Gilvan Rocha no Correio da Cidadania | |
Sucedem-se a cada dia, a cada hora, a cada minuto, os testemunhos mais
eloqüentes do caráter fascista do fundamentalismo islâmico. País como o
Irã, onde se estabeleceu uma teocracia fundamentalista, pratica odientos
crimes, levando a prisões, torturas e à forca seus dissidentes;
praticando barbaridades como a sentença de apedrejamento a uma jovem
acusada de adultério; perseguindo e assassinando pessoas pelo pretenso
crime de práticas homossexuais. Suprimindo, assim, toda e qualquer forma
de liberdade.
Não bastasse a república teocrática do Irã revelar o seu fascismo, temos
o Talibã praticando barbaridades, como a amputação do nariz e das
orelhas de uma jovem para puni-la por algum comportamento revelador de
inconformismo. Mais recentemente, uma força militar do Talibã executou
uma dezena de cidadãos americanos que participava de uma missão pacífica
de socorro aos enfermos, sob o argumento de que eles portavam bíblias
em uma língua paquistanesa e que isso revelava propósitos doutrinadores
conflitantes com os credos islâmicos. A Síria é outro país que, sob a
égide do fundamentalismo islâmico, pratica o mais cruel totalitarismo.
Diante desse cenário, não se ouve com freqüência nenhum protesto de
nossa esquerda convencional. Ela não se escandaliza com tais
barbaridades, isso porque os fundamentalistas, por razões profundamente
obscuras, são possuídos de um grau intenso de raivosidade em relação aos
norte-americanos. E a esquerda convencional, no seu obtuso
anti-americanismo, vê com simpatia tudo que se opõe ao "império do
norte", mesmo que tal oposição represente o que de mais bárbaro se pode
ter neste momento histórico.
Uma esquerda de verdade será, por definição, anti-capitalista. Porém, a
esquerda convencional há muito se demitiu da luta anticapitalista para
assumir posições estritamente social-patriotas, tendo como alvo maior o
imperialismo norte-americano, e passando ao largo do imperialismo na sua
feição inglesa, francesa, japonesa, alemã, belga ou canadense. O que é
uma completa distorção.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
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Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Islamismo fascista
O Irã que eu conheci...
Sonia Bonzi
NovaE participa das coberturas compartilhadas do Forum Social Mundial
O IRÃ QUE EU CONHECI ( Sonia Bonzi )
Depois de ter morado no Irã, minha maneira de ver o
mundo mudou bastante. Não acredito em mais nada do que diz a grande
mídia.
Quando soube que ia morar em Teerã senti um certo
medo, mas aceitei o desafio. Comecei uma busca voraz por informações
sobre o país, a cidade, a história, o povo. Depois de tudo que li,
decidi que viveria em casa, reclusa, lendo, escrevendo, fazendo crochet,
inventando moda...
Parti de Londres pronta para o sacrifício. Teria
que conviver com os xiitas radicais, terroristas cruéis, apedrejadores
de mulheres, exterminadores de homossexuais, homens-bomba, mulheres
oprimidas, cobertas com véus...
Eu estava submetida às leis locais e me seria
vedado mostrar cabelos, pernas e braços. Ficar em casa era o que mais me
atraia. Vestir um chador para sair me parecia um pouco demais. A
caminho de Teerã eu depositava o sucesso da minha estadia nos jardins da
casa onde fui morar. Ter aquele espaço me bastaria.
Logo ao sair do aeroporto comecei a ter uma imagem
diferente de tudo aquilo que eu tinha lido. Tudo tão bonito, belas
estradas, muita luz, viadutos com mosaicos, jardins bem cuidados, gente
vendendo flores nos sinais, um engarrafamento sem buzinas, pedestres
poderosos cruzando entre os carros, rapaziada de cabelo espetado,
mocinhos com camisetas apertadinhas, moças lindas, super produzidas e
também muitas mulheres de chador. Parques cheios de gente. Muita
criança. Muito pic nic.
Dizem que a primeira impressão é a que vale. Gostei
da chegada. Não tive medo. Não vi tanques, cadafalsos, escoltas
armadas... Gostei das caras, das montanhas, das casas, das árvores, dos
muros, do alfabeto que me tornava analfabeta.
Logo no segundo dia eu já tinha entendido que minha
leitura sobre o cotidiano não tinha nada de realidade. Eu não precisava
usar chador. Podia sair vestida com uma calça comprida, um camisão de
mangas compridas e um lenço na cabeça. Senti-me nos anos 70, quando eu
não dispensava um lencinho.
Deixei o jardim de casa e fui conhecer Teerã.
A imprensa e os meios de comunicação do ocidente me
deixavam confusa. O que eu lia e ouvia não correspondi ao que eu vivia e
via.
Encontro um povo é acolhedor, educado, culto,
simpático, que gosta de fazer amigos, que abre as portas de casa para os
estrangeiros, gosta de música, de dança, de declamar poesia... Não
encontrei os problemas de abastecimento que me informaram haveria.
Comprava-se de tudo, inclusive uísque e vodka. Bastava um telefonema.
Os temíveis homens-bomba nunca passaram por lá.
Ninguém se explodia. Foi horrível constatar que enforcamentos aconteciam
de vez em quando. Apedrejamento de mulher adúltera já não acontecia há
14 anos.
Fiquei amiga de muitos gays, fiz e fui a festas
espetaculares, tomei vinho feito em casa, viajei sem escoltas pelo país,
visitei amigos em suas casas de campo, de praia, de montanha...
Apaixonei-me pela culinária refinadíssima, morro de
saudades das nozes, pistaches, castanhas, avelãs, frutas secas. Não me
esqueço dos pães, do iogurte, do suco de romã puro ou com vodka...
Conheci a Pérsia profunda: lagos salgados, desertos
salgados, as antigas capitais, segui a "rota da seda", dormi em
caravanas reais... Sempre assessorada por amigos locais.
Não conheci um iraniano, de nenhuma classe social,
que fosse favorável ao regime teocrático instalado no país. Só uma coisa
aproxima o povo do governo: o direito à tecnologia nuclear.
A pressão do ocidente fortalece e radicaliza os
aiatolás. O povo do Irã não aceita esta interferência mundial. Quem são
os ocidentais para dizer a eles o que fazer? Eles não vêem o ocidente
como um modelo a ser seguido. Eles não acreditam nos governos que já
apoiaram Sadam Hussein numa guerra contra eles. Eles não tem razão para
acreditar nas grandes potências. Isto incomoda. Melhor demonizá-los.
Eles são acusados de não cumprirem acordos. Quem os acusa também não
cumpre.
O domínio da tecnologia nuclear é considerado pelo
povo do Irã como um direito deles, que sempre tiveram grandes
cientistas, que sempre valorizaram o conhecimento, a medicina de ponta,
que querem vender energia nuclear..
O povo iraniano não começa uma guerra há mais de
200 anos. Eles não são belicosos. São diferentes de seus vizinhos. A
instabilidade no Oriente Médio não é causada pelo Irã. Apesar da força
que a imprensa, os governos, as corporações fazem para denegrir a imagem
do Irã, eu confesso que o Irã que eu conheci não é o que é descrito
pela mídia ocidental.
Não há favelas em Teerã, não há miseráveis pelas
ruas. Minorias tem seus representantes no Congresso, judeus tem seus
negócios, suas sinagogas, zoroastrianos tem acesa a chama em seus
templos. A família é uma instituição valorizada. Refugiados palestinos e
iraquianos são mantidos pelo governo e pelo povo iraniano, que lhes
oferece abrigo, alimento e escolas...
Não acredito que ameaças e o uso da força possam
melhorar a situação na região. Os iranianos não são os iraquianos. Ser
mártir para defender a religião ou a pátria é motivo de júbilo até para
as mães.
A negociação, o respeito, a falta de arrogância, as
informações corretas são as armas para defender a estabilidade no
mundo. Pena que muitos interesses financeiros estejam acima dos sonhos
de bem-estar e paz.
Ver em linha : NovaE
P.S
Sonia Bonzi é escritora. O artigo acima foi publicado originalmente no site da NovaE.NovaE participa das coberturas compartilhadas do Forum Social Mundial
Preparar a III Guerra Mundial: Objectivo Irã
Michel Chossudovsky* no DiarioInfo
Neste
artigo Michel Chossudovsky alerta para o perigo de um ataque iminente
ao Irão pelos EUA e pelo estado neofascista de Israel. A concentração de
poderosas forças aeronavais no Golfo seria o prólogo de bombardeamentos
devastadores de objectivos estratégicos, de acordo com planos há muito
elaborados.
Especialistas do Pentágono têm afirmado, porém, que a utilização de
armas convencionais no bombardeamento das instalações nucleares
subterrâneas de Natanz seria ineficaz pelo que sugerem o recurso a armas
atómicas tácticas.
Os próprios dirigentes iranianos duvidam que Obama assuma a
responsabilidade de repetir Hiroshima, desencadeando uma tragédia que
provocaria a condenação dos EUA pela Humanidade.
A
humanidade está numa encruzilhada perigosa. Os preparativos de guerra
para atacar o Irão estão em «avançado estado de preparação». Sistemas de
alta tecnologia, incluindo armas nucleares, estão totalmente
preparados.
Esta aventura militar tem estado na mesa de planeamento do Pentágono
desde meados da década 1990. Primeiro o Iraque, depois o Irão, de
acordo com documentos desclassificados de 1995 do Comando Central dos
EUA.
A escalada faz parte da agenda militar. Além do Irão – é o próximo
objectivo juntamente com a Síria e o Líbano – este desenvolvimento
estratégico militar também ameaça a Coreia do Norte, a China e a Rússia.
Desde 2005, os EUA e os seus aliados, incluindo os interlocutores
dos Estados Unidos na NATO e Israel, estão envolvidos num amplo
desenvolvimento e armazenamento dos sistemas de armas avançadas.
Os sistemas de defesa aérea dos EUA, dos países membros da NATO e Israel estão totalmente integrados.
É um trabalho coordenado pelo Pentágono, a NATO e a Força de Defesa
de Israel (FID), com a activa colaboração de vários países da NATO e
outros não integrados nesta estrutura, incluindo os Estados árabes (os
membros da NATO do Diálogo do Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação
de Istambul), Arábia Saudita, Japão, Coreia do Sul, Índia, Indonésia,
Singapura e Austrália, entre outros. Fazem parte da NATO 28 Estados;
outros 21 países são membros do Conselho da Aliança Euro-Atlântica
(EAPC); o Diálogo Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul é
formada por 10 países árabes e Israel.
O papel do Egipto, dos Estados do Golfo e da Arábia Saudita dentro
da aliança militar ampliada é de particular relevância: o Egipto
controla o trânsito dos navios de guerra e petroleiros no Canal do Suez;
a Arábia Saudita e os Estados do Golfo ocupam a costa ocidental sul do
Golfo Pérsico, o Estreito de Ormuz e o Golfo de Oman.
