quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

VA - Sax Colossuses: Jazz Inflections

UM FELIZ 2010 PARA TODOS  AQUELES QUE AINDA LUTAM EM PROL DE UMA SOCIEDADE MENOS DESIGUAL, ONDE A MAIORIA EXCLUIDA POSSA TER ACESSO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS SERES HUMANOS!


http://img167.imageshack.us/img167/8160/saxcooi3.jpg


01. Gene Ammons - A Stranger In Town (Torme) 6'02"
02. Benny Carter - Malibu (Carter) 4'31"
03. Tina Brooks - Everything Happens To Me (Dennis-Adair) 6'12"
04. Ben Webster - How Long This Has Been Going On (Gershwin) 8'08"
05. Willis Jackson - Home (Clarkson-Van Steeden) 5'15"
06. Coleman Hawkins - Self Portrait (of the Bean) (Ellington) 3'57"
07. Oliver Nelson - Time After Time (Styne-Cahn) 7'28"
08. Harold Land - Wrap Your Troubles in Dreams (Moll-Koehler-Barris) 9'25"
09. Lee Konitz & Art Pepper - The Shadows of Your Smile (Mandel) 5'40"
10. Gene Ammons - Goodbye (Jenkins) 4'34"

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Uma batalha quase esquecida...



A Batalha de Kursk

e a falsificação da História 




Salvo raríssimas excepções, os historiadores militares da burguesia omitem qualquer referência à batalha de Kursk, “ a maior batalha da História, de importância decisiva para o desfecho da II Guerra Mundial. “A omissão não resulta de ignorância. Tornar pública a verdade sobre Kursk pulverizaria os mitos forjados por Hollywood sobre a participação dos EUA na II Guerra e arrancaria a máscara à moderna historiografia norte-americana, tirando-lhe credibilidade”.


Miguel Urbano Rodrigues - - Odiario.info


As comemorações do desembarque anglo–americano na Normandia, em Junho de 44, serviram mais uma vez de pretexto para uma campanha de falsificação da História de dimensão planetária. Este ano, pela primeira vez, até a Alemanha, o país vencido, se fez representar através da chanceler Angela Merkel.

De Obama a Brown, com passagem por Sarkozy, os líderes do Ocidente repetiram que a batalha da Normandia foi não só decisiva para a vitória sobre o nazismo como o maior acontecimento militar da história. Todos estavam conscientes de que mentiam.

Da contribuição da URSS para o esmagamento do III Reich não se falou praticamente.

É significativo que os historiadores militares norte–americanos e britânicos, com raríssimas excepções, desconheçam nas suas obras a batalha de Kursk ou se limitem a breves referências.

A omissão não resulta de ignorância. Tornar pública a verdade sobre Kursk pulverizaria os mitos forjados por Hollywood sobre a participação dos EUA na II Guerra e arrancaria a máscara à moderna historiografia norte-americana, tirando-lhe credibilidade.

Kursk foi pelos efectivos e armamentos nela empenhados a maior batalha da História. Nela participaram 4.155.000 soviéticos e alemães. A fase defensiva e a ofensiva somadas duraram escassas semanas (Stalinegrado prolongou-se por sete meses). Mas os meios utilizados – 69.000 canhões, 13.200 tanques e canhões de propulsão e 11.950 aviões – superam de longe o total dos equipamentos bélicos terrestres e aéreos mobilizados por americanos e japoneses durante os quase quatro anos da Guerra no Pacifico [1].

A batalha de Kursk mudou o rumo da guerra. O Exército Vermelho retomou ali a iniciativa e passou à ofensiva para a manter até a tomada do Reichstag, em Berlim, em Maio de 45, que ficou a assinalar a capitulação incondicional da Alemanha nazi.

Julgo útil esboçar para o povo português muito resumidamente o quadro em que ocorreu a gigantesco confronto de Kursk e alguns factos e situações que os historiadores ocidentais – incluindo os da Alemanha Federal – têm omitido nas suas obras.

Em Fevereiro e Março de 1943, quando o Exército Vermelho deteve o movimento ofensivo iniciado após o aniquilamento e capitulação em Stalinegrado do VI Exército Alemão de Von Paulus, a Wehrmacht desencadeou uma contra-ofensiva que lhe permitiu reocupar na Região Centro–Sul, entre outras, as cidades de Karkhov, Orel e Bielgorod.

Formou-se assim naquela área, quando a Frente se estabilizou no início da Primavera, aquilo a que se chamou o Saliente de Kursk, um território quase quadrado, com uma dimensão equivalente à da Bélgica, que entrava como uma cunha pelas linhas alemãs.

Consciente da importância estratégica do Saliente, o Estado-Maior General Soviético (EMGS) começou a acumular na retaguarda poderosas forças com a intenção de desencadear uma grande ofensiva no início do Verão. Durante o Inverno a indústria de guerra soviética ultrapassara pela primeira vez na produção de tanques e aviões a do bloco nazi. A força de combate do Exército Vermelho era também já largamente superior à da Whermacht e satélites (italianos, romenos, húngaros entre outros).

No início de Abril, O EMGS, que tinha decifrado os códigos utilizados pelos alemães, tomou conhecimento de que Hitler decidira retomar a ofensiva no Verão para vingar a humilhante derrota de Stalinegrado que destruíra o mito da invencibilidade alemã. Por informações posteriores de pilotos e oficiais capturados soube-se que «Citadel» seria o nome da grande operação em estudo.

O plano, elaborado pelo marechal Von Manstein, previa o ataque simultâneo a partir do Sul e no Norte, a meio do Saliente, com o objectivo de cercar as forças soviéticas ali concentradas, cortando-lhes a retirada. Para o efeito, os alemães mobilizaram 950.000 homens, 10.800 canhões, 3.000 tanques (16 divisões Panzer) e três mil aviões, entre os quais os Focke–Wulf 190 e bombardeiros Henschel-129. Entre as novas armas a utilizar figuravam os tanques pesados Tigre e Pantera. A operação seria desencadeada entre 3 e 6 de Julho. Na sua ordem de serviço Hitler afirmou que ela deveria transformar o inimigo numa tocha que iluminaria o mundo.



Em Nuremberga, o marechal Keitel reconheceu que o Estado-Maior alemão subestimara o poder do Exército Vermelho e ignorava que ele conhecia em pormenor o Citadel.

Foi precisamente o conhecimento do plano alemão que levou o marechal Zhukov em relatório enviado ao Estado-Maior General Soviético em 8 de Abril a sugerir uma alteração da estratégia prevista. Propôs que em vez da ofensiva em preparação, o Exército Vermelho aguardasse o ataque da Wehrmacht em linhas fortificadas a construir e, após uma curta batalha defensiva em que seriam infligidas enormes perdas aos alemães, passasse imediatamente à ofensiva. Stalin, após alguma hesitação, aprovou o projecto de Zhukov que contou com o apoio de Vassilevsky.

