o PBI foi 10,9% superior a igual trimestre de 2007. O certo é que os aumentos salariais obtidos não acompanham o crescimento da economia e do PBI.

Por isso, enquanto o governo propõe aumentar o salário mínimo a $4.150 e a proposta do PIT-CNT era de $6.800, os representantes nos conselhos de salários elevaram sua demanda de um salário mínimo de $8.500.

Exigiram também relacionar o aumento salarial a uma maior distribuição da riqueza, tomando como referência o crescimento da economia e da produtividade de trabalho.

A pauta do governo para os conselhos anteriores de salários era aprovar convênios com prazos de vigência superior ao ano e ampliar o tanto possível o prazo dos ajustes relacionados com a inflação. Em sua reunião com o executivo do PIT-CNT os representantes decidiram reduzir a periodicidade das correções por aumento do IPC.

É necessário levar em conta que a atual inflação está concentrada no preço dos alimentos. No primeiro quadrimestre de 2008 o setor alimentos aumentou em 5% e o acumulado dos últimos 12 meses supera os 20%. Mas se nos concentrarmos nos alimentos prioritários na dieta dos uruguaios veremos que o crescimento dos preços é muito superior ao do setor alimentos e bebidas em geral, onde os bombons, o whisky e os vinhos se promediam com o arroz, o azeite, a carne, o pão e o leite. A variação anual em porcentagens a maio de 2008 de alimentos e bebidas (15) revela algumas cifras escandalosas. Desde a cebola cujo preço aumentou em 118,7%, passando pela uva com uns 75%, o pêssego com 64,5%, os queijos que aumentaram entre uns 35% e uns 54,6%, o arroz 52,5%, o óleo de girassol 53,7%, o pão baguete 28,9%, o assado 22,3%, o pescado 18,8% e o leite 17,15%. O aumento dos alimentos afeta em forma inversa a pirâmide social: quanto maior é o nível de pobreza maior é a porcentagem de salário destinado a alimentação e, portanto, se trata de uma inflação perversa que golpeia em maior medida a pobreza e a indigência.

Outra reivindicação importante do mandato aos representantes aos conselhos de salários é a redução da jornada de trabalho em todos os setores da atividade privada. Mas não se trata de uma campanha na que o PIT-CN T ponha todos seus esforços de maneira centralizada: se deixa a cada setor a forma de implementar esta medida tanto em horas como em dias.

Continua a concentração da riqueza

Enquanto os pós-comunistas e social-democratas liberais disputam sobre quem administra melhor o capitalismo, a embaixada dos EUA elogia o ministro da economia e finanças Danilo Astori pela aplicação de uma política “macroeconômica ortodoxa”, ou seja, neoliberal e de acordo com as receitas do FMI e Banco Mundial. No mesmo informe a embaixada do império celebra o tratamento preferencial ao capital estrangeiro que outorga o governo de “centro esquerda” de Tabaré Vázquez (16).

O certo é que, enquanto o governo realiza reuniões ministeriais para dar informes triunfais sobre as relativas e exíguas melhoras sociais, alguns economistas começam a difundir as cifras da continuidade de uma distribuição regressiva da riqueza no período de 2005 – 2007.

Os resultados da arrecadação da DGI em 2007 demonstram que a Reforma Tributária aprovada pelo atual governo favorece a acumulação de capital esgotando os trabalhadores. Os 90% da arrecadação corresponde a aportes dos trabalhadores e só em 10% afeta ao capital. A “redistribuição da renda” que realizaria o IRPF estava centrada em tirar dos trabalhadores que ganham mais para aumentar a renda dos que ganham menos, sem afetar as ganâncias do capital. O discurso do governo enfrentava aos aposentados da miséria com os aposentados que não alcançavam a receber uma cesta básica, a população mais pobre com os assalariados com maiores rendas e a classe média. Um discurso perverso para dividir os setores populares, mantendo um modelo da prioridade a ganância das empresas e transnacionais.

