AMIGOS E VISITANTES, A PARTIR DE 25 ATÉ 29 DE JANEIRO ESTAREMOS PARTICIPANDO DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL(FSM) EM PORTO ALEGRE-RS. DURANTE ESSE PERÍODO SOMENTE FOTOS E NOTICIAS DO EVENTO SERÃO REPORTADAS.
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Rumo ao FSM.....
Segunda(25/1) começa o FSM10, com Abertura, Marcha e Shows Musicais
A abertura do FSM 10 acontece no dia 25 pela manhã, 9h30min, na Usina do Gasômetro. A
mesa de saudação contará com representante dos prefeitos que sediam o
encontro, o ministro Tarso Genro, representantes da organização do FSM
10 e representantes do Conselho Internacional do FSM.
- Das 11h às 13h, acontece a primeira atividade do Seminário Internacional 10 anos depois,
a mesa Fórum Social Mundial – Balanço de 10 Anos, com a participação de
Lilian Celiberti, Raffaella Bollini, Nandita Shah, Francisco Whitaker,
João Antônio Felício, João Pedro Stédile, Oded Grajew e Olívio Dutra
(veja a programação completa do Seminário abaixo)
- A marcha de abertura do FSM
deve sair por volta das 17h30min do Largo Glenio Peres, Borges de
Medeiros, Aureliano Pinto de Figueiredo, Av. Edvaldo Pereira Paiva e
segue até a Usina do Gasômetro, onde haverá shows de Bataclã FC, Renato
Borgetti, Revolução RS, Marieti Fialho, Tonho Crocco, Banda Gog, Teatro
Mágico, Papas da Língua e Marcelo D2.
Participação do presidente Lula
.
.
Seminário Internacional 10 Anos Depois
O blog do seminário – http://seminario10anosdepois.wordpress.com/ – atualmente apresenta uma série de textos de analise e debate sobre os 10 anos do processo FSM. Durante o Fórum, porém, trará informações adicionais sobre o evento e pequenos resumos dos debates.A programação final do Seminário (sujeita a mudanças) é:
Seminário Dez ano depois: Desafios e propostas para um outro mundo
25 a 29, JANEIRO 2010
25/1, segunda-feira
9h-10h30 Mesa de Saudação do Fórum Social 10 Anos Depois Grande Porto Alegre
Participantes:
Autoridades locais, estaduais, federais
Representantes históricos do FSM da sociedade civil
Aldalice Otterloo – ABONG (Brasil)
Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal)
Prefeito José Fogaça
Tarso Genro
Local: Gasômetro
11h-13h Mesa de Abertura Seminário Fórum Social Mundial – Balanço de 10 Anos
Participantes:
Lilian Celiberti – Articulación Feminista Marcosur (Uruguai)
Raffaella Bollini – ARCI (Italia)
Nandita Shah – National Network of Autonomous Women’s groups (India)
Candido Grzyzibowski – IBASE (Brasil)
Francisco Whitaker – CBJP (Brasil)
João Antônio Felício – CUT (Brasil)
João Pedro Stédile – MST (Brasil) /
Oded Grajew – Cives – Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (Brasil)
Olívio Dutra
Coordenação: Salete Camba – IPF (Brasil)
Local: Gasômetro
26/1, terça-feira
A Conjuntura Mundial Hoje
9h-12h A Conjuntura Ambiental Hoje
Participantes:
Nicola Bullard – Focus on the Global South (Tailandia)
Gilmar Mauro – MST (Brasil)
Roberto Espinoza- CAOI (Peru)
Hildebrando Vélez Galeano – Amigos de la Tierra (Colômbia)
Justina Cima (*) MMC (Brasil)
Local: Gasômetro
A Conjuntura Econômica Hoje
Participantes:
David Harvey – City University of New York (EUA)
Susan George – ATTAC (França)
Arthur Henrique da Silva Santos – CUT (Brasil)
Paul Singer- FEA/USP (Brasil)
Local: Assembleia Legislativa
A Conjuntura Política Hoje
Participantes:
Immanuel Wallerstein
Samir Amin- Foirum Mondial des Alternatives (Egito)
Jamal Juma – Palestinian Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign (Palestina)
Gustave Massiah- Centre Recherches et d´Information pour le Développement (França)
Gustavo Soto Santiesteban – Centro de Estudios Aplicados a los Derechos Económicos, Sociales y Culturales (Bolívia)
Nalu Faria – Marcha Mundial das Mulhers (Brasil)
Bernard Cassen – Forum Mondial des Alternatives (França)
Local: Cais 6
A Conjuntura Social Hoje
Participantes:
Edgardo Lander – Universidad Central de Venezuela (Venezuela)
Emir Sader- CLACSO (Brasil)
Mohamed Soubhi – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Ana Pizzo
Rosane Silva – CUT (Brasil)
Local: Cais 7
27/1, quarta-feira
Elementos da Nova Agenda I / Elements of The New Agenda I
9h-12h Bens Comuns
Participantes:
Silke Helfrich – Fundação Heinrich Boell (Alemanha)
Patrick Mooney – University of Kwa Zulu-Natal School of Development Studies (Africa do Sul)
Camila Moreno – Terra de Direitos (Brasil)
Carlos Candiotti – CONACAMI (Brasil)
Vita Giovanna Randazzo Eisemann
Local: Gasômetro
Sustentabilidade
Participantes:
Corinne Kumar – Cortes de Mulheres (India/Tunisia)
Fátima Mello – FASE (Brasil)
Rosa Chavez -
Indra Lubis – Via Campesina (Tailandia)
Maria Pia Matta Cerna – AMARC (Chile)
Antônio Barbosa – ASA (Brasil)
Local: Cais 7
Economia e Gratuidade
Participantes:
Patrick Viveret – Centro Internacional Pierre Mendes (França)
Lilian Celiberti – Articulación Feminista Marcosur (Uruguai)
Ladislaw Dowbor
Nila Heredia – ALAMES (Bolívia)
Daniel Pascual
João Joaquim de Melo Neto Segundo – Palmas (Brasil)
Local: Cais 6
Bem-Viver
Participantes:
Anibal Quijano – Universidade de San Marcos (Peru)