No princípio de Junho, «o Egipto informou que permitiu a passagem
pelo canal do Suez de onze barcos dos EUA e de Israel, num aparentemente
aviso… ao Irão. Em 12 de Junho, alguns meios de comunicação regionais
informaram que os sauditas tinham dado autorização a Israel para
sobrevoar o seu espaço aéreo» (Mirak Weissbach Muriel, Israel’s Insane
War on Iran Must Be Prevented, Global Research, 31 de Julho de 2010). Na
doutrina militar nascida do 11 de Setembro, o desenvolvimento massivo
de armamento militar definiu-se como parte integrante da chamada «Guerra
Global contra o Terrorismo», dirigido contra organizações terroristas
«não estatais» como a Al-Qaeda e os chamados «Estados patrocinadores do
terrorismo, como o Irão, a Síria, o Libano e o Sudão.
A criação de novas bases militares dos EUA e o armazenamento dos
sistemas de armas avançadas, incluindo as armas nucleares tácticas, etc.
fazem parte da preventiva «doutrina militar defensiva» sob o
guarda-chuva da «Guerra Global contra o Terrorismo».
GUERRA E CRISE ECONÓMICA
As consequências de um ataque de um ataque intenso dos Estados Unidos, da NATO e Israel contra o Irão são de longo alcance.
A guerra e a crise económica estão intimamente relacionadas, A
economia de guerra é financiada por Wall Street, que surge como credor
da administração dos EUA.
Os produtores de armas são os destinatários de milhares de milhões
de dólares do Departamento de Defesa dos EUA, como forma de pagamento
dos contratos de aquisição de sistemas de armas avançadas.
Por sua vez, «a batalha do petróleo» no Médio Oriente serve
directamente os interesses das petrolíferas gigantes
anglo-estadunidenses. Os EUA e os seus aliados estão «a tocar os
tambores da guerra» num momento de uma depressão económica mundial, para
não falar da catástrofe ambiental, mais grave da história mundial. Numa
amarga jogada, um dos grandes jogadores (BP) do tabuleiro de xadrez
geopolítico da Ásia Central no Médio Oriente, a antigamente conhecida
como Anglo-Persian Oil, foi a instigadora da catástrofe ecológica no
Golfo do México.
MEIOS DE DESINFORMAÇÃO
A opinião pública, influenciada pelo bombardeamento dos meios de
comunicação social, apoia tacitamente, indiferente ou ignorando os
possíveis impactes do que se mantém como um ad hoc «punitivo», uma
operação dirigida contra as instalações nucleares do Irão em vez de uma
guerra total.
Os preparativos para a guerra incluem o desenvolvimento do fabrico de armas nucleares nos EUA e Israel.
Neste contexto, as consequências devastadoras de uma guerra nuclear trivializam-se ou, pura e simplesmente não se mencionam.
A crise «real» que ameaça a humanidade é o «aquecimento global» segundo os media e o Governo, não a guerra.
A guerra contra o Irão apresenta-se à opinião pública como um tema
entre vários outros. Não se apresenta como uma ameaça à «Mãe Terra»,
como o caso do aquecimento global. Não é notícia de primeira página. O
facto de um ataque contra o Irão poder levar a uma potencial escalada e
desencadear uma «guerra global» não é motivo de preocupação.
CULTO DA MORTE E DA DESTRUIÇÃO
CULTO DA MORTE E DA DESTRUIÇÃO
A máquina global de matar também é sustentada pelo culto da morte e
da destruição que inunda os filmes de Hollywood, para não referir as
guerras em prime time e as séries de televisão sobre delinquência.
Este culto da matança é apoiado pela CIA e pelo Pentágono, que
também apoiou (financiou) produções de Hollywood como instrumentos de
propaganda da guerra.
O ex-agente da CIA Bob baer disse: «Há uma simbiose entre a CIA e
Hollywood» e revelou que o ex-director da CIA George Tenet, se encontra
actualmente em Hollywood, a falar com os estúdios. (Mathew Alford and
Robbie Graham, Lights, Camera… Covert Action: The Deep Politics of
Hollywood, Global Research, 31 de Janeiro de 2009). A máquina de matar
desenvolve-se a nível global no quadro da estrutura de comando de
combate unificado. E, habitualmente, mantém-se nas instituições do
governo, media corporativos e mandarins e intelectuais às ordens da Nova
Ordem Mundial, desde os think thanks de Washington e os institutos de
investigação de estudos estratégicos, como instrumentos indiscutível da
paz e da prosperidade mundiais. A cultura da morte e da violência
gravou-se na consciência humana.
A guerra é largamente aceite como parte de um processo social: a Pátria tem que ser «defendida» e protegida.
A «violência legitimada» e as execuções extrajudiciais contra os
«terroristas» mantêm-se nas democracias ocidentais, como instrumentos
necessários de segurança nacional.
Uma «guerra humanitária» é sustentada pela chamada comunidade
internacional. Não é condenada como um acto criminoso. Os seus
principais arquitectos são recompensados pelas suas contribuições para a
paz mundial. Quanto ao Irão, o que se está a desenvolver é a
legitimação directa da guerra em nome de uma ilusória teoria de
segurança mundial.
UM ATAQUE AÉREO «PREVENTIVO» CONTRA O IRÃO
LEVARIA A UMA ESCALADA
UM ATAQUE AÉREO «PREVENTIVO» CONTRA O IRÃO
LEVARIA A UMA ESCALADA
Na actualidade há três teatros de guerra separados no Médio Oriente-Ásia Central: Iraque, Afeganistão/Paquistão e Palestina.
Se o Irão for objecto de um ataque aéreo «preventivo» pelas forças
aliadas, toda a região, do Mediterrâneo Oriental à fronteira ocidental
da China com o Afeganistão e Paquistão, poderia rebentar o que
potencialmente conduz a um cenário da Terceira Guerra Mundial.
A guerra também se estenderia ao Líbano e à Síria. É muito pouco
provável que os ataques, se tivessem lugar, ficassem circunscritos às
instalações nucleares do Irão, como afirmam as declarações oficiais dos
EUA e da NATO. O mais provável é um ataque aéreo, tanto a
infra-estruturas militares como civis, sistemas de transporte, fábricas e
edifícios públicos.
O Irão, com uma estimativa de dez por cento do petróleo mundial,
ocupa o terceiro lugar mundial das reservas de gás, depois da Arábia
Saudita (25%) e Iraque (11%) do total mundial das reservas. Em
contrapartida, os EUA têm menos de 2,8% das reservas mundiais de
petróleo (Ver Eric Waddel, The Battle for Oil, Global Research, Dezembro
de 2004).
É de importância vital a recente descoberta no Irão, em Soumar e
Halgan, das segundas maiores reservas mundiais conhecidas que se estimam
em 12,4 biliões de pés cúbicos. Atacar o Irão não só consiste em
recuperar o controlo anglo-estadunidense, mas também questiona a
presença e influência da China e da Rússia na região.
O ataque planificado contra o Irão faz parte de um mapa global
coordenado de orientação militar. Faz parte da «longa guerra do
Pentágono» uma lucrativa guerra sem fronteiras, um projecto de dominação
mundial, uma sequência de operações militares.
Os planificadores militares dos EUA e da NATO previram diversos
cenários de escalada militar. Estão perfeitamente conscientes das
implicações geopolíticas, a saber, que a guerra poderá estender-se para
além da região do Médio Oriente à Ásia Central. Os efeitos económicos
sobre os mercados de petróleo, etc. também foram analisados. Enquanto o
Irão, a Síria e o Líbano são os objectivos imediatos, a China, a Rússia,
a Coreia do Norte, para não falar da Venezuela e Cuba, são também
objecto de ameaças dos EUA.
Está em jogo a estrutura das alianças militares. Os desenvolvimentos
militares da NATO-EUA-Israel, incluindo as manobras militares e
exercícios realizados na Rússia e nas suas fronteiras imediatas com a
China têm uma relação directa com a guerra proposta contra o Irão.
Estas ameaças veladas, incluindo o seu calendário, constituem um
aviso claro aos antigos poderes da era da Guerra Fria, paar evitar que
possam interferir num ataque dos EUA contra o Irão.
GUERRA MUNDIAL
O objectivo estratégico a médio prazo é chegar ao Irão e neutralizar os seus aliados, através da diplomacia da canhonheira. O objectivo militara longo prazo é dirigido directamente à China e à Rússia.
GUERRA MUNDIAL
O objectivo estratégico a médio prazo é chegar ao Irão e neutralizar os seus aliados, através da diplomacia da canhonheira. O objectivo militara longo prazo é dirigido directamente à China e à Rússia.
Ainda que o Irão seja o objectivo imediato, o desenvolvimento
militar não se limita ao Médio Oriente e Ásia Central. Foi formulada uma
agenda militar global.
O desenvolvimento das tropas da coligação e os sistemas de armas
avançadas dos EUA, da NATO e dos seus parceiros estão a produzir-se em
todas as principais regiões do mundo.
As recentes acções dos militares dos EUA em frente das costas da
Coreia do Norte sob a forma de manobras, são parte do plano global.
Os exercícios militares, os simulacros de guerra, o desenvolvimento
de armas, etc., dos EUA, da NATO e dos seus aliados que estão a ser
levados a cabo simultaneamente nos principais pontos geopolíticos, são
dirigidos principalmente contra a Rússia e a China,
• A península da Coreia do Norte, o Mar do Japão, o Estreito de Taiwan, o Mar Meridional da China, ameaçam a China.
• O desenvolvimento de mísseis Patriot na Polónia, o centro de alerta rápido na República Checa, ameaçam a Rússia.
• Movimentações navais na Bulgária e Roménia no Mar Negro, ameaçam a Rússia.
• Movimentações de tropas da NATO e dos EUA na Geórgia.
• Um intenso movimento naval no Golfo Pérsico, incluindo submarinos israelitas dirigidos contra o Irão.
• O desenvolvimento de mísseis Patriot na Polónia, o centro de alerta rápido na República Checa, ameaçam a Rússia.
• Movimentações navais na Bulgária e Roménia no Mar Negro, ameaçam a Rússia.
• Movimentações de tropas da NATO e dos EUA na Geórgia.
• Um intenso movimento naval no Golfo Pérsico, incluindo submarinos israelitas dirigidos contra o Irão.
Ao mesmo tempo, o Mediterrâneo Oriental, o Mar Negro, o Caribe, a
América Central e a região Andina na América do Sul, são zonas de
militarização em curso. Na América Latina e no Caribe as ameaças
dirigem-se contra a Venezuela e Cuba.
“AJUDA MILITAR” DOS EUA
Por sua vez, transferências de armas em grande escala tiveram lugar
sob a bandeira dos EUA como “ajuda militar” a países seleccionados,
incluindo 5 mil milhões de dólares num acordo de armamento com a Índia
que se destina a melhorar as capacidades da Índia perante a China (Huge
U.S.-Índia Arms Deal To Contain China, Global Times, 13 de Julho de
2110).
“[A venda de armas] significará melhorar as relações entre
Washington e Nova Deli e, de forma deliberada ou não, terá o efeito de
conter a influência da China na região”. (Citado em Rick Rozoff,
Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China
In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010).
Os EUA conseguiram acordos de cooperação com alguns países do sul da
Ásia Oriental, como Singapura, Vietname e Indonésia, incluindo a sua
“ajuda militar” e a participação em manobras militares dirigidas pelos
Estados Unidos na Pacífico (Julho-Agosto de 2010). Estes acordos são de
apoio às implementações de armas apontadas à República Popular da China.
