segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

FORUM SOCIAL MUNDIAL-2009

Uma outra mídia é possível (e necessária)

O I Fórum Mundial de Mídia Livre discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neoliberais.

O Fórum Social Mundial começa com o Fórum Mundial de Mídia Livre. Nesta segunda, dois painéis e outras atividades, põem em debate os meios de comunicação e, mais importante, discutem a construção de meios alternativos de comunicação. Será isto possível? É como perguntar se um outro mundo é possível. Talvez um outro mundo seja mesmo possível, mas, com certeza, não o será sem uma outra mídia necessária.

Nas dimensões sociais e espaciais em que vivemos hoje, neste mundo em que somos afetados, instantaneamente, tanto pelo que acontece em nosso bairro, quanto por uma guerra em alguma região aparentemente distante como Gaza ou Chechênia, a realidade que nos chega é aquela que nos chega pela mídia. Aquilo que aconteceu, aconteceu porque foi noticiado no jornal, na TV ou no rádio. Se não foi noticiado, não aconteceu. Significa dizer, boa parte de nosso conhecimento do mundo, boa parte do modo como pensamos, é moldado pela mídia. No limite, a mídia decide o que devemos pensar, sobre o que devemos pensar e como devemos pensar o mundo. Pensar uma outra organização de sociedade, alternativa a esta ordem capitalista que aí está, poderá ser quase impossível, se o mundo que vemos, lemos e ouvimos através da mídia, parece ser um mundo sem alternativas...

Daí a importância da construção de uma mídia alternativa, de uma mídia livre dos compromissos políticos e econômicos da mídia hegemônica, de uma mídia livre para discutir e disseminar a idéia de que um outro mundo é possível.

A base social para a construção dessa mídia é o próprio movimento popular. Na medida em que os mais diversos segmentos da sociedade se organizam em defesa dos seus interesses e se mobilizam para viabilizar suas plataformas políticas e culturais, é natural que eles queiram verbalizar suas demandas e propostas. Através da rede mundial de computadores e graças ao barateamento generalizado dos meios de reprodução das idéias, o movimento popular não precisa mais depender de custosos equipamentos e instalações para colocar suas propostas em debate na sociedade.

O jornal ou revista impressos podem ainda serem veículos importantes, mas não são mais os únicos. Blogues, sítios de internet, rádios de baixa potência (comunitárias), até mesmo canais de TV, sem falar das listas de discussão em rede ou simples panfletagens digitais (spans) já se tornaram poderosos meios de divulgação de idéias alternativas e de mobilização política. Através deles, o agendamento do que pensar, sobre o que pensar e como pensar ditado pela mídia hegemônica, pode ser contraditado por uma agenda alternativa, isto é, por uma nova proposta a respeito do que deve ser prioritário para ser pensado e sobre como deve ser pensado.

O FML que, nesta segunda, realiza o seu primeiro fórum mundial, nasceu com essa proposta e pôde assim nascer porque foi construído por organizações e entidades jornalísticas ou não, comprometidas com a construção dessa agenda alternativa e popular. Parte de seus construtores são jornalistas e estão engajados na produção, edição e veiculação de publicações jornalísticas. Parte deles porém não são propriamente jornalistas, mas são comunicadores vinculados ao movimento popular que estão também muito engajados na produção, edição e veiculação de publicações (impressas ou eletrônicas) que discutam a agenda de interesse do movimento popular. Não raro, esses comunicadores demonstram muito mais competência e sensibilidade para perceber e elaborar essa agenda, do que os profissionais do ramo. Trata-se de uma competência e sensibilidade nascida da vivência real com os problemas da injustiça, da exploração, da exclusão.

O I FMML discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neo-liberais. Era uma crise anunciada. Alguns analistas insuspeitos já diziam, há anos, que ela logo viria. Fatos só agora revelados, ainda assim a conta-gotas, mostravam que a prosperidade neo-liberal não passava de fachada. Essa imprensa que não dava voz aos críticos, essa mídia que não corria atrás de informações perturbadoras, são tão responsáveis por essa crise quanto os especuladores de Wall Street ou da Bovespa. Alimentaram a ilusão. A sociedade não pode agora inocentá-las.

É de se esperar que o FSM, em Belém, defina alguns pontos essenciais de agenda para a reconstrução da sociedade, dada a crise. O I FSML deverá definir os caminhos para dar às propostas do FSM, a mais ampla divulgação possível pelo mundo a fora.


Marcos Dantas é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de “A lógica do capital-informação: da fragmentação dos monopólios à monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais” (Ed. Contraponto).

Bolivia para os bolivianos...

“Sim” ganha com 60%



Apoiantes do Sim festejam vitória no referendo em La Paz - Foto da LusaO Sim ganhou o referendo à nova Constituição da Bolívia com cerca de 60%. Nos quatro departamentos onde a oposição a Morales detém o poder o "Não" ganhou.
Na pergunta sobre o tamanho máximo de uma propriedade agrícola (10.000 ou 5.000 hectares), a opção 5.000 ganhou por 78%, tendo triunfado mesmo nos departamentos da "meia lua". O Presidente Evo Morales considerou que o resultado do referendo "é o fim do Estado colonial".

No referendo à Constituição os resultados foram os seguintes, segundo o jornal boliviano La Prensa:

Nos departamentos do ocidente (La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosi) o "Sim" obteve 72% e o "Não" 28%. Nos quatro departamentos da "meia lua" (Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando) 63% dos votantes disseram "Não" e 38% "Sim". No departamento de Chuquisaca, 51% dos votantes apoiaram o "Sim" e 49% o "Não". De salientar que no departamento de La Paz, a capital, o "Sim" ganhou com 76%.

Além do referendo à Constituição, os bolivianos votaram também sobre o tamanho máximo que uma propriedade rural pode ter. O artigo 398 da nova Constituição proíbe o latifúndio e o referendo punha duas alternativas como limite máximo da propriedade rural: 10.000 ou 5.000 hectares.

A opção 5.000 venceu em todos os departamentos, mesmo nos da "meia lua", com uma percentagem de 78% no global do país, contra 22% para a opção 10.000 hectares.

O presidente Morales declarou, no discurso que fez após ser conhecida a vitória: "Hoje é a refundação da Bolívia (...) é o fim do Estado colonial, termina o colonialismo interno e externo".

Morales sublinhou ainda que o resultado do referendo é "o fim da grande propriedade e dos grandes proprietários".

PARA A (DES)GOVERNADORA DO RS ieda...

O Vosso Tanque General, É Um Carro Forte

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

Bertold Bretch

Do blog do Nassif...

As barbeiragens do Banco Central


A redução da taxa Selic em um ponto foi pouco e chegou atrasada. Em dezembro havia sinais claros de que a economia estava em queda livre. E mesmo assim o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa de juros inalterada. A incapacidade do Banco Central de perceber o que estava acontecendo em tempo real na economia foi completa.


Por Luis Nassif, em seu blog



Em relação à atividade industrial, o Relatório de Inflação de dezembro enxergou um “relativo arrefecimento”, mas destacou que “se manteve em crescimento no trimestre encerrado em outubro”. A autoridade monetária apontou, ainda, que a atividade deverá seguir em desaceleração nos próximos meses.


Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) referentes a novembro do ano passado mostraram um tombo de 9,9% frente a outubro e de 7% na comparação com igual mês de 2007.


Em relação ao emprego, o Banco Central foi “traído” pela defasagem dos números. O Relatório de Inflação apontou que “As condições do mercado de trabalho não evidenciaram de forma expressiva, até outubro, os impactos da intensificação da crise nos mercados financeiros internacionais, persistindo as trajetórias de redução na taxa de desemprego, substituição de empregos informais por postos com carteira assinada e continuidade da incorporação de ganhos reais aos rendimentos.”


Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de dezembro apontaram para 0 fechamento de 654,9 mil vagas formais no Brasil no mês de dezembro, o dobro da média para o mês.


Esses dados já seriam suficientes para justificar o início da queda da Selic. Havia outros, bastante concretos.


O pior impacto da Selic é sobre as contas públicas e sobre o câmbio. Quando as taxas internas estão muito mais elevadas que as externas, há um aumento do ingresso de dólares apreciando o real e tornando as exportações mais caras e as importações mais baratas.


Mas sobre o nível de atividade o efeito é indireto. Teoricamente, a alta dos juros aumenta o custo do dinheiro na ponta, reduzindo as vendas a prazo, a formação de estoques e o nível de atividade. O custo do dinheiro é formado pela taxa básica mais um spread - em geral tão elevado que acaba fazendo com que a taxa final seja pouco sensível aos movimentos da Selic.


A exceção eram as grandes empresas. Nos meses imediatamente anteriores à crise, o spread era quase negativo. Depois, da crise, aumentou substancialmente. Logo, já havia um efeito adicional de aumento de juros na ponta do spread, permitindo reduzir na ponta Selic.


Desde outubro, sinais claros de que a atividade estava desabando. Em dezembro, o BC continua insistindo em atividade econômica robusta, no momento em que ocorria a maior leva de demissões dos últimos anos.


Os estoques aumentaram substancialmente e caiu o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI), dois indicadores que serviam de álibi para a manutenção de Selic elevada.


É possível que a economia possa começar a se recuperar a partir do segundo trimestre. Mas houve mais uma dose adicional de sacrifício inútil por conta das barbeiragens do BC.



domingo, 25 de janeiro de 2009

Enigmatic Ocean - 1977



http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/f/fe/Enigmatic_Ocean.jpg

1. Overture
2. The Trans-Love Express
3. Mirage
4. Enigmatic Ocean - Part I
5. Enigmatic Ocean - Part II
6. Enigmatic Ocean - Part III
7. Enigmatic Ocean - Part IV
8. Nostalgic Lady
9. The Struggle Of The Turtle To The Sea - Part I
10. The Struggle Of The Turtle To The Sea - Part II
11. The Struggle Of The Turtle To The Sea - Part III

Jean-Luc Ponty - violín y viola eléctricas, piano, campanas
Steve Smith - batería, percusión
Allan Holdsworth - guitarra eléctrica
Daryl Stuermer - guitarras eléctrica y acústica
Allan Zavod - piano, piano eléctrico, clavinet, órgano, sintetizadores
Ralph Armstrong - bajo eléctrico

David Coimbra e a midia de esgoto(RBS)...


Produtividade para os professores:Um debate sem a presença de educadores...


Lupiscinio Pires escreve:

Já se passam várias semanas e para o jornal Zero Hora a questão da produtividade para os professores estaduais é praticamente pauta obrigatória do principal jornal do grupo RBS.É curioso que após a inconfidência do Sr. Lauro Quadros que relatou o almoço de Rosane de Oliveira com Mariza de Abreu às vesperas do famoso DIA DO FICO, a principal cronista política de ZH diminuiu considerávelmente as suas inserções nas questões das alterações do plano de carreira.

Mas tudo tem solução! Literalmente entrou em campo o jornalista esportivo David Coimbra para opinar sobre o plano de carreira em curso. Ao participar do Painel sobre Educação o referido jornalista optou por endereçar perguntas difíceis para a Presidente do CPERS, deixando o campo livre para a secretaria Mariza Abreu. Especialista em textos do cotidiano do amor e de futebol ,David Coimbra escreveu, logo após o Painel sobre educação, um artigo intitulado Mariza X Rejane que atribui os problemas educacionais ao sectarismo do sindicato.

Hoje ao escrever o artigo, O PATRÃO elege um novo algoz : OS DIRETORES DE ESCOLA. Há algum tempo já tinha se manifestado contra as eleições diretas para diretores de escola. Enquanto isto, os pedagogos, as universidades, os professores, os alunos e os círculos de pais e mestres não existem para o jornal Zero Hora. A Zero Hora já transcreveu a opinião do mega-empresário Gerdau, do economista Ioschpe, de Rosane de Oliveira e agora por ultimo de David Coimbra. Se seguir nesta trilha em breve leremos a opinião do responsável pela editoria de carros e motos, da página policial e por fim do editor do Caderno Donna. E os EDUCADORES?Pelo visto estes não existem no Rio Grande do Sul.

Enquanto isso em gaza...

alunos voltam às aulas e encontram cenário desolador


As crianças de Gaza voltaram nesta sexta-feira (23) às aulas e encontraram uma realidade de salas destruídas, carteiras quebradas, livros despedaçados e colegas que nunca mais verão. A volta às aulas não acontece após férias escolares, e sim depois do conflito mais violento vivido pela Faixa nos últimos 40 anos — e de cenas que as crianças demorarão bastante tempo para deixar para trás.


"Fiquei muito triste quando, esta manhã, voltei para a escola e descobri que minha amiga Cristina al-Torok foi assassinada durante o conflito", disse à Agência Efe Dona Matta, uma cristã palestina de 16 anos que voltou, pela primeira vez em um mês, ao colégio da Sagrada Família em Cidade de Gaza. Segundo a adolescente, apesar de os confrontos terem terminado, a "situação psicológica das pessoas é muito ruim, vamos precisar de tratamento por muito tempo".

"Pode-se ver as marcas das bombas nas paredes do colégio", afirma Mohammed Abu Jalala, de 15 anos. Na semana passada, 55 palestinos que haviam se refugiado na escola onde ele estuda, a Al-Fakhoura, morreram após um bombardeio israelense.

"É muito difícil para todos voltar a este cenário. Em minha sala, há quatro crianças que foram assassinadas, e mais dez de outras turmas estão feridas nos hospitais", diz Mohammed, que afirmou estar triste, irritado e "cheio de ódio contra Israel pelo que nos fez". "Ninguém perdoará Israel pelos crimes que cometeu contra nós", assegura.

Os alunos contam uns para os outros como passaram as últimas semanas, onde se refugiaram, as coisas terríveis que viram, como encontraram suas casas, os parentes que perderam, a ajuda que receberam ou não. A casa de Amal Baker, de 17 anos, fica ao lado do hospital de Shifa, o maior de Gaza, e os sons das ambulâncias, das bombas e dos aviões fizeram com que ficasse sem dormir direito durante quase um mês. "Estava morta de medo, não sabia se meus amigos sobreviveriam", explica.

Segundo o Ministério da Educação em Gaza, controlado pelo Hamas, cerca de 200 mil crianças voltaram às aulas, menos de uma semana após o fim das hostilidades. Mas foi preciso fazer um grande esforço para encontrar um lugar para acomodar todos. Das cerca de 400 escolas de Gaza, 35 foram destruídas pelas bombas israelenses e o mesmo número ainda está sendo usado como refúgio pelas mais de quatro mil famílias que perderam as casas.

Muitos alunos tiveram que ser mandados para outros colégios, que foram obrigados a abrir turnos noturnos e a juntar duas ou três turmas em uma só, com casos de até 120 estudantes em uma sala, para poder atender a todos. As autoridades educacionais e da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) pediram aos colégios que dediquem esta primeira semana a dar apoio psicológico aos jovens para ajudá-los a se recuperar do trauma. Os professores foram instruídos a estimulá-los a falar sobre o que vivenciaram.

No entanto, o conflito não será facilmente esquecido por esses estudantes. Por três semanas, muitos ficaram trancados em casa, tendo como único contato com o mundo externo a televisão, o rádio e as ligações telefônicas aos parentes. Alguns precisaram fugir de casa e ir morar com conhecidos em uma área mais segura, ou acabaram nos refúgios da ONU. Quase todos vivenciaram a escassez de alimentos e cortes constantes de luz e água.