Vejamos como foi a distribuição da riqueza em 2007. O PIB é o índice que utiliza o capital para medir a geração anual de riqueza. “Em 2007 o PIB superou os 22.000 milhões de dólares, num processo que confirma a tendência de crescimento dos últimos três anos. Do total, quase uns 30% (6.600 milhões de dólares) corresponde ao que foi às mãos dos trabalhadores (salários e aposentadorias); uns 20% (4.400 milhões de dólares) deriva ao Estado (deduzidas as transferências por aposentadorias); o restante (11.000 milhões de dólares) corresponde a rendas de capital. No período 2005-2007 se verificou uma queda de 33% da participação da massa salarial em relação ao produto bruto por habitante. Há uma perda da participação dos salários e os ingressos no PIB de amplíssimos setores da população; o pronunciado aumento da riqueza gerada no país ignorou a imensa maioria” (17).

Desde a analise de outro índice de distribuição da riqueza o economista liberal Jorge Notaro confirma as conclusões anteriores.

Enquanto o PIB mede o que se gera no país anualmente, a Renda Nacional Bruta Disponível (YNBD) são os ingressos que ficam no país cada ano. O YNBD é menor que o PIB porque as transferências de renda ao exterior superam as que se recebem.

“A participação da massa salarial no YNBD passou de 31% no triênio de 1998 – 2000 a 17,5% em 2004. Em 2005 a massa salarial aumentou uns 3,5%” (18). No triênio 2005-2007, se mantém a política salarial sem mudanças, a massa salarial no YNBD se situaria uns 10% por debaixo do nível do triênio 1998-2000. Isto significa que, cada ano, aproximadamente 1.700 milhões de dólares que antes recebiam os assalariados e suas famílias agora são apropriados pelo capital. “O novo governo sobrecumpriu as metas acordadas com o FMI de crescimento, resultados fiscais, conta corrente e redução da divida”. Sua política econômica “é a instrumentação própria da ortodoxia fundomonetarista” (19).

O aumento do preço internacional dos commodities (alimentos transformados em mercadorias da economia globalizada) está impulsionando uma inflação centrada nos produtos alimentícios. Mas para a economia capitalista uruguaia existe uma grande oportunidade de lucro. O Uruguai é o sétimo exportador de arroz do mundo e o primeiro da América Latina; é também o primeiro exportador de laticínios no continente; e um tradicional exportador de carnes de qualidade. A imprensa chegou a dizer que se pode alcançar os 10.000 milhões de dólares em exportações em 2008 (29). Em um cenário incomparável para derivar riqueza até os trabalhadores, a continuidade da política do governo nos promete uma grande acumulação de capital.

Pós-comunistas e social-democratas liberais voltaram a demonstrar que o capital é acumulativo e não distributivo.

(1) Evolução da pobreza e desigualdade de renda no Uruguai entre 2001 e 2006 Instituto Nacional de Estatística - INE.

(2) Gustavo de Armas, sociólogo, responsável de Políticas Sociais e Educação da UNICEF no Uruguai,O País Suplemento da ECONOMIA E MERCADO 04 12 2006.

(3) Agustina Navarro, O País, 20 03 2008.

(4) Pesquisa de Lares Ampliada do Instituto Nacional de Estatísticas-INE.

(5) Segundo o informe publicado em maio de 2008 pelo Sistema de Informação de Tendências Educativas na América Latina (SITEAL) apoiado pela UNESCO e a Organização de estados Iberoamericanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) semanário Busca 29 05 2008.

(6) Ibid.

(7) O setor rural participa pela primeira vez neste tipo de instâncias.

(8) Relações Laborais e Modelo de Desenvolvimento – Programa de Modernização das Relações Laborais da Universidade Católica (UCUDAL)

(9) Instituto Nacional de Estatística - INE.

(10) Plano de Emergência e Plano de Equidade do Ministério de Desenvolvimento Social – Mides.

(11) Fabiana Espíndola e Gustavo Leal, Observatório de Montevidéu de Inclusão Social, O País, 12 09 2007.

(12) Instituto Nacional de Estatística – INE.