(Ver Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks
Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de
2010).
Do mesmo modo, e mais directamente relacionado com o ataque
planificado contra o Irão, os EUA estão a armar os Estados do Golfo
Pérsico (Bahrein, Kuwait, Qatar e os Emiratos Árabes Unidos) com o
interceptor de mísseis terra-ar, Patriot Advanced Capability-3 e a
Terminal High Altitude Area Defense (THAAD), bem como as instalações
standard de mísseis mar-3 interceptores instalados em navios de guerra
da classe Aegis no Golfo Pérsico. (Ver Rozoff Rick, NATO’s Role In The
Military Encirclement Of Iran, 10 de Fevereiro de 2010).
CALENDÁRIOS DE ARMAZENAMENTO MILITAR E DE IMPLEMENTAÇÃO
O que é crucial nas transferências de armas dos EUA para os parceiros e aliados é o momento real da entrega e o seu desenvolvimento. O lançamento de uma operação militar patrocinada pelos EUA, ocorreria normalmente quando estes sistemas de armas estejam instalados, depois do efectivo desenvolvimento da aplicação da capacitação do pessoal. (Por exemplo da Índia).
CALENDÁRIOS DE ARMAZENAMENTO MILITAR E DE IMPLEMENTAÇÃO
O que é crucial nas transferências de armas dos EUA para os parceiros e aliados é o momento real da entrega e o seu desenvolvimento. O lançamento de uma operação militar patrocinada pelos EUA, ocorreria normalmente quando estes sistemas de armas estejam instalados, depois do efectivo desenvolvimento da aplicação da capacitação do pessoal. (Por exemplo da Índia).
Do que estamos a falar é de um desenho militar mundial,
cuidadosamente coordenado e controlado pelo Pentágono, com a
participação das forças armadas combinadas de mais de quarenta países.
Este desenvolvimento militar multinacional mundial é, no mínimo, o maior
desenvolvimento de sistemas de armas avançadas da história.
Por sua vez, os EUA e os seus aliados estabeleceram novas bases
militares em diferentes partes do mundo. “A superfície da Terra está
estruturada como um enorme campo de batalha”. (Ver Jules Dufour, The
Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de
Julho de 2007).
Comando Unificado da estrutura geográfica dividida em comandos de
combate baseia-se numa estratégia de militarização a nível global. “Os
militares dos EUA têm bases em 63 países. Há sinais de novas bases
militares construídas a partir de 2001 em sete países. No total, há
255.065 militares deslocados dos EUA em todo o mundo”. (Ver Jules
Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación
Global, 01 de Julho de 2007).
CENÁRIO DA III GUERRA MUNDIAL
Este desenvolvimento militar dá-se em várias regiões ao mesmo tempo e
sob coordenação dos comandos regionais dos EUA, com a participação no
armazenamento dos arsenais dos EUA e dos aliados dos EUA, alguns deles
seus antigos inimigos, como o Vietname e o Japão.
O contexto actual caracteriza-se por uma acumulação militar global
controlada por uma superpotência mundial que utiliza os seus aliados
para desencadear numerosas guerras regionais.
Diferentemente da Segunda Guerra Mundial, que também foi uma
conjugação de diferentes locais de uma guerra regional, é que com a
tecnologia de comunicações e sistemas de armas da década de 40, não
havia possibilidades de uma estratégia em “tempo real” para a
coordenação das acções militares entre as grandes regiões geográficas.
A guerra mundial baseia-se no desenvolvimento coordenado de uma
única potência militar dominante, que supervisiona as acções dos seus
aliados e parceiros.
Com excepção de Hiroshima e Nagasaki, a Segunda Guerra Mundial
caracterizou-se pelo uso de armas convencionais. Agora a planificação de
uma guerra mundial baseia-se na militarização do espaço
extra-terrestre.
Se uma guerra contra o Irão tiver lugar, não será só o uso de armas
nucleares, mas toda a gama de novos sistemas de armas avançadas,
inclusive armas electrométricas e técnicas de alteração ambiental
(ENMOD) que se utilizarão.
O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS
O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS
O Conselho de Segurança aprovou no princípio de Junho uma quarta
ronda de sanções de amplo alcance contra a República Islâmica do Irão
que incluem o embargo de armas e “controlos financeiros mais apertados”.
Numa amarga ironia, esta resolução foi aprovada dias depois da
negativa, pura e dura, do Conselho de Segurança das Nações Unidas de
adoptar uma moção de condenação de Israel pelo seu ataque à Flotilha
pela Liberdade de Gaza em águas internacionais.
Tanto a China como a Rússia, pressionadas pelos Estados Unidos,
apoiaram on regime de sanções do CSNU, em prejuízo próprio. A sua
decisão no Conselho de Segurança contribui para debilitar a sua própria
aliança militar, a Organização de Cooperação de Shangai (OCS), em que o
Irão tem o estatuto de observador. A resolução do Conselho de Segurança
congela os próprios acordos de cooperação militar e económica entre a
China e a Rússia com o Irão. Isto tem graves repercussões no sistema de
defesa aérea do Irão, que em parte depende da tecnologia e experiência
da Rússia.
A Resolução do Conselho de Segurança, de facto, dá “luz verde” para desencadear uma guerra preventiva contra o Irão.
A INQUISIÇÃO ESTADUNIDENSE: A CONSTRUÇÃODE UM CONSENSO POLÍTICO PARA A GUERRA
Em coro, os media ocidentais qualificaram o Irão como uma ameaça á
segurança mundial devido a um suposto (inexistente) programa de armas
nucleares. Fazendo eco das declarações oficiais, os meios de comunicação
estão agora a exigir a bombardeamentos punitivos dirigidos contra o
Irão a fim de salvaguardar Israel.
Os media tocam os tambores da guerra. O objectivo é inculcar na
consciência interna das pessoas, através da repetição até à saciedade da
publicação de relatórios com a ideia de que a ameaça iraniana é real e
que a república islâmica deve ser “expulsa”.
O processo de criação de consenso para a guerra é semelhante à
Inquisição espanhola. Procuram a submissão à ideia que a guerra é uma
tarefa humanitária.
A verdadeira ameaça à segurança global vem da aliança Estados
Unidos-NATO-Israel, no entanto, a realidade num ambiente inquisitorial é
ao contrário: os belicistas estão comprometidos com a paz, as vítimas
da guerra são apresentadas como os protagonistas da guerra.
Se em 2006 quase dois terços dos estadunidenses se opunham a uma
acção militar contra o Irão, segundo uma sondagem recente da
Reuter-Zogby, agora uma sondagem indica que 56% dos estadunidenses são a
favor de uma acção militar da NATO contra o Irão.
A criação de um consenso político que se baseia numa mentira não
pode, no entanto, confiar unicamente nos que são a fonte da mentira.
Os movimentos contra a guerra nos EUA, que em parte já foram
infiltrados, assumiram uma posição frouxa em relação ao Irão. O
movimento contra a guerra está dividido. A ênfase põe-se nas guerras que
já estão a ser feitas (Afeganistão e Iraque) em vez de se oporem com
força a guerras em preparação e que se encontram actualmente no
estirador do Pentágono.
Desde a posse da administração Obama que o movimento contra a guerra perdeu parte do seu ímpeto.
Por outro lado, os que se opõem activamente contra as guerras do
Afeganistão e do Iraque não se opõem necessariamente a “bombardeamentos
punitivos” ao Irão nem estes atentados são qualificados como um acto da
guerra que poderá ser o prelúdio da Terceira Guerra Mundial.
A escalada de protestos contra a guerra ao Irão tem sido mínima em
comparação coma as manifestações massivas que precederam os
bombardeamentos de 2003 e a invasão do Iraque.
Diplomaticamente, a operação Irão não teve a oposição da China e da
Rússia, mas conta com o apoio dos governos dos Estados árabes de
primeira linha que estão integrados no diálogo NATO-Mediterrâneo e conta
também com o apoio tácito da opinião pública ocidental.
Fazemos um apelo às pessoas de todos os países, na América, na
Europa Ocidental, em Israel, na Turquia e em todo o mundo para que se
levantem contra este projecto militar, contra os governos que apoiam a
acção militar contra o Irão, contra os meios de comunicação que servem
para camuflar as devastadoras consequências de uma guerra contra o Irão.
ESTA GUERRA É UMA LOUCURA
A III Guerra Mundial é terminal. Albert Einstein compreendia os
perigos da guerra nuclear e a extinção da vida na Terra, que já começou
com a contaminação radioactiva resultante da utilização de urânio
empobrecido. “Não sei com que armas se lutará na III Guerra Mundial, mas
na IV Guerra Mundial lutar-se-á com paus e pedras”.
Os meios de comunicação, os intelectuais, os cientistas e os
políticos, em coro, ofuscam a verdade não contada, a saber, que a guerra
que utiliza ogivas nucleares destrói a humanidade, e que este complexo
processo de destruição gradual já começou.
QUANDO A MENTIRA SE CONVERTE EM VERDADE JÁ NÃO HÁ VOLTA ATRÁS
Quando a guerra é apresentada como uma tarefa humanitária, a justiça
e todo o sistema jurídico internacional estão de pernas para o ar: o
pacifismo e o movimento contra a guerra são criminalizados. Opor-se à
guerra converte-se num acto criminoso.
A mentira deve ser exposta como aquilo que é e faz.
Aprova a matança indiscriminada de homens, mulheres e crianças.
Destróis famílias e pessoas. Destrói o compromisso das pessoas com os seus semelhantes.
Impede as pessoas de expressarem a sua solidariedade com os que sofrem. Defende a guerra e o estado policial como a única via.
Destrói o internacionalismo.
Romper com a mentira significa romper com um projecto criminosos de
destruição global, onde a procura do lucro é a sua força primordial.
Este lucro incentiva a agenda militar, destrói valores humanos e transforma as pessoas em zombis inconscientes.
Vamos inverter a maré.
Desafio aos criminosos de guerra em altos cargos e nas poderosas corporações e grupos de pressão que os apoiam.
Este beneficio impulsando la agenda militar destruye los valores humanos y transforma a la gente en zombis inconscientes.
Fim da inquisição estadunidense.
Fim da cruzada militar Estados Unidos-NATO-Israel.
Encerramento das fábricas de armas e das bases militares.
Retirada das tropas
Os membros das Forças Armadas devem desobedecer às ordens e recusarem-se a participar numa guerra criminosa.
* Michel Chossudowsky, amigo e colaborador de odiario.info, é Professor Emérito da Universidade de Ottawa, Canadá.
Este texto foi publicado em www.globalre search.ca/ index.php? context=va&aid=20403
Tradução de José Paulo Gascão
O inverno nuclear - Reflexões de Fidel Castro
ENVERGONHO-ME de ser desconhecedor do tema, do qual nem sequer tinha ouvido falar. Caso contrário, teria compreendido muito antes que os riscos de uma guerra nuclear são muito mais graves do que imaginei. Eu supunha que o planeta podia suportar o deflagrar de centenas de bombas nucleares, após calcular que, tanto os Estados Unidos quanto a URSS, tinham feito incontáveis testes durante anos. Não tive em conta uma realidade bem simples: não é a mesma coisa fazer explodir 500 bombas nucleares em 1.000 dias, do que fazê-las estourar em um único dia.
