sábado, 23 de janeiro de 2010

Literatura comparada.....

Autores-tradutores do mundo árabe-muçulmano

Por Mônica Kalil Pires*

O  contato de culturas é, antes de mais nada, o encontro de pessoas oriundas de sociedades com valores e histórias diferentes. Para haver o entendimento, é preciso não apenas traduzir a língua, mas também apresentar uma cultura para a outra. Comunidade de origem e comunidade de recepção têm identidades próprias, construídas com base na história, na língua e na religião, entre outros aspectos. A tradução respeita essas diferenças, mas procura pontos e de contato e aceita as perdas inevitáveis.

Em minha tese de doutorado, investiguei como e por que autores contemporâneos, de origem libanesa mas vivendo fora de seu país de nascimento, apresentam a cultura árabe-muçulmana para o ocidente judaico-cristão. As obras escolhidas – Léon, l´africain e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Amin Maalouf e Georges Bourdoukan, respectivamente – são romances históricos que se passam entre o século XV  e o XVII, quando muçulmanos e judeus estavam em paz e eram perseguidos pela Inquisição cristã. Esses romances dialogam com o tempo dos autores, ou seja, durante e imediatamente depois da Guerra Civil do Líbano, que durou de 1975 a 1990 e opôs, esquematicamente, muçulmanos contra cristãos e judeus.

Léon, l´africain se passa entre 1490 e 1530, principalmente nas cidades de Granada, Fez, Cairo e Roma. A incrível e fascinante história do Capitão Mouro transcorre entre os anos de 1693 e 1694, período que antecedeu a tomada do Quilombo de Palmares, na Capitania de Pernambuco.
Por uma série de peripécias, os protagonistas, muçulmanos, acabam vivendo entre cristãos e têm com eles posturas distintas.

Leon aprendera a odiar os cristãos, responsáveis pela expulsão dos muçulmanos de Granada; em sua vida adulta, como comerciante e diplomata, mostra-se um ser aberto, em transformação: aprende com os antigos inimigos e questiona seus próprios valores, sem necessariamente negá-los. O Capitão Mouro, por outro lado, é um guerreiro, que defende sua identidade muçulmana mesmo arriscando sua vida, e enfrenta os cristãos, apresentados em bloco, como hipócritas, brutais e ignorantes.

Bourdoukan tem um discurso idealizado e simplificado sobre a relação entre judeus e muçulmanos, afirmando que nunca aqueles foram perseguidos por estes em terras do Islã; Maalouf mostra que havia, sim, algumas perseguições aos judeus, mesmo que elas não fossem a regra.
Nestes romances, a compreensão da História não é mais a mesma que a do século XIX, por isso amplia-se a noção de fontes e são valorizadas vozes de seres tradicionalmente emudecidos nos relatos oficiais, como as mulheres e os escravos, por exemplo.

Além dos fatos históricos, os autores também exploram outras características da cultura árabe-muçulmana, especialmente o uso de histórias que ajudam a compreender um conceito (os chamados mathal). Também nos romances são apresentados costumes e rituais muçulmanos e cristãos, fazendo com que o leitor perceba as diferentes leituras do mundo possíveis.

Várias diferenças se evidenciam quando se faz a comparação das obras, e isso porque Bourdoukan e Maalouf têm projetos literários distintos. Em Léon, l´africain, Maalouf prega a tolerância e isso se revela no romance com a apresentação dos diversos ângulos da História; cria personagens complexos e que têm dúvidas. Nesse espaço criado pela dúvida, reside a possibilidade de Paz. Bourdoukan, por sua vez, defende a Justiça como forma de atingir a Paz, e, pelo excesso de críticas já presentes na mídia ocidental, evita apresentar aspectos negativos da cultura e da história árabe-muçulmana. Em A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, une os oprimidos contra os opressores; muda o conteúdo, não a estrutura da violência. O Islã vira um bloco sem problemas, à custa da exclusão de personagens e fatos que poderiam macular esta imagem.

Maalouf e Bourdoukan, cada um a seu modo, mostram como a literatura pode ampliar a visão de mundo dos leitores e propiciar intimidade com o outro, sem demonizá-lo. Para quem descobre o outro, esse pode ser o início de um relacionamento, com aceitação e interação cultural.

