quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Flechette: a nova arma israelense de matar

Blog do Bourdoukan


israel utilizou armas de fósforo contra a população de Gaza.

Isto não é novidade.

israel utilizou munições com urânio empobrecido contra a população de Gaza.

Isto também não é novidade.

israel utilizou flechettes contra a população de Gaza.

Isto sim, é uma arma nova e até agora desconhecida.

Flechettes, a nova arma foi fornecida pelos Estados Unidos a israel.

Flechettes são dardos de metal com 4 cm de comprimento e 4 aletas traseiras.

As flechettes são condicionadas em bombas de 120mm. São disparadas por tanques.

Cada bomba leva em seu bojo de 5 mil a 8 mil flechetes.

As bombas explodem no ar e dispersam as flechetes numa área de 300 metros.

Alguém consegue imaginar a dor que as mais de 400 crianças assassinadas sentiram ao serem atingidas por essas armas?

Alguém consegue imaginar tamanha crueldade?

A denúncia é da Anistia Internacional.

Clique AQUI para acessar o site da Anistia Internacional

FSM2009-Belem do Pará



FSM 2009: Por um novo pacto ecológico


Claudemiro Godoy do Nascimento *Adital

Os problemas que a humanidade enfrenta podem ser considerados insignificantes diante da ameaça concreta à vida do ser humano. A extinção do ser humano é uma possibilidade real. Não se trata de messianismos ou de tipos de convulsões coletivas fundamentalistas de mortes em massa em nome de um sistema religioso. Pelo contrário, são os próprios seres humanos que estão promovendo essa possibilidade real de extinção, de desaparecimento, do fim.

Na noite do dia 24 de janeiro, na cidade de Belém - Pará, durante o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação, teve-se um momento histórico com três personagens que lutam e defendem um novo pacto ecológico para humanidade. Não foi um debate e, muito menos, palestras para ouvintes cansados de um dia de atividades variadas. Foi um momento sublime de diálogo, de construção do "pathos" utópico, de amor e compaixão para com a vida que se manifesta em toda natureza. Nós, homens e mulheres, somos parte desse Todo ambiental, ecológico, natural e cultural.

Sob a mediação do Procurador da República no Estado do Pará, Felício Pontes, os mais de 1.000 participantes do III Fórum Mundial de Teologia e Libertação tiveram a oportunidade de ver, aprender, escutar, aplaudir e resgatar os sonhos com dois personagens históricos da luta popular por um mundo melhor, a saber: a Senadora Marina Silva, acreana, seringueira, mulher e com uma humildade que a torna forte e guerreira nos momentos necessários; e Leonardo Boff, teólogo da libertação, ecologista, cristão no mundo, educador e como ele mesmo se intitula: "um agitador social", função do intelectual engajado. Ambos dialogaram a partir do tema: "A vida do Planeta desde a Amazônia".

A abertura do diálogo foi realizada pelo Procurador da República, Felício Pontes, que assumiu a tarefa de introduzir o tema. Sua tarefa como representante da Justiça no Estado do Pará vem se destacando pela defesa das causas populares e da ecologia. Sua introdução se destaca pelo compromisso que assume na defesa jurídica aos seringueiros, camponeses, indígenas, povos da floresta e com a própria Amazônia. Para ele, vivemos o choque entre dois mundos, o choque entre dois modelos de desenvolvimento, a saber: o modelo predatório e o modelo sócio-ambiental.

O modelo predatório nega a existência do ser humano, o direito às pessoas em suas condições materiais, existenciais, biológicas, econômicas e sociais o que permite a geração de violência no campo e na floresta com forte imposição do trabalho escravo e a morte de trabalhadores rurais, indígenas e agentes de pastoral. Tais episódios podem estão atestados nos relatórios da Comissão Pastoral da Terra que a cada ano lança um Relatório dos Conflitos no Campo. Este modelo se encontra pautado em quatro eixos predatórios: madeira, pecuária, extração mineral e monocultura agrícola. Para estes "homens de negócio" a floresta é um obstáculo que gera o latifúndio e a concentração de renda. Além disso, este modelo predatório consegue financiamento público para atingir os interesses capitalistas por meio de três bancos públicos: Banco da Amazônia, Banco do Brasil e a SUDAM. Com dinheiro público se financia a cultura de morte e o modelo predatório que se torna a fonte especulativa mais perigosa na Amazônia, em especial, na região Sul do Pará.

O modelo socioambiental, utópica e urgentemente necessária, permite à floresta uma possibilidade de viver e que os povos de que dela dependem utilizem a metodologia do socioextrativismo interrompendo a cultura predatória. O Procurador da República, Felício Pontes, conclama para a urgência das demarcações das terras indígenas, quilombolas, seringueiros e ribeirinhos. Atualmente, 4% da Amazônia já é uma reserva extrativista que deve ser mantida e ampliada.

Por sua vez, a Senadora Marina Silva iniciou sua intervenção afirmando que a destruição da Amazônia significa um grave problema de desequilíbrio. O que seria a Amazônia para o mundo? Pulmão? Coração? Marina Silva nos deixa uma nova alternativa. A Amazônia é o rim do mundo, já que dessa porção continental entra e saí muita água que doa vida aos seres da floresta e à própria floresta. Por isso, pensar a Amazônia significa pensar outro tipo de democracia que possibilite o diálogo a partir de forças mediadoras. Também, pensar a Amazônia é pensar os conflitos de interesse. São os mesmos interesses de capital predatório que gera o que podemos chamar de "crise civilizatória".

Seria o momento de mudar os paradigmas? As mudanças são frutos das mãos do próprio ser humano que desde a Revolução Industrial assumiu como fundamento o paradigma da dominação, do predatório, da barbárie, do genocídio e do etnocídio, da cultura e do pensamento único... Trata-se de um paradigma único e absoluto, fruto de uma visão antropocêntrica. Na tradição judaico-cristã, Deus cria primeiro todas as coisas antes de criar o homem. Assim, poderia o homem colocar-se acima de tudo e de todos com uma argumentação infantil e fundamentalista que legitima a lógica dominante?

Vejamos: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra" (Gen 1, 28). Como se trata de interesses, os homens utilizam ideologicamente este versículo isolado sem nenhuma hermenêutica dos conceitos para justificar o paradigma antropocêntrico por meio da Bíblia. Dominai significa compaixão, cuidado e responsabilidade para com a Terra onde não existe a barbárie da destruição.

Com o extermínio da floresta há um extermínio dos povos tradicionais que ali vivem, em especial, os 60 milhões de índios em toda América Latina. Por isso, a razão instrumental do Ocidente, chamada pelo sociólogo português Boaventura de Souza Santos de "razão indolente" já não responde mais aos problemas da humanidade. Para que tenhamos uma idéia do problema indolente, atualmente, temos 1/3 (um terço) da humanidade que sofre com a desertificação afetando 20% da soberania alimentar mundial. Por outro lado, 75% de CO² produzido pelo Brasil se devem ao desmatamento das florestas amazônica, cerrado e atlântica. Os países ricos produzem 80% de CO², sendo os Estados Unidos o campeão de emissão de CO², em torno de 20%. Os países emergentes juntos são responsáveis pelos 20% que restam.

Para Marina Silva, precisamos de um diálogo com os saberes por meio da troca de experiências com culturas diferentes que respeitam e valorizam os saberes narrativos, em especial, dos povos indígenas. Durante 500 anos de chegada dos invasores europeus, no Brasil foram massacrados 1 milhão de índios em cada século o que podemos caracterizar uma estimativa de 20% do total de mortos durante a II Guerra Mundial. Atualmente, são 500 mil índios no Brasil. Dessa forma, seria uma grande injustiça trocar 18 mil índios da Raposa Terra do Sol por 06 arrozeiros grileiros no Estado de Roraima. Isto seria uma ameaça à soberania nacional.

Concordamos com a reflexão serena de Marina Silva onde afirmou que nos alimentamos por muito tempo do pensamento cartesiano e seu dualismo constante. Para a lógica cartesiana, as coisas ou são boas ou são más. Por isso, o pensamento cartesiano apresenta um profundo sistema maniqueísta que o fundamenta. Para a Senadora Marina Silva precisamos superar a dicotomia cartesiana entre saber versus conhecer. Segundo a ex-ministra do meio ambiente "precisamos pensar o mundo a partir da Amazônia e pensar a Amazônia a partir do mundo".

Além disso, 80% da população mundial vivem no estado de "homo sapiens" e 20% destes se encontram no estado avançado "homo sapiens global" onde somente os melhores, os ricos e os que detêm o monopólio do capital é que conseguem atingir. Por isso, mais um motivo para mudarmos de paradigma, de modelo, numa visão de desenvolvimento e de progresso marcados profundamente por uma lógica de aceleração mercantil. Com isso, somos chamados ao alerta em não acreditar nos projetos que homogeneízam sonhos e as utopias e que desrespeitam a diversidade.