Consegui saber
disso quando solicitei informação a vários
especialistas na matéria. É de supor que fiquei
espantado quando soube que não era necessária uma
guerra mundial nuclear para que perecesse a nossa
espécie.
Bastaria uma
contenda nuclear entre duas potências nucleares das
mais fracas, como a Índia e o Paquistão ―que entre
ambas, não obstante, reúnem muito mais de 100 armas
desse tipo―, e a espécie humana desaparecerá.
Raciocinei um
bocado com os elementos de juízo que me forneceram
nossos peritos na matéria, tomados do que foi
exposto pelos mais prestigiados cientistas do mundo.
Existem coisas
que Obama conhece perfeitamente bem:
"…uma guerra
nuclear entre os EUA e a União Soviética produziria
um ‘inverno nuclear’."
"O debate
internacional acerca dessa previsão, animado pelo
astrónomo Carl Sagan, obrigou os líderes de ambas as
superpotências a encararem a possibilidade de que
sua corrida aos armamentos não apenas os colocaria
em perigo a eles, mas também a toda a humanidade."
"…‘os modelos
elaborados por cientistas russos e norte-americanos
mostravam que uma guerra nuclear traria em
consequência um inverno nuclear tremendamente
destruidor para toda a vida na Terra; saber disso
representou para nós, para as pessoas de moral e
honra, um grande estímulo…’."
"…as guerras
nucleares zonais poderiam desencadear uma catástrofe
global similar. Novas análises revelam que um
conflito entre a Índia e o Paquistão, durante o qual
fossem jogadas 100 bombas sobre cidades e áreas
industriais ―só 0,4% das mais de 25.000 ogivas que
existem no mundo― geraria fumaça suficiente para
arruinar a agricultura mundial. Uma guerra regional
poderia causar a perda de vidas, inclusive em países
afastados do conflito."
"Com
computadores modernos e novos modelos climáticos, a
nossa equipe conseguiu demonstrar que não só eram
corretas as ideias dos anos oitenta, mas também que
os efeitos durariam pelo menos dez anos, muito mais
do que antes se julgava […] inclusive a fumaça de
uma guerra regional receberia o calor do Sol e
ascenderia para ficar suspensa durante anos na
atmosfera superior, encobrindo a luz solar e
arrefecendo a Terra."
"A Índia e o
Paquistão, que entre ambas reúnem mais de 100 ogivas
nucleares…"
"Alguns
acreditam que a teoria do inverno nuclear
desenvolvida nos oitenta caiu no descrédito. Por
isso talvez se surpreendam perante a nossa
asseveração de que uma guerra nuclear zonal entre a
Índia e o Paquistão, por exemplo, poderia devastar a
agricultura em todo o planeta.
"A teoria
original estava rigorosamente validada. Sua
fundamentação científica tinha o apoio de
investigações realizadas pela Academia Nacional das
Ciências, por estudos patrocinados pelas Forças
Armadas dos EUA e pelo Conselho Internacional de
Sindicatos Científicos, que incluía representantes
de 24 academias nacionais da ciência e doutros
organismos científicos."
"Talvez o
arrefecimento não pareça coisa de particular
preocupação. Mas convém saber que uma leve
diminuição de temperatura pode acarretar
consequências graves."
"O volume total
de cereais armazenado hoje no planeta poderia
alimentar a população mundial durante um par de
meses (Vide ‘Crises alimentares: uma ameaça para a
civilização?’, por Lester R. Brown; INVESTIGAÇÃO E
CIÊNCIA, Julho de 2009)."
"Às vezes, a
fumaça dos grandes incêndios florestais penetra na
troposfera e na estratosfera inferior e é deslocada
a grandes distâncias, gerando arrefecimento. Os
nossos modelos se acomodam também a esses efeitos."
"Há 65 milhões
de anos, um asteróide impactou na península de
Yucatan. A nuvem de poeira resultante, misturada com
a fumaça dos incêndios, escondeu o Sol, matando os
dinossauros. O vulcanismo ativo, que nesse tempo
acontecia na Índia, pôde ter agravado os efeitos."
"…o crescente
número de estados nucleares eleva as probabilidades
de que deflagre uma guerra, deliberada ou
acidentalmente.
"Coreia do
Norte ameaçou de declarar guerra se não cessa a
inspeção de seus navios, na busca de materiais
nucleares."
"Alguns líderes
indianos extremistas propugnaram atacar o Paquistão
com armas nucleares, quando dos últimos ataques
terroristas na Índia."
"O Irã ameaçou
de destruir Israel, uma potência nuclear, que por
sua vez jurou não permitir jamais que o Irã se torne
uma potência nuclear."
"As duas
primeiras bombas nucleares comocionaram tanto o
mundo, que apesar do crescimento em massa dessas
armas desde então, elas nunca mais voltaram a ser
empregues."
Uma guerra
nuclear será inevitável a partir do momento em que
se cumpra o prazo do Conselho de Segurança da ONU;
qualquer coisa pode acontecer quando for
inspeccionado o primeiro navio iraniano.
"No âmbito do
Tratado Estratégico de Redução Ofensiva, os EUA e a
Rússia se comprometeram a reduzir seu arsenal para
1.700 e 2.200 ogivas nucleares estratégicas
instaladas, para finais de 2012."
"Se essas armas
forem utilizadas contra objetivos urbanos, matariam
centenas de milhões de pessoas e uma ingente fumaça
de 180 Tg inundaria a atmosfera do planeta."
"O único modo
de eliminar as possibilidades de uma catástrofe
climática é banindo as armas nucleares."
Estive reunido
hoje ao meio-dia com quatro especialistas cubanos:
Tomás Gutiérrez Pérez, José Vidal Santana Núñez, o
coronel José Luis Navarro Herrero, chefe da
secretaria da Ciência e Tecnologia, do Ministério
das Forças Armadas e Fidel Castro Diaz-Balart, com
os quais examinei o tema de que trato nesta Reflexão.
Solicitei a
reunião ontem 22 de agosto. Não desejava perder um
minuto. Sem dúvida foi muito frutuosa.
Fidel Castro
Ruz
terça-feira, 24 de agosto de 2010
A tendência à barbárie e as perspectivas do socialismo
por James Petras [*]
As sociedades ocidentais e os Estados estão se deslocando inexoravelmente para condições semelhantes à barbárie; mudanças estruturais estão revertendo décadas de bem-estar social e sujeitando o trabalho, os recursos naturais e as riquezas das nações à exploração bruta, à pilhagem e ao saque, rebaixando os padrões de vida e causando descontentamento num nível sem precedentes.
[*] Sociólogo. Ver obras do autor .Inicialmente, descreveremos os processos econômicos, políticos e militares que vêm abrindo este caminho à decadência e à decomposição social, e a seguir mostraremos a reação das massas populares à deterioração de suas condições de vida. As profundas mudanças estruturais que acompanham a ascensão da barbárie constituirão a base para considerar as perspectivas para o socialismo no século XXI. A crescente onda de barbárie Nas sociedades antigas, a "barbárie" e os seus portadores – os "bárbaros" invasores – foram vistos como uma ameaça vinda das regiões periféricas de Roma ou Atenas. Nas sociedades ocidentais contemporâneas, os bárbaros vêm de dentro, da elite, com a intenção de impor uma nova ordem que corrói o tecido social e a base produtiva da sociedade, convertendo meios de subsistência estáveis em condições deterioradas e inseguras da vida cotidiana. A chave para a barbárie contemporânea encontra-se nas estruturas internas do Estado imperial e da economia. Estas incluem: 1. A ascensão de uma elite financeira e especulativa, que tem saqueado trilhões de dólares dos poupadores, investidores, mutuários, consumidores e do Estado, subtraindo enormes recursos da economia produtiva e colocando-os nas mãos da camada parasitária aninhada no Estado e nos mercados financeiros. 2. A elite política militarista, que vem supervisionando um estado de guerra permanente desde meados do século passado. Terror de Estado, guerras intermináveis, assassinatos em zonas fronteiriças e a suspensão das garantias constitucionais tradicionais levaram à concentração de poderes ditatoriais, prisões arbitrárias, torturas e à negação do habeas corpus. 3. Em meio a uma profunda recessão econômica e estagnação, os altos gastos do Estado na construção de um império econômico e militar, às expensas da economia nacional e dos padrões de vida, refletem a subordinação da economia local às atividades do Estado imperial. 4. A corrupção desde o topo, visível em todos os aspectos da atividade do Estado - desde as aquisições de bens e serviços até a privatização e os subsídios para os super-ricos –, incentiva o crescimento do crime internacional de cima para baixo, a lumpenização da classe capitalista e um Estado onde a lei e a ordem se encontram em descrédito. 5. Resultantes dos elevados custos de construção do império e da pilhagem da oligarquia financeira, os encargos sócio-econômicos recaem diretamente sobre os ombros dos trabalhadores assalariados, aposentados e trabalhadores por conta própria, determinando uma grande mobilidade descendente na escala social ao longo do tempo. Com a perda de empregos e o desaparecimento das posições mais bem remuneradas, as retomadas de casas pelos bancos crescem exponencialmente e as classes médias, antes estáveis, encolhem, e os trabalhadores são forçados a alongar suas jornadas de trabalho diárias e a trabalhar durante um maior número de anos. 6. As guerras imperiais, que se espalham pelo mundo e são direcionadas a populações inteiras, que sofrem com os bombardeios e as operações clandestinas de terror, geram, em oposição, redes terroristas, que também atingem alvos civis nos mercados, transportes e espaços públicos. O mundo vai se parecendo ao pesadelo hobbesiano de "todos contra todos". 7. Um crescente extremismo etno-religioso ligado ao militarismo é encontrado entre os cristãos, judeus, muçulmanos e hindus, que substitui a solidariedade de classe internacional por doutrinas de supremacia racial e penetra as estruturas profundas dos Estados e das sociedades. 8. O desaparecimento dos Estados europeus e asiáticos de bem-estar social coletivo – nomeadamente, a ex-URSS e a China – levantou as pressões competitivas sobre o capitalismo ocidental e o encorajou à revogação de todas as concessões de bem-estar social obtidas pela classe trabalhadora no período pós-II Guerra Mundial. 9. O fim do "comunismo" e a integração da social-democracia ao sistema capitalista levaram a um enfraquecimento severo da esquerda, que os protestos esporádicos dos movimentos sociais não conseguiram substituir. 