Marco Deriu – Universidade de Parma (Italia)
Mercia Andrews – Trust for Community Outreach and Education (Africa do Sul)
Zraih AbderKadel – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Ana Maria Prestes – OCLAE (Brasil),
Segundo Churuchumbi – ECUARUNARI (Peru)
Local: Assembleia Legislativa
28/1, quinta-feira
Elementos da Nova Agenda II
9h-12h Organização do Estado e do Poder Político
Participantes:
Pablo Sólon, – Aliança Social Continental (Bolivia)
Njoki Njoroge Njehu – Daughters of Mumbi Global Resource Center / Africa Jubilee South (Quenia)
Prabir Purkayastha – All India Peace and Solidarity Organisation (India)
João Pedro Stédile – MST (Brasil)
Nancy Neamtan – Chantier de l’Economie Sociale (Canadá)
Giampiero Rasimelli
Sergio Hinojosa (*)
Local: Gasômetro
Direitos e Responsabilidades Coletivas
Participantes:
Carles Riera – Ciemen (Catalunha)
Alberto Achito Lubiasa (Colômbia)
Maria Betânia Ávila – Articulação de Mulheres Brasileiras (Brasil)
Irene Khan – Anistia Internacional (Bangladesh)
Kamal Lahbib – Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Marcos Terena
Local: Cais 7
Novo Ordenamento Mundial
Participantes:
Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal)
Patrick Bond – University of Kwa Zulu-Natal School of Development Studies (Africa do Sul)
Antônio Martins – ATTAC (Brasil)
Socorro Gomes – CEBRAPAZ (Brasil)
Eric Toussaint – CADTM (Belgica)
Teivo Teivainen – NIGD (Finlandia)
Local: Cais 6
Como Construir Hegemonia Política
Participantes:
Boaventura dos Santos – Universidade de Coimbra (Portugal)
Virginia Vargas – Articulacion Feminista Marcosur (Peru)
Amit Sengupta – Peoples Health Movement (India)
Christophe Aguiton – Marches Européennes contre le chômage (França)
Rosane Bertotti – CUT (Brasil)
Local: Assembleia Legislativa
29/1, sexta-feira
9h-11h Sistematização das Grandes Questões e Contribuição para o Processo Fórum Social Mundial
Local: Gasômetro
11h30-14h30 Rumo a Dakar 2011: A Multiplicidade dos Fóruns
Crise de Civilização – Roberto Espinoza – CAOI (Peru)
Forum da Palestina – Jamal Juma – Palestinian Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign (Palestina)
Forum das Americas – Jose Miguel Hernandez – Encuentros Hemisfericos contra el ALCA (Cuba)
Forum do Maghreb – Kamal Lahbib- Forum des Alternatives Maroc (Marrocos)
Forum Panamazônico – Luiz Arnaldo Campos – Forum Social Pan-Amazônico (Brasil)
Povos sem Estado – Carles Riera – Ciemen (Catalunha)
Forum Social Africano – Taoufik Ben Abdallah – ENDA (Senegal) / Demba Moussa Dembele – Forum Social Africano (Senegal)
Forum Social Estados Unidos – Michael Leon Guerrero- Grassroots Global Justice Alliance (EUA)
Forum Social Europeu – Raffaella Bollini – ARCI (Italia)
Forum Social Temático Bahia – Martiniano (*) – CUT (Brasil)
Local: Gasômetro
sábado, 23 de janeiro de 2010
pobre professor.....
Por que a educação é o lugar de nosso tropeço?
Desanimando o professor, prejudicando o aluno
Não sei o que pode criar maior desânimo
em um professor e, conseqüentemente, nos alunos, que ele iniciar o ano
recebendo míseros 7reais para cada hora-aula. Ah, quer dizer, eu não
sabia! Agora vi que há como criar coisa pior. Pode-se colocar o
professor com um carimbo na testa escrito “professor reprovado”. Não
consigo entender qual a lógica de José Serra, governador de São Paulo e
candidato à Presidência da República, e seu secretário da Educação
Paulo Renato, por oito anos titular no MEC no período de FHC. Diante de
uma escola pública tratada a tapas há anos, e com a educação do Estado
de S. Paulo mostrando os piores índices nacionais em todas as
avaliações, eles acreditaram que o melhor para essa escola seria
massacrar de vez o professor. Será isso o que pensaram?
Talvez eles tenham acreditado que ao
fazer um exame para o professor temporário, eles iriam dar classe
apenas para os “aprovados”. Mas, se acreditaram nisso, não poderiam
estar no cargo que estão, pois qualquer pessoa minimamente informada
sobre a rede pública de educação poderia prever o resultado. Além
disso, fosse qual fosse o resultado, o número de professores necessário
para a rede é bem superior do que aquilo que se tem, portanto, qualquer
um saberia que, de algum modo, haveria na sala de aula o agora tachado
de “professor reprovado”.
É claro que o “reprovado”, no caso, não
é o professor, tenha ela passado ou não na prova do governo. O
reprovado aí é o governo estadual e o seu secretário de Educação. Nada
poderia ser pior do que 7 reais a hora-aula, era o que eu acreditava.
Mas José Serra e Paulo Renato conseguiram chegar a uma situação mais
degradante, que é dizer para o aluno o seguinte: “estude se quiser e
pode até ficar reprovado, pois, afinal, o professor que está aí também
é reprovado”. Não creio que a escola pública paulista irá se recuperar
depois desse golpe. Um novo governo no Estado de São Paulo terá que
começar tudo de novo. O PSDB nunca foi bem na área educacional em São
Paulo, durante essas quase duas décadas no comanda do estado, mas a
gestão Serra é realmente, de longe, a mais catastrófica.
O governo federal não fornece socorro
Diante de tal situação, poderíamos
imaginar um socorro. Talvez pudéssemos recorrer ao governo federal. Mas
também nesse plano as coisas vão de mal a pior. Os relatórios da Unesco
e outros, publicados no início deste ano, 2010, mostram que o
Presidente Lula e seu ministro da Educação, Fernando Haddad, deram um
empurrão quantitativo no ensino superior público, mas não conseguiram
fazer o mesmo quanto ao ensino básico. Claro que há um atenuante para
salvar a pele desses dois: o ensino básico, em sua maioria, está nas
mãos dos estados e todos os estados pagam muito pouco e cuidam mal de
seus professores. Todavia, as ações do MEC não têm ajudado como
poderíamos esperar. O piso salarial unificado, proposto por Haddad,
gerou um impasse: em alguns lugares, fez o salário ficar estagnado, em
outros lugares, travou prefeitos e governadores. Haddad deveria ter
feito um estudo regional e proposto não um piso, mas uma remuneração
condizente com a de outros profissionais, na base de um índice de
ganhos e possibilidades de cada região. Uma idéia simples! Mas parece
que Haddad adora pensar complicado e, como no Enem, ele sempre termina
complicando também a vida de outros.
O relatório da UNESCO que diz que o
Brasil, nos últimos anos, piorou em educação, mostra isso em termos
classificatórios. Entre 128 países o nosso figurava na posição 76 e foi
para a posição 88. Isso foi devido, principalmente, ao número reduzido
de crianças que chegam à quarta séria e também a um aumento da taxa de
repetência. Nossa educação é fraca e nossos alunos se dão mal nos
exames internacionais. Mesmos diante de uma escola que pouco solicita,
nossa taxa de repetência ultrapassa atualmente a casa dos 12%. Não à
toa temos esses resultados, pois somos ainda um país que gasta por
aluno muito pouco se comparado com outros. Em 2005 gastávamos US$ 1.257
por aluno contra US$ 5.312 por aluno dos países desenvolvidos que, por
sinal, já nem precisam de tanto. Atualmente, não mostramos grande
alteração nesses números.
A relação de amor-ódio com o professor
A verdade é que após 16 anos de nossos
dois melhores governos pó-ditadura, FHC e Lula, a área da educação
parece continuar sendo um nó, e não há quem o desate. Talvez só uma
análise meio que psicanalítica poderia explicar tudo isso.
As melhores cabeças viriam para o
magistério e tudo funcionaria a contento se o salário do professor
fosse atrativo. Mas não é, e com um tipo de atuação como a do Serra, o
desânimo é ainda maior. Por que os governantes relutam tanto em ser
generosos com os professores como são com outras áreas? Nunca vi um
operário do setor automobilístico, em uma greve, ser chamado para uma
negociação e ouvir do governo o seguinte questionamento: “você colocou
na praça um carro com defeito, e isso foi admitido pela sua própria
fábrica em comunicado oficial, sendo assim, acreditamos que isso deva
pesar para que você não tenha aumento, aliás, é até bom eu ver se não é
o caso de você nunca mais ter aumento, e isso vai depender do exame que
vou lhe aplicar no dia X”. Isso não ocorre com nenhum trabalhado como
ocorre com o professor. Há algo de perverso na relação do patrão com o
professor, seja o patrão-estado ou o patrão-empresário. Parece que com
o professor, os dirigentes governamentais (e particulares, sem dúvida!)
agem segundo uma relação de amor-ódio, como aquela que têm com seus
pais. Sim, é claro, os professores sempre representarão seus pais –
pois de fato o foram – e isso pode levantar situações edipianas. Além
do mais, a figura do professor sempre lembra, para o adulto, aquele que
o viu como criança, em uma posição infantil. Ora, não há adulto que não
se irrite quando o chamam de “infantil”. A figura do professor, para
muitos adultos que não amadureceram, sempre será aquela que lhe
parecerá dizendo “ah, você é o menino tal”. É como se o professor fosse
a testemunha de tudo que você se envergonha e que é, enfim, a sua
própria infância. Ora, assim, não há como não pensar no professor como
alguém que o patrão até pode conceder algo, mas somente se puder
exercer sobre ele algum tipo de controle, talvez vingança.
Pode ser que Haddad e Paulo Renato não
fujam dessa quase regra. Outros argumentos? Outras explicações? Não! A
essa altura do campeonato só a hora aula chegando ao mínimo de 21 reais
para todos, sem cobrança, sem “cursos de capacitação” e sem carimbo de
“reprovado”, é que vamos conseguir algum resultado positivo na educação
brasileira. Mas duvido que os que estão no poder possam se libertar
dessa relação psicológica complicada que possuem com a figura do
professor.
Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo.
Literatura comparada.....
Autores-tradutores do mundo árabe-muçulmano
Por Mônica Kalil Pires*
O contato de culturas é, antes de mais nada, o encontro de pessoas
oriundas de sociedades com valores e histórias diferentes. Para haver o
entendimento, é preciso não apenas traduzir a língua, mas também
apresentar uma cultura para a outra. Comunidade de origem e comunidade
de recepção têm identidades próprias, construídas com base na história,
na língua e na religião, entre outros aspectos. A tradução respeita
essas diferenças, mas procura pontos e de contato e aceita as perdas
inevitáveis.
Em minha tese de doutorado, investiguei como e por que autores contemporâneos, de origem libanesa mas vivendo fora de seu país de nascimento, apresentam a cultura árabe-muçulmana para o ocidente judaico-cristão. As obras escolhidas – Léon, l´africain e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Amin Maalouf e Georges Bourdoukan, respectivamente – são romances históricos que se passam entre o século XV e o XVII, quando muçulmanos e judeus estavam em paz e eram perseguidos pela Inquisição cristã. Esses romances dialogam com o tempo dos autores, ou seja, durante e imediatamente depois da Guerra Civil do Líbano, que durou de 1975 a 1990 e opôs, esquematicamente, muçulmanos contra cristãos e judeus.
Léon, l´africain se passa entre 1490 e 1530, principalmente nas cidades de Granada, Fez, Cairo e Roma. A incrível e fascinante história do Capitão Mouro transcorre entre os anos de 1693 e 1694, período que antecedeu a tomada do Quilombo de Palmares, na Capitania de Pernambuco.
Por uma série de peripécias, os protagonistas, muçulmanos, acabam vivendo entre cristãos e têm com eles posturas distintas.
Leon aprendera a odiar os cristãos, responsáveis pela expulsão dos muçulmanos de Granada; em sua vida adulta, como comerciante e diplomata, mostra-se um ser aberto, em transformação: aprende com os antigos inimigos e questiona seus próprios valores, sem necessariamente negá-los. O Capitão Mouro, por outro lado, é um guerreiro, que defende sua identidade muçulmana mesmo arriscando sua vida, e enfrenta os cristãos, apresentados em bloco, como hipócritas, brutais e ignorantes.
Bourdoukan tem um discurso idealizado e simplificado sobre a relação entre judeus e muçulmanos, afirmando que nunca aqueles foram perseguidos por estes em terras do Islã; Maalouf mostra que havia, sim, algumas perseguições aos judeus, mesmo que elas não fossem a regra.
Nestes romances, a compreensão da História não é mais a mesma que a do século XIX, por isso amplia-se a noção de fontes e são valorizadas vozes de seres tradicionalmente emudecidos nos relatos oficiais, como as mulheres e os escravos, por exemplo.
Além dos fatos históricos, os autores também exploram outras características da cultura árabe-muçulmana, especialmente o uso de histórias que ajudam a compreender um conceito (os chamados mathal). Também nos romances são apresentados costumes e rituais muçulmanos e cristãos, fazendo com que o leitor perceba as diferentes leituras do mundo possíveis.
Várias diferenças se evidenciam quando se faz a comparação das obras, e isso porque Bourdoukan e Maalouf têm projetos literários distintos. Em Léon, l´africain, Maalouf prega a tolerância e isso se revela no romance com a apresentação dos diversos ângulos da História; cria personagens complexos e que têm dúvidas. Nesse espaço criado pela dúvida, reside a possibilidade de Paz. Bourdoukan, por sua vez, defende a Justiça como forma de atingir a Paz, e, pelo excesso de críticas já presentes na mídia ocidental, evita apresentar aspectos negativos da cultura e da história árabe-muçulmana. Em A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, une os oprimidos contra os opressores; muda o conteúdo, não a estrutura da violência. O Islã vira um bloco sem problemas, à custa da exclusão de personagens e fatos que poderiam macular esta imagem.
Maalouf e Bourdoukan, cada um a seu modo, mostram como a literatura pode ampliar a visão de mundo dos leitores e propiciar intimidade com o outro, sem demonizá-lo. Para quem descobre o outro, esse pode ser o início de um relacionamento, com aceitação e interação cultural.
Este artigo é o resumo da tese de doutorado em Literatura Comparada “A tradução cultural em romances históricos: análise comparativa entre Léon, l´africain, de Amin Maalouf, e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan”, defendida na UFRGS, em 2009, com o apoio do CNPq.
Publicado originalmente no site do Instituto de Cultura Árabe -http://mail2.terra.com.br/86.1trr/reademail.php?id=27594&folder=Inbox&cache=da7bfaf6f9d8dba78990ba0bca687e74@ecmailing.ecomm.com.br
Em minha tese de doutorado, investiguei como e por que autores contemporâneos, de origem libanesa mas vivendo fora de seu país de nascimento, apresentam a cultura árabe-muçulmana para o ocidente judaico-cristão. As obras escolhidas – Léon, l´africain e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Amin Maalouf e Georges Bourdoukan, respectivamente – são romances históricos que se passam entre o século XV e o XVII, quando muçulmanos e judeus estavam em paz e eram perseguidos pela Inquisição cristã. Esses romances dialogam com o tempo dos autores, ou seja, durante e imediatamente depois da Guerra Civil do Líbano, que durou de 1975 a 1990 e opôs, esquematicamente, muçulmanos contra cristãos e judeus.
Léon, l´africain se passa entre 1490 e 1530, principalmente nas cidades de Granada, Fez, Cairo e Roma. A incrível e fascinante história do Capitão Mouro transcorre entre os anos de 1693 e 1694, período que antecedeu a tomada do Quilombo de Palmares, na Capitania de Pernambuco.
Por uma série de peripécias, os protagonistas, muçulmanos, acabam vivendo entre cristãos e têm com eles posturas distintas.
Leon aprendera a odiar os cristãos, responsáveis pela expulsão dos muçulmanos de Granada; em sua vida adulta, como comerciante e diplomata, mostra-se um ser aberto, em transformação: aprende com os antigos inimigos e questiona seus próprios valores, sem necessariamente negá-los. O Capitão Mouro, por outro lado, é um guerreiro, que defende sua identidade muçulmana mesmo arriscando sua vida, e enfrenta os cristãos, apresentados em bloco, como hipócritas, brutais e ignorantes.
Bourdoukan tem um discurso idealizado e simplificado sobre a relação entre judeus e muçulmanos, afirmando que nunca aqueles foram perseguidos por estes em terras do Islã; Maalouf mostra que havia, sim, algumas perseguições aos judeus, mesmo que elas não fossem a regra.
Nestes romances, a compreensão da História não é mais a mesma que a do século XIX, por isso amplia-se a noção de fontes e são valorizadas vozes de seres tradicionalmente emudecidos nos relatos oficiais, como as mulheres e os escravos, por exemplo.
Além dos fatos históricos, os autores também exploram outras características da cultura árabe-muçulmana, especialmente o uso de histórias que ajudam a compreender um conceito (os chamados mathal). Também nos romances são apresentados costumes e rituais muçulmanos e cristãos, fazendo com que o leitor perceba as diferentes leituras do mundo possíveis.