Os marechais Manstein e Kluge estavam convictos de que na sua fulminante ofensiva iriam enfrentar apenas os Exércitos soviéticos das Frentes Central e de Voronej, no interior do Saliente. Esperavam uma vitória tão rápida que descuraram o problema das reservas.

Na realidade intervieram na batalha os Exércitos Soviéticos de mais quatro Frentes – a Ocidental e a de Briansk, a Norte, e a da Estepe e a do Sudoeste, do lado Sul.

O dispositivo defensivo, montado em menos de três meses, foi considerado inultrapassável pelo Estado-Maior General Soviético. Contra o que é habitual, na batalha defensiva, a superioridade soviética era considerável. Dispunham de 1.632.000 homens, 27.000 canhões e morteiros, 5.000 tanques, entre os quais o T-34, considerado pelos especialistas o melhor veículo couraçado da II Guerra – e 3.000 aviões de combate.

A Frente da Estepe foi concebida para funcionar na prática como um conjunto de exércitos de reserva.

Na madrugada do dia 5, os alemães, surpreendidos por um bombardeamento inesperado da artilharia soviética, desencadearam a ofensiva. A Luftwaffe despejou milhares de toneladas de bombas sobre as linhas soviéticas e as divisões Panzer ao arrancarem foram apoiadas por uma barragem ininterrupta de artilharia.

A extraordinária concentração de meios numa área de extensão reduzidíssima permitiu aos alemães avançarem alguns quilómetros nos dias 6, 7 e 8: 10 a 12 a Norte e um máximo de 30 a 35 a Sul. Mas foram incapazes de romper as linhas soviéticas. Longe iam os dias da blietzkrieg, a guerra relâmpago.

No segundo dia da batalha a Força Aérea soviética conquistou o domínio definitivo do ar e uma semana depois a Luftwaffe foi praticamente varrida dos céus de Kursk.

Consciente de que Citadel estava a evoluir mal e de que a esperança de fechar as tenazes em torno do inimigo, cercando-o, eram remotas, Manstein lançou os seus Panzer contra Prokovohka, uma pequena cidade, a sudeste do Saliente, na charneira das Frentes Central e da Estepe.

Nessa planura travou-se durante quase três dias a maior batalha de tanques da História. Nela participaram de ambos lados 1.200 carros. As perdas foram elevadíssimas nos dois campos, quase metade dos tanques empenhados. Mas no dia 12 o ímpeto germânico esgotara-se. Os alemães careciam de reservas e as soviéticas afluíam maciçamente da retaguarda.

No dia 12, um fortíssimo contra-ataque soviético assinalou o fim da fase defensiva da batalha. As tropas das Frentes Ocidental e de Briansk atacaram nesse mesmo dia a Noroeste do Saliente. No dia 15 Koniev e Rokossovsky contra-atacaram e os alemães iniciaram a retirada. Hitler foi informado de que Citadel fracassara. No dia 3 de Agosto as Frentes da Estepe (marechal Zakharov) e do Sudoeste passaram também à ofensiva.

A 5 de Agosto troaram os canhões em Moscovo para festejar a libertação de Orel e Bielgrod; no dia 23, as tropas soviéticas expulsaram os últimos alemães de Karkhov.

A ausência de reservas aumentou muito as dificuldades da ininterrupta retirada alemã. A Wehermacht perdera em Kursk, numa semana, definitivamente, a sua capacidade ofensiva.

Roosevelt e Churchill em mensagens a Stalin felicitaram-no com entusiasmo pela a grande e decisiva vitória alcançada pela União Soviética. Roosevelt escreveu então que «o mundo nunca viu tão grande devoção, determinação e capacidade de sacrifício como as do povo russo e dos seus exércitos». Mas, anos depois, quando principiou a Guerra-Fria, a batalha de Kursk desapareceu da historiografia anglo-americana.

Na Alemanha, o próprio marechal Manstein dedica-lhe poucas páginas nas suas Memórias e em «Vitórias Perdidas» (Bonn, 1955). A falsificação da História, montada com perversidade por iniciativa dos governos de Washington e Londres, foi levada tão longe que um conceituado académico estadunidense, Hanson Baldwin, num livro dedicado às «Onze maiores batalhas» da II Guerra apenas inclui Stalinegrado na Frente Leste. Kursk não é sequer citada, mas da lista constam Corregidor (uma humilhante derrota americana nas Filipinas) e Tarawa, uma desconhecida ilhota do Pacifico onde 10.000 americanos enfrentaram outros tantos japoneses...


ESTRATEGIA E TÀCTICAS INOVADORAS


A Historiografia soviética dedicou milhares e páginas à Batalha de Kursk, mas somente algumas dessas obras foram traduzidas para idiomas estrangeiros.

A atenção preferencial dedicada pelos historiadores militares a essa batalha resulta não tanto por ela ter mudado o rumo da guerra mas sobretudo por ter assinalado uma viragem inovadora naquilo que definem como «a arte militar soviética».

A maioria coincide na conclusão de que Kursk não deve ser considerado um «modelo» para outras batalhas porque nunca mais foi possível utilizar tantos meios humanos e materiais numa área tão reduzida. Os marechais Zhukov, Vassilevsky e Zakharov reflectem sobre o tema nas suas obras. Uma síntese especialmente esclarecedora figura num ensaio do coronel Vasily Morozov, professor de História no Instituto de História Militar do Ministério da Defesa da URSS.

O autor nesse estudo alerta para os aspectos mais inovadores do grande choque.

O primeiro deles foi a súbita inversão de estratégia. Kursk foi concebida para ser uma batalha ofensiva. Dai as enormes reservas acumuladas na retaguarda, das quais os alemães tinham um conhecimento superficial. Pela primeira vez na História – salienta Morosov – as forças que defendiam eram muito superiores às do atacante em efectivos e na qualidade e quantidade do armamento.

A opção pela defensiva inicial baseou-se na certeza de que essa superioridade impediria a ruptura da frente pelo inimigo. As defesas, em toda extensão do Saliente, desdobravam-se em três escalões todos protegidos por obstáculos anti-tanques, campos de minas e uma densidade de artilharia por quilómetro inédita.

As forças alemãs, como já foi sublinhado, não conseguiram romper a frente em qualquer dos sectores da mesma.

O facto de a contra-ofensiva soviética ter partido com diferença de poucos dias de seis frentes diferentes surpreendeu e desorientou o Alto Comando da Wehermacht e desmoralizou os exércitos alemães forçados a passar da ofensiva a uma defensiva caótica.

Outra inovação em Kursk foi o emprego pela primeira vez de exércitos de tanques autónomos. Até então as forças blindadas estavam ligadas a exércitos ou grupos de exércitos de infantaria de cujo comando dependiam.

A coordenação das acções dos exércitos de tanques, da força aérea, da infantaria, e da intervenção das reservas obedeceu também esquemas inovadores.