10. Diante do atual assalto às condições de vida dos trabalhadores e da classe média, só se vêem protestos esporádicos, no melhor dos casos, e impotência política, no pior. 11. A exploração maciça do trabalho nas sociedades capitalistas pós-revolucionárias, como a China e o Vietnã, compreende a exclusão de centenas de milhões de trabalhadores migrantes dos serviços públicos elementares de educação e saúde. A pilhagem sem precedentes e a captura, por oligarquias nacionais e multinacionais estrangeiras, de milhares de lucrativas empresas públicas estratégicas da Rússia, das repúblicas da ex-União Soviética, dos países da Europa Oriental, dos Bálcãs e dos países bálticos, foram a maior transferência de riqueza pública para mãos privadas, em curto espaço de tempo, em toda a História. Em resumo, a barbárie surgiu como uma realidade definida, produto da ascensão de uma classe dominante financeira parasitária e militarista. Os bárbaros encontram-se aqui e agora, presentes dentro das fronteiras das sociedades ocidentais e seus Estados. Eles governam e perseguem agressivamente uma agenda que está continuamente a reduzir os padrões de vida, a transferir a riqueza pública para os seus cofres privados, a pilhar recursos públicos, a violar direitos constitucionais no exercício de suas guerras imperiais, a segregar e perseguir milhões de trabalhadores imigrantes e a promover a desintegração e o desaparecimento do trabalho estável e de classe média. Mais do que em qualquer outro momento na história recente, o 1% mais rico da população controla uma parcela crescente das riquezas e das rendas nacionais. Mitos e realidades do capitalismo histórico A retirada, em grande escala e de forma sustentada, dos direitos sociais e previdenciários, da segurança no emprego, e as reduções de salários e aposentadorias, demonstram a falsidade da idéia do progresso linear do capitalismo. Essa reversão, produto do poder ampliado da classe capitalista, demonstra a validade da proposição marxista de que a luta de classes é o motor da História – na medida em que, pelo menos, a própria condição humana é considerada como sua peça central. A segunda premissa falsa – a de que os Estados organizados em "economias de mercado" têm como pré-requisito a paz, tendo como corolário a ascendência dos "mercados" sobre o militarismo – é refutada pelo fato de que a principal economia de mercado – os Estados Unidos – tem permanecido em constante estado de guerra desde o início da década de 1940, estando ativamente engajada em guerras em quatro continentes, até os dias de hoje, e com perspectiva de novas, maiores e mais sangrentas guerras no horizonte. A causa e conseqüência da guerra permanente é o crescimento de um monstruoso "Estado de segurança nacional" que não reconhece fronteiras nacionais e absorve a maior parte do Orçamento do país. O terceiro mito do "capitalismo avançado maduro" é o de que este sempre revoluciona a produção através da inovação e da tecnologia. Com a ascensão da elite financeira especulativa e militarista, as forças produtivas foram saqueadas e a "inovação" é em grande parte direcionada à elaboração de instrumentos financeiros que exploram os investidores, reduzem os ativos e acabam com o trabalho produtivo. Enquanto o império cresce, a economia local se contrai, o poder está centralizado no Executivo, o poder legislativo é reduzido e aos cidadãos é negada uma representação efetiva, ou mesmo o poder de veto através de processos eleitorais. A resposta das massas ao aumento da barbárie A ascensão da barbárie em nosso meio tem provocado revolta pública contra seus principais executores. As pesquisas de opinião têm reiteradamente encontrado: (1) Profunda aversão e revolta contra todos os partidos políticos. (2) Grande desconfiança, nutrida pela maioria da população, contra a elite empresarial e política. (3) Rejeição, também pela maioria, da concentração de poder corporativo e do seu abuso, principalmente por parte dos banqueiros e financistas. (4) Questionamento amplo das credenciais democráticas dos líderes políticos que agem a mando da elite empresarial e promovem as políticas repressivas do Estado de segurança nacional. (5) Rejeição, pela grande maioria da população, da pilhagem do Tesouro nacional para salvação dos bancos e da elite financeira, com a imposição de programas de austeridade regressivos sobre a classe média trabalhadora. Perspectivas para o socialismo A ofensiva capitalista teve certamente um grande impacto sobre as condições objetivas e subjetivas da classe média trabalhadora, empobrecendo-a e provocando uma onda crescente de descontentamento pessoal, que ainda não se traduziu numa movimentação anticapitalista massiva, ou mesmo numa resistência dinâmica e organizada. As grandes mudanças estruturais requerem um melhor entendimento das atuais circunstâncias adversas e a identificação de novas instâncias e meios onde se desenvolvem a luta de classes e de transformação social. Um problema-chave é a necessidade de se recriar uma economia produtiva e reconstruir uma classe trabalhadora industrial após anos de pilhagem financeira e desindustrialização, não necessariamente para as poluidoras indústrias do passado, mas certamente para novas indústrias que criem e utilizem fontes de energia limpa. Em segundo lugar, as sociedades capitalistas altamente endividadas necessitam, fundamentalmente, sair do modelo de construção imperial militarista de alto custo em direção a um modelo de austeridade financeira baseado na classe e que imponha os sacrifícios e as reformas estruturais aos setores bancário, financeiro e comercial de grande varejo, que substitui a produção local pela importação de artigos de consumo de baixo custo. Em terceiro lugar, o enxugamento do setor financeiro e do comércio retalhista exige a melhoria das qualificações dos trabalhadores que serão deslocados ou desempregados, bem como mudanças no setor de TI, de forma a acomodar as próprias mudanças econômicas. Exige, também, a mudança de um paradigma – da renda monetária para o rendimento social –, em que a educação pública e gratuita de alto nível, o acesso universal à saúde e as aposentadorias abrangentes substituirão o consumismo global financiado por dívidas. Isso pode se tornar a base para o fortalecimento da consciência de classe contra o consumismo individual. Esta é a questão: como passar de uma posição em que a classe trabalhadora se encontra fragmentada e enfraquecida e os movimentos sociais em recuo ou na defensiva a uma posição em que seja possível lançar uma ofensiva anticapitalista? Vários fatores subjetivos e objetivos já permitem o trabalho nesse sentido. Primeiro, há uma negatividade crescente contra a grande maioria dos atuais operadores políticos e, em particular, contra as elites econômicas e financeiras que estão claramente identificadas como responsáveis pelo declínio nos padrões de vida. Em segundo lugar, há o ponto de vista popular, compartilhado por milhões de pessoas, de que os atuais programas de austeridade são claramente injustos - com os trabalhadores a pagar pela crise que a classe capitalista produziu. Até o momento, no entanto, estas maiorias são mais "anti"-status quo do que "pró"-transformação. A transição do descontentamento privado para a ação coletiva é uma questão em aberto quanto a quem a desencadeará e como o fará, mas a oportunidade está presente. Existem vários fatores objetivos que podem deflagrar uma mudança qualitativa do descontentamento, deslocando-o da raiva passiva rumo a um maciço movimento anticapitalista. Um "duplo mergulho" na recessão, o fim da atual recuperação anêmica e o início de uma recessão mais profunda e prolongada ou de uma depressão poderiam desacreditar ainda mais os governantes atuais e seus aliados econômicos. Em segundo lugar, o aprofundamento interminável da austeridade poderá desacreditar a noção atual, difundida pela classe dominante, de que os sacrifícios atuais são necessários para se obterem ganhos futuros, abrindo as mentes e encorajando os corpos a se moverem à procura de soluções políticas, de forma a alcançar ganhos no presente e infligir dor às elites econômicas. As inesgotáveis e "invencíveis" guerras imperiais que sangram a economia e a classe trabalhadora podem, em última análise, criar uma consciência de que a classe dominante oferece "sacrifícios" à nação sem nenhuma finalidade "útil". Provavelmente, o efeito combinado de uma nova etapa da recessão, a austeridade perpétua e as estúpidas guerras imperiais acabarão por transformar o mal-estar atual e a difusa hostilidade das massas contra a elite econômica e política em favor dos movimentos socialistas, partidos e sindicatos. Tradução de http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4921/9/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
Os alemães tornaram-se cépticos em relação ao capitalismo
Os comentadores alemães rejubilam com as
exportações e os políticos anunciam o fim da crise e o regresso à
normalidade. Mas a população não parece convencida. Por João Alexandrino
Fernandes, de Tübingen, Alemanha, para o Esquerda.net.
Uma recente
sondagem indica que 88% dos alemães tornaram-se cépticos em relação ao
capitalismo e aspiram a uma nova ordem económica. Foto Werner
Kunz/Flickr
Têm vindo a surgir nos meios de comunicação social notícias sobre a recuperação económica da Alemanha: a Alemanha está a sair da crise, prevendo-se já uma taxa de crescimento de 3% em 2010. A Alemanha, o “motor” da Europa, está de regresso - assim se pensa, pelo menos.
Porém, o mais interessante é que estas notícias, que parecem convencer todos, não convencem a população alemã!
Neste momento diz-se que a economia da Alemanha cresce. Os comentadores
rejubilam com as exportações e os políticos anunciam o fim da crise e o
regresso à normalidade. E no entanto, segundo uma sondagem agora
divulgada, efectuada pelo instituto de pesquisa de opinião Emnid, por
incumbência da Fundação Bertelsmann, esta euforia não se reflecte no
estado de espírito da população. A maioria das pessoas não acredita que
tudo volte a ser como era de forma assim tão simples. Pelo contrário:
dois terços da população não esperam sequer que a recuperação económica
faça aumentar automaticamente a sua qualidade de vida.
Segundo a sondagem, a convição da população alemã mudou e tudo indica
que de forma estável. De facto, 88% dos alemães tornaram-se cépticos em
relação ao capitalismo e aspiram a uma nova ordem económica: acreditam
que o capitalismo não toma suficientemente em consideração quer o
equilíbrio social, quer a protecção do ambiente, quer a necessidade de
uma relação cuidadosa com os recursos naturais.
Significa esta atitude que os alemães pretendem uma revolução?
Atendendo aos resultados da sondagem, não. Significa que os alemães
estão pensativos e que vêem a responsabilidade pela actual situação
económica e social não só nos políticos e nos dirigentes da economia,
mas também em si próprios: quatro em cada cinco alemães são da opinião
de que cada um deveria reflectir sobre a sua própria forma de vida,
sobre se, para si, o crescimento económico é tudo.
Hoje em dia valores como a justiça social ou a protecção ambiental são
para a maioria dos alemães tão importantes que influenciam de forma
crescente a sua posição relativamente ao sistema económico. Para a
grande maioria dos cidadãos as fontes de qualidade de vida pessoal são
de natureza imaterial: relações sociais, saúde e condições ambientais
são mais importantes do que ter mais dinheiro e propriedade.
Importante também é que esta nova escala de valores recolhe um consenso
fora do vulgar em todos os escalões sociais e mostra-se independente
dos níveis de educação. Uma afirmação da pesquisa: “a prosperidade
social é, para mim, menos importante do que a protecção ambiental e a
redução das dívidas do Estado” mereceu não só a concordância de 75% das
pessoas com formação liceal, a forma mais elevada do ensino secundário e
que permite o acesso ao ensino superior, mas também a concordância de
69% das pessoas com a formação da chamada “Hauptschule”, que é a forma
mais elementar do ensino secundário alemão.
Segundo os resultados da sondagem, os alemães acreditam ainda que o
sistema económico pode ser orientado na direcção certa e a maioria está
convencida de que crescimento e protecção ambiental são objectivos
compatíveis um com o outro – mas pressupondo que existe para tal a
necessária vontade política. 82% consideram a continuação do crescimento
indispensável para a estabilidade política, mas em contrapartida não
acreditam nas chamadas “forças de regeneração próprias” do mercado, em
relação às quais os jovens são particularmente cépticos - e, pode-se
aqui bem dizer, com razão. O que a crise financeira precisamente
demonstrou foi o contrário, foi que quem “regenerou” o mercado não foram
nenhumas “forças de regeneração próprias”, mas sim as gigantescas
transferências de fundos feitas pelo Estado para instituições
financeiras aí a operar.