Várias diferenças se evidenciam quando se faz a comparação das obras, e isso porque Bourdoukan e Maalouf têm projetos literários distintos. Em Léon, l´africain, Maalouf prega a tolerância e isso se revela no romance com a apresentação dos diversos ângulos da História; cria personagens complexos e que têm dúvidas. Nesse espaço criado pela dúvida, reside a possibilidade de Paz. Bourdoukan, por sua vez, defende a Justiça como forma de atingir a Paz, e, pelo excesso de críticas já presentes na mídia ocidental, evita apresentar aspectos negativos da cultura e da história árabe-muçulmana. Em A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, une os oprimidos contra os opressores; muda o conteúdo, não a estrutura da violência. O Islã vira um bloco sem problemas, à custa da exclusão de personagens e fatos que poderiam macular esta imagem.
Maalouf e Bourdoukan, cada um a seu modo, mostram como a literatura pode ampliar a visão de mundo dos leitores e propiciar intimidade com o outro, sem demonizá-lo. Para quem descobre o outro, esse pode ser o início de um relacionamento, com aceitação e interação cultural.
Este artigo é o resumo da tese de doutorado em Literatura Comparada “A tradução cultural em romances históricos: análise comparativa entre Léon, l´africain, de Amin Maalouf, e A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan”, defendida na UFRGS, em 2009, com o apoio do CNPq.
Publicado originalmente no site do Instituto de Cultura Árabe -http://mail2.terra.com.br/86.1trr/reademail.php?id=27594&folder=Inbox&cache=da7bfaf6f9d8dba78990ba0bca687e74@ecmailing.ecomm.com.br
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Repercutindo o PNDH 3...
Afinal, o que é uma democracia sem direitos humanos?
Fatima Oliveira - O Tempo
As
polêmicas acerca do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos,
tão-somente uma diretriz de trabalho, provocam uma efervescência
neuronal em quem tem deferência pela liberdade e a vê como um valor que
perpassa todas as gerações de direitos humanos. Os "contra" se despiram
da noção de pluralismo moral e fazem de conta que os direitos humanos
não são protetores da humanitude, "apenas acobertam deliquentes sem
colarinho; camponeses em busca de um naco de chão; gays e lésbicas que
se amam, e mulheres que ousam exercer o direito de decidir" - todos
"gentinha da pior laia", sem selo humano. É desfaçatez em demasia!
A Igreja Católica, despudoradamente, insiste em querer imprimir ao
Estado brasileiro ares de teocracia católica e não contém o ranço
histórico de desrespeito à pluralidade inerente à democracia. O que
dizer de figuras que defendem o acobertamento de crimes horrendos, a
maioria de domínio público, quando é dever de ofício, são pagas para
tanto, defender a plenitude democrática? É o striptease em defesa da
inimputabilidade de agentes públicos pelos crimes cometidos na ditadura
militar de 1964 tentando acuar uma nação.
Indago ainda por que permitir, irresponsavelmente, que a imagem da
instituição e um contingente expressivo das Forças Armadas, a ala jovem
e outros tantos, na ativa e na reserva, que não praticaram crimes, têm
de herdar a pecha de criminosos? É injusto que nos calemos para que
assim seja. A Comissão da Verdade libertará os inocentes da pesada cruz
dos crimes cometidos por alguns fascistas e sociopatas de outros naipes.
Li o mais que pude os contra-argumentos veiculados. Fui tomada de
uma espécie de intolerância ética pela irracionalidade verborrágica dos
"contra" e de enorme gratidão à democracia possível em que vivemos, que
dá voz aos desatinados, escancarando entranhas e mostrando quanta
quilometragem temos de percorrer até a democracia necessária a uma vida
decente, de respeito irrestrito aos direitos humanos.
Na condição de trabalhadora que constrói as riquezas nacionais e tem
consciência de que o dinheiro público, fruto de cada tostão do suor de
quem trabalha, irriga abundantemente, direta e indiretamente, a Igreja
Católica no Brasil, assim como garante a existência e os salários das
Forças Armadas, eu me pergunto: por que alguns se acham no direito de
entravar as liberdades democráticas? A história da humanidade demonstra
que não se constrói uma democracia consistente sobre escombros de
crimes hediondos impunes e valores teocráticos. Logo, considero que o
contido no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é um passo decisivo
para um país de fato de todos nós.
Ter ou não uma religião é um direito constitucional no Brasil. As
religiões devem ser dignas dos papéis que as definem como religiões.
Quando se metem a regulamentar a vida social e política para além dos
seus fiéis e da garantia de livremente existirem, são nocivas à
democracia. O que dizer de uma religião que vive de enganar, pois usa
dupla identidade - ora se apresenta como religião, ora como Estado (o
Vaticano) - ao sabor das conveniências, que prega e pratica a misoginia
em pleno século 21; desconhece e desrespeita os direitos sexuais e os
direitos reprodutivos de seu clero e de sua segunda divisão, as
freiras, porém dá guarida a crimes clericais de natureza sexual; se
comporta como se tivesse mandato divino sobre os corpos das mulheres, e
ainda quer que as leis de um país laico sigam sua doutrina?
Que ridícula!
O PSOL e as eleições presidenciais...
Hora de decisão na esquerda socialista
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Escrito por Fernando Silva - Correio da Cidadania | |
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O ano de 2010 começou e os gargalos da crise social e dos limites da política econômica já são bem visíveis.
No terreno social, as enchentes no sudeste e sul do país e o tremendo
drama humano que as sucedem (já com mais de 200 mortos desde o início
de dezembro) evidenciam de uma só vez três gargalos sociais que não há
propaganda oficial ou oba-oba que consiga esconder: as questões da
habitação, da infra-estrutura e da saúde pública. O Maranhão já tinha
vivido o mesmo drama das enchentes no final do ano passado.