Informações sobre a localização exacta dos aeródromos alemães recebidas dos guerrilheiros que combatiam na retaguarda dos nazis permitiram bombardeamentos de precisão que destruíram ou danificaram muitos aviões da Luftwaffe.

A engenharia militar construiu no Saliente uns 6.000 quilómetros de trincheiras, dezenas de pontes, centenas de quilómetros de estradas e ramais ferroviários, 78 hospitais (alguns com instalações subterrâneas), campos de aviação.

A logística preparada para a batalha excedeu tudo o que no género se fizera desde o início da invasão. As redes de abastecimento de alimentos e combustíveis e de comunicações telefónicas e telegráficas desempenharam um papel importantíssimo durante a batalha, assegurando comunicações seguras entre as Frentes, as unidades da vanguarda e da retaguarda e Moscovo.

Os generais Pavel Doronin e Konstantin Krainyukov publicaram importantes estudos sobre a participação do PCUS em todas as fases da batalha. O trabalho político desenvolvido pelos representantes do Partido das trincheiras à retaguarda contribuiu muito para o elevado moral das tropas No auge da luta foram realizados concertos e espectáculos teatrais com a presença de destacados artistas nacionais.

Não há falsificações dos escritores e académicos da burguesia que possam apagar o significado histórico da batalha de Kursk.

Acontecimento estratégico de viragem, o seu desfecho não teria sido possível se os homens que ali quebraram a coluna vertebral da Wehrmach não contassem com o apoio total do seu povo, agredido pelas hordas hitlerianas.

Kursk não foi uma excepção. Inseriu-se numa saga de sobrevivência nacional.

Os seus combatentes, como os de Moscovo, de Stalinegrado, do Cáucaso, da Bielorrússia e de outras batalhas vitoriosas pertenciam a uma geração que deu continuidade ao espírito revolucionário dos heróis de Outubro de 17. Nas circunstâncias mais difíceis, os soldados da União Soviética bateram-se com a convicção inabalável de que assumiam não somente a defesa do seu povo como a causa da humanidade ameaçada pela barbárie fascista.






(1) Os números citados neste artigo foram extraídos do Livro “The Battle of Kursk”, Ed.Progresso, Moscovo, 1974, que reúne ensaios e depoimentos de 25 altas personalidades soviéticas, entre as quais o marechal Georgi Zhukov, comandante supremo, do marechal Alexander Vassilevsky, chefe do Estado Maior General e os marechais Rokossovsky e Koniev, comandantes de duas das seis Frentes que participaram na batalha.


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O estado da agricultura angolana


  Por Roberto Blum - CorreioInternacional

Segundo os dados oficiais, a produção agrícola de Angola está aumentando. Pela primeira vez a barreira de um milhão de toneladas de cereais foi atingida. Acredita-se que a produção de café tenha chegado ao dobro da do ano passado. Os rebanhos de gado bovino de raças importadas ampliaram-se, assim como melhorou o desempenho de alguns empreendimentos pecuários. Os números de empreendimentos de média e grande dimensão e de empregos cresceram. O consumo de fertilizantes foi ampliado e o governo aprovou duas linhas de crédito para investimentos e custos operacionais da campanha agrícola.
A situação melhorou efetivamente, mas estamos longe, muito longe, do que deveria ser feito. As estatísticas não são suficientemente credíveis para se avaliar a real dimensão dessa melhoria. Em Angola não há práticas de monitoria e avaliação independentes dos empreendimentos públicos. O mais preocupante é que estas melhorias acontecem de forma puntual, não constituem reflexo de uma mudança estratégica de fundo e não estão associadas a reformas estruturantes que possam vir a garantir a sustentabilidade das ações.
Promessas irrealistas
Por ocasião das eleições de 2008, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido político que dirige o país deste 1975] prometeu aos angolanos metas de produção agropecuária ambiciosas para 2012. Por exemplo, a produção de cereais passaria de 700 mil toneladas para 15 milhões, ou seja, aumentaria mais de 20 vezes em quatro anos, o que seria  absolutamente inédito. Foi denunciada a falta de realismo dessas metas em Maio de 2008.
Após um ano, o panorama não é animador. Principalmente no que se refere aos aspectos estruturantes, aqueles que condicionam a produção. A reforma da pesquisa promete muito mas concretiza pouco. Um centro construído em Malanje [capital da província angolana de mesmo nome, situado no centro-norte do país] e equipado com três laboratórios desde 2006, em um investimento de mais de dois milhões de dólares, ainda não entrou em funcionamento. Programas de capacitação de agricultores aprovados há mais de um ano e com financiamento externo garantido, não iniciaram por problemas de pormenor. Não há uma estratégia adequada para estimular a instalação generalizada de provedores de serviços públicos ou privados nos municípios, em mais de 90% dos quais os agricultores não conseguem sequer comprar sementes e ferramentas usuais, nem obter conselhos técnicos elementares. O consumo de fertilizantes chegou a 30 mil toneladas, quando, segundo a FAO, já há muito deveríamos ter ultrapassado as 400 mil.
As linhas de crédito aprovadas tardam a ser concretizadas para desespero dos agricultores e o acesso ao que existe é limitado, quer por deficiências do sistema bancário, concentrado nas capitais de província e demasiado exigente nos requisitos para financiamento de necessidades elementares dos agricultores, quer pela incapacidade desses agricultores de apresentarem projetos credíveis. Nos últimos anos foram adquiridos tratores e equipamentos em quantidades e valores consideráveis que têm uma vida útil média inferior a dois anos, possivelmente uma das mais baixas do mundo, e não são dados os passos necessários para a definição de uma política sensata de mecanização, que tenha em conta o estado atual de organização e as capacidades institucionais e de recursos humanos, e preveja os níveis de intensificação, o tipo de equipamento, a formação de técnicos e de operários especializados e o uso de métodos modernos de planejamento estratégico e de gestão.
Cooperativas de serviços
As cooperativas de serviços poderiam ser uma solução para estes problemas, mas a legislação cooperativa está desatualizada e a nova lei aguarda aprovação há vários anos. Mesmo o ambiente do agronegócio também não é o melhor, pois a maior parte dos empresários são agricultores em tempo parcial, colocando à frente dos seus empreendimentos gestores geralmente pouco qualificados.
Para que serve investir no conhecimento se o petróleo paga tudo, inclusive o conhecimento que vem de fora para dar respaldo a decisões políticas sem fundamento? O que as pessoas parecem ignorar, ou, na esteira de uma outra prática, desejam que não aconteça e confundem tal desejo com a realidade, é que o petróleo tem os anos contados, o que torna o conceito de desenvolvimento sustentável para Angola mais pertinente do que nunca.
E o conhecimento, afinal, está aí à mão. Em meados da década de 90, uma equipe da FAO explicou ao governo angolano que a sua aposta deveria ser, prioritariamente, na agricultura familiar. Os pequenos agricultores constituem a maioria, encontram-se no terreno e já provaram que podem expandir a produção, de modo a garantir sua alimentação básica e fornecer bens para o mercado, incluindo o internacional, o que está estatisticamente comprovado desde antes de 1975. Ademais, o crescimento da produção familiar teria grande impacto na economia nacional, na geração de emprego e na erradicação da pobreza, pois a produção acrescida em unidades de pequena dimensão resulta em uma melhor utilização dos recursos domésticos – sobretudo terra e trabalho –, exige poucas divisas para maquinaria, fertilizantes, pesticidas e conhecimento estrangeiro, e por isso torna-se menos dependente.
Uma política a favor da agricultura familiar assegura desde logo a alimentação de um número elevado de famílias, resulta numa expansão mais justa de benefícios do desenvolvimento econômico, contribui para padrões de vida rural mais elevados e incentiva o consumo, e, consequentemente, estimula a expansão industrial em Angola, como aconteceu no passado com o famoso boom econômico dos anos 60 e 70. Enfim, uma economia rural próspera reduziria os fatores de pressão que induzem a migração para as cidades, e o aumento dos rendimentos dos pequenos agricultores poderia tornar-se o motor do desenvolvimento rural e, por conseguinte, a chave para uma redução da pobreza estrutural.
Parece simples, não é verdade? Mas não é novidade. O agrônomo francês Renê Dumont já havia sugerido algo semelhante aos governantes africanos no início dos anos 60 e as suas ideias foram compiladas num livro que ficou célebre, A África começa mal, que lhe valeu a interdição de entrada em vários países do continente. Perante o desastroso desempenho da agricultura africana, nos anos 80 ele voltou à luta com novo livro, Pela África, eu acuso!, que poderia bem ter outro título: “Eu não vos avisei?”. O que aconteceu foi que, ao contrário do discurso oficial, o Governo angolano não foi capaz de implementar ao longo destes anos uma política justa de desenvolvimento da agricultura familiar, que permitisse a transformação dos camponeses em pequenos ou médios empresários, a melhoria tecnológica, o aumento da produtividade da terra e do trabalho, o aumento da renda familiar e até a garantia da posse da terra.
Nas áreas rurais não há comércio formal e o informal é intermitente e penalizante para os produtores. E deste modo não há incentivos. Não há serviços sociais básicos, como o acesso à água potável, à saúde, à escola – ou não há com a qualidade desejável – que possam estimular a presença de jovens nas suas aldeias, preferindo estes partir para as cidades para viverem de biscates. Serviços estruturados de extensão rural e de medicina veterinária ainda são uma miragem. Os bancos estão geográfica e estruturalmente a uma enorme distância. A pesquisa científica e as instituições públicas em geral quase ignoram a existência da agricultura familiar. Assim, não poderia contribuir para a diversificação da economia. Pior que tudo, instalou-se a ideia de que a agricultura familiar, essa mesma que foi responsável pela alimentação dos angolanos e pela exportação no passado, era, afinal uma agricultura de subsistência, e, por isso, condenada à estagnação.
Agronegócio e agrocombustíveis
O governo angolano caminha, então, no sentido oposto ao indicado pela FAO e por Dumont. Em vez de aplicar uma política de transformação gradual de sua agricultura que possa garantir a segurança alimentar, aposta na “importação” de uma outra agricultura, baseada no agronegócio e nos agrocombustíveis, para a qual o país ainda não está preparado e só o voluntarismo e o fascínio dos angolanos pela “modernização” a qualquer preço explicam essa aposta. Hoje isso é possível, com os meios técnicos e científicos de que a humanidade dispõe, mas é insuportável porque os custos de produção são assustadores.
Se a crise financeira trouxe algo de positivo, uma delas foi o alerta para algumas das opções governamentais e particulares extremamente dispendiosas e com resultados mais do que duvidosos. Há já alguns sinais de dificuldades, insucessos e falências que alguns julgavam impensáveis. Por incrível que possa parecer, algumas das grandes empresas têm transtornos para vender o milho produzido, pois não têm organização nem experiência para enfrentar dificuldades inesperadas. Mas esta é também uma aposta que vai conduzir, inevitavelmente, à exclusão da maioria dos agricultores angolanos e à degradação da biodiversidade, o que terá consequências sociais, políticas e ambientais desastrosas.
Uma aposta que, como diria Mia Couto [célebre escritor moçambicano], pode produzir ricos ou endinheirados, mas nunca a riqueza de que necessitamos para sermos um povo desenvolvido.

