terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Brasil - O STF e a verdade histórica





Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se encontram perante duas alternativas: reiterar a Lei de Anistia e isentar de punição os responsáveis por crimes da ditadura militar ou declarar que suas atrocidades são imprescritíveis e, portanto, passíveis de penalidades.

Escolhida a primeira alternativa, descansarão em paz com os setores militares que mancharam 21 anos de história do Brasil. E terão seus nomes incluídos, pelos historiadores do futuro, entre os que foram coniventes com os graves crimes praticados.

Se prevalecer a segunda alternativa, haverão de reafirmar a independência da corte suprema e terão seus nomes registrados na história por terem ouvido o clamor de justiça das vítimas.

O direito de justiça às vítimas é acentuado pela tradição bíblica. Javé não permite que o sangue de Abel se cristalize em lacre de silêncio, e os apóstolos identificam na ressurreição de Jesus a "volta por cima" daquele que, preso, torturado e assassinado por dois poderes políticos, tem a sua memória perpetuada pelos evangelistas. É o que faz da Igreja primitiva memorial dos mártires, elevados aos altares para que jamais se esqueça o valor de seu sacrifício.

A tese de que "é melhor não reabrir as feridas" é típica de quem se beneficiou de golpes e ditaduras, afirma o espanhol Prudêncio García, representante da ONU na apuração dos crimes da ditadura guatemalteca.

O argumento do ministro Gilmar Mendes, de que reabrir o debate traria instabilidade ao país, carece de precedente histórico. Chile, Argentina, Uruguai, Guatemala e El Salvador investigaram os crimes de suas respectivas ditaduras e, ao punir culpados, reforçaram ainda mais o Estado de Direito, pilar do regime democrático.

Na Argentina, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (1984), presidida pelo escritor Ernesto Sábato, extirpou das Forças Armadas os resquícios da ditadura, fez justiça às vítimas, puniu os responsáveis e ainda tornou um dos denunciantes, Adolfo Perez Esquivel, merecedor o Prêmio Nobel da Paz. A Marinha argentina admitiu que utilizaram suas instalações (ESMA) para seqüestrar, torturar e assassinar cidadãos. Nem por isso a democracia se viu ameaçada.

No Chile, a Comissão de Verdade e Reconciliação (1990) passou a limpo a ditadura Pinochet. O Exército reconheceu que, na Villa Grimaldi, presos políticos sofreram torturas até a morte. A Marinha admitiu que o mesmo ocorreu a bordo do navio-escola Esmeralda. Nem por isso a democracia se viu ameaçada.

Em El Salvador, a Comissão da Verdade (1992) teve o patrocínio da ONU. O Exército assumiu sua responsabilidade nos massacres de El Mozote (1981) e dos seis jesuítas da Universidade Centro-Americana (1989), bem como no assassinato do arcebispo Oscar Romero (1980). Nem por isso a democracia se viu ameaçada.

Na Guatemala, a Comissão de Esclarecimento Histórico (1997) fez a filha de uma das vítimas, assassinada pela ditadura, também merecer o Nobel da Paz: Rigoberta Menchú. Os militares daquele país reconheceram que uma ala do Exército cometeu brutal genocídio contra as comunidades indígenas de El Quiché e Petén.

Segundo Prudêncio García, todas essas investigações tiveram em comum o fato de terem sido posteriores a períodos de terríveis conflitos internos; todas trouxeram luz à verdade histórica; todas reiteraram a supremacia da força do Direito sobre o "direito" da força. Em todos os casos, a única parcela da sociedade contrária às apurações foi exatamente a que se beneficiou das graves violações dos direitos humanos.

Walter Benjamin, ao assinar sua filosofia com o próprio sangue, nos adverte que a memória das vítimas jamais se apaga. Não se passa borracha na história. Toda tentativa de fazê-lo resulta em atrocidade intelectual: maculá-la de falsidade e mentira.

Na Alemanha pós-nazista, terminado o julgamento de Nuremberg, iniciou-se um movimento de ocultação da verdade histórica. Hannah Arendt, após 13 anos de exílio na França e nos EUA, reagiu indignada ao regressar: "Os alemães vivem da mentira e da estupidez!"

Israel jamais permitiu que a memória das vítimas do nazismo fosse apagada, esquecida ou suprimida da história. O anjo de Paul Klee continua a voar para frente e olhar para trás...

"Portar máscara durante longo tempo estraga a pele", exclama a escritora tcheca Monika Zgustova. "Algo parecido ocorre à sociedade que oculta sua própria culpa com a intenção de livrar-se dela, esquecendo-a. Sociedades e cidadãos devem assumir coletiva e individualmente a responsabilidade do que fazem ou fizeram nossos governos. Este é um dos mais importantes atos da dignidade humana".

O caráter da história do Brasil repousa em mãos dos ministros do STF.

[Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros].


* Escritor e assessor de movimentos sociais

CORRELAÇÃO DE FORÇAS EM ISRAEL MUDOU PRA PIOR

Do blog do Rodrigo Vianna

por Élcio Siqueira

Agnóstico, formado numa família católica, tomei contato com a comunidade hebraica através dos judeus progressistas, no começo dos anos 80. Gente que eu encontrava em protestos em São Paulo contra a invasão israelense do Líbano em 1982, que realizava um debate muito sério com militantes da OLP e se referenciava no movimento Paz Agora e em outras iniciativas de diálogo originadas no interior do universo judaico. Para contato com as idéias dessa brava e honorável gente, recomendo o sítio http://www.pazagora.org/ no qual estão disponíveis, dentre outros textos interessantes, matérias muito recentes de jornais e pensadores israelenses traduzidas para o português.

Acredito que esses horríveis acontecimentos na Faixa de Gaza que ora estamos acompanhando pela mídia remetem a dois pontos de estrangulamento.

O principal (e mais imediato) é a recusa israelense a realizar quaisquer concessões significativas aos palestinos nos territórios ocupados, como ficou claro durante o governo de Ehud Barack (1999-2001). Eleito sob o signo da retomada do processo de negociações que tinha sido interrompido com o assassinato do premiê Yitzhak Rabin em 1995 e pela vitória do Likud nas eleições de 1996, Barack apresentou um projeto que, dentre outros problemas, devolveria uma parcela mínima da Cisjordânia aos palestinos e retalhava seu território no meio dos assentamentos judeus que não seriam retirados, proposição reconhecida pelos palestinos (e internacionalmente) como inaceitável.