São todas estas incongruências ligadas ao sistema económico, acrescidas
da comprovada incapacidade do sistema para resolver os problemas de
justiça social e para deter a ameaça de destruição ambiental, neste
momento já à escala planetária, fortalecidas pela constatação de que por
mais que os números digam que a economia cresce, o impacto deste
crescimento pouco ou nada se faz notar na vida do cidadão comum, ao
passo que, na situação contrária, de crise, o impacto negativo é
imediato, que os alemães parecem ter deixado de ignorar.
Ora, deixar de ignorar não é, certamente, condição suficiente - mas é condição necessária para qualquer mudança seja possível.
Fontes: "Umfrage: Neun von zehn Deutschen fordern neue Wirtschaftsordnung“, in Spiegel Online, 18. August 2010, www.spiegel.de. "Umfrage-Wachstumsskeptisch“ em Zeit Online, 18.08.2010,www.zeit.de.
Homenagem a Getulio Vargas
Porque não mataram Getúlio
Brizola Neto no Tijolaço
A essa hora da manhã, 56 anos atrás, as ruas já estavam cheias de uma multidão atônita, em pânico, em lágrimas.
O estampido do pequeno revólver que disparara a bala fatal no coração
de Getúlio Vargas ecoava como se fosse um poderosíssimo canhão, um
grunhido de dor que enchia os subúrbios da cidade, tomava corpo e, em
pernas, em caminhões, em trens e em ônibus, começava fluir, em ondas,
para as praças.
E a dor e a raiva, tão sempre companheiras, se misturaram numa
comoção coletiva e em atos de inconformismo, queimando os jornais que
detratavam o velho, empresas estrangeiras. O então jovem gaúcho Paulo
José, o grande ator, conta que a multidão, em Porto Alegre, saiu “depredando tudo que tivesse nome americano: o Consulado, as Lojas Americanas, até a American Boite…”
Nem eu nem você vivemos estas cenas. Elas e perderam no tempo e
sobrevivem apenas em velhos e riscados filmes em preto e branco, como o
que reproduzo aí em cima, (espere um pouquinho, daqui a pouco a edição fica pronta e eu publico)com
uma regravação, por Zé Ramalho, do genial “Ele disse”, composto por
Jackson do Pandeiro sobre a carta testamento de Getúlio ainda ali, no
terremoto da tragédia.
Mas será que é mesmo assim? Será que comoas velhas fotos de família
que parecem nos retratar como já não somos mais, na aparência, não se
guardam ali as raízes do que fomos e somos e que irrigam nossos sonhos e
desejos.
O Vargas dos direitos trabalhistas, do petróleo, da exploração
soberana dos nossos recursos naturais, dos bairros operários, dos Iapis,
que entoava o seu “trabalhadores do Brasil” ao discursar, para mostrar
que falava ao povo, essencialmente, e não às elites deste país é uma
destas raízes.
Formou-se e tomou corpo absorvendo a seiva das lutas sociais da
primeira metade do século 20 e cresceu em direção à luz do sonho de uma
soberania nacional, um desenvolvimento autônomo que, como o sol, não
importa que o quão longe esteja, nos alimenta com sua força vital.
Ah, quantos machados e quantas serras tentaram cortar esta raiz. A
ditadura e seus porões e seus exílios. Depois, os professores de finos
modos e feroz crueldade, como Fernando Henrique e, como ele, outros
tantos que, filhos de Vargas, desejaram tomar daquele pequeno revólver e
disparar não contra seu peito, mas contra o que dentro dele havia: o
desejo de um Brasil soberano, livre, forte, dono de suas riquezas e
habitado por uma gente que reunia todas as diferenças de pele, voz,
secas, águas, campos, praias, frios calores, mas que se igualava naquela
expressão que os chamava à consciência de que éramos um povo e um povo
valoroso:
“Trabalhadores do Brasil”.
Se Vargas estava morto,o que mais queriam matar?
Era isso, meus amigos, era isso.
Os que vieram de Vargas, na primeira geração, Jango e Brizola,
receberam um anátema. Eram malditos. Foi preciso bani-los, para o
exílio, para a morte ou para o desterro político do “ultrapassado,
populista, demagogo”. Não houve poucos, que, com a arrogância dos que
acham que, antes deles, nada havia, repetiram o que vinha das vozes
oficiais, fixando seus olhos nas origens e nos defeitos dos personagens,
sem serem capazes de entender que alinão estavam apenas homens de carne
e osso, mas personagens da história.
Mas o processo social é caprichoso. Ao tomar posse, depois de uma
estrondosa eleição popular, Getúlio saudo o povo trabalhador dizendo:
“Hoje, estais com o Governo, amanhã, sereis Governo”.
Pois não é que um operário de carne e osso – bem verdade que, por
tempos, tutelado como ícone por um grupo de intelectuais onde não
faltavam os elitistas, que torcia o nariz ao nome de Getúlio, chegou ao
Governo. Lá, lá, ao seu jeito e nas suas circunstâncias, entendeu o que
foi o velho, ao ponto de repetir seu gesto sujando a mão de petróleo,
de praticar uma política de valorização do salário-mínimo que e muito
mais forte do que aquele discurso de “conquista da categoria organizada”
e de entender que modernização do país e crescimento econômico só podem
existir, de verdade, quando há ascensão do nosso povão.
Em um artigo que li, do professor Emir Sader, ele pergunta:
- Como isso foi possível, depois de 21 anos de ditadura militar e
de mais de uma década de governos neoliberais? Qual o fio condutor que
articula o movimento popular brasileiro desde suas origens
contemporâneas, na Revolução de 30, passando por estas oito décadas de
acontecimentos tão significativos – progressivos e regressivos – até
chegar ao complexo período que vivemos?
Foi, professor, o fio da História, aquele que é tecido por gente e
por fatos, por sonhos, por conquistas e derrotas, em que cada ponto se
apóia e firma no ponto anterior, e no anterior, e no anterior,até
estarmos todos seguindo uma linha que podemos nem mesmo saber onde
começa, mas que serpenteia inexorávelmente em uma direção, como um rio
procura o mar.
PS. Hoje, às 15 horas, quando fizermos uma pequena homenagem a
Getúlio, em seu busto, na Cinelândia, preparei uma surpresa, uma cena
que vai parecer uma brincadeira a alguns. Não me importo. A memória de
Vargas é para ser lembrada com alegria, não com lágrimas. Porque a
melhor homenagem que ele poderia desejar está expressa na sua própria
letra, às portas do gesto heróico de 24 de agosto de 1956: que o povo de
quem ele foi escravo, um dia, não mais seja escravo de ninguém.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Mas o que são mesmo as tais “multinacionais brasileiras”?
Multinacionais brasileiras? A resposta envolve alternativas
que vão muito além do que um simples "sim" ou "não". Deve passar por um
profundo debate sobre os "comos", os "porquês", os "paraquéns" e os
"sob-quais-condições".
Por Paulo Kliass, na Agência Maior*
Conforme compromisso assumido no
artigo da semana passada, fiquei de discutir um pouco agora o conceito
expresso aqui no título. Multinacionais brasileiras? Confesso que a
primeira vez em que me deparei com a expressão, há muitos anos atrás,
senti um certo incômodo.
Afinal, na condição de brasileiro, uma pessoa que se considera de esquerda, num mundo dominado pelo capital estrangeiro, naquela época era mais fácil denunciar as mazelas do imperialismo provocadas pela ação perniciosa e exploradora das multinacionais com sede no exterior...
No entanto, o processo de internacionalização da economia avançou e alguns países do chamado bloco dos "não-desenvolvidos" ou "em desenvolvimento", segundo a classificação da preferência de cada um, avançaram mais do que a média dos desenvolvidos e do que a média mundial. Entre outros, é famoso o caso dos BRICs, acrônimo para designar Brasil, Rússia, Índia e China.
Com todos os problemas derivados das tentativas de agrupar realidades bastante diferentes entre si, esse conjunto consegue chamar a atenção para algumas semelhanças significativas. Trata-se de países de grande extensão territorial, com expressivo contingente populacional e elevado potencial de crescimento econômico a partir dos anos 2000.
Face à crise por que vêm passando as economias de Estados Unidos, Japão e Europa nas últimas décadas, os Brics passam a ser vistos como alternativas para a retomada do crescimento da economia em escala global. Seja pelo lado da produção de bens e serviços, seja pela capacidade mesmo de consumo representada por essa demanda concentrada territorialmente, mas da ordem de bilhões de indivíduos.
Cada um desses países tem seu ritmo próprio de crescimento da economia, sua história recente que explica a emergência repentina, sua entrada nesse mundo da divisão internacional do trabalho e do capital. O caso da China é o mais evidente: o País vem crescendo a taxas elevadíssimas ao longo das últimas 2 décadas e acaba de ultrapassar o PIB do Japão, tornando-se a segunda economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Com esse processo, emergem os mega-consórcios e as mega-empresas chinesas. Um das operações mais simbólicas foi a compra em 2004 da famosa IBM norte-americana, a antes toda poderosa empresa multinacional de informática. Passou a fazer parte da Lenovo, conglomerado majoritariamente chinês.
A China é detentora de boa parte da dívida pública dos EUA e desponta como a potência hegemônica das próximas décadas. Assim, a cada dia que passa uma nova empresa chinesa gigante desponta para o noticiário econômico nas mais diversas áreas, como transportes, bens de capital, siderurgia, petroquímica, automobilística, etc.
O caso russo está bastante vinculado ao processo descontrolado de transição às regras da economia mercado, ocorrido a partir da década de 90. O colapso político e econômico do regime soviético fez com que um conjunto de grandes conglomerados estatais fossem submetidos a um processo descontrolado de privatização. Na verdade, o que ocorreu foi uma transferência do patrimônio público para poucos indivíduos e/ou grupos, que se converteram em verdadeiros bilionários da noite para o dia.
Em especial nas áreas de transportes, siderurgia, telecomunicações, petroquímica, energia, entre outras. Um país com história milenar de influência na região, a atual Rússia continua a tentar exercer sua hegemonia econômica e diplomática naquela parte do mundo.
Quem nunca ouviu falar na Gazprom, a maior empresa de gás no mundo atual? Ao lado dela, as outras grandes empresas russas de escala internacional operam basicamente no ramo de energia, mineração e infra-estrutura.
O caso da Índia já é um pouco distinto. Desde o processo de luta contra a dominação britânica, o País tenta construir um caminho próprio que combine a afirmação da independência política com a construção de uma infra-estrutura social e econômica capaz de dar conta da enorme quantidade de desafios relativos à construção de uma Nação livre. A exemplo dos casos anteriores, sua história é milenar e conta períodos de apogeu de dominação social, econômica e cultural no Oriente.
Há quase meio século busca uma inserção baseada no fortalecimento regional do país e na ampliação de sua influência no mundo globalizado. A grande referência continua sendo o êxito do grupo Tata, um conglomerado mais conhecido na área da metalurgia e da indústria automobilística.