Fernando Pacheco


Tradução: Roberto Blum


Para acessar o texto original, clique aqui.

 
Fotografia retirada daqui

Homenagem a Mario Benedetti...

Mario Benedetti
Mario Benedetti
Nascimento 14 de setembro de 1920
Paso de Los Toros, Uruguai
Morte 17 de maio de 2009
Nacionalidade uruguaio
Ocupação escritor, poeta, ensaísta


Uma pequena homenagem àquele que representou, no ano de 2009, uma das maiores perdas que tivemos no mundo da literatura e do comprometimento politico.

Hagamos un trato

  Cuando sientas tu herida sangrar 
  cuando sientas tu voz sollozar 
  cuenta conmigo.

  (de una canción de Carlos Puebla) 

Compañera,
usted sabe
que puede contar conmigo,
no hasta dos ni hasta diez
sino contar conmigo.

Si algunas veces
advierte
que la miro a los ojos,
y una veta de amor
reconoce en los míos,
no alerte sus fusiles
ni piense que deliro;
a pesar de la veta,
o tal vez porque existe,
usted puede contar
conmigo.

Si otras veces
me encuentra
huraño sin motivo,
no piense que es flojera
igual puede contar conmigo.

Pero hagamos un trato:
yo quisiera contar con usted,
es tan lindo
saber que usted existe,
uno se siente vivo;
y cuando digo esto
quiero decir contar
aunque sea hasta dos,
aunque sea hasta cinco.

No ya para que acuda
presurosa en mi auxilio,
sino para saber
a ciencia cierta
que usted sabe que puede
contar conmigo.


Desigualdade no campo permanece, aumentando diferenças sociais no Brasil...

ANÁLISE DO CENSO AGROPECUÁRIO DE 2006 - ALGUMAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES

*Frei Sergio Gorgen 

A cada 10 anos o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – faz um levantamento, uma pesquisa, indo de casa em casa, para saber como está a vida e a produção no meio rural brasileiro.