Mesmo que esta proposta tenha resultado menos da inabilidade do governo de Barack (e mais da própria correlação de forças dentro do parlamento israelense), o fato é que, no fim das contas, a iniciativa representou uma derrota política da coalizão então hegemônica, à qual se somou o fracasso da busca de uma solução negociada que encerraria a ocupação israelense do sul do Líbano. Nessa área, o exército israelense vinha tendo um índice de baixas de 05% no contingente engajado, marca reconhecida em mundo como característica de guerra aberta entre forças equivalentes.

Partindo dessa contestação – que poderia, em tese, ter levado à obtenção de ganhos políticos e diplomáticos através da negociação de uma saída honrosa – o governo Barack acabou colhendo uma derrota espetacular; suas tropas foram simplesmente enxotadas das terras libanesas pelo Hesbollah, na primeira grande vitória de uma força árabe num confronto direto com Israel.

Entre os governos de Yitzhak Rabin em 1992-1995 (durante o qual foi assinado o Acordo de Oslo com a OLP que permitiu a criação da Autoridade Palestina) e Ehud Barack, a correlação de forças dentro da sociedade israelense mudou para pior com a chegada massiva de judeus da União Soviética em derrocada (que deram base a um partido bastante conservador) e com a proliferação de partidos confessionais de vários matizes, sem os quais é muito difícil compor uma maioria parlamentar estável.

O preço (literalmente) cobrado é a destinação de recursos públicos para escolas de feição religiosa fundamentalista e a imposição de impedimentos de toda sorte às conversações com as lideranças palestinas.

Outro sinal do mesmo processo de direitização da política israelense foi a criação do partido Kadima em 2005, reunindo antigos líderes do Likud e supostos adversários trabalhistas de épocas passadas, como Shimon Peres. Um denominador comum entre todos é que os assentamentos israelenses em terras árabes são entendidos como uma realidade que veio para se firmar em definitivo. Aliás, a maior concessão que qualquer governo israelense se permitiu nesta questão foram os supostos “congelamentos” de novos núcleos judeus em áreas palestinas.

Existem, claro, expressivos setores progressistas e lúcidos em Israel, capazes de se fazer sentir nas disputas internas como um fator de moderação contra propostas de novas aventuras militares. Entretanto, a idéia de que a sociedade israelense, no seu conjunto, tem feição politicamente avançada parece pertencer a um passado de retorno cada vez mais difícil.

O outro aspecto fundamental é a composição demográfica do Estado de Israel. De acordo com Sergio Della Pergola, reconhecido professor de Demografia Judia na Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel contava, em 2005, com 10,5 milhões de habitantes, sendo 50% de hebreus. Os árabes nascidos em Israel eram 1,3 milhões e os palestinos nesse mesmo território somavam 3,3 milhões. Mantida a tendência ora verificada, o número de judeus cairá para 35% do total da população israelense até 2050: as mães judias têm uma média de 2,7 filhos contra 04 filhos por mulher entre as palestinas (conforme http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=1215 e http://maierovitch.blog.terra.com.br/2009/01/09/em-gaza-a-lei-e-outra/). O mesmo estudioso assinala que, em todo o mundo, o crescimento da população judaica é negativo, com um percentual crescente de idosos em pouco mais de 13 milhões de indivíduos. 05 milhões vivem nos Estados Unidos, onde são 02% do contingente populacional.

Portanto, uma eventual incorporação da população árabe dos territórios ocupados à política israelense simplesmente implodiria o Estado Judeu. Mas, até quando será possível tanto inviabilizar o Estado Palestino quanto negar direitos de cidadania às populações árabes da Cisjordânia e de Gaza? Aparentemente, os setores majoritários da opinião pública de Israel preferem acreditar que decisões dessa natureza podem ser proteladas indefinidamente e que quaisquer concessões feitas por um governo aos palestinos poderão ser canceladas por outro que vier, mais firme e decidido.

Nessas condições, não é surpreendente que, em 2001, Ariel Sharon tenha sucedido ao hesitante Ehud Barack na liderança de Israel. Já que os setores nominalmente favoráveis a negociações com os palestinos e com os Estados vizinhos não tinham nem firmeza de propósitos em suas ações, nem capacidade de articular uma maioria parlamentar coerente, Sharon propunha-se a realizar sem problemas de consciência a destruição da estrutura administrativa da Autoridade Palestina e a aplicação de uma política de extermínio seletivo das lideranças árabes nos territórios ocupados, combinada com um esforço sistemático para desmoralizar o governo do Presidente Yasser Arafat.

Outro ponto essencial de seu governo foi a construção de dezenas de quilômetros de muros para isolar as áreas de população majoritariamente palestina, com direito a portões de entrada vigiada, torres com homens pesadamente armados e limitações de acesso à água para os confinados. Essas medidas restringiram as possibilidades de obtenção de empregos para os palestinos fora das terras onde residem, agravando os índices de pobreza em seu meio.

Dessa maneira, o Estado de Israel tornou-se crescentemente parecido com o extinto regime sul-africano do apartheid, com a construção de barreiras físicas destinadas a proteger uma minoria privilegiada numa escala provavelmente nunca imaginada pela liderança africâner.

A incansavelmente repetida alegação de que Israel é um país democrático não invalida o paralelo, pois o apartheid era um regime democrático para a elite branca que tratava o principal movimento de oposição ao sistema (o Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela) como organização terrorista, tal como ocorre em Israel em relação a qualquer movimento palestino de resistência.

Nos primeiros dias de 2006, o premiê Sharon entrou em estado vegetativo, não podendo, conseqüentemente, testemunhar o principal resultado das ações de seu governo: a vitória do Hamas nas eleições palestinas de 25 de janeiro desse ano, à qual se seguiu (dentro do meio palestino), o rompimento com o governo moderado do Presidente Abbas, com a instauração de um domínio exclusivista dessa facção na Faixa de Gaza; catástrofes tão evidentes que as forças políticas dominantes em Israel viram-se na contingência inadiável de restabelecer relações com a Fatah, facção palestina do falecido Arafat. No entanto, o estrago estava concretizado: o Hamas emergiu como a liderança de enormes parcelas dos palestinos e nenhuma negociação séria sobre os territórios ocupados poderia ocorrer sem a sua presença a partir de então.