Este artigo é o resumo da tese de doutorado em Literatura Comparada “A tradução cultural em romances históricos: análise comparativa entre Léon, l´africain, de Amin Maalouf, e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan”, defendida na UFRGS, em 2009, com o apoio do CNPq.

Publicado originalmente no site do Instituto de Cultura Árabe -http://mail2.terra.com.br/86.1trr/reademail.php?id=27594&folder=Inbox&cache=da7bfaf6f9d8dba78990ba0bca687e74@ecmailing.ecomm.com.br

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Repercutindo o PNDH 3...

Afinal, o que é uma democracia sem direitos humanos?

Fatima Oliveira - O Tempo

As polêmicas acerca do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, tão-somente uma diretriz de trabalho, provocam uma efervescência neuronal em quem tem deferência pela liberdade e a vê como um valor que perpassa todas as gerações de direitos humanos. Os "contra" se despiram da noção de pluralismo moral e fazem de conta que os direitos humanos não são protetores da humanitude, "apenas acobertam deliquentes sem colarinho; camponeses em busca de um naco de chão; gays e lésbicas que se amam, e mulheres que ousam exercer o direito de decidir" - todos "gentinha da pior laia", sem selo humano. É desfaçatez em demasia!
A Igreja Católica, despudoradamente, insiste em querer imprimir ao Estado brasileiro ares de teocracia católica e não contém o ranço histórico de desrespeito à pluralidade inerente à democracia. O que dizer de figuras que defendem o acobertamento de crimes horrendos, a maioria de domínio público, quando é dever de ofício, são pagas para tanto, defender a plenitude democrática? É o striptease em defesa da inimputabilidade de agentes públicos pelos crimes cometidos na ditadura militar de 1964 tentando acuar uma nação.
Indago ainda por que permitir, irresponsavelmente, que a imagem da instituição e um contingente expressivo das Forças Armadas, a ala jovem e outros tantos, na ativa e na reserva, que não praticaram crimes, têm de herdar a pecha de criminosos? É injusto que nos calemos para que assim seja. A Comissão da Verdade libertará os inocentes da pesada cruz dos crimes cometidos por alguns fascistas e sociopatas de outros naipes.
Li o mais que pude os contra-argumentos veiculados. Fui tomada de uma espécie de intolerância ética pela irracionalidade verborrágica dos "contra" e de enorme gratidão à democracia possível em que vivemos, que dá voz aos desatinados, escancarando entranhas e mostrando quanta quilometragem temos de percorrer até a democracia necessária a uma vida decente, de respeito irrestrito aos direitos humanos.
Na condição de trabalhadora que constrói as riquezas nacionais e tem consciência de que o dinheiro público, fruto de cada tostão do suor de quem trabalha, irriga abundantemente, direta e indiretamente, a Igreja Católica no Brasil, assim como garante a existência e os salários das Forças Armadas, eu me pergunto: por que alguns se acham no direito de entravar as liberdades democráticas? A história da humanidade demonstra que não se constrói uma democracia consistente sobre escombros de crimes hediondos impunes e valores teocráticos. Logo, considero que o contido no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é um passo decisivo para um país de fato de todos nós.
Ter ou não uma religião é um direito constitucional no Brasil. As religiões devem ser dignas dos papéis que as definem como religiões. Quando se metem a regulamentar a vida social e política para além dos seus fiéis e da garantia de livremente existirem, são nocivas à democracia. O que dizer de uma religião que vive de enganar, pois usa dupla identidade - ora se apresenta como religião, ora como Estado (o Vaticano) - ao sabor das conveniências, que prega e pratica a misoginia em pleno século 21; desconhece e desrespeita os direitos sexuais e os direitos reprodutivos de seu clero e de sua segunda divisão, as freiras, porém dá guarida a crimes clericais de natureza sexual; se comporta como se tivesse mandato divino sobre os corpos das mulheres, e ainda quer que as leis de um país laico sigam sua doutrina?
Que ridícula!
Duke

O PSOL e as eleições presidenciais...

Hora de decisão na esquerda socialista



Escrito por Fernando Silva - Correio da Cidadania  

 
O ano de 2010 começou e os gargalos da crise social e dos limites da política econômica já são bem visíveis.
 