Por sua vez, Leonardo Boff iniciou seu diálogo afirmando que a Floresta Amazônica é um patrimônio da humanidade, com um ecossistema riquíssimo. Os povos indígenas são os verdadeiros ecologistas e educadores que nos ensinam as representações simbólicas do significado "ser cultural". A natureza, por excelência é um grande sistema vivo.

Para Leonardo Boff, a crise do capital que estamos vivenciado na atualidade "tem tudo para ser uma crise final", pois, ou nos adequamo-nos às condições da Terra, enquanto filhos da Terra que somos ou então padeceremos em nossa imbecilidade paradigmática e morreremos juntos. Diante de tudo isso, Leonardo Boff apresentou a proposta da Declaração Universal do Bem Comum Planetário que está sendo preparado por vários intelectuais, entre eles, François Houtart.

Os fundamentos éticos dessa Declaração deverão estar pautados sob a égide de 4 (quatro) Pactos que minimizem o econômico como paradigma fundante da sociedade capitalista. São eles: 1) O Pacto ecológico natural: responsável por proteger a Terra; 2) O Pacto ecológico social: responsável por unir todas as esperanças das nações e unilateralmente as vontades de um único Império absoluto; 3) O Pacto ecológico cultural: que deve estar baseado na promoção do pluralismo, da tolerância e do aphantesis (encontro) da humanidade com os ecossistemas, os biomas, com a vida do Planeta; 4) Por fim, o Pacto ecológico ético-espiritual: fundado na dimensão do cuidado, na compaixão, na responsabilidade de todos com tudo.

Evidentemente, estes pactos não podem ser dicotomizados e classificados hierarquicamente, pois estão por vir-a-ser a partir da superação dessa lógica cartesiana que persegue nossas consciências. Seria realmente uma verdadeira lição para os analfabetos ecológicos dos Ministérios da Agricultura e da Fazenda que em nossa realidade brasileira andam privilegiando o modelo predatório estimulado pelo agronegócio e pelo hidronegócio.

São questões importantes apontadas por Leonardo Boff que nos indica que a Terra poderá continuar vivendo mesmo sem a vida humana por falta de amor às dimensões libertadoras desse ser humano, principalmente, em tempos de ameaça da vida promovida pelas próprias pessoas. Uma prova disso é o orçamento militar de todo o Planeta que, de forma inadmissível, gira em torno de 1 Trilhão e 200 Bilhões de Dólares. Destes, 24 Bilhões poderiam resolver metade dos problemas da fome no mundo. Somente na guerra do Iraque foram utilizados 400 Bilhões. Trata-se realmente de uma razão indolente, irracional e anti-humana.

Podemos concluir com Marina Silva e Leonardo Boff que os povos da terra, os pobres do mundo, os povos indígenas, seringueiros, camponeses e ribeirinhos não podem ser condenados a viver neste vale de lágrimas. Outro mundo é possível? Outra sociedade é possível? Outros paradigmas são possíveis? Serão possíveis desde que partamos para o enfrentamento e o rompimento com a razão indolente deste capitalismo predatório que mutila milhões de vidas a uma situação de morte anunciada. Eticamente podemos realizar este novo pacto ecológico e estamos no limite do tempo para fazê-lo. Dependerá de nós, dessa geração, anunciar este pacto e denunciar o velho paradigma em crise.


* Filósofo e Teólogo. Mestre em Educação/Unicamp. Doutorando em Educação/UnB. Professor da Universidade Federal do Tocantins - UFT/Campus de Arraias

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

Fotos: Eduardo Seidl

Por que a mídia privada não consegue ver o FSM?

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Belém.

Mais uma vez a mídia privada não consegue ver o FSM. Os leitores que dependerem dela ficarão sem saber o que acontece aqui em Belém. Por que? O que impede uma boa cobertura, se a riqueza de idéias, a diversidade de presenças, a força dos intercâmbios – como não se encontra em lugar algum do globo – estão todos aqui? Há jornalistas, algum espaço é dedicado pela imprensa ao evento, mas o fundamental passa despercebido.

O fundamental não tem preço – diz um dos lemas melhores do FSM. Enquanto o neoliberalismo e o seu reino do mercado tentam fazer com que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, ao estilo shoping-center, o FSM se opôs desde o seu começo a isso, opondo os direitos de todos ao privilégio de quem tem poder de compra, incrementando sempre mais as desigualdades.

Um jornalista da FSP (Força Serra Presidente) se orgulha de ter ido a todos os Foros de Davos e, consequentemente, a nenhum Forum Social Mundial. A espetacular marcha de abertura do FSM retratada com belíssimas fotos por Carta Maior, foi inviabilizada pela mídia mercantil.

A cobertura se faz com a ótica com que essa imprensa se comporta, com os óculos escuros que a impedem de ver a realidade. O FSM, como tudo, é objeto das fofocas sobre eventuais desgastes do governo Lula – a obsessão dessa mídia. Não cobrem o dia do Forum PanAmazônico, não deram uma linha sobre o Forum da Mídia Alternativa, não ouvem os palestinos, nem os africanos ou os mexicanos. Nada lhes interessa. No máximo aguardam para ver se Brad Pitt e Angelina Jolie vão vir.

Seu estilo e sua ótica está feita para Davos, para executivos, ex-ministros de economia. Lamenta a imprensa que a América Latina, a África e a China estejam tão pouco representados em Davos. Mas o que teriam a fazer por lá? Não se perguntam, nem querem saber. Seus jornalistas não são orientados senão para seguir os passos de Lula e seus ministros.

Temas como os diagnósticos da crise e as alternativas, a guerra e as alternativas de paz, as propostas de desenvolvimento sustentável – fundamentais no FSM – estão fora da pauta. Nem falar da crise da própria mídia tradicional e das propostas de construção de mídias públicas e democráticas.

A mídia mercantil é um caso perdido para a compreensão do mundo contemporâneo. Não por acaso a crise atual a afeta diretamente. Não tardará para que comecem as quebras de empresa de jornalismo por aqui também. E eles serão vitimas da sua própria cegueira, aquela que lhes impede de ver os projetos do futuro da humanidade, que passeiam pelas veredas de Bel


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

João Gilberto - Live In Montreux (1986)




download




Créditos: UmQueTenha

RBS quer voltar à casa do Pai


De partido político da direita guasca à Disneylândia de bombachas?

Não é de estranhar que o jornal Zero Hora ao falar em Guerra Fria no Rio Grande (ver suelto abaixo, de 26/1) esqueça de mencionar que um dos combustíveis do conflito Leste-Oeste foi o anticomunismo.

No RS, hoje, o anticomunismo foi atualizado por um sucedâneo ideológico chamado antipetismo. O constructo do antipetismo é uma construção puramente mental – a exemplo do anticomunismo – usado com a funcionalidade de impressionar os espíritos simples do senso comum e mobilizar preconceitos e mitos os mais arraigados.

Quando esses elementos primitivos são excitados no fundo escuro de um espírito ingênuo ou mal formado, a razão passa longe e o indivíduo fica dominado por sensações que vão do medo à intolerância mais funda – presa fácil da propaganda mais simplificadora e rebaixada.

O anticomunismo tinha o mesmo efeito que o bicho-papão para as crianças. Ambos não existiam, mas operavam no susto. A velha União Soviética nunca quis exportar a revolução, aliás, um dos motivos pelos quais não se pode chamar aquele falecido regime estatal de comunista ou socialista.
Se o comunismo foi um bicho-papão que não era bicho nem papão, o mesmo se pode dizer do petismo, especialmente na atual fase de descenso e acomodação conciliatória.

Como se vê, a RBS usa velhos truques manjados para continuar assustando a população menos atenta com tigres de papel pintado.

O Rio Grande do Sul sempre se notabilizou por ter uma imprensa partidária forte e atuante. Do final do século 19 até boa parte do século 20, o Estado e suas principais cidades do interior ostentaram jornais e publicações identificados com os partidos políticos que faziam o debate público regional. O castilhismo-borgismo fez a sua revolução burguesa também através das páginas de “A Federação”, bem como os órgãos de imprensa alinhados com os maragatos, ferrenhos opositores dos republicanos sul-rio-grandenses.

A luta das frações de classe burguesa no Rio Grande sempre foi pública e publicada, pelos menos até o advento do golpe de 1964. Com o regime civil-militar golpista houve um rearranjo neste esquema.

Os dois principais jornais do RS – Zero Hora e Correio do Povo – modificam a trajetória de alinhamento político da imprensa regional. O Correio, criado em 1895, surgiu precisamente para quebrar o paradigma de que jornal deveria estar vinculado a partido político, e não se afiliou a nenhuma linha partidária, mas acabou ficando porta-voz do latifúndio e do setor primário em geral. Hoje, completamente desfigurado é apenas uma caricatura do seu passado.

O jornal ZH, do grupo RBS, é criado imediatamente após o golpe de abril de 1964 e se fortalece à sombra do crescimento da televisão como meio de comunicação de massa no Estado. ZH não tem a mesma origem dos demais órgãos de imprensa do País, cuja personalidade como jornal forjou-se na forma tradicional de fazer diários. Zero Hora resultou da reciclagem errática de um jornal com opinião política aberta – a Última Hora – e firma-se como orgão de mero apoio comercial à mídia televisão, uma espécie de revista de variedades, com notícias e informações em segundo plano. Seu criador, Maurício Sirotsky Sobrinho, sempre foi um animador de programas de auditório com afinado instinto comercial, e depois proprietário de rádios, e jamais teve formação de jornalista militante de redações diárias. Esse é um dos motivos de ZH ser tão pobre em texto e reportagem, as bases são insólitas e não há o menor traço de pedigree jornalístico.

Criado e crescido, portanto, na estufa morna da ditadura civil-militar, ZH cultivou hábitos de ocultar sua filiação político-ideológica, preferindo a política da dissimulação e da camuflagem. Mas isso não significa que não tenha personalidade política e identificação ideológica, ao contrário, não só ZH mas os demais veículos da RBS acabaram ocupando a lacuna funcional dos anêmicos partidos cartoriais do conservadorismo guasca.

Existe alguma ilegitimidade ou ilegalidade nesta representação política delegada da direita? Na origem, nenhuma. O que se contesta é a ocultação permanente desta representação. Aí passa a constituir-se num desvio de função e numa falsidade ideológica (para não falar em constituição de oligopólio de meios de comunicação, que é considerado crime, ao qual o MP Federal de Santa Catarina já está investigando) que deve ser reprovada e denunciada todos os dias.

Recentemente, o grupo RBS recebeu aporte de capital do investidor Armínio Fraga, cerca de 4% do seu capital social. Objeto do aporte: tornar um braço do grupo um forte player no ramo do entretenimento de massas no Brasil.

Vê-se que a RBS retorna ao seu leito de origem, como no mito bíblico, o bom filho à casa torna. Maurício Sobrinho, seu fundador, foi um animador de auditório bem sucedido, pois, agora, seus sucessores fazem justiça ao legado do patriarca voltando ao ramo do entretenimento – de onde nunca deveriam ter saído.

Agora, espera-se que dêem o looping negocial: que saiam do ramo partido-político-da-direita-guasca e migrem em definitivo para adotarem o figurino da Disneylândia de bombachas.

Que Ha-shem os ilumine (e Fraga os financie)!

Marcha pela Paz abre Fórum Social Mundial 2009



Agencia Carta Maior

O ponto de partida da caminhada foi a praça Pedro Teixeira (Escadinha) ao lado da Estação das Docas. Representando a vinda do FSM da Àfrica para a Amazônia, os povos indígenas da região foram recebidos pelos povos africanos e afrodescendentes e juntos compartilharam uma Ceia Sagrada. Dezenas de milhares de pessoas participaram da marcha. Segundo a polícia, cerca de 60 mil. Segundo organizadores, número de participantes foi bem maior, podendo chegar a quase 100 mil pessoas. Nem a chuva que caiu em meio à caminhada, tirou o ânimo dos participantes (Foto: Eduardo Seidl).


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tarso: 99% dos que querem extraditar Battisti defendem impunidade para torturadores

Críticas ao refúgio concedido a Battisti fazem parte de disputa política, afirma Tarso Genro

Marco Antonio Soalheiro e Ivanir José Bortot

Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Alvo nas últimas semanas de inúmeras críticas de autoridades italianas e setores da sociedade brasileira em virtude do refúgio concedido ao escritor Cesare Battisti, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reiterou, em entrevista exclusiva à EBC - Empresa Brasil de Comunicação, estar convicto de que o gesto foi plenamente adequado aos princípios constitucionais do país. Para ele, é nítida a motivação política na maior parte dos que se opõem em âmbito interno à sua decisão. Tarso os define, em geral, como entusiastas do neoliberalismo e defensores da impunidade aos torturadores.

“A discussão se tornou política. Não vi até agora, com sobriedade, nenhum argumento jurídico, porque este argumento jurídico teria de desconstituir todas as decisões do Supremo [Tribunal Federal - STF] sobre o assunto, em casos parecidos com esse do senhor Battisti”, afirmou Tarso.