Ehud Olmert, continuador de Sharon no governo de Jerusalém, tem se revelado um colecionador de desastres. O primeiro foi a invasão do sul do Líbano em 2006 que resultou na segunda grande vitória do Hesbollah sobre Israel, ao qual se seguiram escândalos que reduziram o Premiê a uma personalidade desmoralizada. O terceiro grande fracasso pode estar ocorrendo neste momento, em Gaza, às vésperas das eleições israelenses marcadas para março próximo.

Estamos assistindo a um desgaste inédito de Israel e do sionismo perante a opinião pública de todo o mundo que assiste horrorizada à matança de centenas de crianças e a práticas como bombardear residências, escolas e hospitais para, em seguida, cercar as áreas atingidas para que o socorro humanitário não chegue a tempo. Por outro lado, o Exército Israelense até agora não foi capaz de apresentar evidências claras de qualquer ganho fundamental na suposta luta contra o terrorismo; alguma coisa como a eliminação da liderança ou da estrutura de funcionamento do Hamas ou de alguma outra organização palestina.

Uma meta desse tipo, aliás, dificilmente poderá ser realizada devido ao conhecido fato de que o Hamas e outras facções terroristas não possuem um comitê central ou uma estrutura hierarquizada que, ao ser destruída, paralisaria a organização. Muito ao contrário, o modelo vigente é o de pequenos núcleos que não se conhecem entre si cujos membros, se capturados, não têm nenhuma informação cuja revelação comprometeria de forma importante o movimento. Também é imprudente prometer a “destruição das bases de lançamento de mísseis contra o território de Israel” porque os artefatos que militantes palestinos disparam a partir de Gaza são de fabricação caseira, produzidos em boa parte com produtos de limpeza...

O governo israelense parece ignorar que, se Clausewitz estava certo ao conceber a guerra como continuidade da política, ações armadas não deveriam iniciar-se sem que, antes, seus objetivos tenham sido estabelecidos com clareza. Nessa maneira clássica de encarar o problema ora considerado, as alternativas são: ou a equipe de governo de Israel está jogando uma espécie de partida de xadrez visualizando os lances que ocorrerão sete ou oito jogadas adiante – num horizonte muito além da percepção do grande público – ou a aventura em Gaza prosseguirá até o momento em que se perceba que o isolamento político e diplomático de seu país atingiu níveis que nem mesmo a tradicional prepotência israelense pode permitir-se.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Ato de solidariedade ao povo palestino nesta terça, na Assembléia Legislativa do RS


Do blog RsUrgente


A Federação Árabe Palestina do Brasil, o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino e um conjunto de outras entidades e organizações sociais e políticas promovem nesta terça-feira (13), às 10 horas, no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, um ato de solidariedade ao povo palestino e contra o massacre promovido por Israel em Gaza. Após o ato, será realizada uma marcha pelo centro de Porto Alegre.

O Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino defende as seguintes propostas:

1) A luta pela imediata retirada das tropas israelenses do território palestino;

2) O imediato reconhecimento do Estado Palestino;

3) O boicote aos produtos israelenses. A idéia é não comprar produtos fabricados pelos sionistas, que hoje escondem o “Made in Israel” para driblar a repulsa mundial, mas tem o código de barras iniciado com o número 0729;

4) Rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Israel;

5) Não ao acordo Mercosul/Israel;

6) Responsabilização pelas atrocidades cometidas por Israel.

AS VINHAS DA IRA - 1940 - CLÁSSICO DO CINEMA




Titulo original:The Grapes Of Wrath
Duração:129 minutos (2 horas e 9 minutos)
Gênero:Drama
Direção:John Ford
País de origem:EUA/1940
Roteiro:Nunnally Johnson, baseado em livro de John Steinbeck
Fotografia:Greg Tolland
Direção de arte:Richard Day
Figurino:Gwen Wakeling
Áudio: Inglês
RMVB Legendado PT
P/B
Créditos: F.A.R.R.A. - Eudes Honorato






Elenco
* Henry Fonda .... Tom Joad
* Jane Darwell .... Ma Joad
* John Carradine .... Casy
* Charley Grapewin .... avô Joad
* Dorris Bowdon .... Rose-of-Sharon Rivers
* Russell Simpson .... Pa Joad
* O.Z. Whitehead .... Al Joad
* John Qualen .... Muley Graves
* Eddie Quillan .... Connie Rivers
* Zeffie Tilbury .... avó Joad





Sinopse
É a história de uma família de pequenos agricultores que, expulsos de suas terras no Oklahoma durante a depressão, atravessam o país em busca de melhor sorte na Califórnia.
Ambientado na época da grande depressão que assolou os Estados Unidos nos anos 30, o filme escolhe uma família de fazendeiros para representar o drama de todas as outras que tiveram que deixar suas terras à força, oprimidos pelo "progresso" e o avanço industrial, comandados por antagonistas que não tinham rosto: os bancos e o capitalismo.
Este detalhe é ilustrado no filme, quando um pobre fazendeiro, desesperado em conter o avanço dos tratores que vieram destruir sua casa, não sabe para quem deve apontar sua arma. Antes, o "inimigo" era uma pessoa física, agora é uma instituição privada. Não há nada que eles possam fazer a não ser encarar a estrada e partir para um espécie de exôdo que tem paralelos com o da bíblia.

Crítica:


As Vinhas da Ira
(Grapes of Wrath, The, 1940)
Por Alexandre Koball



O melhor trabalho de John Ford e um dos grandes clássicos do cinema de todos os tempos.

Nos Estados Unidos após a Grande Depressão, milhões de americanos passaram a viver na miséria, tendo suas fazendas vendidas aos grandes bancos. A vida era horrível, e um senso de grande desumanidade era imperativo para essas pessoas. Vivendo como gado, indo e vindo atrás de um trabalho qualquer, por míseros centavos ao dia – o suficiente para poderem sobreviver, mas às vezes, nem isso!