A maioria está feliz em voltar às aulas, em recuperar, pouco a pouco, sua vida, mas carrega consigo as más notícias e o cansaço de semanas de horror. Falta esperança nas palavras de Lara Abu Ramadan, uma adolescente de 17 anos do instituto Ahmed Shawqi. "Isto não foi o final. Israel continua existindo, Gaza continua existindo, e o cessar-fogo não vai acabar com o conflito. Só terminará quando houver um acordo de paz entre Israel e nós", afirmou.

Por outro lado, o movimento islâmico Hamas aproveitou a trégua para criticar recentes declarações do presidente americano, Barack Obama, nas quais pedia que o grupo aceitasse as condições do Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, União Europeia, ONU e Rússia), que incluem o abandono da luta armada e o reconhecimento de Israel. Em Gaza, o Hamas afirmou que Obama começou seu mandato "com um passo ruim".

"O apelo de Obama para aceitar as injustas condições do Quarteto é um passo ruim em direção à tradicional política americana, que é a razão do sofrimento dos palestinos", disse à Agência Efe o porta-voz do Hamas na Faixa, Fawzi Barhoum. "Obama deve apoiar a legitimidade da causa palestina, deter os crimes da ocupação (israelense) e reconhecer o direito dos palestinos à autodefesa", acrescentou Barhoum, para quem a postura do presidente americano "pode ser usada por Israel para prosseguir seu assassinato e cerco aos palestinos".

Khaled al-Batsh, líder do outro principal grupo armado palestino, a Jihad Islâmica, também criticou Obama. "A declaração de Obama não é para nós nenhuma surpresa, porque a política americana está controlada pelos grupos de pressão judeus”, afirmou Batsh. “A todos os que pensam que os Estados Unidos vão ajudar agora os palestinos, digo que estão enganados e perdem o tempo.”

Fonte: EFE

Créditos: vermelho

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mensagem do sub-comandante Marcos...

“NÃO FAÇAMOS DE NOSSA FORÇA UMA FRAQUEZA”.


Hermann Bellinghausen. La Jornada,

San Cristóbal de las Casas, Chiapas.“Queremos dizer-lhes, pedir, que não façamos de nossa força uma fraqueza. O ser tantos e tão diferentes nos permitirá sobreviver à catástrofe que se aproxima e levantar algo novo. Queremos lhes pedir que este novo seja também diferente”. Foi com estas palavras que, ontem à noite, o Subcomandante Marcos resumiu a mensagem principal da delegação zapatista no encerramento do primeiro Festival da Digna Raiva.

“Vocês e nós temos visto e ouvido esta raiva acumulada”, afirmou perante os participantes que abarrotavam as salas da Universidade da Terra até a última sessão do evento.

“Não nos preocupa quem, ou como, ou com que vai se dirigir esta raiva. Não nos preocupa a velocidade do sonho. Temos aprendido a confiar nas pessoas. Não precisam de quem as dirija. Criam suas próprias estruturas para lutar a triunfar. Tomam em suas mãos seus próprios destinos, e o fazem melhor do que os governos impostos de fora”.

Por outro lado, “preocupa-nos o rumo e o destino”, disse. E que “o mundo que a nossa raiva vai parir se pareça com aquele no qual hoje sofremos”. Admitiu que o “EZLN teve a tentação da hegemonia e da homogeneidade”. Mas “os povos nos ensinaram que há muitos mundos e que o respeito mútuo é possível e necessário”. Na Outra Campanha “não nos propusemos a organizar e a dirigir o México inteiro”.

Ao tomar um conceito do pensador Jean Robert, declarou: “Reconhecemos nossos limites, nossas possibilidades, nossa ‘proporcionalidade’”. Pronunciou-se a favor “de fazer um trato entre nossas respectivas proporcionalidades, e que o país que sair disso, o mundo que se conseguir seja formado pelos sonhos de todos e de cada um dos espoliados”.