(13) O Observador 03 05 2008.

(14) Instituto Cuesta Duarte.

(15) Instituto Nacional de Estatística – INE. Componentes do IPC do setor alimentos e bebidas. Taxa de variação de prexos de junho 2007 a mio de 2008.

(16) Os dados que apontam a concentração de riqueza, Semanário Brecha, 07 03 2008.

(17) Joaquín Etchevers, A distribuição de renda no período de 2005 – 2007 com referência a tendências de maior prazo. Semanário Brecha, 07 03 2008.

(18) Jorge Notaro, Investigador do Instituto de Economia do Uruguai (IECON) da Faculdade de Ciências Econômicas e de Administração (FCCEE). Revista Caras e Caretas 11 05 2007.

(19) Ibid.

(20) A República 08 06 2008

Versão em português: Vanessa Bortucan e Verônica Loss.
Um balanço do Fórum de Mídia Livre





Altamiro Borges

O 1º Fórum de Mídia Livre, realizado neste final de semana no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, superou as expectativas mais otimistas. Apesar da frágil divulgação e da débil estrutura, reuniu cerca de 500 ativistas de vários estados, o que confirma a crescente rejeição à ditadura midiática e a existência de inúmeras e ricas experiências independentes e alternativas por todo o país. Lançado em março, num encontro em São Paulo com 42 jornalistas, docentes e comunicadores sociais, o fórum já mostrou a sua força e tem tudo para ser um ator importante na luta pela democratização dos meios de comunicação e pelo fortalecimento da mídia livre.

Além do aspecto quantitativo, que garantiu a sua representatividade, o fórum teve uma qualidade que deve ser preservada e valorizada: a sua pluralidade. Durante os dois dias do evento na UFRJ, houve a convivência madura e franca entre distintas concepções e variadas experiências. Desde os que priorizam as iniciativas atomizadas e autonomistas, até os que encaram esta batalha como eminentemente política, na qual a pressão sobre o Estado é decisiva. O fórum teve a presença de jornalistas da "mídia grande" – embora poucos – e de ativistas que realizam, de forma heróica e criativa, experiências em rádios e TVs comunitárias, sites, blogs, revistas e jornais.

Nesta unidade na diversidade, surgiram várias propostas para o fortalecimento da mídia livre no país, como a da construção de uma rede colaborativa, um tipo de portal, que crie maior sinergia entre as várias experiências; a campanha pela democratização das verbas publicitárias; a luta pela realização da Conferência Nacional de Comunicação com critérios democráticos de participação; a exigência de que os Correios distribuam impressos alternativos, superando o atual monopólio do setor; a campanha pela inclusão digital e pela difusão do software livre; construção de pontos de mídia livre, seguindo a rica experiência dos pontos de cultura, entre outras idéias.

Os participantes também aprovaram os próximos passos organizativos e políticos do Fórum de Mídia Livre, o que consolida o movimento e indica que ele veio para jogar papel na sociedade. A próxima fase, no segundo semestre deste ano, será a da constituição dos núcleos nos estados, que terão autonomia para organizar fóruns estaduais representativos; em janeiro próximo, durante o Fórum Social Mundial em Belém, ocorrerá um encontro de caráter mundial ou latino-americano dos "midialivristas" e o segundo fórum brasileiro foi marcado para 2009. Também foi composto um novo grupo de trabalho executivo nacional (GTE) para encaminhar as decisões da UFRJ.

No que se refere à ação política, ficou acertada a ampla difusão do manifesto do movimento, que será alvo de debates com os movimentos sociais e as forças políticas. Já os núcleos municipais e estaduais agendarão encontros com representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como serão marcadas audiências com os presidentes da República, do Congresso e do STF. A idéia é promover nesta data um ato político em Brasília. A partir do belo evento da UFRJ, o Fórum de Mídia Livre (FML) agora adquire nova dinâmica, e seu êxito dependerá do engajamento de todos os que encaram esta luta como indispensável à ampliação da democracia no Brasil.

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PC do B e autor do livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi).