sábado, 28 de março de 2009

Elaine Tavares, uma JORNALISTA comprometida....

Porque é preciso romper as cercas: Do MST ao jornalismo de libertação

Será no dia 16 de abril, no Auditório do Centro Sócio-Econômico da UFSC, em Florianópolis,às 19h, o lançamento do livro da jornalista Elaine Tavares: “Porque é preciso romper as cercas: Do MST ao Jornalismo de Libertação”. Neste trabalho, Elaine narra uma histórica ocupação do MST, a da Fazenda Anonni, no interior do Rio Grande do Sul, ocorrida em 1985/86. E, nesse contar das lutas das gentes, ela desvela a sua própria trajetória na busca de um jornalismo que se compromete e toma posição, sem perder o foco na realidade objetiva.

São os primeiros passos da discussão do que mais tarde Elaine veio a cunhar como Jornalismo Libertador, conceito no qual se ampara o jornalismo que não é servil, nem porta-voz dos poderosos, mas que narra a vida desde o olhar da comunidade das vítimas, como ensina o filósofo da libertação, Enrique Dussel.

Hoje, falar deste acampamento que existiu no interior de Sarandi, com mais de seis mil pessoas acampadas, é recuperar o caminho histórico do MST, atualmente acossado por agressões de toda sorte, como a que obriga o fechamento de suas escolas no Rio Grande do Sul. Então, o lançamento do livro acaba sendo também um momento de justo apoio a este movimento que tem sido um sendero de luta e transformação.

Assim, o encontro terá o poema de Cesinha, a música de Rafael Galcer e José Amorim, a fala de Vilson Santin, produtos da reforma agrária para serem degustados (vinho, queijo e salame) e o livro da Elaine. Uma noite para homenagear o MST e conhecer suas origens.

Sobre a autora: Elaine Tavares, jornalista e pesquisadora no IELA/UFSC, é gaúcha nascida em Uruguaiana, Rio Grande do Sul. Viveu sua infância em São Borja, na barranca do rio Uruguai e, depois, foi virar mulher às margens do "Velho Chico", em Pirapora, Minas Gerais. Das heranças ribeirinhas que amealhou, estão a paixão pela vida dos que andam nas estradas secundárias e o amor pela narração das histórias. Contar das gentes tem sido sua sina. Vivendo em Florianópolis desde 1987, também aprendeu com o mar que, às vezes, é preciso se jogar barulhento nos penhascos para capturar a beleza de se ser quem se é.

Dia 16. 19h

Auditório do CSE/UFSC

créditos: Desacato

A propósito das “reflexões” de Fidel


Por Miguel Urbano Rodrigues. Portugal

www.odiario.info


A minha admiração por Fidel Castro remonta ao início dos anos 50, quando a Portugal chegaram ecos do assalto ao Quartel Moncada.

Eu era um jovem jornalista sem formação politica. Nessa época o culto dos heróis era inseparável do meu olhar sobre a Historia. Aquele moço cubano que numa louca aventura desafiara o poder de uma ditadura corrupta tomou lugar naturalmente no meu panteão de heróis carlilianos.

Transcorridos quatro anos, quando, iniciada a epopeia da Sierra Maestra, o nome de Fidel voltou às manchetes da imprensa internacional, a minha admiração pelo guerrilheiro barbudo que se propunha a destruir o exército de Batista e esboçava da Sierra os contornos de uma revolução humanista ampliou-se muito.

Qual será o desfecho deste desafio? - perguntava-me.

Somente anos depois ganhou transparência a certeza de que o grande desafio não terminou com a entrada em Havana do Exército Rebelde. A Revolução Cubana, acossada pelo imperialismo, avançou torrencialmente rumo ao socialismo, assumindo as proporções de um terramoto social e político que deixaria marcas profundas na América Latina.

A grande vaga romântica guerrilheira dos anos 60 foi derrotada na América Latina. Mas a herança da Revolução Cubana fortaleceu a consciência anti- imperialista de sucessivas gerações de latino-americanos. Sem o exemplo da resistência cubana não teriam sido possíveis as conquistas dos governos progressistas de Torres na Bolívia e de Velasco Alvarado no Peru e, dez anos depois, a vitória da Frente Sandinista na Nicarágua, e o combate travado em El Salvador pela Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. Embora menos perceptíveis, as lições da saga cubana são também identificáveis nas lutas sociais que, em contextos muito diferentes, levaram à Presidência da Venezuela, do Brasil, do Uruguai, da Bolívia, do Equador, do Paraguai presidentes com programas iniciais moderadamente anti imperialistas e antineoliberais.

A presença cubana na luta dos movimentos de libertação africanos não foi somente importante. Ela assumiu em alguns casos um papel decisivo. Sem a ajuda cubana, Angola teria sucumbido. Nelson Mandela reconheceu aliás a grande contribuição de Cuba para a independência da Namíbia e o fim do apartheid na Africa do Sul.

Quando Fidel adoeceu, escrevi em Agosto de 2006 um artigo em que o defini como o Aquiles Comunista por identificar nele a coragem do herói aqueu no desafio ao impossível.

Recordei então que Fidel, ao discursar em Havana em 1960 num Congresso dos Trabalhadores Cubanos, sublinhara ser perigoso que um homem dispusesse de tanta autoridade como a concentrada na sua pessoa. Não podia então imaginar que, por circunstâncias da história independentes da sua vontade, tal situação iria manter-se durante décadas.

Ele exerceu porém um imenso poder como comunista desambicioso que partia do nacional para o universal num combate em que a defesa da pequena Cuba se inseriu numa batalha maior pela transformação revolucionária da humanidade.

Na segunda metade do século XX não houve talvez outro dirigente do Terceiro Mundo que pela palavra e pela acção tenha desempenhado um papel tão importante no rumo de acontecimentos que assinalaram o processo de descolonização e as lutas contra o imperialismo de povos por este oprimidos e agredidos.

Residi em Cuba durante quase oito anos, precisamente após o fim da União Soviética. Formei ali a convicção de que foi nessa época que Fidel, num processo de ascese, superou como estratego e estadista tudo o que até então realizara na defesa da Revolução. A sobrevivência da Ilha socialista, bloqueada e atingida por uma guerra não declarada, num mundo em que de Washington a Paris se festejava (prematuramente) o fim do socialismo, trouxe-me então à memória as epopeias dos antigos gregos, cantadas por Homero e Xenofonte.

Sem petróleo, sem acesso ao crédito internacional, Cuba, cujo comércio externo dependia em mais de 85 % da URSS e dos países do Leste Europeu, foi forçada a integrar-se gradualmente num mercado capitalista cujos dirigentes não escondiam o desejo de destruir o seu regime.

Por haver tido a oportunidade de viver no dia a dia o chamado Período Especial e as semanas da crise dos balseros sei que a sobrevivência da Revolução foi amassada em sofrimento, coragem e privações que dificilmente outro povo teria suportado sem capitular. Mas Cuba sobreviveu.

Fidel, lúcido, advertiu insistentemente o seu povo de que essa sobrevivência era inseparável da introdução de mecanismos do capitalismo que iriam contaminar franjas do tecido social. E isso aconteceu. Ameaçada pelo inimigo externo, a Revolução teve de encontrar forças e imaginação para se defender do perigo interno. Este não resultava de uma oposição caricatural, mas da própria dinâmica da mudança social num contexto em que o Estado e o Partido demonstraram dificuldade em encontrar respostas adequadas para novos desafios.

A Doença do Herói


Era inevitável que a doença de Fidel provocasse uma sensação que ia da angústia ao alarme não apenas no seu povo mas em milhões de revolucionários de todo o mundo, solidários com a Revolução Cubana.

Os heróis são mortais, como todos os humanos, mas aqueles que em Cuba – a maioria do povo – se habituaram durante muitos anos a esperar de Fidel as decisões que permitiam ao barco da Revolução navegar com segurança em aguas tempestuosas, sentiram algo semelhante a uma orfandade anunciada quando se aperceberam de que ele não poderia retomar o leme.

Raúl assumiu com lucidez e firmeza a Presidência do Conselho de Estado, ou seja a governação dos país. Isso ocorreu num momento em que, na fidelidade à opção socialista, o próprio Fidel, antes de adoecer, afirmara a necessidade de medidas de combate à burocratização e de ruptura com a tendência para o imobilismo.

Não cabe neste artigo apreciar o que Raúl e a equipa dirigente fizeram e não fizeram desde o afastamento, primeiro temporário e depois definitivo, do irmão. Intelectuais amigos de Cuba têm, sob perspectivas diferentes, escrito muito sobre a nova situação existente na Ilha, tal como a vêem, no campo da economia, da cultura, das relações sociais.

Revisitei Cuba em Novembro de 2007. Decidi não escrever sobre o que vi e ouvi em conversas com camaradas.

Abro hoje uma excepção. A admiração e o respeito que Fidel me inspira como revolucionário e personagem histórico impõem-me o dever de escrever, como comunista, este texto motivado pelos os últimos acontecimentos de Cuba. Não para comentar a Nota Oficial do Conselho de Estado que desencadeou uma chuva de especulações, mas apenas para abordar uma questão, que me parece fulcral, mas ignorada pelos exegetas do processo cubano.

Refiro-me às consequências da situação de ambiguidade resultante de Fidel, tendo renunciado, por incapacidade física, à chefia do Estado, permanecer como primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba. Essa função confere-lhe toda a legitimidade para se pronunciar sobre qualquer tema que se lhe afigure merecedor da sua atenção, como máximo responsável de um Partido que se situa acima do governo como responsável pelo rumo da Revolução.

E Fidel tem exercido esse direito na coluna de “Reflexões” que “Granma”, o órgão central do Partido tem publicado com alguma regularidade e esses textos são reproduzidos em dezenas de media estrangeiros, alguns adversários da Revolução.

Mais de uma vez, “reflexões” de Fidel sobre questões internas e internacionais suscitaram polémica e sobretudo especulações mal intencionadas.

Os seus comentários à Nota Oficial do Conselho de Estado publicada pelo “Granma”, no dia 3 de Março, chamaram de modo especial a atenção de camaradas e inimigos, tornando-se tema de manchetes, por iluminarem a ambiguidade acima referida.

Na Nota as informações sobre o afastamento de Carlos Lage e de Felipe Perez Roque dos Ministérios que chefiavam não eram acompanhadas de qualquer crítica. O primeiro mantinha a sua posição no Conselho de Estado como vice-presidente e o segundo permanecia como membro do Comité Central.

Fidel na coluna que dedicou ao assunto não se limitou a elogiar as decisões tomadas, Dirigiu duras criticas a ambos, sem os nomear explicitamente, qualificando-os de indignos.

A boataria assumiu grande amplitude. Uma vaga de especulações varreu Cuba e o mundo.

A reacção de Lage e Perez Roque foi imediata. Em cartas publicadas pelo “Granma”, muito parecidas, reconheciam e lamentavam erros cometidos, informaram que renunciavam a todos as funções que desempenhavam no Estado e à condição de membros do Comité Central e expressavam a sua admiração por Fidel e Raúl.

Fidel desautorizou o Conselho de Estado, embora não fosse essa a sua intenção.

Abstenho-me de criticar o seu gesto. Mas a ambiguidade da situação criada pela sua permanência no cargo de primeiro secretário do PCC que, pela sua condição física, não pode exercer plenamente, cria constrangimentos no Estado e no Partido e está a ser utilizada pelos inimigos de Cuba para denegrir a imagem do revolucionário comunista que marcou a História do século XX.

Nestes dias, recordando a trajectória luminosa de Fidel, penso em Álvaro Cunhal, Volodia Teitelboim e Harilaos Florakis, eles também grandes revolucionários que, ao afastarem-se das responsabilidades que tinham como dirigentes dos seus partidos, não foram confrontados pela história com problemas como aquele que volta a colocar Cuba no centro da atenção mundial.

Fidel repetiu insistentemente ao longo da vida que o dever do revolucionário é fazer a revolução. Ele a sentiu e vê como infinito absoluto. Ninguém contribuiu tão positivamente como ele para romper na América Latina a submissão ao imperialismo encarada como fatalidade, ninguém conseguiu com tanto êxito contrariar a lógica aparente da História. E talvez também nenhum outro revolucionário tenha na sua intervenção como estadista revelado uma consciência tão permanente de que, por mais sábio que seja, dirigente algum pode sobrepor-se ao colectivo como sujeito transformador da História.

Interrogo-me se o Partido não terá nos últimos meses contribuído pela sua omissão para o avolumar da ambiguidade da posição actual de Fidel que não favorece o prestígio da Revolução Cubana.

Acredito que no seu quarto de doente, Fidel medita sobre o tema.

Vila Nova de Gaia, 13 de Março de 2009.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Está no Le Monde - Brasil

Turbulências na zona do Euro

Durante sua primeira década, a moeda europeia não correspondeu às expectativas iniciais: experimentou um crescimento enfraquecido e uma taxa de desemprego elevada. Além disso, o déficit orçamentário de várias das suas economias superou, com frequência, o teto estabelecido em 3% do PIB

Laurent Jacque

Até que ponto a tormenta financeira que está assolando a economia internacional poderia ameaçar a perenidade do Euro? Os seus defensores estão convencidos de que isso jamais acontecerá, muito pelo contrário. Argumentam que no espaço de dez anos a zona do Euro, que é a segunda economia mundial, tornou-se um refúgio de paz e segurança apoiado em uma moeda forte ou, no pior dos casos, estável.

Em 1º de janeiro de 2009, a Eslováquia tornou-se o 16º país a adotar o Euro. Ainda mais significativo é o fato de que importantes estados europeus como Dinamarca, Reino Unido e Suécia, que ficaram de fora na ocasião do lançamento da moeda única, em 1999, estariam agora reconsiderando sua posição. Os partidários da moeda única defendem que o Banco Central Europeu (BCE), que sempre se mostrou ferozmente independente dos poderes políticos, deu mostras de competência na tarefa de controlar a expansão da massa monetária, reduzindo a inflação para cerca de 2%; as taxas de juros nominais foram mantidas em 2,5% em média, enquanto as taxas de juros reais não eram tão baixas desde os anos 1960.

Ao eliminar os riscos inerentes ao câmbio [1] e aos custos das transações, a supressão de 15 moedas nacionais dinamizou o comércio e os investimentos no interior da zona do Euro, os quais constituem um terço do seu Produto Interno Bruto (PIB).

Dez anos depois do seu lançamento, a divisa europeia alcançou uma valorização recorde em relação ao dólar e colocou os países membros da zona do Euro numa posição vantajosa frente à libra esterlina e à coroa islandesa.

A zona do euro passou a representar uma alternativa à zona do dólar, até então todo-poderoso; o Euro “forte” constitui mais de um quarto das reservas dos bancos centrais e vai se afirmando como a divisa mais indicada para lastrear os títulos financeiros emitidos nos mercados internacionais.

Conforme resume com entusiasmo o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, “nós contribuímos dia após dia para criar um nível de prosperidade sempre mais elevado, e estamos desempenhando desta forma um papel importante no processo de unificação da Europa” [2].

A zona do Euro, no entanto, teve sua primeira década marcada por um crescimento enfraquecido, uma taxa de desemprego elevada e, além disso, o déficit orçamentário de várias das suas economias superou com frequência o teto, determinado pelo Pacto de estabilidade e de Crescimento (PEC) [3], de 3% do PIB.

O contraste é espantoso quando comparamos essa situação com as do Reino Unido, da Suécia e da Dinamarca, três países situados fora da zona do Euro que apresentaram nesse período taxas de desemprego reduzidas, taxas de crescimento mais elevadas e déficits limitados (ou até mesmo excedentes orçamentários).

Superar a crise

Até hoje, a moeda única contribuiu muito pouco para debelar as dificuldades econômicas europeias, causadas principalmente por problemas estruturais contra os quais o Euro nunca teve a pretensão de constituir uma panaceia. As promessas de aceleração da atividade e de redução do desemprego que a moeda trazia praticamente não se concretizaram. Terá sido o euro responsável, em parte, pelas dificuldades econômicas da década que se encerrou, e conseguirá ele sair incólume de uma crise que se apresenta como arrasadora?

As transações comerciais efetuadas internamente representam cerca de 15% do PIB da zona do Euro, o que é muito pouco se comparado ao que ocorre nos Estados Unidos

O lançamento da moeda única, em 1999, estava fundado numa vontade política e não na teoria econômica da zona monetária ideal (ZMI). Segundo essa teoria, um grupo de países ou de regiões pode constituir uma ZMI quando as suas economias estão fortemente articuladas, tanto no que diz respeito aos intercâmbios de bens e de serviços, quanto à mobilidade dos fatores de produção (trabalho e capital).

As transações comerciais que são efetuadas internamente representam cerca de 15% do PIB da zona do Euro, o que é muito pouco se comparado ao que ocorre do outro lado do Atlântico, nos EUA. enquanto a mobilidade do capital no âmbito da zona do Euro aumentou consideravelmente, a mobilidade do trabalho permanece muito limitada em relação à dos Estados Unidos.

Ignorando essas questões essenciais, o tratado de Maastricht, assinado em 1992, criou uma política monetária única cuja gestão foi entregue ao BCE. Nesse tratado foram retiradas de cada país duas das suas três ferramentas de gestão econômica: a da condução de uma política monetária nacional independente e aquela da manutenção da flexibilidade do preço da sua moeda. A terceira ferramenta, a da política orçamentária, que permanece uma competência nacional, é comprometida, por sua vez, pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Este determina que o déficit de cada país membro não pode ser superior a 3% do seu PIB e que a dívida nacional de cada um desses países está limitada a 60% do PIB. Na prática, porém, essa regra andou sofrendo notáveis distorções, principalmente por parte da Itália e da Grécia, onde a dívida pública já alcança, respectivamente, 104% e 95% do PIB.

Em razão dessas diferenças de desempenho econômico entre os Estados membros, a autonomia das suas políticas econômicas torna-se uma questão preocupante, principalmente no caso de algum deles sofrer um choque particular que não tenha repercussão no restante da zona do Euro.

Se a zona do Euro fosse efetivamente uma ZMI, o país em dificuldade se ajustaria por meio das seguintes medidas: a mobilidade da sua mão-de-obra em relação ao restante da zona do euro; a flexibilidade dos salários e dos preços; e uma transferência orçamentária equilibradora, partindo de Bruxelas em benefício do membro em dificuldade.

Nenhuma dessas três condições estava preenchida na criação do Euro e foram implementadas, desde então, apenas algumas poucas reformas estruturais destinadas a tornar o mercado de trabalho mais “maleável”, no sentido de se criar uma ZMI. A terceira e mais simples de todas torna necessária certa dose de federalismo fiscal, além de um poder econômico centralizado que contrabalançaria a independência do BCE.

Esses objetivos permanecem muito distantes porque ameaçam a soberania de cada Estado. De fato, a União Europeia, que dispõe de recursos bastante limitados – um orçamento mantido teoricamente em 1,27% do seu PIB, mas que na prática permanece estagnado em 1,23% –, não está habilitada a proceder transferências orçamentárias para amortecer os choques que atingem as economias nacionais.

Isso contrasta fortemente com a situação dos Estados Unidos, onde 60% das despesas públicas são realizadas no nível federal e onde a mobilidade do trabalho e a flexibilidade dos salários são muito superiores às normas europeias. Nem mesmo a Alemanha unificada – que em 1991 fusionou o marco do Leste com o do oeste – conseguiu criar uma ZMI para a moeda. Apesar de ter havido uma transferência maciça (de 200 bilhões de Euros) a partir de 1991, a taxa de desemprego na parte oriental do país se mantém em mais de 20%.

No decorrer da sua primeira década de existência, o Euro teve de enfrentar ao menos dois choques “assimétricos”, assim chamados por não atingirem os países membros da mesma maneira: o dólar que se manteve “caro” ou supervalorizado de 1999 a 2002 e, mais recentemente, no período de 2005 a 2008, a disparada dos preços do petróleo.

No primeiro caso, os Estados que estavam direcionados em demasia para o comércio internacional (em vez de darem preferência para transações com os outros países da zona do Euro), foram atingidos por uma inflação importada – custo elevado das importações em razão da carestia do dólar. E isso ocorreu de forma muito mais rápida do que nos países cujas transações comerciais ou estavam voltadas principalmente para a zona do euro.

Nem mesmo a Alemanha conseguiu criar uma zona monetária ideal. Apesar de uma transferência maciça de Euro, a taxa de desemprego na parte oriental está em 20%

Assim, entre 1999 e 2002, a Irlanda viu sua taxa de inflação alcançar 4,1%, ao passo que a Alemanha, mais orientada para o comércio com os outros membros da UE do que com o resto do mundo, manteve essa taxa em 1,2%. Da mesma forma, a alta dos preços do barril de petróleo, que teve seu custo multiplicado por quatro nesse período não prejudicou o crescimento nem estimulou a inflação dos países membros de maneira uniforme: a França, por exemplo – em função da sua decisão de priorizar a energia nuclear –, depende em apenas 35% do petróleo para garantir seu abastecimento de energia, diferentemente da Grécia, da Espanha e da Itália, onde esse número é superior a 55%.

A combinação de uma política monetária centralizada com uma política orçamentária descentralizada resulta, infelizmente, em diferenças entre os níveis de inflação de cada país, as quais instauram disparidades no poder aquisitivo do euro e geram competitividade entre os Estados membros. No quadro de um sistema de moedas “nacionais”, esse efeito seria facilmente corrigido por meio da valorização ou da desvalorização “competitiva” da moeda. Mas isso deixou de ser possível, uma vez que a moeda única paralisa a ferramenta das taxas de câmbio, anulando, ao mesmo tempo, a independência das políticas monetárias nacionais.

Tarefa difícil

Em razão dessa impossibilidade de se corrigir as discrepâncias inflacionárias, o poder aquisitivo da moeda europeia vai sendo corroído em muitos países, particularmente na Alemanha, em relação à média dos demais estados da zona do Euro. entre janeiro de 1999 e setembro de 2008, por exemplo, levando-se em conta as diferenças entre os custos salariais, o Euro na Itália sofreu uma valorização de cerca de 40% em relação ao Euro na Alemanha. o mesmo ocorreu com a Espanha e a Grécia, que não estão muito atrás da Itália.

As tentativas de corrigir essas discrepâncias cumulativas constituem uma tarefa difícil porque toda diminuição das remunerações parece ser politicamente explosiva. Apenas a obtenção de ganhos de produtividade pode reverter essa tendência; a Alemanha e a Holanda foram bem-sucedidas ao implementar essa política. Portanto, não surpreende que muitas empresas, no afã de resolverem seu “problema”, tenham optado por transferir (ou tenham ameaçado fazê-lo) suas atividades para países da Europa central e oriental.

Um fator complicador da situação é a mais completa falta de sintonia entre as agendas eleitorais (dos pleitos presidencial, legislativo e municipal) dos membros da União, o que exacerba a falta de sincronia entre os ciclos econômicos nacionais, na medida em que as eleições são geralmente precedidas por uma política orçamentária expansionista.

No momento em que o mundo está se atolando numa crise profunda, a tarefa de deter o forte aumento da taxa de desemprego, que pode superar rapidamente o nível crítico de 10% a 12%, vai se tornar o objetivo primordial. Esse já é o caso na Espanha, onde a taxa de desemprego disparou repentinamente para 13% nos últimos seis meses.

A tarefa de combater o desemprego resultará inevitavelmente em déficits fiscais maciços, os quais abrirão brechas no Pacto de Estabilidade e Crescimento difíceis de serem controladas e acabarão ameaçando a estabilidade da moeda única. Isso porque os planos de recuperação costumam estourar os limites máximos do déficit orçamentário (de 3% do PIB) e da dívida pública (60% do PIB), o que consiste também em uma ameaça à independência do BCE.

Os Subcompetitivos

Para certos países, cujas economias já estão muito fragilizadas pelas disparidades inflacionárias, isso não será sequer suficiente, o que pode levá-los facilmente a ceder à tentação de seguir o exemplo da recente e brutal desvalorização da libra esterlina.

A Espanha, a Grécia, a Itália e Portugal (cujas taxas de desemprego superaram com frequência a faixa dos 10% no decorrer dos últimos dez anos) não aceitarão permanecer eternamente “subcompetitivos” por conta da supervalorização do “seu” Euro. Por mais delicada que seja a tarefa de restaurar sua moeda nacional, o risco é de que certos países optem por abandonar o euro com o objetivo de recuperar sua competitividade econômica. É pouco provável que tais guinadas ocorram a curto prazo – entre outras razões, seria muito caro para um país que acaba de se despedir da zona do Euro financiar a dívida nacional (contraída em Euros) por meio de uma moeda novamente restaurada e desvalorizada. Entretanto, toda deterioração do ambiente social já frágil (conforme demonstra a violência das recentes manifestações populares na Grécia [4]) e prejudicado ainda mais por uma aceleração brutal do desemprego, poderia, em alguns países, aumentar a tentação de se adotar dessa solução extrema.



[1] Riscos vinculados à variação da taxa de câmbio das divisas. Antes da unificação monetária, investidores especulavam com frequência com o franco francês, a lira italiana ou a libra esterlina. Em setembro de 1992, George Soros acumulou mais-valias consideráveis apostando na desvalorização da libra, no momento em que o Reino Unido se atolava na crise econômica.

[2] Jean-Claude Trichet, entrevista concedida a Die Zeit, Hamburgo, 23 de julho de 2007.

[3] O Pacto de Estabilidade e de Crescimento retoma os critérios de convergência definidos pelo Tratado de Maastricht; ele mantém, entre outros, o objetivo da redução dos déficits públicos, um compromisso que todo membro deve assumir tendo em vista a sua incorporação na União Econômica e Monetária (UEM).

[4] Ler Valia Kaimaki, “A recusa do futuro”, Le Monde Diplomatique Brasil, edição 18, janeiro de 2009.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Jornalistas têm alergia à crítica?


Alguns jornalistas que trabalham na chamada grande imprensa de Porto Alegre parecem ter alergia à crítica. Com o crescimento da rede de sites e blogs que acompanham e comentam a cobertura diária da mídia, tem crescido também o número de processos contra os autores destes textos. O alvo mais recente desta alergia foi o jornalista Wladimir Ungaretti (foto), professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A Justiça determinou que Ungaretti retirasse do site Ponto de Vista todo conteúdo que pudesse ser considerado ofensivo ao repórter fotográfico Ronaldo Bernardi, do jornal Zero Hora. Na ação que moveu contra Ungaretti, Bernardi reclamou, entre outras coisas, de sua identificação pelo apelido de “Fotonaldo”. A Justiça acolheu em primeira instância o pedido do fotógrafo e Ungaretti resolveu suspender temporariamente as atividades do site que faz uma análise crítica diária do jornal Zero Hora.

Outro caso é o do blog Nova Corja, que após sofrer processos do jornalista Políbio Braga, agora sofre uma ação judicial do jornalista Felipe Vieira, da Rede Bandeirantes. Ele reclama de constrangimentos que estaria sofrendo por causa de posts publicados há quase um ano no blog. A queixa-crime, por injúria e difamação, é dirigida contra Rodrigo Oliveira Alvares, Leandro Demori, Walter Valdevino Oliveira Silva, Mário Camera e Jones Rossi.

Durante décadas, os profissionais da chamada grande imprensa trabalharam sem o tipo de acompanhamento crítico diário que ocorre hoje na internet. E sempre tiveram posição contrária à censura de seus trabalhos. Agora, aparentemente, jornalistas podem engrossar a onda daqueles que querem impor “limites mais rígidos à internet. A linguagem adotada pela maioria dos blogs e sites alternativos é irreverente por natureza. Pois agora, a irreverência e o sarcasmo estão sendo tipificados criminalmente.

Estes jornalistas costumam reclamar dos “excessos” cometidos na internet, mas silenciam a respeito dos “excessos” cometidos diariamente pelos veículos em que trabalham. Consideram-se, muitas vezes, como paladinos da verdade, desvinculados dos esquemas de poder nos quais estão inseridas as empresas onde trabalham. A possível dimensão negativa da irreverência e do sarcasmo da linguagem na internet, com todos seus excessos e, por vezes, erros, é infinitamente menor do que o dano que muitos destes paladinos causam com seu trabalho deslumbrado e submisso a um esquema de poder ao qual, ingenuamente ou não, eles afirmam não servir.

Tigre céltico virou gatinho banguela


Irlanda resvala para o abismo econômico em 2009

O gráfico acima foi publicado pelo jornal francês “Le Monde”, de alguns dias atrás. Mostra a previsão da Comissão Européia de desempenho econômico de vários países da zona do euro-moeda. Chama a atenção a bancarrota anunciada da República da Irlanda, com crescimento negativo de 11% para o corrente ano.

Em pensar que a Irlanda já foi proclamada pela imprensa neoliberal como o “Tigre Céltico”, quando logrou crescer cerca de 9% ao ano, no período de 1995 a 2001.

Evidentemente um crescimento insustentável, episódico, artificial, porque baseado no receituário clássico do neoliberalismo mais ortodoxo: desregulação selvagem, radical encolhimento do Estado, liberação à entrada de capitais predadores, flexibilização total das leis trabalhistas, privatização de setores estratégicos, altas taxas de endividamento interno, hipertrofia no consumo de supérfluos, financeirização da economia produtiva, etc. Só um elemento dinâmico pode salvar a Irlanda, o fato de ter estimulado a alta tecnologia, em detrimento das indústrias de tecnologia obsoleta. Essa talvez seja a saída do velho tigre agora desdentado.

A propósito: gostaríamos muito de ouvir a voz doutoral do “comunicador” Lasier Martins, que ainda recentemente cantava a Irlanda em prosa e verso em suas “inteligentes” locuções no rádio e na tevê da RBS.

Estudantes gaúchos pedem "Fora Yeda" em atos em Pelotas, Santa Maria e Porto Alegre

Ato "Fora Yeda" realizado hoje em Pelotas (Foto: Jurandir Silva)

Do blog Caras-pintadas

Centenas de estudantes de escolas públicas e universidades de Porto Alegre devem reunir-se nesta quinta, 26, dia do aniversário de Porto Alegre, às 10h, na Praça Argentina. Os estudantes, que fazem parte do movimento intitulado “A volta dos Caras-Pintadas – Ella não pode continuar” vão exigir a saída de Yeda Crusius do governo do Estado. Conforme Rodolfo Mohr, um dos líderes do movimento e integrante do DCE da UFGRS, é necessário que os estudantes apresentem uma solução para a crise política do Estado.

“Na nossa opinião, a solução é a saída da governadora”, afirmou. Para Juliano Medeiros, representante da UNE, além de exigir a saída da Yeda, o ato tem o objetivo de “denunciar a governadora e pedir apuração das denúncias de corrupção”. A expectativa dos organizadores é reunir cerca de mil manifestantes.

O movimento deve sair da praça em caminhada até o Palácio Piratini. Os estudantes pretendem entregar aos líderes do governo a “Carta à Sociedade Gaúcha”, assinada por mais de 20 entidades estudantis de todo o Estado, em que denunciam a política de desmonte da educação no Estado e o envolvimento do governo em casos de corrupção, pedindo o “Fora Yeda”. A carta havia sido apresentada ao presidente da Assembléia Legislativa, deputado Ivar Pavan, no dia 5 de março, quando foi lançado o movimento dos Caras-Pintadas.

O ato que acontece hoje em Porto Alegre foi precedido por duas manifestações do movimento no Estado. Em Pelotas, cerca de mil estudantes e ativistas de movimentos sociais fizeram caminhada pelas principais ruas da cidade na manhã desta quarta. O ato encerrou em frente à 5ª Coordenadoria Regional de Educação, onde os manifestantes entregaram aos representantes do governo a carta à sociedade gaúcha. Para a tarde de hoje está prevista também manifestação em Santa Maria.


Estudantes tiveram audiência com OAB

Na manhã desta quinta uma comitiva formada por quatro integrantes do movimento dos Caras-pintadas do RS foi recebida na sede da OAB pelo coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem, Ricardo Breier.

Os estudantes pediram a Breier que a OAB acompanhe a manifestação desta quinta e seus possíveis desdobramentos, para garantir a liberdade democrática e a integridade física dos participantes . “O movimento está sentindo na pele a repressão da Brigada, que não é mais exceção. A repressão tem sido uma constante: assim foi no ato dos estudantes contra o aumento das passagens, na greve dos bancários e nas manifestações do CPERS. O que a gente está vendo é a escassez das garantias democráticas no Estado”, afirmou Mohr durante a reunião.

Para Breier, o tema é inédito na Ordem. “A OAB atua quando é provocada, até agora não fizemos nenhuma ação preventiva, é um fato novo”. Ele afirmou que vai levar o tema para reunião interna da Comissão de Direitos Humanos, e garantiu que a Ordem estará atenta à mobilização. Participaram da reunião Rodolfo Mohr e Adrian Dallegrave, estudantes da UFRGS, Juliano Medeiros, diretor da UNE e Rafael Lemes, representando a Federação Nacional dos Estudantes de Direito, FENED.

Também ocorreu um ato "Fora Yeda" em Santa Maria nesta quarta-feira. O jornalista Fritz Nunes relata:

Ato realizado ontem em Santa Maria (Foto: Fritz Nunes)

Cerca de 150 pessoas, em sua maioria estudantes e professores, participaram do ato de lançamento do Fórum Popular da Educação Pública Gaúcha, na praça Saldanha Marinho, centro de Santa Maria, no final da tarde desta quarta, 25. A atividade acabou se tornando um protesto contra o governo estadual. Dezenas de faixas e cartazes registraram em letras grandes o “Fora Yeda”. Pelo menos 15 entidades estavam representadas no protesto, conforme os organizadores. Entre essas, o 2º Núcleo do Centro dos Professores (CPERS), o DCE, a CUT, a Conlutas, o Movimento Nacional de Luta Pela Moradia e partidos de esquerda. Até os estudantes “cara-pintadas” reapareceram durante a manifestação no centro da cidade.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Enquanto isso na Guatemala...

Investimento em educação continua insuficiente






Adital

Mesmo com avanços obtidos por recentes reformas educativas, o desempenho continua sendo insatisfatório na Guatemala. A conclusão foi apresentada, na última sexta-feira (20), pelo Informe de Progresso Educativo da Guatemala (2008), elaborado entre o Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e no Caribe (PREAL) e o Centro de Investigações Econômicas Nacionais (CIEN) da Guatemala.

O informe "Educação, um desafio de urgência nacional" destaca avanços obtidos em matéria de cobertura e de permanência na escola. No entanto, revela que há mais de um milhão de crianças e jovens entre 5 e 18 anos que estão fora do sistema escolar, somente seis de cada dez estudantes terminam a primária e menos de dois em cada dez finalizam a secundária.

"Embora as porcentagens de crianças guatemaltecas inscritas na pré-primária e na secundária também tenham aumentado desde 2000, são ainda muito baixas. Por exemplo, enquanto que na América Latina e no Caribe quase sete em cada dez jovens freqüentam a secundária, na Guatemala, quase quatro em cada dez o fazem", aponta o informe.

Sobre o desenvolvimento de padrões e avaliações, o informe destaca que, em algumas áreas, não se observam nem progressos nem retrocessos, como os resultados dos exames nacionais de matemática e leitura, que continuam sendo baixos, bem como a persistência de desigualdade de gênero e a ausência de mudanças significativas na administração escolar, na participação da comunidade ou na prestação de contas.

A análise não registra grandes avanços em matéria de desenvolvimento docente. Segundo o informe, os professores da primária tiveram baixo desempenho nos exames padronizados de leitura e matemática, e não houve mudanças importantes nos incentivos aos docentes nem em seu nível de envolvimento na reforma educativa no período observado.

O aspecto mais deficitário entre os analisados foi o que diz respeito ao investimento na educação, que recebeu classificação F, o que significa muito deficiente. "Apesar de o governo destinar mais recursos ao setor educativo, esses não são suficientes e não se avalia sua eficiência", ressalta o informe. Segundo o estudo, o gasto público em educação está abaixo do que é investido em outros países da região e muito abaixo do mínimo de 5% do PIB recomendado pela Comissão Centro-americana para a Reforma Educativa da PREAL.

Além disso, o investimento na educação não chega aos mais pobres: "No período 2000-2007, a maior porcentagem do investimento público em educação correspondeu ao nível primário (55%) seguido do universitário (12%). No entanto, o gasto por aluno universitário foi cerca de quatro vezes maior que o de um aluno da primária. Se compararmos os países latino-americanos, Venezuela e Guatemala se encontram entre os países que possuem uma maior relação entre gasto em educação terciária e primária".

terça-feira, 24 de março de 2009

Música nativa...



Um dos trabalhos mais lindos que ja vi, chorei ouvindo este trabalho, ja tenho este disco ha algum tempo, mas somente agora resolvo postar a voces, achando que é o melhor momento, peço encarecidamente que baixem este trabalho e ouçam com muito carinho, pois se trata de uma obra de um genio que nao podemos esquecer, semeiem esta obra prima, pois serao recompensados, entao, deleitem-se
Saravá!!!
Daniel de Mello e a Música da Minha Gente


LP editado em 1980, pela Rádio e Estúdio Eldorado.
Graças a esta iniciativa, herdamos um documento definitivo da obra de um dos nossos grandes músicos populares. Henricão (Henrique Felipe da Costa) nasceu em Itapira-SP (1908) e faleceu no Rio de Janeiro (1984); além de cantor e compositor foi ator de teatro, cinema e televisão.
Registrado em gravações em 78 rotações de 1937 a 1959, ficou fora dos estúdios até 1980, quando então foi realizado este sublime LP, quatro anos antes de seu falecimento; como tantos outros, pobre e completamente esquecido. O vídeo abaixo mostra um trecho do programa MPB Especial (1973), onde Henricão canta a música "Só vendo que beleza (Marambaia)".



Trecho do texto da contra-capa do LP, escrito por Júlio Moreno em outubro de 1980

"Todas as músicas deste disco foram escolhidas pelo próprio compositor e cantor. Tudo foi feito de maneira natural, que é a própria maneira se ser de Henricão. Um tipo de gente que hoje é rara. Sincero, sensível, simples. Como é também a sua música, pois ela não passa do retrato do seu dia-a-dia. A história dos amores perdidos, dos fatos observados na rua. A crioula que ele esperava debaixo do relógio da praça da Sé deu mancada? Não tem importância, isto lhe inspirou um samba. Aquela outra o abandonou, magoando-o muito? De seu coração surgiu “Sou Eu”, que Paulo Vanzolini considera um dos melhores sambas paulistas. Certa vez, durante uma festa pública em Pernambuco, viu que a platéia gostava muito de cantar “Cielito Lindo”, uma música mexicana. Aproveitou, escreveu nova letra para ela, transformando-a num samba de respeito, a tempo de apresentá-lo durante a festa. Assim nasceu a sempre cantada “Está chegando a hora”. Outra vez, num bar, teve a idéia de compor “Casinha da Marambaia” ao escutar a conversa de dois aspirantes a fuzileiros navais...(...)"

texto estraido do maravilhoso blog - Peneira do Rato


Download: Henricão - Recomeço - 1980
Cuito Cuanavale: o princípio do fim do apartheid


Beto Almeida


Há 20 anos, em 23 de março de 1988, travou-se no sudeste de Angola a decisiva Batalha de Cuito Cuanavale, na qual tropas angolanas, de Cuba e da SWAPO, movimento armado de libertação da Namíbia, unidas, derrotaram tropas do regime racista da África do Sul, que tinham o apoio da Unita e dos EUA.

Não surpreende que os meios de comunicação comerciais, sempre tão zelosos em comemorar as datas mais banais, seja sobre um desfile de moda, uma festa grã-fina ou um festival de cerveja ou de rock, tenham a mais completa insensibilidade para um registro, ainda que informativo, sobre esta Batalha de Cuito Cuanavale, epopéia tão marcante na caminhada da humanidade para enterrar um dos mais selvagens e brutais regimes da história, o apartheid mantido por décadas pela oligarquia racista da África do Sul, obviamente, com a sustentação da "democracia" norte-americana.

Vale relembrar. Em 1987, a situação em Angola se agravara drasticamente. Aliás, nunca tinha sido tranqüila a situação para o movimento de libertação de Angola, desde o início de sua luta contra o colonialismo português. Depois de fundado no início dos anos 60, o MPLA, dirigido pelo poeta e médico Agostinho Neto, consegue grandes avanços a partir da Revolução dos Cravos, quando o movimento de militares revolucionários derruba a ditadura salazarista em Portugual, a 25 de abril de 1974. O colonialismo português entrava em colapso total, o novo governo português, dirigido por militares revolucionários adota posição de solidariedade para com os movimentos de libertação das ex-colônias portuguesas. A 11 de novembro de 1975 as tropas do MPLA tomam a capital Luanda e declaram a Independência e a fundação da República Popular de Angola. Mas, não houve paz. Imediatamente, os EUA que já haviam patrocinado com dinheiro e armas a criação da Frente Nacional para a Libertação de Angola, dirigida por Holden Roberto e com apoio total do governo reacionário do Zaire, de Mobuto Sezeke, e também a Unita, dirigida por Jonas Savimbi, com apoio direto do regime racista da África do Sul, determinam ações para desestabilizar o novo governo angolano, impedindo que a independência fosse seguida da reconstrução de um país dilacerado pela guerra colonial. A guerra recrudesce em Angola, país rico em diamantes e petróleo; o exército da África do Sul intervém diretamente.


Brasil reconhece Angola e Kissinger vem ao Brasil


Agostinho Neto solicita ajuda militar de Cuba, que, com o apoio da URSS, atende. Um fato notável é que o primeiro país a reconhecer o novo governo de Angola é o Brasil, então presidido por Ernesto Geisel. A posição brasileira causou grande insatisfação junto ao governo dos EUA. Aliás, o reconhecimento brasileiro á Independência de Angola inseria-se num leque de medidas da política externa brasileira de então - tais como o reatamento com a China, a Romênia, o acordo nuclear Brasil-Alemanha e o rompimento de um Tratado Militar com os EUA e outras - que já indicava um outro alinhamento internacional do Brasil, chegando a motivar uma visita repentina do Secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger , ao Brasil. Segundo os relatos, Kissinger teria reclamado junto ao presidente Geisel da política externa brasileira. Teria mesmo dito, em tom de ingerência, que a postura brasileira reconhecendo o governo de Agostinho Neto representaria na prática "fazer o jogo do comunismo internacional, o Brasil alia-se a Cuba". A resposta de Geisel teria deixado Kissinger surpreendido e irritado: "Senhor Secretário, a nossa política externa não está em debate com o senhor!" Bem diferente da diplomacia de "pés descalços" e subserviente que o Brasil veio a experimentar nos anos 90, a era da privatização


Cuba pega em armas contra o apartheid


Apesar da solidariedade militar cubana a Angola, a crescente intervenção dos EUA no conflito, através da África do Sul, faz com que boa parte do território angolano escape do controle do governo angolano. Em outubro de 1987, o Presidente angolano José Eduardo Santos expõe a Fidel Castro as dificuldades monumentais e o risco de uma derrota militar. Solicita, uma vez mais, que Cuba conceda mais apoio militar. A dramática situação angolana é analisada exaustivamente pela direção cubana que decide empenhar-se ainda mais decisivamente na guerra de libertação do povo angolano, baseando-se nos princípios do Internacionalismo Proletário, inscrito na Constituição Socialista de Cuba.

As tropas angolanas e cubanas posicionadas na localidade de Cuito Cuanavale, estavam sob intenso bombardeio do exército racista da África do Sul. O risco de massacre era iminente. Enquanto resistiam, um novo plano estava sendo elaborado em Cuba para inverter esta situação desfavorável. Em sucessivas viagens de 15 horas de Havana até Luanda - num itinerário inverso ao dos navios negreiros - aviões transportam dezenas de milhares de soldados cubanos. Há também o fornecimento de mil tanques, milhares de baterias anti-aéreas e num prazo recorde de 60 dias é construído um aeroporto com estrutura suficiente para pouso e decolagem dos modernos aviões Mig-23, de fabricação soviética, que Cuba também forneceria a Angola, juntamente com seus melhores pilotos. O plano estava traçado para a Batalha final de Cuito Cuanavale: 40 mil soldados cubanos bem armados e treinados, 30 mil soldados angolanos e 3 mil guerrilheiros da SWAPO, o exército de libertação da Namíbia, país que também estava ocupado por tropas da África do Sul.

Rumo ao sul

Fidel havia encarregado o general Cintra Frias, veterano guerrilheiro de Sierra Maestra, do comando destas operações em território angolano. Na oportunidade, Castro teria confessado ao líder do Partido Comunista da África do Sul, o branquelão Joe Slovo, que a estratégia seria como a de um boxeador: "Enquanto seguramos o inimigo com a mão esquerda (Cuito Cuanavale) , vamos atacando com o punho direito". A situação militar se inverte graças a esta massiva e preparada intervenção cubana, país que chegou a enviar a Angola, ao longo anos, cerca de 350 mil homens e mulheres internacionalistas, garantindo de fato a verdadeira independência na jovem nação africana.

Não suportando os golpes recebidos, em especial uma grande surra promovida pela atuação dos pilotos cubanos nos MIG-23, a Batalha decisiva ocorre no dia 23 de março de 1987, uma derrota fundamental das tropas da África do Sul que Nelson Mandela assim descreveria: " Cuito Cuanavale foi a virada para a luta de libertação do meu continente e do meu povo do flagelo do apartheid!"

Sem dúvida, a luta de libertação da Namíbia também recebia um grande impulso, e dois anos mais tarde, este país também declararia a sua Independência. Entretanto, o governo racista de Botha preocupava-se, pois pela potência e envergadura da estratégia armada por Cuba no sul de Angola chegou a imaginar que as tropas cubanas pudessem dirigir-se rumo ao sul, ou seja, rumo a Pretória.Na fuga, as tropas racistas bombardearam pontes, revelando medo de uma ofensiva rumo ao sul. Enquanto as batalhas ocorriam, com sucessivas derrotas impostas às tropas da África do Sul, ocorriam no âmbito da ONU as famosas negociações em busca de um acordo, negociações em que os representantes dos EUA exibiam toda sua hipocrisia. Mas, há um diálogo que merece ser relembrado, quando o representante do regime racista nestas negociações pergunta ao representante de Cuba, Jorge Risquet, se havia a intenção de uma ação militar rumo ao Sul, a resposta é dessas que entram para os anais de história militar: "Se eu lhe disser que vamos rumo ao Sul isto seria tomado como uma ameaça, se eu lhe disser que não vamos rumo ao sul, isto seria para vocês um calmante". Deixou o racista atônito e confuso. E em outra oportunidade deu o toque de realismo que a arrogância sul-africana não queria reconhecer. "A África do Sul não tem condições de impor na mesa de negociações uma situação de vantagem quando no campo de batalha está sendo fragorosamente derrotada." De fato, os negociadores sul-africanos diziam que se retirariam "para a Namíbia". A história foi diferente, tiveram que sair também da Namíbia.


Condolezza e o Ministro Negro


Exatamente quando a Secretária de Estado dos Eua, Condolezza Rice visitava o Brasil, onde, entre muitos temas mais importantes e nada divulgados, assinou um Plano de Ação pelo qual Brasil e EUA decidem atuar conjuntamente para "eliminar a discriminação racial", a TV Cidade Livre, o canal comunitário de Brasília, realizava um debate sobre a Batalha de Cuito Cuanavale, com participação de embaixadores de Cuba, Angola, Namíbia e África do Sul, agora livre do apartheid. O texto firmado por Condolezza e o Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, afirma que Brasil e EUA "partilham a característica de serem sociedades democráticas multi-éticas e multi-raciais", o que teria motivado um comentário de Fidel Castro em uma de suas Reflexões do Comandante: "É assombroso. Penso que é exatamente o contrário o que acontece nos EUA".

Sem dúvida, basta verificar as condições de vida da população negra que ainda hoje vegeta sob os escombros do Furacão Katrina, em Nova Orleans. Ou contar o contingente de negros nas prisões norte-americanas. Ou a quantidade de eleitores negros que foram sub-repticiamente retirados do cadastro eleitoral para assegurar a vitória suspeita de Bush nas decisivas eleições presidências na Flórida em 2000.