É esse cenário infeliz que Tom Joad (o sempre inesquecível Henry Fonda, possivelmente no melhor papel de sua carreira ao lado de 12 Homens e Uma Sentença e Era uma Vez no Oeste) descobre logo no início de sua jornada. Voltando da prisão por homicídio depois de quatro anos, ele descobre a fazenda de seus pais abandonada, e descobre que eles estão prestes a se mudar para a Califórnia, terra das laranjas e do emprego fácil.

Então Vinhas da Ira vira... um road movie! Atravessando vários estados com esperança de emprego, toda a família de Joad – e mais um ex-padre – sobe em um pau-velho de um caminhão com tudo que pôde carregar da velha fazenda e parte em busca de um futuro melhor. Mal sabem eles que quanto mais andarem, mais difíceis vão ficar as coisas. O filme tem uma linha do tempo e um ritmo praticamente perfeitos nesse ato. Méritos de um roteiro bem adaptado e transposto para as telas, a partir de um romance do autor John Steinbeck. Os acontecimentos são fortes, vividos com intensidade, por causa de um dos melhores elencos que o cinema já viu.

Henry Fonda como o sofrido, mas sempre forte Joad, mostra as várias caras que uma interpretação histórica deve possuir. Suas últimas falas no filme são antológicas para o cinema – de arrepiar mesmo. John Steinbeck diz-se encantado pela sua interpretação após assistir ao filme. Todos os integrantes da família têm cenas muito boas, mostrando o cuidado que o roteiro teve ao desenvolver cada um de seus personagens. Enfim, até as duas crianças, mesmo com tempo limitado na tela, têm passagens muito bonitas. Atores mirins geralmente são irritantes, ainda mais quando utilizados para fins emocionais.

O filme apenas não é perfeito porque... bem, este é um filme de John Ford. O diretor sempre exagerou no sentimentalismo, e aqui algumas passagens tornam-se quase que muito melosas. Ainda assim pode-se considerar que ele tenha conseguido ficar no limite do aceitável (coisa que em seu filme posterior, Como Era Verde Meu Vale, não aconteceu) em termos de forçar as lágrimas dos espectadores. Ora, o tema já é sofrível por si só, não foi necessário nenhum empurrão do diretor (com ritmo cadenciado e música de fundo apropriada, por exemplo). Os vilões – os exploradores donos das terras – e os mocinhos – todos os explorados – estão, como sempre nos filmes do diretor, bem definidos. Até mesmo o fato de Joad ter comitido homicídio é cuidadosamente bem justificado, para não haver dúvidas de seu caráter.

A parte técnica do filme é igualmente esplendorosa às interpretações e ao roteiro. O filme é um retrato belíssimo dos Estados Unidos na primeira metade do século passado, mesmo que visto do seu pior ângulo. As paisagens amplas, rios largos, plantações enormes, estradas longínquas, são todos elementos que embelezam o filme e o tornam ainda mais especial e imperdível de se assistir nos dias atuais. A trilha sonora também é muito decente, com belos temas que fortalecem as imagens e também as interpretações.

Estranho é o fato de o filme ter perdido o Oscar principal em 1941. Rebecca, de Alfred Hitchcock, acabou levando o prêmio. Rebecca é também uma obra-prima (embora mais pessoal e menor), mas mesmo seus personagens bastante complexos não chegam perto do desenvolvimento que todos os personagens de Vinhas da Ira possuem. A parte técnica do filme de John Ford também é muito superior e, finalmente, o próprio roteiro é mais sólido e bem montado. Talvez perdeu porque outro filme sobre a pobreza norte-americana vencera um ano antes: o fraco E o Vento Levou..., que possuí personagens vagos e irritantes, mas isso é outra história.

Em relação ao Oscar ainda, a verdade é que já no próximo ano a Academia resolveu consertar seu “erro”, elegendo como melhor filme em 1942 um trabalho de John Ford: Como Era Verde Meu Vale. Este sim, cheio de maniqueísmos baratos típicos do diretor e outros clichês inúmeros. Venceu Cidadão Kane, aliás, uma grande injustiça. Isso também daria discussão para dar e vender, e não cabe aqui. De qualquer forma, hoje em dia, Vinhas da Ira é um filme amplamente mais lembrado que aquele trabalho posterior do diretor, provando, de certa forma, sua superioridade em todos os sentidos. Vale lembrar ainda que John Ford levou Melhor Diretor os dois anos consecutivos. Desde lá, seu nome não saiu mais da história do cinema.

Vinhas da Ira foi recentemente relançado em DVD no Brasil, e esta é uma grande chance para colocar os olhos no filme. É o melhor trabalho de John Ford. Cada elemento presente no filme – literalmente – é algo de assustador em termos de cinema. Sua mensagem humana, política, as interpretações, o roteiro. É um filme mais que obrigatório, um daqueles trabalhos onde não me importo de utilizar o já tão antes utilizado clichê: não se fazem mais filmes como este nos dias atuais. Como este, definitivamente não!

“Eu estarei nos cantos escuros. Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá.”




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Créditos: UmQueTenha

Apoio a Mariza Abreu: "onda" de um segmento


Créditos:


Marlize Machry Bins escreve:

"Até para um leitor desatento chamou a atenção a divulgação maciça dos chamados formadores de opinião sobre a "onda" de apoios que fizeram com que a secretária Mariza Abreu permanecesse no comando da SEC. Especialmente nos programas de Lasier Martins e nos espaços destinados à jornalista Rosane de Oliveira.

A fórmula era simples: na famosa página 10, Rosane de Oliveira anunciava a saída da secretária e, à tarde, Lasier Matins entrevistava a governadora ou a própria secretária que informava que só ficaria "se a sociedade a apoiasse". O apoio maciço da "sociedade" veio. A "onda" de apoios da sociedade apareceu. São originárias do grande empresariado. Não apareceu um educador, um pedagogo, um sindicalista, um aluno, um professor. A "sociedade" que prestou solidariedade à secretária Mariza Abreu brota do grande empresariado.