Na primeira parte de sua exposição, com o título “Alguns mortos dignos e raivosos”, Marcos respondeu, sem mencionar seus nomes, a questionamentos de Jesusa Rodríguez e Liliana Felipe publicados nesta segunda-feira no La Jornada: “Duas pessoas a quem queremos e respeitamos, talvez a seu pesar, nos perguntam de que serve ao movimento zapatista que Marcos desqualifique o movimento lopezobradorista. Que faço isso sempre que compareço na mídia, entre outras coisas, para insultar AMLO [Andrés Manoel López Obrador]. Bom, não estou na mídia, esse período já passou faz muito tempo”, assegurou, mas sim “ouvindo pessoas que lutam e pensam em vários cantos do planeta”.

Usou o tempo para explicar como o CCRI-CG do EZLN organiza o seu trabalho. Descreveu que os povos zapatistas integram regiões. Cada uma delas “tem uma estrutura organizativa, agora paralela à da autoridade autônoma” onde há “um comando coletivo organizativo”. Não militar, enfatizou.

Tzotziles, tzeltales, tojolabales, choles, zoques, mames e mestiços, “têm seus próprio problemas e ‘maneiras’ de enfrentá-los e resolvê-los”. O EZLN é “ponte de enlace entre as regiões”. Além disso, “cabe-lhe” representá-las diante do mundo externo.

Assim, “apesar de comandante de Los Altos, Hortênsia não fala com você sobre Los Altos, por sua voz fala a voz do EZLN”. O mesmo acontece com “qualquer um” do CCRI-CG. “Quando Marcos ou qualquer um de nós fala em público” não o faz “a título pessoal”.

Lembrou que em 2006, durante a caravana da Outra Campanha e “os dias mais detestáveis” da repressão em Atenco, “gritou-se contra nós e fomos agredido em atos públicos e reuniões por parte do movimento lopezobradorista. Se resistimos a 500 anos de tentativas de dominação e aniquilamento, 25 nas montanhas, 15 de assédio militar, não vemos porque não poderíamos resistir aos gritos histéricos, às calúnias, às mentiras, às desqualificações e aos vetos jornalísticos do ‘lopezobradorismo’”.

Os partidos políticos, disse, “podem dizer uma coisa e fazer o contrário”. Isso pode ser constatado “em qualquer lugar onde têm o poder”, pois “seu critério de congruência é outro. Para eles é a quantidade que podem mobilizar, sem se importar com os métodos”. Por outro lado, “nós pensamos que cada um deve tornar-se responsável do que diz e faz”. O EZLN “tem se responsabilizado sempre, e coloca a vida nisso”.

Convidou a que “nos digam quem entre nossos ‘aliados’ são perseguidores, discriminadores e assassinos de indígenas. Nós já lhes dissemos quem entre seus dirigentes e ‘aliados’ o são. Aqueles que perseguem, hostilizam e cortam a água a nossos companheiros zapatistas de Zinacantán pertencem à CND lopezobradorista”. Asseverou que “dentro e fora” de seu território “são simpatizantes de AMLO; claro, além do governo federal, estadual, municipal, dos meios de comunicação (agora todos), do exército, da polícia estadual, da AFI, do CISEN, da CIA e demais amigos que os acompanham”.

Marcos questionou de que serviu ao lopezobradorismo “aliar-se com os Nuñez, Montreal, Muñoz Ledo, Sabines, Albores, Kanter, Iruegas, os ex-funcionários indígenas de Fox e os que votaram contra os acordos de San Andrés”. Onde são governo “desalojam, expropriam, reprimem, exploram, discriminam, cortejam o poderoso e entregam riquezas naturais ao estrangeiro”.

De que serve ao movimento lopezobradorista, pergunta, “não ver nem ouvir os mortos que são de sua responsabilidade. Podem dizer que isso não é AMLO”. Apesar disso, afirmou, “um dirigente deve assumir a responsabilidade pelo que dizem e fazem ele e o seu movimento. E os integrantes de um movimento também”.

Xangai - Mutirão da Vida (1998)




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Créditos: UmQueTenha
Comédia do poder



Breno Raigorodsky - correio da cidadania

A "Comédia do Poder" do Claude Chabrol, foi a última besteira que fiz no ano de 2008.