Há, inclusive, indícios de que estaria a preparar as malas para seu desembarque em nossas praias, atraído pelo potencial de produção e comercialização do carro mais barato do mundo - o Nano. As demais empresas gigantes indianas com influência mundial operam, em sua maior parte, nas áreas de energia, infra-estrutura, mineração e telecomunicações.
E o caso brasileiro? Pois é, nos últimos anos cada vez mais se menciona a expressão das "multinacionais brasileiras". Mas quais são elas, afinal? As listas variam muito, de acordo com os critérios utilizados, com os anos mantidos como referência e com os setores incluídos. Por exemplo, se excluirmos o setor financeiro, logo de cara ficam de fora Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Bradesco e Itaú.
Se a base for anterior a 2009, Sadia e Perdigão aparecem ainda separadas, antes da fusão de gigantes ocorrida no ano passado. Se incluirmos as empresas de construção civil, a sagrada trindade formada por Camargo Correia, Odebrecht e Andrade Gutierrez passa a ser presença assegurada. E por aí vai. Cada um monta a sua lista de acordo com seus interesses, muitas vezes para fazer incluir alguma ou excluir outra... Afinal, o jogo é prá cachorro grande, big businness!
De qualquer forma, em geral a lista é encabeçada pela Petrobrás e pela Vale. Em seguida surgem Gerdau, Braskem e Votorantim. A seguir as empresas alimentícias, como a Brazil Foods (Sadia + Perdigão) e a Friboi-JBS (maior empresa do mundo na área de carnes e frigoríficos).
Em geral, está também presente a empresa de nosso Vice Presidente José de Alencar, a Coteminas. Freqüentam também a WEG (motores), a Natura e a Marcopolo (setor automobilístico). Alguns leitores podem estar se perguntando a essa altura: sim, Paulo, mas e daí? Pois é, boa pergunta! E daí?
E daí que, cada vez mais, a questão da inserção da economia brasileira no cenário internacional passa por um debate a respeito de qual a melhor estratégia a ser adotada. Muitos empresários, economistas e agentes públicos defendem a consolidação das chamadas "campeãs nacionais".
As declarações e as ações desenvolvidas pelo Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, representam bem essa visão. Trata-se de envidar todos os esforços possíveis para que o Brasil constitua e fortaleça cada vez mais um pequeno número de "grandes e boas" empresas ditas brasileiras, em setores nos quais sejam capazes de despontar como lideranças no mercado planetário disputado da globalização acentuada.
Mas o detalhe é que a construção desse caminho custa caro, muito caro. E como sempre ocorre, a retórica liberal pede uma licença poética e chama ardentemente a presença do Estado, para ajudar nessa tarefa, agora sim, travestida de elevado grau de patriotismo! Afinal, esse é um País que vai prá frente...
E aqui entra o papel das instituições públicas, que operam com recursos do Estado brasileiro, como é o caso do BNDES. Além de emprestar a juros subsidiados, o Banco tem operado como o cimento financeiro necessário para a conformação dos grandes conglomerados brasileiros de capital...privado! E esse papel é encarado como a função nobre, por excelência, do Banco na atual etapa por que passa o processo de acumulação capitalista em escala internacional.
O BNDES empresta a juros mais baixos principalmente para os grandes conglomerados, oferece cartas de garantia para as ações no plano internacional, adianta recursos para processos de capitalização, entre outras operações. Todo esse esforço para o fortalecimento da causa nacionalista. Haja patriotismo...
Mas até o mais ingênuo dos Cândidos sabe que o capital não tem Pátria! O que move suas ações e decisões é a busca do lucro, da acumulação. E ponto final. Quantos não vibraram há alguns anos atrás, quando constituímos uma das maiores empresas de cerveja do mundo, com a fusão da Brahma e da Antarctica?
Mas, como reza o dito popular, alegria de pobre dura pouco. E, logo em seguida, a Ambev foi tranqüilamente vendida para os gigantes belgas da Interbrew. E desde 2005 voltamos a beber cerveja estrangeira... O que dizer da - até então - brasileira Garoto, engolida pela transnacional suíça Nestlé? E que agora, há poucos dias atrás, da nossa TAM sendo absorvida pela chilena LAN? O que foi feito desses gigantes tão brasileiros até bem pouco tempo atrás?
A análise da constituição das grandes multinacionais mostra alguns, digamos assim,"vícios" de origem. A Petrobrás é empresa da União desde sua fundação em 1954. A Vale foi privatizada e vendida a preço de banana há pouco mais de uma década.
A Gerdau e Braskem operam na área da siderurgia e petroquímica, com toda a facilidade propiciada pela aquisição de plantas com a privatização das empresas federais Siderbrás e Petroquisa. As empresas de construção civil devem sua existência e agigantamento às facilidades das grandes licitações de obras públicas pelo Estado brasileiro ao longo das últimas décadas.
Ou seja, fica evidente a presença da ação estatal para fortalecer e favorecer o grande capital privado, que por sua vez só existe em função das facilidades históricas já oferecidas pelo próprio Estado.
Talvez faça algum sentido o Brasil se lançar nessa aventura de competição na esfera internacional. Afinal, essas são as regras atuais do jogo e o País não consegueria sobreviver como uma ilha isolada. No entanto, é importante debatermos quais são as verdadeiras prioridades para um País com recursos não sobrantes como o nosso.
Como já mencionado, a ação do BNDES e do Estado tem um custo. Quando o Banco oferece tantas benesses ao capital privado, ele não exige nada em contrapartida. Por exemplo, não coloca como pré-condição o assento nos Conselhos de direção das empresas para exigir o cumprimento de requisitos mínimos em termos da ação empresarial, como a proibição da venda da empresa para grupos estrangeiros.
E ainda: respeito à responsabilidade social, manutenção e geração de novos empregos, política de sustentabilidade ambiental, respeito a determinadas condições mínimas para os trabalhadores, para ficar em apenas alguns itens.
Ou as nossas aspirações à liderança internacional incluiriam as pressões diplomáticas de liberar as empresas, como faz o Estado chinês pelo mundo afora, para operar com o uso de mão de obra ilegal no exterior, com o intuito único de aumentar sua competitividade?
O BNDES optou por concentrar também seus empréstimos para os grandes grupos. As informações demonstram que no último período, 57% dos desembolsos foram direcionados para apenas 12 grupos. Se tirarmos a Petrobrás e a Telebrás, restam apenas 10 conglomerados privados, incluindo as 3 gigantes da construção civil, a Votorantim, a Vale e a JBS-Friboi, entre outras.
Em seu portal, o Relatório do Banco se vangloria de que 72% dos empréstimos são direcionados para empresas de grande porte. E que 35% dos mesmos são para obras previstas no PAC. Em termos setoriais, 43% vão para a indústria da transformação e 40% para infra-estrutura.
Por outro lado, o Presidente Lula emitiu Medidas Provisórias entre 2009 e 2010, autorizando o Banco a aumentar sua capitalização em R$ 180 bilhões, com o objetivo de elevar o volume de empréstimos. Sempre com os juros da TJLP, altamente subsidiados, lembremo-nos disso.
A decisão que o País precisa tomar refere-se às prioridades e ao "timing" dessa estratégia de inserção internacional. Por exemplo, é mais do que sabido que sem investimento maciço em saúde, educação e ciência e tecnologia, de nada adianta esses vultosos investimentos nas empresas multinacionais brasileiras.
O futuro não está em empresas da construção civil ou do agronegócio! Constituir multinacionais para operar nesses setores é desperdiçar recurso público. A verdadeira sabedoria na formulação de políticas públicas está justamente em antecipar tendências estratégicas de longo prazo, para o futuro das próximas gerações e não para o País do depois-de-amanhã. Aqui entram aspectos como informática de última geração, nano eletrônica, engenharia genética, tendências da biodiversidade, mecatrônica, etc.
Muitos poderão argumentar que não basta apenas esperar o futuro, que as coisas são construídas desde já. De acordo. Mas que não faltem - como têm faltado - recursos para esses projetos de longo prazo. Sempre se faz pressão para liberar os recursos para o aqui e agora, mas as políticas que apresentarão seus resultados num futuro mais distante são sempre relegadas a um segundo plano. E nesse ponto toda a atenção deve ser conferida ao desenho do fundamental e bilionário Fundo do Pré Sal - em princípio, corretamente dirigido para essas missões estratégicas e não para o desperdício do "prá ontem"! Veremos.
Além disso, é fundamental que o comportamento do BNDES seja mais efetivo no controle dos recursos direcionados aos grandes conglomerados. Por exemplo, com o estabelecimento de uma Carta de Princípios a ser assinada pelos tomadores de empréstimos.
É público e notório que boa parte das empresas não têm compromisso algum com a sustentabilidade ambiental nem com a geração de emprego ou reaplicação de seus lucros com algum tipo de compromisso social. Pelo contrário, uma das empresas que despontvaa na liderança do recebimento de recursos para o agro-negócio, a Cosan, tem vários processos na Justiça por acusações de uso de trabalho escravo!
Multinacionais brasileiras? Como vimos, a resposta envolve alternativas que vão muito além do que um simples "sim" ou "não". Deve passar por um profundo debate sobre os "comos", os "porquês", os "paraquéns" e os "sob-quais-condições". Infelizmente, nem o propício momento do debate eleitoral está sendo usado para tal fim.
(*) Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10
Afinal, na condição de brasileiro, uma pessoa que se considera de esquerda, num mundo dominado pelo capital estrangeiro, naquela época era mais fácil denunciar as mazelas do imperialismo provocadas pela ação perniciosa e exploradora das multinacionais com sede no exterior...
No entanto, o processo de internacionalização da economia avançou e alguns países do chamado bloco dos "não-desenvolvidos" ou "em desenvolvimento", segundo a classificação da preferência de cada um, avançaram mais do que a média dos desenvolvidos e do que a média mundial. Entre outros, é famoso o caso dos BRICs, acrônimo para designar Brasil, Rússia, Índia e China.
Com todos os problemas derivados das tentativas de agrupar realidades bastante diferentes entre si, esse conjunto consegue chamar a atenção para algumas semelhanças significativas. Trata-se de países de grande extensão territorial, com expressivo contingente populacional e elevado potencial de crescimento econômico a partir dos anos 2000.
Face à crise por que vêm passando as economias de Estados Unidos, Japão e Europa nas últimas décadas, os Brics passam a ser vistos como alternativas para a retomada do crescimento da economia em escala global. Seja pelo lado da produção de bens e serviços, seja pela capacidade mesmo de consumo representada por essa demanda concentrada territorialmente, mas da ordem de bilhões de indivíduos.
Cada um desses países tem seu ritmo próprio de crescimento da economia, sua história recente que explica a emergência repentina, sua entrada nesse mundo da divisão internacional do trabalho e do capital. O caso da China é o mais evidente: o País vem crescendo a taxas elevadíssimas ao longo das últimas 2 décadas e acaba de ultrapassar o PIB do Japão, tornando-se a segunda economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Com esse processo, emergem os mega-consórcios e as mega-empresas chinesas. Um das operações mais simbólicas foi a compra em 2004 da famosa IBM norte-americana, a antes toda poderosa empresa multinacional de informática. Passou a fazer parte da Lenovo, conglomerado majoritariamente chinês.