O último Censo Agropecuário foi feito em 2006 e publicado em 2009. Esta pesquisa permite fazer um retrato, uma fotografia de como está a vida e a produção na roça e dá para fazer algumas comparações importantes sobre as diferenças entres os grandes e pequenos agricultores, entre o agronegócio e a agricultura camponesa.
Vamos ver alguns números desta pesquisa:
1 – Propriedade e Posse da Terra
Os pequenos agricultores tem  24% de todas as terras privatizadas do Brasil.
Quer dizer, de cada 100 hectares de terras, 24 é de camponês.
Os médios e grandes tem 76% de todas as terras.
De cada 100 hectares, 76 é do agronegócio.
2 – Número de Estabelecimentos – Propriedades, Posses, Lotes
Os camponeses são mais de 4 milhões e 360 mil estabelecimentos.
Os médios e grandes são apenas 807 mil estabelecimentos.
Os grandes proprietários acima de mil hectares são apenas 46.000.  E os latifundiários acima de 2 mil ha, são apenas 15 mil fazendeiros que detêm 98 milhões de hectares.
3 – O que Produzem:
Os camponeses produzem 40% da produção agropecuária do Brasil (medida pelo Valor Bruto da Produção Agropecuária Total), apesar de terem apenas 24% das terras, e ainda, nas piores condições de topografia e fertilidade.   Alem disso, sabe-se que grande parte da produção do camponês é para auto-sustento, e por tanto não é vendida.
Os médios e grandes produzem 60% da produção agropecuária do país, tendo 76% de todas as terras do país, entre elas as mais planas e ferteis e melhor localizadas para o mercado.
4 – Valor da Produção Por Hectare
1 hectare da agricultura camponesa teve, em média, uma renda de R$ 677,00.
1 hectare do agronegócio teve, em média, uma renda de apenas R$ 368,00.
5 – Quem produz o que o Povo Brasileiro Come:
Daquilo que vai para a mesa dos brasileiros, 70% é produzido pelos pequenos agricultores, pelos camponeses.
Só 30% do que vai para a mesa dos brasileiros vem das grandes propriedades, que priorizam apenas as exportações, ou seja não produzem comida, querem produzir apenas "commodities"!
6 – Trabalho para o Povo:
As pequenas propriedades, dão trabalho para 74% de toda  mão de obra no campo brasileiro.
As médias e grandes, o agronegócio, mesmo com muito mais terra, só empregam para 26% das pessoas que trabalham no campo.  Pois preferem utilizar mecanização intensiva e muito agrotóxicos.  Por isso, o Brasil se transformou na safra de 2008/2009 no maior consumidor mundial de agrotóxicos.  São aplicados 700 milhões de litros de veneno por ano!
7 – Quantas pessoas trabalham por Hectare:
Na agricultura camponesa, em cada 100 hectares, trabalham 15 pessoas.
No agronegócio, em cada 100 hectares, dão emprego para apenas 2 pessoas (média real de 1,7 pessoas/ha).
8 – Os recursos do Crédito Agrícola:
Os valores do crédito não estão no Censo Agropecuário, mas no Plano Safra. No Plano Safra 2009/2010 foram destinados R$ 93 milhões para o agronegócio.   E 15 bilhões para a agricultura camponesa.  Mesmo assim, sabe-se que apesar da crescente oferta de recursos para a agricultura camponesa, apenas 1,2 milhoes de estabelecimentos familiares tem acesso ao credito, e na ultima safra utilizaram apenas 80% do que esta disponível.
Isto significa que os camponeses utilizam apenas 14% do crédito agrícola total ofertado pelos bancos, através das normas e determinações da política do governo federal.
Resumo comparativo entre os dois modelos de agricultura vigentes no Brasil
Os Camponeses………………………………………………………………………..O agronegócio
14% do Crédito………………………………………………………………………..86% do crédito rural
24% das terras……………………………………………………………………………76% das terras
40% do valor total da produção vendida………………………60% do valor total da produção vendida
70% da produção total de comida  do país…………………30% da produção total de comida do país
74% da mão de obra da agricultura brasileira…………..26% da mão de obra na agricultura brasileira


PERSPECTIVAS SE HOUVESSE UMA REFORMA AGRÁRIA MASSIVA
Usando os dados do Censo 2006 podemos fazer uma projeção de como poderia ser o Brasil se houvesse uma Reforma Agrária, massiva, que democratizasse a propriedade e posse da terra e reorganizasse a produçao agricola para o mercado interno.
Tomando como base só os Estabelecimentos acima de 1.000 hectares.
Com mais de 1.000 hectares são apenas 46.911 estabelecimentos.
Ocupam uma área de 146.553.218 hectares, isto é, mais de 146 milhões de hectares. Dá uma média de 3.125 hectares por propriedade.
Agora vejamos como ficaria esta terra que agora pertence a apenas 47 mil grandes proprietários, se fosse distribuída  em lotes com tamanho médio de 50 hectares por família?
- Seriam criados 2 milhões e 920 mil novos estabelecimentos agrícolas, ou seja, quase 3 milhões de novas familias de camponeses.
- Contando que a agricultura camponesa ocupa 15 pessoas a cada 100 hectares, esta reforma agrária criaria trabalho para mais 21 milhões de pessoas, ao contrário de 2 milhões e 400 mil criados hoje através do agronegócio.  Que alem do mais, trabalham como assalariados pro agronegócio, recebendo salários ridículos, muitas vezes apenas temporários, e sem direitos trabalhistas ou previdenciários.
- Tomando em conta que na agricultura camponesa, cada hectare gera uma renda média anual de R$ 677,00, a renda gerada nas áreas distribuídas produziria uma nova riqueza no valor aproximado de R$ 99 bilhões por ano.
É só comparar. O latifúndio e o agronegócio não trazem benefícios para a sociedade brasileira, nem social, nem economicamente, e muito menos é sustentável ambientalmente.  Pois a sua matriz tecnológica é altamente destrutiva pelo uso intensivo de agrotóxicos.
Uma Reforma Agrária que atingisse apenas os estabelecimentos acima de 1.000 hectares, preservando os médios proprietários, geraria muito mais trabalho, produção, renda e desenvolvimento para todos os Brasileiros.
(*Frei Sergio Gorgen, membro do MPA e da via campesina Brasil, Assentamento de Hulha Negra-RS, dezembro de 2009)

O papel social da verdadeira medicina....



Argentinos formados em Cuba inauguram consultório médico
ARGENTINOS formados na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), de Havana, inauguraram, em 28 de dezembro passado, a Casa Tatu, um consultório para o atendimento a habitantes dum bairro de extrema-pobreza de Buenos Aires.
A Escola Latino-Americana de Medicina já formou como médicos mais de 7.200 jovens de 45 países.




         A Escola Latino-Americana de Medicinajá formou como médicos mais de 7.200 jovens de 45 países.



A secretária-geral do Projeto Tatu, Teresa Singer, destacou em suas palavras de agradecimento aos moradores que construíram o local, que esse sonho leva por nome o pseudônimo de Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido como o Che, quando lutava pela libertação da África.
Após ressaltar o gesto generoso de Cuba, ao formar médicos jovens como ela, de bairros muito humildes, disse que a Elam forma dois mil por ano, procedentes dessas comunidades de todo o mundo, partilhando tudo sem pedir nada em troca.
"Hoje dedicamos" – disse – "a abertura da casa de atendimento integral ao médico argentino-cubano Ernesto Che Guevara, ao povo cubano, a Fidel Castro Ruz e com certeza a vocês companheiros", expressou a jovem doutora, em meio dos aplausos da multidão.
A Proposta Tatu, uma iniciativa nascida em 2001, ao partirem para Cuba a estudar, foi executada em 2007 em bairros degradados bonaerenses, quando ainda não tinham validado seus títulos, por considerarem que não tinham direito a esperar, de acordo com o publicado pelo site Cubadebate.
Desde então, abriram 14 pontos de atendimento, dirigidos prioritariamente às crianças.
Um dos ativistas de mais destaque, o doutor Alejo Moreira, graduado da Elam, nasceu e foi criado num bairro-da-lata, a maioria cabanas de madeira e de chapas, agora com 20 mil habitantes, dos quais sete mil são crianças.