Na política econômica, o aumento do endividamento do Estado pela via da
dívida pública e a volta dos déficits nas contas externas mostram por
seu lado a vulnerabilidade da economia e a dependência do capital
financeiro. Uma elevação das taxas de juros nos EUA, uma revalorização
do dólar ou alguma nova bolha (e já existem novas ameaças no mercado)
poderiam provocar abalos hoje impensáveis na atual estabilidade.
É certo que o capital e o governo controlaram a crise, que quando
chegou ao país provocou uma mini-recessão em tempo recorde. Também é
verdade que o cenário de estabilidade interna e a popularidade do
governo Lula favorecem amplamente a que uma disputa sem projetos marque
as eleições de 2010, com tendência bastante favorável à candidata do
presidente.
Mas, pelas razões expostas acima e sem desconhecer as dificuldades para
os que pretendem apresentar uma alternativa de esquerda real às mazelas
sociais do país e sua política econômica, há condições e espaço para a
afirmação de uma autêntica frente de oposição de esquerda
anticapitalista em 2010, que parta das demandas e gargalos reais que
afligem dezenas de milhões de brasileiros, para os quais não há solução
estrutural alguma prevista no estágio atual do capitalismo e sua crise
estrutural.
Tempo perdido
Aqui está o problema. Pois embora estejamos a menos de dez meses das
eleições, esta questão não está resolvida no âmbito da esquerda
socialista. Particularmente no PSOL.
Parte dessa indefinição deveu-se à política desastrosa da maioria da
direção do partido em apostar suas fichas numa aliança com Marina Silva
e o PV.
Possibilidade que nunca existiu pelas seguintes razões:
1) Marina não rompeu com a política econômica do governo Lula. Não por
acaso filiou-se ao PV, que está na base de sustentação do governo
federal e de governos estaduais tucanos e "democratas", além de
declarar que considera positivo o modelo econômico e que Lula tenha
dado continuidade ao que FHC começou.
2) Não por acaso também, levou para o PV um grupo de capitalistas e
articula um deles como vice, mostrando para onde estava direcionada sua
política de ampliação.
3) E vamos combinar que não há discurso ético que sobreviva à
convivência na mesma sigla com membros da família Sarney (um dos
mandatários da legenda verde).
No entanto, precisou Fernando Gabeira surgir no cenário, com aval de
Marina, anunciando a política de coligação com PSDB/DEMO na sua
candidatura ao governo do Rio, para que o grosso das forças dirigentes
do PSOL praticamente descartasse as negociações com o PV.
Mas não existe vácuo em política e o tempo perdido pode custar caro à
manutenção e ampliação de um espaço que por obrigação caberia ao PSOL
aglutinar em torno de uma alternativa de verdade à polarização
Dilma-Serra. Assim como, a essa altura do campeonato, aglutinar nossas
forças para reeleger nossos combativos parlamentares e lutar por uma
necessária ampliação das bancadas federal e estaduais, francamente
ameaçadas.
Por exemplo, até aqui a conseqüência mais preocupante desta indefinição
política foi o programa de rádio e TV do partido no último dia 7 de
janeiro, que pecou pela completa ausência de política eleitoral, e
ainda por cima pela injustificável ausência do então único
pré-candidato próprio do partido à presidência, Plínio Arruda Sampaio.
Uma das principais personalidades da esquerda brasileira e uma das
principais figuras públicas do próprio partido ter ficado fora do
programa foi uma expressão (nada delicada) das inúteis e equivocadas
ilusões que estavam sendo depositadas na hipótese Marina Silva.
Candidatura e campanha pra valer
Mas, ainda que correndo atrás de um prejuízo, há tempo e forças para o
partido e a esquerda socialista retomarem a iniciativa e buscarem
construir uma firme intervenção no processo eleitoral, apresentando o
PSOL como uma verdadeira alternativa de esquerda - para além das
eleições inclusive.
Da nossa parte, como é público, não temos dúvidas de que está no nome
de Plínio a melhor possibilidade de apresentar com seriedade
inquestionável uma política de oposição de esquerda pra valer ao jogo
de cartas marcadas que se anuncia nessas eleições.
É inegável sua capacidade de aglutinação de uma frente de esquerda e de
sua ampliação, como o recente apoio de Dom Cappio evidencia. A
incorporação à defesa da pré-candidatura por companheiros de expressão
em nosso partido, como o deputado estadual Marcelo Freixo e o vereador
Renatinho (de Niterói), também demonstram que esta é uma candidatura de
partido, de unificação e fortalecimento do PSOL.
Além da questão do nome, é urgente o partido definir sem mais
adiamentos as bases de uma plataforma programática, tática e objetivos
de campanha.
A plataforma deve ter como referência os pontos programáticos aprovados
pelo Diretório Nacional de dezembro, que permitem construir um programa
de campanha anticapitalista, que parta das demandas reais e bandeiras
históricas não resolvidas pelo Capital e seus governos.
Estamos diante do desafio de realizar uma campanha que alavanque a
inserção social do partido e contribua para a necessária manutenção e
ampliação de uma bancada parlamentar socialista e combativa que no
Congresso Nacional e nas assembléias legislativas sejam as porta-vozes
das demandas, reivindicações e lutas populares.
Isso significa em termos muito práticos acabar com a enrolação no
partido, realizar um democrático debate que permita definirmos essas
questões em março, como previsto, sem qualquer adiamento. O que seria
inaceitável, pois qualquer postergação agora é condenar o PSOL a ter
uma candidatura sem expressão e tempo hábil de entrar na disputa, uma
verdadeira candidatura "laranja" na prática. E de quebra contribuindo
para sacramentar um cenário de fragmentação da frente de esquerda.
O PSOL tem, portanto, a responsabilidade de apresentar uma candidatura
com densidade e história para unir a esquerda em um projeto socialista
para o Brasil.
Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.
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Poesia para reflexão...
Perguntas de um Operário Letrado
Bertold Brecht
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Educação em Portugal caminha a passos lentos...