No terreno social, as enchentes no sudeste e sul do país e o tremendo drama humano que as sucedem (já com mais de 200 mortos desde o início de dezembro) evidenciam de uma só vez três gargalos sociais que não há propaganda oficial ou oba-oba que consiga esconder: as questões da habitação, da infra-estrutura e da saúde pública. O Maranhão já tinha vivido o mesmo drama das enchentes no final do ano passado.
 
Na política econômica, o aumento do endividamento do Estado pela via da dívida pública e a volta dos déficits nas contas externas mostram por seu lado a vulnerabilidade da economia e a dependência do capital financeiro. Uma elevação das taxas de juros nos EUA, uma revalorização do dólar ou alguma nova bolha (e já existem novas ameaças no mercado) poderiam provocar abalos hoje impensáveis na atual estabilidade.
 
É certo que o capital e o governo controlaram a crise, que quando chegou ao país provocou uma mini-recessão em tempo recorde. Também é verdade que o cenário de estabilidade interna e a popularidade do governo Lula favorecem amplamente a que uma disputa sem projetos marque as eleições de 2010, com tendência bastante favorável à candidata do presidente.
 
Mas, pelas razões expostas acima e sem desconhecer as dificuldades para os que pretendem apresentar uma alternativa de esquerda real às mazelas sociais do país e sua política econômica, há condições e espaço para a afirmação de uma autêntica frente de oposição de esquerda anticapitalista em 2010, que parta das demandas e gargalos reais que afligem dezenas de milhões de brasileiros, para os quais não há solução estrutural alguma prevista no estágio atual do capitalismo e sua crise estrutural.
 
Tempo perdido
 
Aqui está o problema. Pois embora estejamos a menos de dez meses das eleições, esta questão não está resolvida no âmbito da esquerda socialista. Particularmente no PSOL.
 
Parte dessa indefinição deveu-se à política desastrosa da maioria da direção do partido em apostar suas fichas numa aliança com Marina Silva e o PV.
 
Possibilidade que nunca existiu pelas seguintes razões:
 
1) Marina não rompeu com a política econômica do governo Lula. Não por acaso filiou-se ao PV, que está na base de sustentação do governo federal e de governos estaduais tucanos e "democratas", além de declarar que considera positivo o modelo econômico e que Lula tenha dado continuidade ao que FHC começou.
 
2) Não por acaso também, levou para o PV um grupo de capitalistas e articula um deles como vice, mostrando para onde estava direcionada sua política de ampliação.
 
3) E vamos combinar que não há discurso ético que sobreviva à convivência na mesma sigla com membros da família Sarney (um dos mandatários da legenda verde).
 
No entanto, precisou Fernando Gabeira surgir no cenário, com aval de Marina, anunciando a política de coligação com PSDB/DEMO na sua candidatura ao governo do Rio, para que o grosso das forças dirigentes do PSOL praticamente descartasse as negociações com o PV.
 
Mas não existe vácuo em política e o tempo perdido pode custar caro à manutenção e ampliação de um espaço que por obrigação caberia ao PSOL aglutinar em torno de uma alternativa de verdade à polarização Dilma-Serra. Assim como, a essa altura do campeonato, aglutinar nossas forças para reeleger nossos combativos parlamentares e lutar por uma necessária ampliação das bancadas federal e estaduais, francamente ameaçadas.
 
Por exemplo, até aqui a conseqüência mais preocupante desta indefinição política foi o programa de rádio e TV do partido no último dia 7 de janeiro, que pecou pela completa ausência de política eleitoral, e ainda por cima pela injustificável ausência do então único pré-candidato próprio do partido à presidência, Plínio Arruda Sampaio.
 
Uma das principais personalidades da esquerda brasileira e uma das principais figuras públicas do próprio partido ter ficado fora do programa foi uma expressão (nada delicada) das inúteis e equivocadas ilusões que estavam sendo depositadas na hipótese Marina Silva.
 
Candidatura e campanha pra valer
 
Mas, ainda que correndo atrás de um prejuízo, há tempo e forças para o partido e a esquerda socialista retomarem a iniciativa e buscarem construir uma firme intervenção no processo eleitoral, apresentando o PSOL como uma verdadeira alternativa de esquerda - para além das eleições inclusive.
 