"Pare com isso, Breno" uma voz interna me dizia, "pare de alimentar idiossincrasias, o ano novo está chegando", insistia, enquanto eu chafurdava nas prateleiras da videolocadora no dia 30 de dezembro. "Dê-lhe mais uma oportunidade, ele era da turma do Truffau e do Godard, no Cahiers du Cinema, rodou 55 filmes em 50 anos de cinema...".

No verso da caixinha do vídeo vinha escrito que o filme relatava uma história real, de uma juíza francesa que tentou pegar um crime de Estado, onde a petrolífera ELF e o governo francês se envolvem nas maiores falcatruas com governos africanos. Dizia também que o filme tinha sido indicado para o Urso de Ouro do Festival de Berlim, além de ter como protagonista a ótima Isabelle Huppert, atual presidente do júri do Festival de Cannes 2009.

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Tudo bem, vamos lá, se dei tantas oportunidades ao Eric Rhomer, com seu amadorismo assumido, porque não uma nova chance para o verborrágico Chabrol?

Assistido o filme, faço minhas as palavras de um tal de Alexandre de São Paulo, que escreveu para o Guia da Semana na época: "O tema ou o enredo seria maravilhoso... Se fosse conduzido de alguma outra forma; nesse caso foi exposto de forma muito artificial. O filme abordou o assunto de um modo muito superficial e sem emoção; não há investigação, suspense, dinamismo, nada; os fatos já vêm mastigados e apenas são jogados na tela. Por incrível que pareça, a única expectativa que fica no ar é saber se a juíza teria ou não um romance com o sobrinho. Quando o filme acabou fiquei sem ação na poltrona; não queria acreditar que havia acabado; depois de alguns minutos comecei a sentir uma decepção. Um filme muito fraco!".

O cara pegou um tema de esquerda e achou que bastava pronunciar uma série de frases feitas para que o filme se sustentasse?! Que nada, o filme não tem estrutura, seus personagens são construídos de qualquer jeito, a vida pessoal da juíza sugere um drama pessoal que não se aprofunda nem é levado a sério. No fim não consegue cumprir a função de todo filme ideológico, que é o de denunciar de modo a convencer os adversários daquela determinada tese. Fala apenas para quem se satisfaz com meia dúzia de refrões progressistas e genéricos, uma chatice.

É o inverso do que um cara como o Bertolucci conseguiu, num filme como "O Último Imperador". Cenário político em movimento, dramas sociais e psicológicos bem colocados, personagens bem construídos, fazendo – a partir de uma produção hollywoodiana – um filme que convence até quem jamais pensou no que é discutido, ou seja, a possibilidade de uma pessoa mudar seus hábitos, superar a sua formação, a partir de um exemplo extremo – um imperador criado para ser o representante de Deus na terra, transformado em humilde jardineiro, feliz(?) com sua nova vida, no mínimo apto a conviver com as questões que a sobrevivência coloca.

É o inverso do que tantos outros diretores conseguiram desde que o cinema de denúncia e reflexão política existe como arma de propaganda, para o bem e para o mal. Pois todos sabemos o quanto o cinema serviu para – por exemplo – demonizar "inimigos da pátria", especialmente em época de guerra, quando os japoneses nos filmes da década de 1940 pareciam sempre assassinos histéricos e os inimigos do James Bond pareciam sempre saídos diretamente do inferno.

Para o lado progressista, temos uma história longa de filmes bem sucedidos, principalmente fora dos EUA. Filmes como os italianos da década de 1970, tendo em primeiro lugar o filme de Eli Petri com o Gian Maria Volonté no papel principal; Batalha de Argel, do Gilo Pontecorvo; a Classe Operária Vai ao Paraíso e tantos outros mostraram vários caminhos para fazer do cinema um modo de expressão da arte engajada.

Se esta era a intenção do francês Chabrol, não chegou lá.

Breno Raigorodsky é filósofo pela USP, publicitário e professor de enogastronomia. "Ou seja, um sujeito sem foco", como se define.