Educação: continuamos atrasados |
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do portal EsquerdaNet |
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Segundo a publicação do INE "50 Anos de Estatísticas da Educação", a generalização do acesso à escola foi o factor mais relevante nos últimos 50 anos. No entanto, o atraso na Educação face aos países desenvolvidos permanece igual.
O Instituto Nacional de Estatística
(INE) publicou esta quarta-feira "50 Anos de Estatísticas da
Educação", em conjunto com o Gabinete de Estatística e
Planeamento da Educação (GEPE). Segundo a publicação estavam
matriculados em 1960/61 no sistema de ensino 1 086 115 alunos, mas em
2007/08 já eram mais de 1,8 milhões.
No entanto, segundo os especialistas
consultados pelo jornal I, os dados do INE revelam que Portugal deu
um salto gigante mas não suficiente para contrariar o atraso face
aos países desenvolvidos que permanece igual. Mantemos a mesma distância
de há 50 anos atrás, uma altura que remete para o tempo da
ditadura.
O crescimento exponencial do número de
alunos nas escolas regista-se sobretudo ao nível do ensino
secundário e da educação pré-escolar, que registam durante aquele
período mais 336 361 e 259 630 estudantes, respectivamente. Assim, o
número de crianças no pré-escolar cresceu 40 vezes, a taxa de
escolaridade no ensino secundário escalou de 1,3% para 60% e o
acesso das raparigas ao ensino subiu 15%.
Os dados mostram que o país avançou
muito entre 1960 e 2008 mas segundo a opinião do sociólogo do
Instituto de Ciências Sociais, Manuel Villaverde Cabral, "Fartámos
de correr, mas não conseguimos ainda apanhar o pelotão da frente".
O professor universitário Santana
Castilho comenta do mesmo modo estes dados: "Houve uma
massificação do acesso ao ensino, mas a qualidade não acompanhou
essa evolução". A única conclusão a retirar da publicação
do INE é que, há 50 anos, a Educação em Portugal apresentava
características típicas de um país atrasado e ignorante e que
apenas tem vindo a correr atrás do comboio do desenvolvimento, não
conseguindo mais do que isso.
"O que me salta aos olhos é que o
sistema educativo antes do 25 de Abril era realmente mau, porque 99%
da população estava excluída da escola", disse desanimado o
presidente da Associação de Professores de Português, Paulo Feytor
Pinto perante os dados agora publicados.
O ensino secundário é um dos exemplo
mais flagrantes do atraso português. De acordo com o INE, só 60%
dos portugueses completaram o ensino secundário e essa é a
percentagem de norte-americanos com habilitações superiores.
"Os países escandinavos, por
exemplo, conseguiram recuperar o atraso face aos EUA e, na década de
60, 100% da população já estava escolarizada ao nível do
secundário", conta Manuel Villaverde Cabral, o sociólogo e
autor do estudo "Sucesso e Insucesso - Escola, Economia e
Sociedade". Além disso, acrescenta ainda que "Nos Estados
Unidos, a taxa de escolaridade até ao 12º ano era de 100% ainda
antes da Segunda Guerra Mundial”, embora em Portugal “o ensino
obrigatório até aos 18 anos só acontecerá a partir de 2013."
Todos os países desenvolvidos como
França, Alemanha ou Espanha conseguiram taxas plenas de sucesso no
ensino secundário em Portugal, 30 a 40% da população não consegue
ir além do 9º ano. O sistema exclui sobretudo os que mais precisam,
diz o sociólogo: "O insucesso escolar acontece principalmente
no interior do País e nas periferias de Lisboa e Porto."
Duplicar ou até triplicar o investimento na educação poderá ser
uma solução para apanhar o comboio da modernidade, propõe
Villaverde Cabral que está convencido de que o atraso no sistema
educacional "muito se deve" às elites governamentais que
tomaram opções erradas e contribuíram para um modelo de ensino
"ineficiente e dispendioso".
Paulo Feytor Pinto aponta o nível que
considera apresentar maiores lacunas que diz continuar a ser o
pré-escolar, com uma escolarização de 77,7% e critica ainda o
facto de, mais uma vez , as estatísticas não distinguirem o
abandono escolar de retenções. "A retenção é
administrativa, o importante seria perceber que alunos saem da escola
antes do tempo. Não conseguimos perceber se há uma melhoria ou não
- faz-se o diagnóstico, mas não se traça a evolução."
A diferença verificada entre a taxa de
escolarização aos 15 anos (99,7% em 2006/07) e a taxa de
escolarização para o secundário (60% no mesmo ano lectivo)
representa outra preocupação.
O professor universitário Santana
Castilho admite que "o esforço do país na escolarização é
notável, sobretudo nos últimos 30 anos", considerando, porém,
que os números não podem ser lidos como um retrato fidedigno da
educação em Portugal pois apenas transmitem "a quantidade,
nunca a qualidade". As políticas de educação feitas para as
estatísticas e o decréscimo da exigência do ensino para combater o
abandono escolar são as suas críticas principais.
Os números não bastam e é por isso
que Santana Castilho chama a atenção para o facto de no mandato de
Maria de Lurdes Rodrigues, 20 mil alunos se terem matriculado no
ensino profissional, comentando que “O preço de termos menos
jovens a abandonarem a escola é que até se criaram cursos de
treinador de futebol que dão equivalência ao 12º ano."
Somando número de alunos e número de
docentes nas escolas portuguesas no ano lectivo 2006/2007, a
publicação do INE mostra que existe hoje uma média de 9,75 alunos
por cada professor. Um número que é considerado pelos
investigadores como completamente desvirtuado pois bastará visitar
algumas escolas para se ficar a saber que uma turma tem quase sempre
muito mais de dez alunos.
“É preciso ter em conta que os
professores do ensino especial ou a desempenhar tarefas
administrativas também entram nesse cômputo, e que duas mil escolas
- onde a relação professor/aluno era muito baixa - já fecharam",
avisa Santa Castilho.