E pasmem. A defesa de Mariza Abreu no jornal Zero Hora de hoje é apresentada por um economista (Gustavo Ioschpe). Não quero dizer que um economista não possa falar sobre educação, longe disso, mas é estranho que num tema tão palpitante como a educação a Zero Hora não consiga um especialista em EDUCAÇÃO para apoiar ou se contrapor à política implantada na SEC. Imagine se no ápice da crise dos mercados um pedagogo da UFRGS ou da Unisinos escrevesse um artigo sobre a explosão de Wall Street, preconizando soluções para o problema. O que se diria?

Nesta incrível "onda" de apoios informados pela RBS e pela própria secretária, não estão presentes alunos, professores, especialistas em educação, as universidades e sequer um DEPUTADO da base aliada. Estamos correndo um sério risco de assistir o debate deste tema ser pautado pelos grandes empresários. Para ser coerente, Zero Hora deveria ouvir os excluídos pedagogos sobre as renúncias fiscais, os subsídios, e os ICMS não recolhidos e etc."

Filme sobre a máfia italiana...

Filme italiano Gomorra nomeado aos prêmios Bafta 2009


Créditos:PatriaLatina


Londres (Prensa Latina) O filme italiano Gomorra, do diretor Mateo Garrone, competirá na categoria de melhor fita estrangeira nos prêmios Bafta 2009, os Oscar britânicos, cujos ganhadores se darão a conhecer em 8 de fevereiro.
A fita inspira-se no livro do escritor Roberto Saviano, ameaçado hoje de morte por contar 100 histórias nas quais revela interioridades da camorra, a máfia italiana, que desde 1980 assassinou mais de três mil 600 pessoas.
Nessa mesma categoria competirão Persépolis, dos iranianos Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi; Il e a longtemps que je t'aime, do francês Philippe Claudel; O complexo Baader Meinhof, do alemão Uli Edel; e Waltz with Bashir, do israelense Ari Folman.
A Academia de Cinema da Grã-Bretanha anunciará na próxima quinta-feira os nomeados nas restantes categorias.

Texto: Prensa Latina

Faça download do filme neste link: Torrent e legenda


Arquivo anexado Gomorra.2008.iTALiAN.DVDRip.XviD_SVD_volpebianca_.torrent


e a legenda adequada para esta versão:

Arquivo anexado Gomorra.2008.iTALiAN.DVDRip.XviD_SVD.rar

Links alternativos para download:

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Torrent

LEGENDAS


Duas criticas do filme:

I – Gomorra, de Matteo Garrone, é aquele tipo de filme que chega cercado de uma série de apelos externos. Em primeiro lugar, a sua origem, o livro homônimo de Roberto Saviano sobre as operações da Máfia napolitana, a Camorra. Tema indigesto. Em especial, para o escritor. Outro dia mesmo ficamos sabendo que Saviano está jurado de morte pela Camorra. A organização, como prova de espírito devoto, prometeu matá-lo "até o Natal". Provavelmente para não conspurcar a festa máxima da cristandade. Isto, quanto ao livro. O filme participou do Festival de Cannes e ganhou o Grande Prêmio do Júri. Junto com Il Divo, de Paolo Sorrentino, Gomorra apareceu para a crítica internacional como signo de renascimento do grande cinema italiano, este cinema que andava apresentando obras pouco mais que anódinas nos últimos anos. É também o escolhido para representar a Itália na competição do Oscar estrangeiro, cujos finalistas serão conhecidos dia 22 de janeiro. Enfim, um título badalado. E isso sem que faça qualquer concessão ao público médio ou ao gosto (suposto conservador) da Academia de Hollywood. Gomorra é, todo ele, um filme na contramão. Trabalha com tema e subtema incisivos - a ação do crime organizado em Nápoles e a atração que esses criminosos exercem sobre a juventude. Talvez, por essa segunda característica, Gomorra tenha sido chamado, e não apenas por brasileiros, de "Cidade de Deus napolitano". Existe a aproximação. Mas o espectador que for conferir o filme italiano, verá que, estilisticamente, ele é muito diferente do de Fernando Meirelles. É verdade que ambos tratam da criminalidade na juventude e na infância. Mas o fazem de maneira diferente, diria mesmo que oposta. Cidade de Deus é um trabalho muito mais comprometido com o prazer do espectador. Dá o seu recado sem abdicar de uma ginga, de um balanço, de uma agilidade narrativa e de um encanto fotográfico que fez com que parte da crítica mais sisuda torcesse o nariz para ele. "Cosmética da fome" foi o rótulo criado para defini-lo e a supostos congêneres que, segundo essa tese, estetizariam a miséria e a violência. Essa discussão já faz parte do passado. Lembrá-la serve apenas para definir Gomorra pelo seu contraste com Cidade de Deus. Garrone procura empregar uma linguagem mais seca e o mais despojada possível para tratar do seu assunto. Não existe qualquer pretensão de "embelezar" um plano, uma cena, uma seqüência para torná-los mais agradáveis ou palatáveis ao espectador. Pelo contrário. O realismo é cru. Como se o diretor dissesse: "Vou tratar de um assunto desagradável, fruto da miséria, da indiferença social, da conivência política e não tenho nenhuma intenção de transformar esse coquetel de dissabores em algo ameno, em espetáculo para desfrute da boa consciência da classe média." Portanto, Gomorra é um filme a palo seco, como dizem os espanhóis. Sem acompanhamento de qualquer espécie: pouca ou nenhuma música, iluminação desglamourizada, paisagens áridas, buscando o reverso da Nápoles de cartão-postal. Porque é lá, nesse lugar de rostos e práticas que lembram mais os de um país subdesenvolvido que os de uma economia do Primeiro Mundo, que se mexem essas relações sociais tensas e violentas. Um pouco à maneira coral (sem protagonista, dividindo-se a atenção entre vários personagens), Gomorra se distribui por várias histórias, episódios que comentam uma única e mesma realidade. O alfaiate que emprega seu talento na produção de grifes piratas, o chefão que paga as famílias dos presos, a mãe que será morta porque seu filho traiu a organização e, sobretudo, a dos dois rapazes que se encantam pelas armas e pelo poder que elas representam. Essa "vontade de potência" da juventude criminosa, tão bem expressa em Cidade de Deus, encontra a sua contrapartida em Gomorra. É talvez o que mais impressione no filme e o que mais incomode - no sentido positivo do termo. Já tem sido dito que Gomorra, o filme, é uma adaptação apenas parcial do livro de Saviano. Não contém, por exemplo, toda a análise econômica da presença do crime organizado na Itália. E nem poderia. Concentra-se apenas na exteriorização desse poder e o faz explodir na tela, em imagens fortes, eloqüentes, que falam por si, sem qualquer necessidade de explicação.