Na jornada, à qual assistiu Carlos Calica Ferrer, amigo da infância e companheiro de Ernesto Guevara, em sua segunda viagem pela América Latina, em 1953, se entregaram brinquedos e guloseimas às crianças, doados pela gestão de Proposta Tatu perante associações comerciais e sociais. •


Créditos: granma.cu

Genocidio em Gaza.....


Um ano do massacre de Gaza

Emir Sader

Há um ano, Israel começava um dos mais bárbaros massacres contemporâneos. Ingressou, com todo seu poder de fogo, em uma região já cercada, que não dava possibilidade de fuga à sua população. O Exército que, há décadas, mais recursos recebe da maior potência bélica da história da humanidade, os EUA, descarregava todo seu poderio sobre uma população indefesa, acusada de colocar em risco, com pífios foguetes domésticos (a tal ponto, que Israel não conseguiu descobrir nenhuma das supostas bases de lançamento, nem lugares de sua fabricação) que não tinham provocado nenhuma vitima no seu território. Israel utilizou inclusive armas proibidas, como fósforo branco, sobre a população palestina, encerrada na área mais densamente povoada do mundo.

Os ataques, que não encontraram nenhuma resistência militar, apenas moral, duraram 22 dias, chegando a provocar 225 mortos em um único dia. 1450 palestinos morreram, dos quais 439 menores de 16 anos e 127 mulheres. 4100 edifícios foram destruídos e outros 1 mil foram danificados. A missão de investigação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas caracterizou os ataques como “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.

Foram destruídas milhares de casas, comércios, além de plantações, hospitais, escolas, universidades, clínicas – tudo que os tanques israelenses encontravam pela frente. Gaza se transformou numa terra arrasada. Quem a visitou depois daqueles terríveis 22 dias, relata que nada tinha ficado de pé, como conseqüência da orientação do Exército israelense, de que “ninguém é inocente em Gaza”.

Um ano depois da agressão, os corredores de entrada para Gaza continuam fechados, nada foi reconstruído, caminhões com alimentos e remédios apodrecem no deserto, às portas de Gaza, enquanto todo tipo de doença afeta a população, indefesa, diante do brutal cerco israelense e a impotência cúmplice da comunidade internacional. Dos 4 bilhões, 481 milhões de dólares arrecadados por mais de 70 países em conferência realizada em março no Egito, para a reconstrução, nada chegou a Gaza, fazendo com que a paisagem seja a mesma – ou pior, sobretudo pelas doenças – de quando os israelenses, impotentes para derrotar a resistência civil dos palestinos, se retiraram de Gaza.

O Egito colabora com esse cerco criminoso, ao deixar fechado o corredor a que tem acesso e ao construir agora um muro que tenta impedir a precária circulação por túneis clandestinos, por onde os palestinos fazem chegar os alimentos mínimos para impedir que morra de fome a população de Gaza. O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, conclamou a que todos os países do mundo coloquem em prática sanções econômicas e de outra ordem contra Israel, pelas responsabilidades deste país no massacre e no cerco que mantêm contra Gaza.

Os 700 mil habitantes de Gaza desapareceram dos noticiários internacionais, assim que as tropas israelenses se retiraram. O governo de Israel busca desviar a atenção sobre a ocupação dos territórios palestinos e o cerco a Gaza, aumentando ainda mais a instalação de assentamentos judeus em pleno coração das cidades e dos campos da Cisjordânia, de onde saem regularmente jovens judeus, protegidos por tropas israelenses, para atacar casas, comércios, queimar plantações centenárias de azeitonas das indefesas famílias palestinas.

Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto – segundo as palavras do próprio Jimmy Carter -, acobertado e armado pela maior potência militar da história, os EUA, que promove a guerra e pretende ser agente de negociações de paz. Nem sequer consegue deter a instalação de novos assentamentos – se é que pretende detê-los. Israel, um país que detêm, confessadamente, armamentos nucleares, ocupa territórios de outro país, impedindo que ele exerça os mesmos direitos que Israel goza, por resoluções das próprias Nações Unidas, tornando-se um Estado pária da legalidade internacional.

A posição do governo brasileiro de que somente incorporando outros governos – não comprometidos com os genocídios cometidos por Israel, que na semana passada assassinou mais 6 palestinos e continua suas detenções arbitrárias, como a de Jamal Juma, dirigente do movimento Stop the Wall – é que o processo de paz pode abrir horizontes reais de cumprimento das decisões da ONU, que garante a Palestina os mesmos direitos que os israelenses gozam há mais de 60 anos – o direito de ter um Estado palestino, soberano, com fronteiras delimitadas, com direito de regresso dos imigrantes, é a posição correta, que deve ser apoiada e incentivada por todos os desejam um mundo de paz, solidariedade e fraternidade e não o mundo das “guerras infinitas” de Bush, que Israel continua a colocar em prática, um ano depois do massacre de Gaza, contra os palestinos.

Blog do Emir

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Chico mendes - O preço da floresta - 2008



SINOPSE
Foi o primeiro documentário sobre Chico Mendes dirigido por um brasileiro e realizado no local onde os fatos aconteceram. Com muita pesquisa, entrevistas e boas imagens, o documentário atualiza uma história de vinte anos atrás para a realidade de hoje de Xapuri e do Acre. Merece ser projetado mais vezes, principalmente na Reserva Chico Mendes, em Xapuri, e em Rio Branco, para que as pessoas que ajudaram a contar a história também vejam o alcance, no presente, do que ajudaram a construir.

DADOS DO ARQUIVO
Áudio: Português
Duração: 43 min.
Qualidade: DVDRip
Tamanho: 370 MB
Servidor: Rapidshare (3 partes)
Créditos: LaranjaPsicodelica - Darkman

LINKS
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Parte 3

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma nova explosão na Palestina



A nova muralha: Palestinos à beira da 3ª intifada

  Nicola Nasser,
Counterpunch


Nicola Nasser é jornalista. Trabalha em Bir Zeit, Cisjordânia, Território Palestino Ocupado

“Ante a ausência de qualquer esperança, imponhamos o nosso grito de esperança”. Com essa frase, os líderes cristãos palestinos de várias igrejas e organizações ligadas a elas, reunidos em Belém, dia 11/12, concluíram o documento final do encontro, intitulado “Kairos Palestine – 2009: A Moment of Truth”.