Da nossa parte, como é público, não temos dúvidas de que está no nome de Plínio a melhor possibilidade de apresentar com seriedade inquestionável uma política de oposição de esquerda pra valer ao jogo de cartas marcadas que se anuncia nessas eleições.
 
É inegável sua capacidade de aglutinação de uma frente de esquerda e de sua ampliação, como o recente apoio de Dom Cappio evidencia. A incorporação à defesa da pré-candidatura por companheiros de expressão em nosso partido, como o deputado estadual Marcelo Freixo e o vereador Renatinho (de Niterói), também demonstram que esta é uma candidatura de partido, de unificação e fortalecimento do PSOL.
 
Além da questão do nome, é urgente o partido definir sem mais adiamentos as bases de uma plataforma programática, tática e objetivos de campanha.
 
A plataforma deve ter como referência os pontos programáticos aprovados pelo Diretório Nacional de dezembro, que permitem construir um programa de campanha anticapitalista, que parta das demandas reais e bandeiras históricas não resolvidas pelo Capital e seus governos.
 
Estamos diante do desafio de realizar uma campanha que alavanque a inserção social do partido e contribua para a necessária manutenção e ampliação de uma bancada parlamentar socialista e combativa que no Congresso Nacional e nas assembléias legislativas sejam as porta-vozes das demandas, reivindicações e lutas populares.
 
Isso significa em termos muito práticos acabar com a enrolação no partido, realizar um democrático debate que permita definirmos essas questões em março, como previsto, sem qualquer adiamento. O que seria inaceitável, pois qualquer postergação agora é condenar o PSOL a ter uma candidatura sem expressão e tempo hábil de entrar na disputa, uma verdadeira candidatura "laranja" na prática. E de quebra contribuindo para sacramentar um cenário de fragmentação da frente de esquerda.
 
O PSOL tem, portanto, a responsabilidade de apresentar uma candidatura com densidade e história para unir a esquerda em um projeto socialista para o Brasil.
 
Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.

Poesia para reflexão...

Perguntas de um Operário Letrado

Bertold Brecht


Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Educação em Portugal caminha a passos lentos...

Educação: continuamos atrasados


do portal EsquerdaNet
Educação: em relação a outros países desenvolvidos, Portugal está no mesmo ponto de partida de há 50 anos. Foto movimentoescolapublica.blogspot.com.
Segundo a publicação do INE "50 Anos de Estatísticas da Educação", a generalização do acesso à escola foi o factor mais relevante nos últimos 50 anos. No entanto, o atraso na Educação face aos países desenvolvidos permanece igual.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou esta quarta-feira "50 Anos de Estatísticas da Educação", em conjunto com o Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE). Segundo a publicação estavam matriculados em 1960/61 no sistema de ensino 1 086 115 alunos, mas em 2007/08 já eram mais de 1,8 milhões.
No entanto, segundo os especialistas consultados pelo jornal I, os dados do INE revelam que Portugal deu um salto gigante mas não suficiente para contrariar o atraso face aos países desenvolvidos que permanece igual. Mantemos a mesma distância de há 50 anos atrás, uma altura que remete para o tempo da ditadura.
O crescimento exponencial do número de alunos nas escolas regista-se sobretudo ao nível do ensino secundário e da educação pré-escolar, que registam durante aquele período mais 336 361 e 259 630 estudantes, respectivamente. Assim, o número de crianças no pré-escolar cresceu 40 vezes, a taxa de escolaridade no ensino secundário escalou de 1,3% para 60% e o acesso das raparigas ao ensino subiu 15%.
Os dados mostram que o país avançou muito entre 1960 e 2008 mas segundo a opinião do sociólogo do Instituto de Ciências Sociais, Manuel Villaverde Cabral, "Fartámos de correr, mas não conseguimos ainda apanhar o pelotão da frente".
O professor universitário Santana Castilho comenta do mesmo modo estes dados: "Houve uma massificação do acesso ao ensino, mas a qualidade não acompanhou essa evolução". A única conclusão a retirar da publicação do INE é que, há 50 anos, a Educação em Portugal apresentava características típicas de um país atrasado e ignorante e que apenas tem vindo a correr atrás do comboio do desenvolvimento, não conseguindo mais do que isso.
"O que me salta aos olhos é que o sistema educativo antes do 25 de Abril era realmente mau, porque 99% da população estava excluída da escola", disse desanimado o presidente da Associação de Professores de Português, Paulo Feytor Pinto perante os dados agora publicados.
O ensino secundário é um dos exemplo mais flagrantes do atraso português. De acordo com o INE, só 60% dos portugueses completaram o ensino secundário e essa é a percentagem de norte-americanos com habilitações superiores.
"Os países escandinavos, por exemplo, conseguiram recuperar o atraso face aos EUA e, na década de 60, 100% da população já estava escolarizada ao nível do secundário", conta Manuel Villaverde Cabral, o sociólogo e autor do estudo "Sucesso e Insucesso - Escola, Economia e Sociedade". Além disso, acrescenta ainda que "Nos Estados Unidos, a taxa de escolaridade até ao 12º ano era de 100% ainda antes da Segunda Guerra Mundial”, embora em Portugal “o ensino obrigatório até aos 18 anos só acontecerá a partir de 2013."
Todos os países desenvolvidos como França, Alemanha ou Espanha conseguiram taxas plenas de sucesso no ensino secundário em Portugal, 30 a 40% da população não consegue ir além do 9º ano. O sistema exclui sobretudo os que mais precisam, diz o sociólogo: "O insucesso escolar acontece principalmente no interior do País e nas periferias de Lisboa e Porto."
Duplicar ou até triplicar o investimento na educação poderá ser uma solução para apanhar o comboio da modernidade, propõe Villaverde Cabral que está convencido de que o atraso no sistema educacional "muito se deve" às elites governamentais que tomaram opções erradas e contribuíram para um modelo de ensino "ineficiente e dispendioso".
Paulo Feytor Pinto aponta o nível que considera apresentar maiores lacunas que diz continuar a ser o pré-escolar, com uma escolarização de 77,7% e critica ainda o facto de, mais uma vez , as estatísticas não distinguirem o abandono escolar de retenções. "A retenção é administrativa, o importante seria perceber que alunos saem da escola antes do tempo. Não conseguimos perceber se há uma melhoria ou não - faz-se o diagnóstico, mas não se traça a evolução."
A diferença verificada entre a taxa de escolarização aos 15 anos (99,7% em 2006/07) e a taxa de escolarização para o secundário (60% no mesmo ano lectivo) representa outra preocupação.
O professor universitário Santana Castilho admite que "o esforço do país na escolarização é notável, sobretudo nos últimos 30 anos", considerando, porém, que os números não podem ser lidos como um retrato fidedigno da educação em Portugal pois apenas transmitem "a quantidade, nunca a qualidade". As políticas de educação feitas para as estatísticas e o decréscimo da exigência do ensino para combater o abandono escolar são as suas críticas principais.
Os números não bastam e é por isso que Santana Castilho chama a atenção para o facto de no mandato de Maria de Lurdes Rodrigues, 20 mil alunos se terem matriculado no ensino profissional, comentando que “O preço de termos menos jovens a abandonarem a escola é que até se criaram cursos de treinador de futebol que dão equivalência ao 12º ano."
Somando número de alunos e número de docentes nas escolas portuguesas no ano lectivo 2006/2007, a publicação do INE mostra que existe hoje uma média de 9,75 alunos por cada professor. Um número que é considerado pelos investigadores como completamente desvirtuado pois bastará visitar algumas escolas para se ficar a saber que uma turma tem quase sempre muito mais de dez alunos.
“É preciso ter em conta que os professores do ensino especial ou a desempenhar tarefas administrativas também entram nesse cômputo, e que duas mil escolas - onde a relação professor/aluno era muito baixa - já fecharam", avisa Santa Castilho.
Na Alemanha ou França, as taxas no secundário são de 100% mas em Portugal, 30% da população não acaba o 9

Do portal Vermelho

Folha repete argumentos do DEM em manipulação contra centrais

A Folha de S.Paulo deixou mais evidente nesta quarta-feira (21) o que a levou a iniciar uma ofensiva contra o movimento sindical brasileiro. Ao utilizar, em seu editorial, parte dos argumentos que levaram o Democratas a entrar na Justiça contra as centrais sindicais, o jornal mostra que o apartidarismo tão destacado em seu Manual de Redação não passa de joguete publicitário.

O ataque às centrais é apenas mais uma das evidências de que o rabo preso da Folha não é com seu leitor, mas, sim, com as forças conservadoras do país — as mesmas que se referem ao regime militar como “ditabranda”, que têm ojeriza a um novo projeto popular para o Brasil e tampouco aceitam que o trabalhador brasileiro se organize, consiga se mobilizar e possa atuar de modo ativo na vida política brasileira.

“A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo”, clama o editorial da Folha. Além de repetir um dos argumentos infundados que levaram o DEM à Justiça contra as centrais sindicais, o jornal escorrega mais três vezes, já que (1) o repasse às centrais vem dos salários dos trabalhadores, e não do governo; (2) a CTB, por exemplo, se mantém a partir das mensalidades de seus filiados; (3) ao contrário do que apregoa o texto, esses repasses não desvirtuam o sindicalismo — na verdade, somente o fortalece e faz com que o protagonismo da classe trabalhadora seja cada vez mais elevado.

A tese descabida

A Folha vem tentando induzir seus leitores a acreditar que o governo está agindo à margem da lei para beneficiar algumas centrais sindicais. De acordo com a tese, o ministério teria revogado, através de portaria, norma que estabelece que cada central precisa contar com um mínimo de 7% dos sindicalizados no país em suas bases para ser reconhecida.

O que a Folha prefere ignorar é que representantes do Ministério do Trabalho já rebateram a afirmação do jornal, esclarecendo que o critério de representatividade de 7% passará a ser cobrado a partir de dezembro de 2010, conforme estaria previsto na lei.

Mais grave ainda: em seu editorial, a Folha — também conhecida como FSP, ou Força Serra Presidente — admite ter usado dados desatualizados como base para sua ofensiva. O texto fala em “manobra” em prol das centrais, mas a manipulação real tem como autor o próprio jornal, que insiste em informações ultrapassadas do Ministério do Trabalho para tentar atingir o governo federal e os trabalhadores.

Ofensiva deve aumentar

Fica evidente que o ataque do pasquim dos Frias, um dos principais expoentes do chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista), tem como pano de fundo enfraquecer os movimentos sociais e o projeto do presidente Lula de eleger alguém da base de seu governo como sucessor, além de minar iniciativas progressistas como o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos.

Cabe, portanto, à sociedade civil permanecer alerta em relação a esse e a outros ataques que partirão da mídia hegemônica ao longo de 2010, de modo que cada ofensiva dessa natureza receba a devida resposta, dentro das regras democráticas e sempre em busca de que a verdade prevaleça contra quaisquer manipulações.

Leia abaixo o editorial da Folha

Lula e as centrais

Uma medida tramada na surdina pelo governo Lula deve garantir, ao menos ao longo do ano eleitoral de 2010, o direito de centrais sindicais nanicas à participação na divisão do bolo do imposto sindical.

Uma portaria do Ministério do Trabalho, de 2008, exigia, a partir deste ano, que uma central representasse ao menos 7% dos trabalhadores sindicalizados no país para ter direito aos recursos repassados pelo governo. Posta em prática, significaria o fim da benesse para três das seis centrais hoje reconhecidas.

Ao mesmo tempo, a lei que legalizou as centrais sindicais, também de 2008, previa um piso de representatividade menor, de 5%, até dois anos depois de sancionada, quando passaria a valer a exigência dos 7%. O prazo vence em março.

A manobra do governo consiste em revogar o trecho da portaria que estipulava o limite maior já em 2010 e, simultaneamente, interpretar que o novo piso só passa a valer em 2011, já que o prazo de 24 meses da lei cai "no meio de um exercício".

Enquanto isso, as centrais nanicas correm para incorporar novos sindicatos às suas siglas. É compreensível o esforço. Não há dados consolidados para 2009, mas, entre janeiro e julho, as entidades embolsaram R$ 74 milhões do imposto sindical.

A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo. Em vez de instrumento legítimo para negociações trabalhistas, a máquina sindical passa a servir aos interesses dos dirigentes que nela se encastelam.