Luiz Zanin (http://blog.estadao.com.br/blog/zanin)

II – “Outros países têm a máfia. Na Bulgária, a máfia tem o país”, afirmou o parlamentar búlgaro Atanas Atanasov, ex-chefe de contra-inteligência do país, na edição da última quinta-feira do “New York Times”. “Gomorra” faz a região sul da Itália ficar muito parecida com a Bulgária descrita por Atanasov: como se o Estado só existisse ali para coletar impostos e recolher cadáveres, quem manda são os chefões do crime organizado que se mantêm no poder graças ao medo provocado na população por suas milícias, entre outros expedientes. Vencedor do Grande Prêmio (espécie de vice-campeonato) no Festival de Cannes deste ano, “Gomorra” é baseado em “romance de não-ficção” do jornalista napolitano Roberto Saviano, 29. Além de informações sobre os episódios verídicos recriados no livro, seu site traz diversos artigos publicados ao longo desta semana pela imprensa internacional sobre a sua inclusão entre os jurados de morte da Camorra (que planejaria assassiná-lo até o final do ano, segundo um informante anônimo) e sua decisão de abandonar a Itália. Desde 2006, ele tem escolta policial. O site de Saviano informa que o livro foi publicado em 33 países – entre eles o Brasil, onde teria sido editado pela “Editora Betrand”, supostamente a Bertrand Brasil, do grupo editorial Record, mas ele ainda não saiu por aqui – e deu origem também a uma peça teatral. Os direitos de distribuição do filme no Brasil foram comprados pela Paris, que ainda não informou a data prevista para o lançamento. Na adaptação do diretor e roteirista romano Matteo Garrone, 40, “Gomorra” se aproxima, com tintas bem contemporâneas, da forte tradição política do cinema italiano dos anos 60 e 70, homenageada pela 30ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo com a publicação de um livro de entrevistas e a exibição de clássicos como “Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita” (1969), de Elio Petri, e “O Caso Mattei” (1972), de Francesco Rosi. Logo na seqüência de abertura, uma carnificina deixa claro que não haverá nenhuma estilização da violência ou romantização de personagens; prevalece um registro semidocumental que sublinha a brutalidade com que agem as milícias e a banalização da vida em ambiente social de perspectivas muito restritas. Na primeira parte do filme, são apresentados diversos núcleos dramáticos, quase todos entrelaçados pelos apartamentos e corredores claustrofóbicos de um conjunto habitacional. Há um “doutor”, com pinta de respeitável, que faz os pagamentos da Camorra e ouve reclamações; um menino que observa com fascínio a integração dos mais velhos às milícias; dois jovens que resolvem agir por conta própria, cientes de que, na máfia ou contra ela, não viverão por muito tempo; um fabricantes de roupas, endividado com os chefões, e seu costureiro-chefe; um empresário que localiza terrenos para depósito ilegal de substâncias químicas e seu dedicado assistente; um grupo que procura desestabilizar o estado de coisas para tentar assumir o controle do crime na região. Em torno deles, aparecem colombianos que traficam drogas, chineses que tentam entrar a qualquer custo no mercado de alta costura e grandes corporações envolvidas em negócios escusos. A economia globalizada tem máfias, ou as máfias têm a economia globalizada?

Sérgio Rizzo (http://ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br)

Genocidio em Gaza...

ISRAEL COMETE ATO DE GUERRA CONTRA O MUNDO



As crianças continuam a morrer em Gaza e constituem um terço das vítimas. Em todos os ataques de Israel aos palestinos, elas parecem constituir os alvos preferenciais – como nas operações Chuva de Verão e Nuvens de Outono, em junho e novembro de 2006, quando foram mortos 405 palestinos, entre eles 112 crianças. Ontem, um caminhão das Nações Unidas, que levava ajuda humanitária aos sitiados, foi atingido pelas armas de Israel, e seu motorista morreu, o que levou a ONU a suspender as operações de socorro.
O porta-voz da organização desmentiu a versão israelita de que nas escolas atingidas pelos ataques dos últimos dias se homiziavam militantes do Hamas. Ao atacar as escolas e o caminhão das Nações Unidas, o Exército de Israel cometeu ato de guerra contra o mundo. Pela primeira vez, ao que se sabe, um Estado constituído comete ato de agressão contra as nações reunidas pela Carta de São Francisco, além de violar repetidamente suas resoluções e as Convenções de Genebra, conforme denuncia a Cruz Vermelha Internacional. Segundo seu primeiro-ministro, Israel não se preocupa com public relations.
Quando os soviéticos ocuparam os campos de concentração poloneses e revelaram ao mundo a brutalidade dos nazistas, todos os meios de comunicação cuidaram de mostrar a horrenda realidade da `solução final`. A comoção internacional diante dos relatos dos sobreviventes – que em nada exageravam – favoreceu o movimento pela oficialização do Estado de Israel. Durante os anos seguintes, a violência do Exército de Israel contra os palestinos foi piedosamente tolerada: afinal, os judeus haviam sido dizimados nas câmaras de gás, submetidos a experiências genéticas pelos mengeles nazistas, obrigados a conduzir aos fornos crematórios os corpos de seus próprios familiares. O mundo não meditou que os palestinos não haviam inventado o nazismo, nem sido os algozes do Holocausto. Apesar disso, é sobre eles que recai o ódio e o terrorismo do Estado de Israel. Afinal, é mais fácil dizimar palestinos do que alemães.
Como todos os povos do mundo, os judeus têm direito às suas esperanças, suas crenças e sua sobrevivência histórica. Seria bom que, como tantos outros povos, se amalgamassem com a Humanidade como um todo. Não há povos biologicamente ou culturalmente puros. A pluralidade genética dos judeus é confirmada por inúmeros estudos, e as diversas seitas religiosas confirmam que há muitas formas de reverenciar Jeová e os profetas. O povo judeu não é responsável pelo sionismo, nem pelos rumos do Estado de Israel.
Já em 1948, a direita do novo Estado, quase toda procedente dos países eslavos, e conduzida pelo ímpeto da memória dos pogroms, tinha como objetivo a limpeza étnica da Palestina (conforme a análise fundada do professor Ilan Pappe, da Universidade de Haifa, em seu livro The ethnic cleansing of Palestine). Trata-se de conhecido autor judeu, o que nos mostra que nem tudo está perdido. O problema maior é que, conforme o grande sábio hebreu Yeshayahu Leibowitz, todos os Estados têm seu Exército, mas Israel é um Exército que tem o seu Estado.
Naqueles meses iniciais da ocupação da Palestina, os recém-chegados estabeleceram seu plano de genocídio. Sendo, então, pouco mais de 20% dos habitantes, ocuparam 80% do território, expulsaram seus habitantes. Destruíram 400 aldeias e 11 cidades além de desalojarem, para acampamentos no deserto, mais de 750 mil palestinos.
A cada nova operação militar de Israel, desde o massacre de Sabra e Chatila, em 1982, morrem sempre mais crianças. O que tem impedido a consumação do extermínio é a alta natalidade entre os palestinos, sempre registrada em comunidades ameaçadas de extinção.
Os dirigentes de Israel desafiam, com arrogância e desprezo, a opinião pública mundial, e proíbem que jornalistas estrangeiros documentem seus crimes de guerra. É provável uma trégua efêmera, a fim de que se reorganizem, re-elaborem seus planos e voltem a atacar, sob qualquer argumento. Durante todo o ano passado, até o início da agressão recente, no dia 27 de dezembro, os foguetinhos do Hamas não haviam provocado uma só morte em Israel. E, de acordo com Richard Falk, relator especial da ONU sobre o conflito (a quem Israel negou entrada em seu território), há 18 meses que a atual operação vinha sendo preparada, com o bloqueio econômico e os assassinatos seletivos.