O documento pode ser lido (em inglês) em “Teologia da Libertação”. Ali, os cristãos de todo o mundo são convocados para lutar contra a ocupação israelense dos territórios palestinos. O grito desses católicos simboliza ao mesmo tempo uma disposição popular e o status quo político.

Os palestinos sobrevivem e lutam, divididos entre a Cisjordânia governada pelo Fatah (apoiado pelos EUA, com deputados intimidados pelo poder de Israel, potência ocupante, com quem o Fatah coordena suas ações ‘de paz’ e ‘de segurança’, via pela qual o ‘processo de paz’ chega aos 16 anos em impasse total; e prosseguem as construções ilegais de colônias israelenses em territórios ocupados) e a Faixa de Gaza governada pelo Hamas.
Na Faixa de Gaza, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) dedica-se a manter o cessar-fogo, ao mesmo tempo em que participa de negociações mediadas pelo Egito e pela Alemanha sobre troca de prisioneiros. Até agora, falharam todas as vias tentadas, sejam militares sejam políticas; e sucessivas negociações fracassadas fizeram abortar qualquer perspectiva de paz. A paz parece ser miragem – perfeita metáfora do futuro de uma comunidade internacional liderada pelos EUA de Obama. Se se examina o futuro, a única certeza é que a Palestina está à beira de explodir.

“Não há solução bilateral. O caminho mais curto até o próximo round de violência passará agora pelo fracasso de mais um ‘processo de paz’, que sim, certamente fracassará. Talvez aconteça em 2010. A Palestina está madura para explodir” – disse Gershon Baskin do Israel-Palestine Center for Research and Information, em debate patrocinado pelos russos na Jordânia, semana passada.
O “perigoso impasse” exige que se organize “missão de resgate”, disseram os palestrantes, segundo a Agência Reuters. O ex-primeiro-ministro russo Evgeny Primakov alertou para a evidência de que “uma crise real” acontecerá, se a comunidade internacional não intervier; acrescentou que o chamado “Quarteto para o Oriente Médio” (EUA, ONU, Rússia e União Europeia) deixou de operar. Dia 15/12, o presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina disse, em reunião do Conselho Central da OLP em Ramallah: “Agora, a bola está no campo da comunidade internacional. A bola está com os EUA.”

Abbas parece estar batendo à porta errada. Barack Obama entrará para a história como o primeiro presidente dos EUA que arrastou um tradicional aliado dos EUA, como Abbas, a declarar publicamente que “a Palestina está desapontada com os EUA”, que fracassaram no papel de mediadores no conflito Israel-Palestina.
Isso, apesar da ‘euforia’ que, segundo Obama, teria tomado os palestinos quando Abbas foi ungido com a honra de receber o primeiro telefonema de Obama, no instante em que pisou na Casa Branca como presidente. O governo Obama até agora obteve “avanço zero. Não falhou apenas ao não conseguir manter ativas as negociações. Falhou também porque ninguém espera que Obama consiga, mais tarde, o que não conseguiu no pico de popularidade, nos primeiros dias de governo.” – Essa é a opinião de Barry Rubin, diretor do Global Research in International Affairs (GLORIA) Center, Interdisciplinary University, publicada em Global Politician, edição de 19/12.

Obama detonou a missão de seu próprio enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, ao mandar para lá a secretária de Estado Hilária Clinton, em março, aparentemente para que reunisse líderes palestinos e israelenses para que reiniciassem as negociações. Fato é que a visita de Hilária Clinton levou a resultado exatamente oposto e marcou completa inversão dos objetivos de quem, para os palestinos, seria negociador honesto e equilibrado. Depois da passagem de Hilária Clinton pela região, deixou de haver mediador e mediação; e os interesses de Israel passaram a dominar todos os contextos; e as negociações foram imediatamente suspensas.

Evento seguinte foi a operação coordenada entre EUA e Israel para matar na manjedoura o Relatório Goldstone – alegadamente porque o relatório criaria “obstáculo substancial” entre os dois lados (nas palavras do secretário de Estado assistente P.J. Crowley, dia 10/12). Com isso, viu-se que o fracasso da missão Clinton não foi apenas resultado das trapalhadas de Hilária Clinton, mas fracasso de toda uma política ideada pelo governo Obama cujo primeiro movimento foi ‘exigir’ “congelamento” de todas as construções de colônias israelenses.
Dado que Obama ‘exigiu’, Abbas também teve de ‘exigir’. Nessa operação, Abbas converteu-se em refém de uma ‘exigência’ que Obama ‘exigiu’, não conseguiu impor e não obteve, em jogada na qual Obama... perdeu. Com Obama, perdeu também Abbas, que pagou caro pelo erro de deixar todos os seus ovos na cesta de Obama.

Obama e seu governo não dão sinais de arrependimento e seguem os passos da aliança estratégica tradicional entre EUA e Israel, na contramão de todas as ‘mudanças’ que Obama-candidato prometeu aos eleitores. Semana passada, Obama assinou o orçamento da ajuda para segurança que os EUA distribuirão aos seus aliados em 2010; a quota de Israel subiu, para o próximo ano, para US$2,775 bilhões; dos 2,500 bilhões de 2009, alcançará em 2013 $3,1 bilhões.
Árabes, inclusive os palestinos, veem aí o dinheiro de que Israel precisa para alimentar intransigência cada vez mais absoluta contra qualquer paz. Os $500 milhões alocados para a Autoridade Palestina (nos quais estão incluídos os 100 milhões do general Keith Dayton), são suficientes, no máximo, para que a Autoridade Palestina mantenha o nariz fora d’água e possa continuar operando como força auxiliar do exército israelense.

Nunca antes, nem em tempos melhores, muito antes de os palestinos dividirem-se entre Fatah e Hamas, antes da reocupação militar em 2002 do território da AP na Cisjordânia e antes do bloqueio imposto a Gaza, a Autoridade Palestina dependeu tanto de patrocinadores. O processo começou, de fato, quando foi assinado em Washington, em 1993, a “Declaração de Princípios” entre a OLP e Israel, pela qual Israel conseguiu livrar-se de todos os deveres e obrigações que, como exército ocupante, a lei internacional lhe impunha.

Confusa, mas muito agradecida, a OLP aceitou o dinheiro que lhe davam como arranjo temporário, à espera de negociações que seriam retomadas e só seriam dadas por concluídas com a criação de um Estado palestino independente que existiria ao lado de Israel, com liberdade e segurança. Essa foi a promessa que os EUA (e a comunidade internacional liderada pelos EUA) fizeram aos palestinos, primeiro em 1999, depois em 2005, depois novamente em 2008 e que, agora, o governo Obama está ‘re-prometendo’!