“No momento em que a grande bandeira do neoliberalismo sucumbiu, que era a nossa submissão total ao capital financeiro e às suas necessidades desregulamentadoras, os próprios promotores e ideólogos desse modelo precisavam de um outro argumento para fazer oposição e se apegaram nesse do Battisti. Não é de pasmar que 99% dessas pessoas defendem impunidade para os torturadores. As mesmas pessoas são favoráveis que se entregue o senhor Battisti, mesmo o Brasil não tendo entregue outras pessoas que estavam na mesma situação”, acrescentou.

Battisti foi condenado em seu país de origem à prisão perpétua em duas sentenças, pela suposta autoria de quatro assassinatos, entre 1977 e 1979. Na época, o escritor militava na extrema esquerda da Itália, vinculada ao grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC).

Em relação ao descontentamento das autoridades italianas com o refúgio, Tarso classificou como natural, se considerado o “ambiente de dor” deixado pelos atos de violência que marcaram a vida política do país nos anos 1970, mas ressalvou não haver base probatória suficiente para a condenação.

“Eu diria até que, no momento em que o senhor Battisti foi julgado na Itália, a decisão provavelmente foi adequada às circunstâncias históricas daquele país. Hoje, qualquer juízo absolveria o senhor Battisti por insuficiência de provas”, avaliou.

Em seu rol de argumentos, o ministro lembrou o fato de a Itália não ter atendido o pedido brasileiro para extraditar o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, que tinha sido condenado no Brasil a 13 anos de detenção por crimes contra o sistema financeiro.

“Aí entra a questão da soberania. Quando nós pedimos a extradição do senhor Cacciola a Itália aplicou corretamente a sua Constituição. A Constituição [italiana] proíbe a extradição de preso com dupla nacionalidade. Fomos extraditá-lo lá em Mônaco e nem por isso ofendemos o sistema jurídico italiano ou desconstituímos sua estrutura institucional”, assinalou Tarso.

A disputa definida como “política” pelo ministro terá seus próximos capítulos travados no STF. Os advogados Luiz Eduardo Greenhalgh e Suzana Angélica Paim Figuerêdo, que compõem a banca de defesa de Cesare Battisti, interpuseram no tribunal um pedido de revogação da prisão preventiva do refugiado. A República italiana encaminhou ao STF, na sexta-feira (23), documentação com razões para justificar o pedido de extradição e contra a ação de liberdade de Battisti.

Sobre o caso, o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, solicitou parecer à Procuradoria Geral da República.

do blog Cloaca News...

BARRACO TUCANO NO RS: EM BRIGA DE MARIDO E MULHER, NÃO SE METE...


Na última sexta-feira, a governadora tucana Yeda Crusius detonou o Conselho de Comunicação do Governo do Estado, mandando para o beleléu seu próprio marido, o economista Carlos Augusto Crusius, que presidia o órgão. O relato que o tablóide Zero Hora fez dos antecendentes da exoneração do primeiro-esposo é típico do jornalismo de pastelão, como você, se tiver a pachorra, poderá ler clicando aqui. Na edição de hoje, o jornalzinho da RBS apressa-se em tomar o partido da tucana (leia aqui), dando voz , inclusive, a um "aliado" anônimo, que afirmou que "Yeda optou por profissionalizar um espaço (a comunicação) para ter melhores resultados na imagem do governo". Guarde bem a palavra "profissionalizar".
Ontem mesmo, em uma notinha sob a retranca "OPINIÃO ZH" , que equivale a um editorial, o tabloidezinho estampou: "A extinção do Conselho de Comunicação do governo do Estado chama a atenção dos gaúchos para um órgão que a maioria da população sequer conhecia bem. Criado em 2007, com a atribuição de supervisionar projetos relacionados à publicidade e à comunicação da administração, o conselho será agora substituído por uma estrutura profissional, destinada a dar maior visibilidade aos atos do governo e a aproximar o Executivo da população. Faz sentido. Os cidadãos têm o direito de ser informados sobre as ações de seus representantes públicos, até para ter certeza de que decisões que envolvem os interesses da sociedade estão sendo adotadas por critérios estritamente técnicos. Por isso, é fundamental que a nova estratégia de comunicação tenha como foco prioritário a transparência".
Diante desta proverbial peroração, uma das conclusões a que podemos chegar é a de que, sob a batuta do "Barbicha" - como também é conhecido o Sr. Crusius entre alguns dos indiciados pelas falcatruas no Detran gaúcho - a gestão do Conselho, desde seu início, fora amadora. Ah...mas, agora, livre desse diletante barbicas, finalmente vão liberar umas verbinhas para que a população saiba o que o governo estadual anda fazendo!
Todavia, Zero Hora não dá ponto sem nó. Para coroar seu, digamos, profissionalismo, publicaram uma "entrevista" com o "primeiro-marido" defenestrado. Curiosamente, uma entrevista que ele não concedeu, como se pode constatar aqui. Mas que, certamente, fará com que uma das partes do casal vá dormir no sofá da casa nova, comprada sabe-se lá como.