Mauro Santayana (jornalista)
maurosantayana@jb.com.br
Créditos: www.patrialatina.com.br
Fonte: Jornal do Brasil (09/01/09).



domingo, 11 de janeiro de 2009

sobre a midia de esgoto gaucha...

Sobre fenômenos ópticos, sob uma certa ótica

do blog la vieja bruja

Volta e meia, a depuradora de melífluos sabores gaba-se de divulgar informações em primeira mão, ato mais conhecido entre o vulgo como "furo".



Que sentido há, todavia, em se falar em "furo" em um sistema comunicacional onde se detém tanto o monopólio do deslumbramento quanto o da bajulação, no qual o único feedback tolerado provém do exercício barato do auto-elogio e do auto-engano?












i) O Grupo RBS não está solito na comunicação gaúcha, é fato. Contudo, um histórico de sabujice ajudou a consolidar uma rede física de informação em mídia eletrônica e impressa que lhe garante, na prática, não só o monopólio de sua versão dos fatos como, também e por conseguinte, o monopólio do alumbramento.

A rede de jornalismo impresso e de retransmissores periféricos do que é produzido em rádio e tv pela sede do império RBS não é uma versão dos fatos, mas a versão gaúcha dos fatos. A empresa reforça cotidianamente essa imagem e o imaginário coletivo local lhe reconhece como "a emissora dos gaúchos". Um dos maiores méritos estratégicos do Grupo foi ter percebido, desde sempre, que a exploração de um certo telurismo ufânico guasca, apropriado de crenças e valores locais, solidificaria esse processo de identificação: "aqui, o Rio Grande se vê" é o espelho de narciso gaudério.

Trata-se da Alegoria da Estância, ilustrada acima pelo talento de Hupper. No latifúndio imaginário criado pelo Grupo RBS, o palhaço que se mira representa tanto o modo como a sociedade gaúcha é tratada pela empresa quanto todo gaúcho que acredita ser essencialmente aquilo refletido no espelho criado pelo Grupo, enquanto a imagem do símbolo maior da viril idiotia guasca - a estátua do laçador - nele refletida representa todas as crenças e valores locais enviesadamente apropriados pela empresa e apresentados como nossa identidade: a "gauchidade" reforçada diariamente no apelo do Grupo a fim criar um elo entre si e a comunidade.

Sim, somos todos palhaços apaixonados pela imagem refletida nas águas que também espelham o mais belo pôr-do-sol do mundo, vendo tanto o que o Grupo RBS quer que vejamos por conveniência mercadológica quanto, também, aquilo que queremos ver. Não esqueçamos que Narciso definhou porque se apaixonou pela imagem que tinha de si mesmo, que viu refletida nas águas. Quem "se vê" no espelho sirotskiniano tende a definhar intelectualmente até o ponto da total indigência mental. Não somos todos vítimas inocentes, portanto. Sem a colaboração de boa parte da sociedade gaúcha, o apelo da empresa não teria boleado nossa própria história.

E quem não quer ver refletida sua imagem nessas inebriantes águas? E quem, inclusive, sequer sendo nativo, mas tendo interesses sedutores e vontade de ser reconhecido como tal - vide o caso clássico de nossa atual governadora, de triste figura em um famoso programa da Rede Globo tentando "ser" gaúcha -, não faz hercúleos esforços para se encaixar nessa imagem pré-concebida?





ii) O monopólio do deslumbramento, entretanto, não é suficiente. O sistema comunicacional da Alegoria da Estância também necessita do monopólio da bajulação.

Não basta apenas o Rio Grande "se ver" nessas sedutoras águas. Também é preciso adulá-lo convenientemente. O Narciso gaudério, portanto, além de reconhecer-se como tal, também precisa manter-se convencido de que a imagem dele refletida corresponde efetivamente à sua auto-imagem, ao seu auto-engano.

Nada melhor, para isso, do que lhe ciceronear em viagens internacionais, conceder-lhe distinções e galardões, anunciar nascimentos, casamentos e doenças de filhos seus e servir-lhe de assessoria de imprensa, vez por outra, mesmo que isso vá de encontro ao conceito de jornalismo.

Pois quem precisa de jornalismo independente, quando o que se vê é o que se quer ver?