Mas o dinheiro dos patrocinadores internacionais converteu-se, de arranjo temporário em prática permanente. Assim, o orçamento de Israel foi aliviado, dentre outras despesas, de boa parte de seus gastos com a ocupação militar; e de boa parte de seus gastos com ‘prêmios’ dados a qualquer ação de provocação que possa servir de pretexto para novos atos de violência contra palestinos. Não bastasse, a Autoridade Palestina e a OLP caíram na armadilha e, hoje, tornaram-se reféns das condições políticas que interesse aos patrocinadores impor.

A desilusão com o uso dado ao dinheiro dos patrocinadores internacionais cresce entre os palestinos, tanto quanto cresce a desesperança em relação a qualquer ‘processo de paz’. Os palestinos, que contribuíram muito substancialmente para a construção do Estado em termos regionais e nacionais, e que ainda contribuem significativamente em várias economias regionais e locais, são povo cheio de recursos, de capital, de conhecimento, de competências e talentos para trabalho manual e intelectual, perfeitamente capazes de construir a sociedade que desejem ser e ter.
Para tanto, precisam obter o direito à autodeterminação, liberdade, direito de fazer e de ir e vir, e plena soberania.  À medida que cresce a desilusão, o papel dos patrocinadores políticos internacionais gera cada dia maiores suspeitas, criando humilhações, exacerbando a frustração e a desesperança. Em resumo, os patrocínios e o mau uso dados a essas verbas enfraquecem, na sociedade palestina, todas as forças e os argumentos da conciliação e da prudência. É como se já ninguém conseguisse manter tampada a panela, enquanto, dentro, a pressão só aumenta. O desespero transitório vai-se convertendo em realidade do dia a dia, em status quo que não se altera.

A frustração dos palestinos em relação à comunidade internacional não é novidade; nasceu na assembleia geral da ONU de 1947, da Resolução n. 181 – que determinou a divisão da terra dos palestinos em dois Estados – e da Resolução n. 194, de 1948. O mesmo sentimento de terem sido traídos encontrou expressão forte na Cisjordânia, no “desapontamento” de que falou Abbas. Em seguida, o presidente da AP anunciou que não concorreria às eleições presidenciais: “Para mim, todos os caminhos estão fechados. Decidi não me candidatar a novo mandato. Não sou otimista nem quero cultivar ilusões” – disse Abbas ao jornal Ash-Sharq Al-Awsat editado em árabe, em Londres.

Quanto à Faixa de Gaza, o último capítulo da traição da Palestina pela comunidade internacional foi enunciado em Paris, dia 22/12, por 16 grupos de direitos humanos, dentre os quais Anistia Internacional, Oxfam e Christian Aid: “A comunidade internacional traiu o povo de Gaza quando não uniu ação aos discursos contra o bloqueio israelense (...). As potências mundiais falharam e traíram o povo comum que sobrevive em Gaza. Houve reuniões e declarações, mas praticamente nenhuma ação contra Israel” – diz o documento final daquela reunião em Paris.

A consciência de terem sido traídos e abandonados é fermento explosivo na Palestina, sobretudo por causa do bloqueio político imposto pela ocupação militar direta dos territórios – o cerco contra a OLP e a Autoridade Palestina na Cisjordânia; e o violento bloqueio israelense imposto na Faixa de Gaza. Todas as condições estão maduras para a eclosão da violência mais brutal: uma 3ª intifada palestina na Cisjordânia, e novo ataque militar por Israel contra os cidadãos em Gaza.

Abbas, em entrevista ao The Wall Street Journal dia 22/12, alertou para a intifada iminente. De fato, disse que “enquanto eu estiver no governo não admitirei que ninguém deflagre uma nova intifada, nunca, nunca. Mas depois que me afastar do governo as coisas mudarão. Não posso oferecer quaisquer garantias.”

Simultaneamente, na Faixa de Gaza, o Hamas – às vésperas do primeiro aniversário da  invasão pelo exército israelense (Operação Chumbo Derretido) – alerta para o risco iminente de nova invasão israelense.

O indicador mais visível de que Israel prepara-se para novo ataque é um novo muro de aço, uma muralha que o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA está construindo para cercar toda a área na qual se estima que haja 1.500 túneis operados por palestinos – ao longo dos 14 quilômetros da fronteira Sinai-Gaza. Em janeiro de 2008, milhares de árabes palestinos conseguiram entrar em território egípcio – no momento em que pelo menos um governo árabe conseguiu manifestar alguma solidariedade com o sofrimento dos palestinos que se acumulavam na fronteira à espera de água, comida, remédios, socorro médico. Imediatamente, Israel fechou todas as fronteiras. Então os palestinos começaram a construir túneis.

Agora, soldados dos EUA estão construindo um muralha com placas de aço de 18 metros, testadas em laboratórios norte-americanos para resistirem a bombas e armas de alto calibre, que penetram no solo até uma profundidade de 30 metros. Essas placas de aço, além do mais, desviarão o curso e contaminarão os reservatórios naturais de água subterrânea. Quando a barreira estiver concluída – no máximo dentro de 18 meses –, toda a região perderá acesso a 60% da água hoje existente, segundo Karen Koning AbuZayd, comissária-geral da UNRWA.

Para AbuZayad, que falou em fórum organizado na American University no Cairo, a nova muralha de aço é mais resistente que a Linha Bar Lev, construída pelo exército de Israel na costa leste do Canal de Suez depois de ter ocupado a Península do Sinai, do Egito, em 1967.

Nenhum povo ou país no mundo toleraria esse tipo de muralha ‘defensiva’ em suas fronteiras – caso não conhecido no mundo moderno –, ou deixaria de considerar a construção da muralha como ato de guerra. A muralha de aço só interessa aos objetivos políticos e militares de Israel, embora a muralha, de fato, seja ‘made in USA’ – segundo depoimento de AbuZayd – e esteja sendo construída por soldados da guarda de fronteira egípcia.
Assim, do ponto de vista dos palestinos, a muralha é vista como parte da ocupação israelense e ato de agressão – e, claro, como alvo possível de ataque. Contudo, os palestinos, pelo menos na Faixa de Gaza, estão em estado de guerra contra Israel, mas não contra o Egito. Consequentemente, qualquer ato violento que se materialize contra a muralha deverá ser entendido como ato das hostilidades entre palestinos e israelenses.

Segundo as análises feitas pelo Hamas, o Egito ter-se-ia precavido contra a reação palestina, árabe, muçulmana e internacional ante mais esse ato de punição coletiva de 1,5 milhão de palestinos, a menos que o Cairo já esteja contando com uma invasão israelense, que levantará “os protestos de sempre”, ante os quais mal se ouvirão protestos específicos contra a muralha.

Israel está trabalhando para desviar a atenção do mundo e ocultar a iminente explosão na Palestina. Por isso, tanto tem falado a respeito de uma “ameaça iraniana” que não poderia ser deixada sem resposta. Tudo indica que o governo Obama já deu luz verde para a agenda sionista e já arrastou consigo os aliados europeus. Pelo que se vê, tudo se passa como se não houvesse outro problema no mundo... além  da “ameaça iraniana” e, claro, como sempre, a ‘ameaça’ palestina.