A crise dos grandes jornais

Mais empresas e grupos midiáticos devem fechar jornais nos próximos meses. O novo príncipe, como Octavio Ianni definiu o poder midiáticos dos nossos tempos, está em crise existencial.

De repente, não mais que de repente, grandes jornais do mundo Ocidental entraram em crise financeira aguda. Entre eles o New York Times, ícone do capitalismo Ocidental, o El Pais, símbolo do novo expansionismo ibérico, o poderosos Chicago Tribune e o veterano Christian Science Monitor. Estão sem caixa. Alguns, venderam seus prédios, outros buscam injeções de capital, redações foram reduzidas à metade. O Christian Science Monitor deixou de vez a forma impressa, ficando só na internet.. Será o começo do fim da era dos grandes jornais?

Ignácio Ramonet apontou ,no Fórum de Mídia Livre desta segunda feira, para a estreita relação, quase que orgânica, entre o capital financeiro e os grande grupos de mídia. É como os bancos fornecessem o combustível dos conglomerados midiáticos. Quando advém ao estrangulamento do crédito, principal mecanismo desta crise depois do colapso dos grandes bancos americanos e alguns europeus, precipita-se uma situação de insolvência que já vinha tomando forma desde que a internet começou a comandar a dinâmica do jornalismo.

Para Ramonet , o aprofundamento e o espalhamento da recessão econômica, etapa seguinte desta crise, afeta profundamente o modo de produção da grande mídia, principalmente ao reduzir sua principal fonte de financiamento, a publicidade.

São três pauladas sucessivas na grande mídia impressa. Primeira paulada: o esvaziamento de suas funções pela interne, processo de natureza estrutural que deverá se aprofundar . Segunda paulada: o estrangulamento do crédito, fator apenas temporário mas que precipitou decisões radicais, algumas irreversíveis.Terceira paulada:a queda das receitas publicitários, que está apenas no começo , devendo perdurar pelo tempo das grandes recessões, em geral três a cinco anos.

Os grandes jornais já vinham sofrendo há muito tempo a erosão de suas funções editoriais principais, apontaram nessa mesma sessão do Fórum os jornalistas Pascual Serrano do site Rebellion, e Luiz Navarro, do La Jornada. Na invasão do Iraque, por exemplo, a grande mídia americana tornou-se uma disseminadora de mentiras geradas pelo governo. Com isso, negou sua função jornalística principal de asseverar verdades.Também perdeu sua função mediadora, na medida em que abandou a mediação dos grandes problemas que efetivamente interessam à população .E mais; perdeu legitimidade, perdeu autenticidade.

Conclusão: mais empresas e grupos midiáticos devem fechar jornais nos próximos meses. O novo príncipe, como Octavio Ianni definiu o poder midiáticos dos nossos tempos, está em crise existencial.

Bom para a democracia? Talvez não. Ruim com os grandes jornais, pior sem eles. A democracia de massa precisa meios de comunicação de massa para funções de mediação e agendamento do debate nacional e mundial, que a mídia pequena ou alternativa não tem escala para exercer.

O que interessa à democracia é que esse espaço, o da comunicação de massa seja habitado por uma mídia mais plural, mais comprometida com os valores humanos e menos com os ditames do capitalismo. Vários participantes desse debate apontaram para a necessidade do campo popular disputar a hegemonia da grande imprensa, com projetos de mesmo porte.

Também foram cobradas políticas publicas mais audazes de democratização do espaço midiático por parte dos novos governos da América do Sul. E mais empenho das entidades mais poderosas da sociedade civil na ocupação desse espaço. A hora é agora, quando a crise jogou os tycoons da comunicação na defensiva, e as novas tecnologias favorecem o pluralismo no espectro eletromagnético e barateiam a produção dos meios impressos.


Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

FORUM SOCIAL MUNDIAL-2009

Uma outra mídia é possível (e necessária)

O I Fórum Mundial de Mídia Livre discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neoliberais.

O Fórum Social Mundial começa com o Fórum Mundial de Mídia Livre. Nesta segunda, dois painéis e outras atividades, põem em debate os meios de comunicação e, mais importante, discutem a construção de meios alternativos de comunicação. Será isto possível? É como perguntar se um outro mundo é possível. Talvez um outro mundo seja mesmo possível, mas, com certeza, não o será sem uma outra mídia necessária.