Nisso o Grupo RBS também revelou-se insuperável. Graças ao monopólio físico da informação e do alumbramento, esse consequencia daquele, manter Narciso hipnotizado é fácil: basta permanecer sabujamente ao seu lado e com ele trocar impressões estéticas baseadas no jogo de cena e no falso elogio mútuo. Ter seu telefone sempre a mão, a fim de correndo lhe alcançar uma escova ou um creme facial, por exemplo, é indispensável.





No contexto comunicacional de um sistema como o da Alegoria da Estância, portanto, falar em "furo" jornalístico por colunistas sociais políticos soa quase como uma piada. Jornalismo que se faz em ante-salas perfumadas e por trás de telefones, aliás, sequer merece tal epíteto.





(La Vieja agradece profundamente ao talento de Roberto Annes, mais conhecido como Hupper. Sem ele, a Alegoria da Estância jamais teria sido ilustrada com tamanho brilhantismo. Embora a idéia do palhaço diante do espelho que reflete a face de um dos ícones do gauchismo acéfalo ter sido de La Vieja, foi de Hupper a idéia de criar tal arte sobre o clássico "Narciso", de Caravaggio)

Créditos: msilvaduarte

Do observatorio da Imprensa

Guernica em Gaza

Luiz Weis



Há qualquer coisa de surrealista na matéria “Cobertura da imprensa desagrada a israelenses”, do enviado especial do Estado de S.Paulo, Gustavo Chacra, publicada na sexta-feira, 9.

Nada de errado com a reportagem. Tudo, francamente, com a reação de Israel, que ela descreve, ao noticiário sobre os seus atrozes ataques a Gaza.

Um jornal israelense, relata o repórter, “chegou a chamar a imprensa internacional de mentirosa” em matéria de primeira página.

”Mentirosa”? Relatório da ONU divulgado na mesma sexta diz que 257 crianças palestinas morreram e 1.080 ficaram feridas nos 14 primeiros dias da ofensiva.

Como escreve o brasileiro, “o cenário [midiático] poderia ainda ser pior [para Israel] se jornalistas estrangeiros tivessem permissão para entrar no território palestino”.

Ou, conforme o correspondente da revista britânica The Economist, Gideon Lichfield, escrevendo no diário israelense Haaretz, é difícil vencer a guerra de propaganda [se é que de “propaganda” se trata], quando os números mostram [mostravam, àquele altura] “600 palestinos mortos de um lado e 9 israelenses de outro”.

Impossível não lembrar da resposta de Picasso ao oficial alemão na França ocupada que lhe perguntara se ele é que tinha feito "isso" - o retrato da destruição da cidade basca de Guernica pela aviação alemã na guerra civil espanhola. "Não", respondeu o pintor. "Foram vocês."

"O que você não sabe sobre Gaza"

Sob esse título, o New York Times publicou na quinta-feira o seguinte artigo de Rachid Kahlidi, professor de Estudos Árabes da Universidade Columbia:

”Quase tudo o que você foi levado a crer sobre Gaza está errado. Abaixo, alguns pontos essenciais que parecem ausentes da conversação, muito da qual se desenrola na imprensa, sobre os ataques de Israel à Faixa de Gaza.

A maior parte dos habitantes de Gaza não está lá por escolha. A maioria do 1,5 milhão de pessoas que abarrotam os cerca de 360 quilometros quadrados da Faixa de Gaza pertencem a famílias que vieram de cidades e aldeias em outros lugares, como Ashkelon e Beersheba. Foram tocadas para Gaza pelo exército israelense em 1948.

Os gazenses têm vivido sob ocupação israelense desde a Guerra dos Seis Dias em 1967. Israel continua sendo considerado em ampla medida um poder ocupante, mesmo depois de retirar as suas tropas e colonos da Faixa em 2005. Israel continua controlando o acesso à área, as importações e exportações, e a entrada e saída das pessoas. Israel controla o espaço aéreo de Gaza e a costa marítima, e as suas forças entram na área ao seu bel-prazer. Como poder ocupante, Israel responde, sob a Quarta Convenção de Genebra, pelo bem-estar da população civil da Faixa de Gaza.

O bloqueio da Faixa por Israel, com o apoio dos Estados Unidos e da União Européia, tornou-se cada vez mais estrito desde que o Hamas venceu as eleições para o Conselho Legislativo Palestino em janeiro de 2006. Combustível, eletricidade, importações, exportações e o movimento pela fronteira têm sido lentamente sufocados, criando problemas devastadores de saneamento, saúde, suprimento de água e transporte.

O bloqueio sujeitou muitos ao desemprego, à penúria e desnutrição. Isso equivale à punição coletiva – com o apoio tácito dos Estados Unidos – de uma população civil por exercer seus direitos democráticos.

O levantamento do bloqueio, juntamente com a cessação dos lançamentos de mísseis, era um dos termos cruciais do cessar-fogo de junho entre Israel e o Hamas. Esse acordo reduziu o número de mísseis disparados de Gaza de centenas, em maio e junho, a um total inferior a vinte nos quatro meses seguintes (conforme dados do governo israelense). O cessar-fogo ruiu quando forças israelenses lançaram ataques por ar e terra no início de novembro; seis ativistas do Hamas foram mortos, ao que se divulgou.

Usar civis como alvo, seja pelo Hamas ou por Israel, é um crime de guerra em potencial. Toda vida humana é preciosa. Mas os números falam por si: cerca de 700 palestinos, a maioria civis, foram mortos desde que o conflito estourou no fim do ano passado. Em contraste, houve cerca de uma dezena de israelenses mortos, muitos deles soldados. A negociação é um meio muito mais efetivo de lidar com mísseis e outras formas de violência. Isso poderia ter acontecido se Israel tivesse cumprido os termos do cessar-fogo de Junho e levantasse o bloqueio da Faixa de Gaza.

A guerra ao povo de Gaza não é realmente sobre mísseis. Nem sobre “restaurar a capacidade dissuasória de Israel”, como a imprensa israelense quer levá-lo a crer. Muito mais reveladoras são as palavras de Moshe Yaalon, então chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, em 2002: “Os palestinos devem ser levados a entender nos mais profundos recessos de sua consciência que são um povo derrotado.”