Opera nesse campo um dos traços arcaicos da gestão Lula, que busca atrelar ao Estado, com repasses de verba e outros privilégios, vários grupos de interesse. Tal método tem custado caro ao país, tanto por pesar sobre o Orçamento quanto por desvirtuar os objetivos, e por comprometer a independência, de associações típicas da sociedade civil, como as centrais sindicais.
 

Fonte: Portal CTB

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Domingo Patricio - Flauta Flamenca - 2005



Flauta Flamenca - 2005


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1. Más lejos, más cerca (Taranta)
2. El Alfil (Alegrías)
3. Mareando la perdíz (Tangos)
4. Tío Bunyol (Rondeña)
5. Amigo eterno (Siguiriya)
6. Tacones y nudillos (Bulería)
7. Velocidad de crucero (Soleá por Bulería)
8. Casa Behrouz (Fandangos)
9. Rumba del Kiosko (Rumba)



Conciliar Plano de Direitos Humanos com o interesse das Forças Armadas é “inaceitável”

 Nessa entrevista ao Correio da Cidadania,  Alipio Freire levantas algumas questões que fizeram o PNDH3 causar tanta ira na direita retrógrada e conservadora de nosso pais.

"Lançado nos estertores de 2009, o 3º. Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) ganhou corpo no debate público apenas no início deste ano. Atacado pela mídia grande por todos os lados, o ponto nevrálgico do plano indiscutivelmente foi a idéia de se criar uma ‘Comissão da Verdade’ a fim de investigar e elucidar os crimes cometidos por agentes da ditadura que transcorreu de 1964 a 1985.
 
Em extensa entrevista ao Correio da Cidadania, o jornalista e ex-militante da Ala Vermelha Alípio Freire aponta Nelson Jobim, ministro da Defesa, como nefasto defensor dos interesses em tapar a história por parte das Forças Armadas. Além de lembrar de suas articulações para ocupar o atual cargo, lembra que o Jobim, antes de tudo, é um fraudador da Constituição, que, nas discussões do plano, atropelou os três poderes da república, o que culminou na retirada do termo ‘repressão política’ do texto do plano." 
 
Leia o texto na íntegra nesse endereço:: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4242/9/

Ebook inédito no Brasil.....

Livro de Daniel Bensaid inédito no Brasil disponibilizado para download

por Enlace

No ano em que se comemoram os 70 anos da fundação da Quarta Internacional e os 35 da formação da LCI (Liga Comunista Internacionalista), a publicação em português do livro de Daniel Bensaïd sobre os trotskismos não poderia ser mais oportuna. Como o próprio autor afirma na nota introdutória: “Apesar de algum recuo relativo e do esforço de compreensão distanciada que procurei ter, não pretendo ter escapado à subjectividade inerente às experiências e comprometimentos pessoais”. Para Daniel Bensaïd, não se trata pois de elaborar uma história das correntes trotskistas, mas sim “de dar sentido às controvérsias políticas e teóricas que marcaram esta história agitada”.
Como parte das homenagens ao companheiro e marxista revolucionário Daniel Bensaid, disponibilizamos em versão completa para download o livro Trotskismos.
Para ter acesso ao livro, é só clicar em http://www.enlace.org.br/documentos-enlace/trotskismosdb.pdf/view

O Haiti, na visão de Eduardo Galeano...

Os pecados do Haiti


por Eduardo Galeano
'Loteria', de Yordan Dabady. A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca ideia de querer um país menos injusto.


O voto e o veto


Para apagar as pegadas da participação estado-unidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito nem sequer com um voto.


Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:
– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.


'Cavalheiro bem apessoado', de Pierre Louis Riche. O álibi demográfico


Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:
– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.


E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilómetro quadrado.


Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.


Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.


A tradição racista


Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objectivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".


'A reunião', de Aland Estime. O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".


Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".


A humilhação imperdoável


Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes a sua independência, mas tinha meio milhão de escravos a trabalhar nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.


'Lavadeiras', Watson Etienne. A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém lhe comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.


O delito da dignidade


Nem sequer Simón Bolíver, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar havia podido reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete nave e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma ideia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.


Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um génio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pénis. Por essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, a modo de perdã por haver cometido o delito da dignidade.


A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.



O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2146

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