A China é detentora de boa parte da dívida pública dos EUA e desponta como a potência hegemônica das próximas décadas. Assim, a cada dia que passa uma nova empresa chinesa gigante desponta para o noticiário econômico nas mais diversas áreas, como transportes, bens de capital, siderurgia, petroquímica, automobilística, etc.
O caso russo está bastante vinculado ao processo descontrolado de transição às regras da economia mercado, ocorrido a partir da década de 90. O colapso político e econômico do regime soviético fez com que um conjunto de grandes conglomerados estatais fossem submetidos a um processo descontrolado de privatização. Na verdade, o que ocorreu foi uma transferência do patrimônio público para poucos indivíduos e/ou grupos, que se converteram em verdadeiros bilionários da noite para o dia.
Em especial nas áreas de transportes, siderurgia, telecomunicações, petroquímica, energia, entre outras. Um país com história milenar de influência na região, a atual Rússia continua a tentar exercer sua hegemonia econômica e diplomática naquela parte do mundo.
Quem nunca ouviu falar na Gazprom, a maior empresa de gás no mundo atual? Ao lado dela, as outras grandes empresas russas de escala internacional operam basicamente no ramo de energia, mineração e infra-estrutura.
O caso da Índia já é um pouco distinto. Desde o processo de luta contra a dominação britânica, o País tenta construir um caminho próprio que combine a afirmação da independência política com a construção de uma infra-estrutura social e econômica capaz de dar conta da enorme quantidade de desafios relativos à construção de uma Nação livre. A exemplo dos casos anteriores, sua história é milenar e conta períodos de apogeu de dominação social, econômica e cultural no Oriente.
Há quase meio século busca uma inserção baseada no fortalecimento regional do país e na ampliação de sua influência no mundo globalizado. A grande referência continua sendo o êxito do grupo Tata, um conglomerado mais conhecido na área da metalurgia e da indústria automobilística.
Há, inclusive, indícios de que estaria a preparar as malas para seu desembarque em nossas praias, atraído pelo potencial de produção e comercialização do carro mais barato do mundo - o Nano. As demais empresas gigantes indianas com influência mundial operam, em sua maior parte, nas áreas de energia, infra-estrutura, mineração e telecomunicações.
E o caso brasileiro? Pois é, nos últimos anos cada vez mais se menciona a expressão das "multinacionais brasileiras". Mas quais são elas, afinal? As listas variam muito, de acordo com os critérios utilizados, com os anos mantidos como referência e com os setores incluídos. Por exemplo, se excluirmos o setor financeiro, logo de cara ficam de fora Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Bradesco e Itaú.
Se a base for anterior a 2009, Sadia e Perdigão aparecem ainda separadas, antes da fusão de gigantes ocorrida no ano passado. Se incluirmos as empresas de construção civil, a sagrada trindade formada por Camargo Correia, Odebrecht e Andrade Gutierrez passa a ser presença assegurada. E por aí vai. Cada um monta a sua lista de acordo com seus interesses, muitas vezes para fazer incluir alguma ou excluir outra... Afinal, o jogo é prá cachorro grande, big businness!
De qualquer forma, em geral a lista é encabeçada pela Petrobrás e pela Vale. Em seguida surgem Gerdau, Braskem e Votorantim. A seguir as empresas alimentícias, como a Brazil Foods (Sadia + Perdigão) e a Friboi-JBS (maior empresa do mundo na área de carnes e frigoríficos).
Em geral, está também presente a empresa de nosso Vice Presidente José de Alencar, a Coteminas. Freqüentam também a WEG (motores), a Natura e a Marcopolo (setor automobilístico). Alguns leitores podem estar se perguntando a essa altura: sim, Paulo, mas e daí? Pois é, boa pergunta! E daí?
E daí que, cada vez mais, a questão da inserção da economia brasileira no cenário internacional passa por um debate a respeito de qual a melhor estratégia a ser adotada. Muitos empresários, economistas e agentes públicos defendem a consolidação das chamadas "campeãs nacionais".
As declarações e as ações desenvolvidas pelo Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, representam bem essa visão. Trata-se de envidar todos os esforços possíveis para que o Brasil constitua e fortaleça cada vez mais um pequeno número de "grandes e boas" empresas ditas brasileiras, em setores nos quais sejam capazes de despontar como lideranças no mercado planetário disputado da globalização acentuada.
Mas o detalhe é que a construção desse caminho custa caro, muito caro. E como sempre ocorre, a retórica liberal pede uma licença poética e chama ardentemente a presença do Estado, para ajudar nessa tarefa, agora sim, travestida de elevado grau de patriotismo! Afinal, esse é um País que vai prá frente...
E aqui entra o papel das instituições públicas, que operam com recursos do Estado brasileiro, como é o caso do BNDES. Além de emprestar a juros subsidiados, o Banco tem operado como o cimento financeiro necessário para a conformação dos grandes conglomerados brasileiros de capital...privado! E esse papel é encarado como a função nobre, por excelência, do Banco na atual etapa por que passa o processo de acumulação capitalista em escala internacional.
O BNDES empresta a juros mais baixos principalmente para os grandes conglomerados, oferece cartas de garantia para as ações no plano internacional, adianta recursos para processos de capitalização, entre outras operações. Todo esse esforço para o fortalecimento da causa nacionalista. Haja patriotismo...
Mas até o mais ingênuo dos Cândidos sabe que o capital não tem Pátria! O que move suas ações e decisões é a busca do lucro, da acumulação. E ponto final. Quantos não vibraram há alguns anos atrás, quando constituímos uma das maiores empresas de cerveja do mundo, com a fusão da Brahma e da Antarctica?
Mas, como reza o dito popular, alegria de pobre dura pouco. E, logo em seguida, a Ambev foi tranqüilamente vendida para os gigantes belgas da Interbrew. E desde 2005 voltamos a beber cerveja estrangeira... O que dizer da - até então - brasileira Garoto, engolida pela transnacional suíça Nestlé? E que agora, há poucos dias atrás, da nossa TAM sendo absorvida pela chilena LAN? O que foi feito desses gigantes tão brasileiros até bem pouco tempo atrás?
A análise da constituição das grandes multinacionais mostra alguns, digamos assim,"vícios" de origem. A Petrobrás é empresa da União desde sua fundação em 1954. A Vale foi privatizada e vendida a preço de banana há pouco mais de uma década.
A Gerdau e Braskem operam na área da siderurgia e petroquímica, com toda a facilidade propiciada pela aquisição de plantas com a privatização das empresas federais Siderbrás e Petroquisa. As empresas de construção civil devem sua existência e agigantamento às facilidades das grandes licitações de obras públicas pelo Estado brasileiro ao longo das últimas décadas.
Ou seja, fica evidente a presença da ação estatal para fortalecer e favorecer o grande capital privado, que por sua vez só existe em função das facilidades históricas já oferecidas pelo próprio Estado.
Talvez faça algum sentido o Brasil se lançar nessa aventura de competição na esfera internacional. Afinal, essas são as regras atuais do jogo e o País não consegueria sobreviver como uma ilha isolada. No entanto, é importante debatermos quais são as verdadeiras prioridades para um País com recursos não sobrantes como o nosso.
Como já mencionado, a ação do BNDES e do Estado tem um custo. Quando o Banco oferece tantas benesses ao capital privado, ele não exige nada em contrapartida. Por exemplo, não coloca como pré-condição o assento nos Conselhos de direção das empresas para exigir o cumprimento de requisitos mínimos em termos da ação empresarial, como a proibição da venda da empresa para grupos estrangeiros.
E ainda: respeito à responsabilidade social, manutenção e geração de novos empregos, política de sustentabilidade ambiental, respeito a determinadas condições mínimas para os trabalhadores, para ficar em apenas alguns itens.
Ou as nossas aspirações à liderança internacional incluiriam as pressões diplomáticas de liberar as empresas, como faz o Estado chinês pelo mundo afora, para operar com o uso de mão de obra ilegal no exterior, com o intuito único de aumentar sua competitividade?
O BNDES optou por concentrar também seus empréstimos para os grandes grupos. As informações demonstram que no último período, 57% dos desembolsos foram direcionados para apenas 12 grupos. Se tirarmos a Petrobrás e a Telebrás, restam apenas 10 conglomerados privados, incluindo as 3 gigantes da construção civil, a Votorantim, a Vale e a JBS-Friboi, entre outras.
Em seu portal, o Relatório do Banco se vangloria de que 72% dos empréstimos são direcionados para empresas de grande porte. E que 35% dos mesmos são para obras previstas no PAC. Em termos setoriais, 43% vão para a indústria da transformação e 40% para infra-estrutura.
Por outro lado, o Presidente Lula emitiu Medidas Provisórias entre 2009 e 2010, autorizando o Banco a aumentar sua capitalização em R$ 180 bilhões, com o objetivo de elevar o volume de empréstimos. Sempre com os juros da TJLP, altamente subsidiados, lembremo-nos disso.
A decisão que o País precisa tomar refere-se às prioridades e ao "timing" dessa estratégia de inserção internacional. Por exemplo, é mais do que sabido que sem investimento maciço em saúde, educação e ciência e tecnologia, de nada adianta esses vultosos investimentos nas empresas multinacionais brasileiras.
O futuro não está em empresas da construção civil ou do agronegócio! Constituir multinacionais para operar nesses setores é desperdiçar recurso público. A verdadeira sabedoria na formulação de políticas públicas está justamente em antecipar tendências estratégicas de longo prazo, para o futuro das próximas gerações e não para o País do depois-de-amanhã. Aqui entram aspectos como informática de última geração, nano eletrônica, engenharia genética, tendências da biodiversidade, mecatrônica, etc.
Muitos poderão argumentar que não basta apenas esperar o futuro, que as coisas são construídas desde já. De acordo. Mas que não faltem - como têm faltado - recursos para esses projetos de longo prazo. Sempre se faz pressão para liberar os recursos para o aqui e agora, mas as políticas que apresentarão seus resultados num futuro mais distante são sempre relegadas a um segundo plano. E nesse ponto toda a atenção deve ser conferida ao desenho do fundamental e bilionário Fundo do Pré Sal - em princípio, corretamente dirigido para essas missões estratégicas e não para o desperdício do "prá ontem"! Veremos.
Além disso, é fundamental que o comportamento do BNDES seja mais efetivo no controle dos recursos direcionados aos grandes conglomerados. Por exemplo, com o estabelecimento de uma Carta de Princípios a ser assinada pelos tomadores de empréstimos.
É público e notório que boa parte das empresas não têm compromisso algum com a sustentabilidade ambiental nem com a geração de emprego ou reaplicação de seus lucros com algum tipo de compromisso social. Pelo contrário, uma das empresas que despontvaa na liderança do recebimento de recursos para o agro-negócio, a Cosan, tem vários processos na Justiça por acusações de uso de trabalho escravo!
Multinacionais brasileiras? Como vimos, a resposta envolve alternativas que vão muito além do que um simples "sim" ou "não". Deve passar por um profundo debate sobre os "comos", os "porquês", os "paraquéns" e os "sob-quais-condições". Infelizmente, nem o propício momento do debate eleitoral está sendo usado para tal fim.
(*) Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10
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