Nas dimensões sociais e espaciais em que vivemos hoje, neste mundo em que somos afetados, instantaneamente, tanto pelo que acontece em nosso bairro, quanto por uma guerra em alguma região aparentemente distante como Gaza ou Chechênia, a realidade que nos chega é aquela que nos chega pela mídia. Aquilo que aconteceu, aconteceu porque foi noticiado no jornal, na TV ou no rádio. Se não foi noticiado, não aconteceu. Significa dizer, boa parte de nosso conhecimento do mundo, boa parte do modo como pensamos, é moldado pela mídia. No limite, a mídia decide o que devemos pensar, sobre o que devemos pensar e como devemos pensar o mundo. Pensar uma outra organização de sociedade, alternativa a esta ordem capitalista que aí está, poderá ser quase impossível, se o mundo que vemos, lemos e ouvimos através da mídia, parece ser um mundo sem alternativas...

Daí a importância da construção de uma mídia alternativa, de uma mídia livre dos compromissos políticos e econômicos da mídia hegemônica, de uma mídia livre para discutir e disseminar a idéia de que um outro mundo é possível.

A base social para a construção dessa mídia é o próprio movimento popular. Na medida em que os mais diversos segmentos da sociedade se organizam em defesa dos seus interesses e se mobilizam para viabilizar suas plataformas políticas e culturais, é natural que eles queiram verbalizar suas demandas e propostas. Através da rede mundial de computadores e graças ao barateamento generalizado dos meios de reprodução das idéias, o movimento popular não precisa mais depender de custosos equipamentos e instalações para colocar suas propostas em debate na sociedade.

O jornal ou revista impressos podem ainda serem veículos importantes, mas não são mais os únicos. Blogues, sítios de internet, rádios de baixa potência (comunitárias), até mesmo canais de TV, sem falar das listas de discussão em rede ou simples panfletagens digitais (spans) já se tornaram poderosos meios de divulgação de idéias alternativas e de mobilização política. Através deles, o agendamento do que pensar, sobre o que pensar e como pensar ditado pela mídia hegemônica, pode ser contraditado por uma agenda alternativa, isto é, por uma nova proposta a respeito do que deve ser prioritário para ser pensado e sobre como deve ser pensado.

O FML que, nesta segunda, realiza o seu primeiro fórum mundial, nasceu com essa proposta e pôde assim nascer porque foi construído por organizações e entidades jornalísticas ou não, comprometidas com a construção dessa agenda alternativa e popular. Parte de seus construtores são jornalistas e estão engajados na produção, edição e veiculação de publicações jornalísticas. Parte deles porém não são propriamente jornalistas, mas são comunicadores vinculados ao movimento popular que estão também muito engajados na produção, edição e veiculação de publicações (impressas ou eletrônicas) que discutam a agenda de interesse do movimento popular. Não raro, esses comunicadores demonstram muito mais competência e sensibilidade para perceber e elaborar essa agenda, do que os profissionais do ramo. Trata-se de uma competência e sensibilidade nascida da vivência real com os problemas da injustiça, da exploração, da exclusão.

O I FMML discutirá a construção dessa nova mídia e, também, claro, não poderá deixar de discutir as responsabilidades da mídia hegemônica na construção da crise econômica e social na qual fomos mergulhados pela especulação financeira e por seu arautos neo-liberais. Era uma crise anunciada. Alguns analistas insuspeitos já diziam, há anos, que ela logo viria. Fatos só agora revelados, ainda assim a conta-gotas, mostravam que a prosperidade neo-liberal não passava de fachada. Essa imprensa que não dava voz aos críticos, essa mídia que não corria atrás de informações perturbadoras, são tão responsáveis por essa crise quanto os especuladores de Wall Street ou da Bovespa. Alimentaram a ilusão. A sociedade não pode agora inocentá-las.

É de se esperar que o FSM, em Belém, defina alguns pontos essenciais de agenda para a reconstrução da sociedade, dada a crise. O I FSML deverá definir os caminhos para dar às propostas do FSM, a mais ampla divulgação possível pelo mundo a fora.


Marcos Dantas é professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, doutor em Engenharia de Produção pela COPP-UFRJ e autor de “A lógica do capital-informação: da fragmentação dos monopólios à monopolização dos fragmentos num mundo de comunicações globais” (Ed. Contraponto).