Quanto ao Brasil, sabemos que os negros são maioria nas prisões, nas filas do desemprego, entre os que recebem os salários mais baixos, entre os que vivem nas favelas, entre os que estão nas fazendas com trabalho escravo. Num quadro dantesco como este, a simples existência de um Ministério da Igualdade, pode ser uma boa notícia, demonstrando a sensibilidade que o presidente Lula tem para a questão racial, afinal, um de seus grandes amigos na época da fábrica era um negro. Também é importante que uma das primeiras leis por ele sancionada é exatamente a que introduz a disciplina História da África nos currículos da escola brasileira.


Qual foi a nossa solidariedade?


No entanto, não se deve deixar passar a oportunidade para uma reflexão bem mais profunda, por exemplo, a partir da divulgação pela TV Brasil da histórica importância da Batalha de Cuito Cuanavale para a libertação da África do Sul e para o começo do fim do apartheid, permitindo às novas gerações tomar conhecimento de que houve um povo capaz de levar sua solidariedade à expressão máxima de concretude: Cuba socialista foi o único país que pegou em armas para combater o apartheid e para defender a independência de uma nação irmã ameaçada pela ação colonialista dos EUA em apoio à África do Sul e ao exército mercenário da Unita. Ou seja, nada pode ser mais assombroso, como disse Fidel, que a Condolezza venha reivindicar seu país como uma democracia multi-racial e multi-étnica.

Cuito Cuanavale deve servir também para os movimentos sociais, especialmente ao movimento negro brasileiro, para refletir que a solidariedade deve ter tradução real, pois não se tem notícia de que os nossos irmãos angolanos tenham recebido do movimento negro, em solidariedade, uma aspirina que fosse. Enquanto que Cuba enviou para Angola 350 mil homens e mulheres, de lá trazendo apenas seus mortos e as medalhas desta vitória que jamais poderá ser apagada da consciência da humanidade. Muito se exalta que o Brasil é o país como maior população negra fora da África, mas qual foi a nossa solidariedade concreta quando ela foi tão necessária? Quando vários estudos registram o seqüestro impiedoso de contingentes negros africanos para formar o escravagismo nas Américas, e isto é uma verdade cruel e inapagável, Cuba foi capaz de inverter o itinerário: negros, brancos e mestiços partiam do Caribe para a Mãe África que estava sendo estuprada pelo apartheid e pelos EUA para oferecer solidariedade, para lutar com armas nas mãos, ombro a ombro com angolanos e namibiamos e impor a primeira derrota, que tinha que ser militar, ao apartheid. Como disse Mandela, em Cuito Cuanavale se deu a virada. Mas, uma virada marcada pela consciência das tropas cubanas de serem a continuidade histórica do internacionalismo proletário, de fazerem reviver o brado heróico de Stalingrado, de retomarem o exemplo revolucionário das massas vietnamitas que também derrotaram os EUA. Para a África Cuba enviou negros, brancos e mestiços alfabetizados, cultos, um exército bem treinado, com consciência socialista, e que não esteve em Angola para rapinar petróleo ou de diamante, como hoje fazem de modo selvagem e assassino as tropas norte-americanas no Iraque. E a solidariedade cubana com a África não se esgotou naquela histórica epopéia militar: hoje milhares de médicos e professores cubanos trabalham em dezenas de países africanos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o contingente de médicos cubanos na África supera o número de médicos que todos países ricos somados têm hoje naquele continente que tanto rapinaram....Por isso, é indispensável um debate mais aprofundado sobre o papel de Cuba e Angola na luta contra o apartheid, pois, não faz nenhum sentido falar da luta contra o racismo desconhecer esta contribuição, ignorar a dimensão histórica da Batalha de Cuito Cuanavale e, ao mesmo tempo, tomar como exemplo de luta anti-racial o modelo norte-americano, quando foram os EUA os principais sustentadores do apartheid.

Recomendação ao Ministro Edson Santos: que tal promover um debate sobre a Batalha de Cuito Cuanavale na TV Brasil, exibindo lá os excelentes documentários cubanos sobre esta guerra de libertação, com o que poderíamos furar este enorme bloqueio informativo contra esta verdadeira façanha histórica realizada por Cuba para derrotar o criminoso regime do apartheid? O momento é importante, não apenas pela data, mas também porque uma das missões que trouxe Condolezza Rice ao Brasil é a de intimidar a comunidade de países sul-americanos diante da excelente proposta brasileira de criação de um Conselho de Defesa do Atlântico Sul. Há quem acredite que ela veio aqui para combater o racismo, mesmo sendo tão assombroso acreditar nisto.


Maioria de mortos em Gaza foram civis




Gaza (Prensa Latina) O Centro Palestino para os Direitos Humanos (CPDH) confirmou nesta sexta (13) dois mil 434 mortos em Gaza durante os 22 dias de bombardeios israelenses, 960 foram civis, incluídos um número significativo de crianças e mulheres. Do total de vítimas fatais, 239 foram oficiais da polícia e só 235 eram combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e outros grupos, assinalou o CPDH em seu site. Até agora fontes da ONU e meios jornalísticos manejavam a cifra a mais de mil 350 mortos e cinco mil 300 feridos palestinos pelos bombardeios por ar, mar e terra contra este enclave iniciados em 27 de dezembro de 2008. O CPDH acrescentou que 238 crianças e 121 mulheres perderam a vida pelos ataques, enquanto coincidiu com o Ministério de Saúde do governo de Hamas em Gaza no total de cinco mil 303 feridos, incluídos mil 606 infantes e 828 mulheres. De acordo com os pesquisadores do grupo humanitário, as estatísticas corroboram que os militares israelenses fizeram uso excessivo e indiscriminado da força, violando o princípio de distinção” entre civis e combatentes. Os níveis “desproporcionais” de baixas fatais entre civis e milicianos islâmicos evidenciam que os israelenses não respeitaram esse princípio, apontou o CPDH, ao anunciar que publicará na próxima semana uma lista com a identidade dos falecidos, em árabe e inglês. O referido centro defende uma investigação internacional dos “crimes cometidos pelas forças de Israel” e “o julgamento de todas as autoridades políticas e militares” responsáveis. Tel Aviv declarou um cessar fogo unilateral em 18 de janeiro, três semanas depois de utilizar inclusive armas e munições como fósforo branco em zonas civis, o qual proíbem tratados internacionais. Atualmente a situação considera-se volátil nesta faixa costeira devido à negativa de Israel de assinar com Hamas um acordo de cessar do fogo duradouro e condicioná-lo à libertação do soldado israelense Gilad Shalit, capturado em 2006. Apesar dos esforços mediadores do Egito, grupos palestinos continuam disparando foguetes contra o território israelense em resposta aos bombardeios da aviação israelense e ao bloqueio das cruzes fronteiriços. Segundo fontes locais, Hamas criticou ontem o lançamento de foguetes e morteiros, e pediu às milícias islâmicas que executam essas ações depor sua atitude por ocorrer “no momento equivocado”, em um aparente esforço por facilitar o lucro de uma trégua em longo prazo.