Na Alemanha ou França, as taxas no
secundário são de 100% mas em Portugal, 30% da população não
acaba o 9
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Do portal Vermelho
Folha repete argumentos do DEM em manipulação contra centrais
A Folha de S.Paulo deixou mais evidente nesta quarta-feira (21) o que a levou a iniciar uma ofensiva contra o movimento sindical brasileiro. Ao utilizar, em seu editorial, parte dos argumentos que levaram o Democratas a entrar na Justiça contra as centrais sindicais, o jornal mostra que o apartidarismo tão destacado em seu Manual de Redação não passa de joguete publicitário.
O ataque às centrais é apenas mais uma das evidências de que o rabo preso da Folha não
é com seu leitor, mas, sim, com as forças conservadoras do país — as
mesmas que se referem ao regime militar como “ditabranda”, que têm
ojeriza a um novo projeto popular para o Brasil e tampouco aceitam que
o trabalhador brasileiro se organize, consiga se mobilizar e possa
atuar de modo ativo na vida política brasileira.
“A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo”, clama o editorial da Folha. Além de repetir um dos argumentos infundados que levaram o DEM à Justiça contra as centrais sindicais, o jornal escorrega mais três vezes, já que (1) o repasse às centrais vem dos salários dos trabalhadores, e não do governo; (2) a CTB, por exemplo, se mantém a partir das mensalidades de seus filiados; (3) ao contrário do que apregoa o texto, esses repasses não desvirtuam o sindicalismo — na verdade, somente o fortalece e faz com que o protagonismo da classe trabalhadora seja cada vez mais elevado.
A tese descabida
A Folha vem tentando induzir seus leitores a acreditar
que o governo está agindo à margem da lei para beneficiar algumas
centrais sindicais. De acordo com a tese, o ministério teria revogado,
através de portaria, norma que estabelece que cada central precisa
contar com um mínimo de 7% dos sindicalizados no país em suas bases
para ser reconhecida.
O que a Folha prefere ignorar é que representantes do
Ministério do Trabalho já rebateram a afirmação do jornal, esclarecendo
que o critério de representatividade de 7% passará a ser cobrado a
partir de dezembro de 2010, conforme estaria previsto na lei.
Mais grave ainda: em seu editorial, a Folha — também
conhecida como FSP, ou Força Serra Presidente — admite ter usado dados
desatualizados como base para sua ofensiva. O texto fala em “manobra”
em prol das centrais, mas a manipulação real tem como autor o próprio
jornal, que insiste em informações ultrapassadas do Ministério do
Trabalho para tentar atingir o governo federal e os trabalhadores.
Ofensiva deve aumentar
Fica evidente que o ataque do pasquim dos Frias, um dos principais
expoentes do chamado PIG (Partido da Imprensa Golpista), tem como pano
de fundo enfraquecer os movimentos sociais e o projeto do presidente
Lula de eleger alguém da base de seu governo como sucessor, além de
minar iniciativas progressistas como o 3º Programa Nacional de Direitos
Humanos.
Cabe, portanto, à sociedade civil permanecer alerta em relação a esse e
a outros ataques que partirão da mídia hegemônica ao longo de 2010, de
modo que cada ofensiva dessa natureza receba a devida resposta, dentro
das regras democráticas e sempre em busca de que a verdade prevaleça
contra quaisquer manipulações.
Leia abaixo o editorial da Folha
Lula e as centrais
Uma medida tramada na surdina pelo governo Lula deve garantir, ao menos
ao longo do ano eleitoral de 2010, o direito de centrais sindicais
nanicas à participação na divisão do bolo do imposto sindical.
Uma portaria do Ministério do Trabalho, de 2008, exigia, a partir deste ano, que uma central representasse ao menos 7% dos trabalhadores sindicalizados no país para ter direito aos recursos repassados pelo governo. Posta em prática, significaria o fim da benesse para três das seis centrais hoje reconhecidas.
Uma portaria do Ministério do Trabalho, de 2008, exigia, a partir deste ano, que uma central representasse ao menos 7% dos trabalhadores sindicalizados no país para ter direito aos recursos repassados pelo governo. Posta em prática, significaria o fim da benesse para três das seis centrais hoje reconhecidas.
Ao mesmo tempo, a lei que legalizou as centrais sindicais, também de
2008, previa um piso de representatividade menor, de 5%, até dois anos
depois de sancionada, quando passaria a valer a exigência dos 7%. O
prazo vence em março.
A manobra do governo consiste em revogar o trecho da portaria que estipulava o limite maior já em 2010 e, simultaneamente, interpretar que o novo piso só passa a valer em 2011, já que o prazo de 24 meses da lei cai "no meio de um exercício".
A manobra do governo consiste em revogar o trecho da portaria que estipulava o limite maior já em 2010 e, simultaneamente, interpretar que o novo piso só passa a valer em 2011, já que o prazo de 24 meses da lei cai "no meio de um exercício".
Enquanto isso, as centrais nanicas correm para incorporar novos
sindicatos às suas siglas. É compreensível o esforço. Não há dados
consolidados para 2009, mas, entre janeiro e julho, as entidades
embolsaram R$ 74 milhões do imposto sindical.
A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo. Em vez de instrumento legítimo para negociações trabalhistas, a máquina sindical passa a servir aos interesses dos dirigentes que nela se encastelam.
A dependência de recursos públicos desvirtua o sindicalismo. Em vez de instrumento legítimo para negociações trabalhistas, a máquina sindical passa a servir aos interesses dos dirigentes que nela se encastelam.
Opera nesse campo um dos traços arcaicos da gestão Lula, que busca
atrelar ao Estado, com repasses de verba e outros privilégios, vários
grupos de interesse. Tal método tem custado caro ao país, tanto por
pesar sobre o Orçamento quanto por desvirtuar os objetivos, e por
comprometer a independência, de associações típicas da sociedade civil,
como as centrais sindicais.
Fonte: Portal CTB
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