domingo, 11 de março de 2012

Os Bronfman


Edgar Bronfman, presidente do Congresso Mundial Judaico, em plena campanha por uma renovada identidade judaica...

Além de presidente do Congresso Mundial Judaico, Edgar Bronfman é o chefão da conhecida e bilionária família Bronfman, ex-proprietários da Seagram's Company Ltd., uma gigantesca empresa de bebidas alcoólicas com matriz em Montreal, no Canadá, e subsidiárias em todo o mundo.
As atividades dessa família no ramo de destilados tiveram início com Samuel Bronfman, fundador do atual império Seagram's, na década de 20 do século passado, com a fabricação e venda de bebidas alcoólicas, sendo a principal dessas bebidas uma "inovação" inventada por Eneas Coffey em 1831: o blend whiskey. Samuel Bronfman dizia: "A destilação é uma ciência, o blending é uma arte". Veremos mais à frente o que é, e o que significa essa "arte" de Samuel Bronfman.
Stephen Birmingham, em The Rest of Us: The Rise of America's Eastern European Jews (Boston, 1984) relata que "enquanto o verdadeiro scotch whiskey levava de dois a doze anos para ser envelhecido, o fenômeno "cotch Bronfman" poderia envelhecer em dois dias sem que ninguém percebesse a diferença."
A "mágica" se dá através de uma mistura de álcool com várias espécies de malte, dois ou três tipos de uísque de grão, e outros ingredientes. Foi por meio desse líquido que Samuel Bronfman deu início ao seu império.
Quanto a esse apelido de família, é digno de nota o fato que Samuel, o pai de Edgar, não se chamava Bronfman mas sim, Baryla... Só depois, com a sua atividade de contrabandista, passou a usar o nome Bronfman, uma vez que essa palavra, em yidish, significa... whiskey man, "o homem do uísque".
A Seagram's Company Ltd. é uma empresa canadense dessa família de judeus russos, e cujo rápido crescimento se deu na época da "Lei Seca", ou seja, durante a proibição de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, exatamente quando Samuel Bronfman começou a traficar uísque falsificado do Canadá, inundando a América com os seus venenos através de negócios milionários com a Cosa Nostra.
Essa organização de psicopatas, a Máfia, fartamente abastecida não só com ininterruptos carregamentos de blend whiskey, mas também com os famosos licores Seagram's e outras bebidas, era chefiada por facínoras como Lucky Luciano,
   
Da esquerda para a direira: Lucky Luciano, Frank Costello e Meyer Lanski.
Frank Costello e Meyer Lansky (nascido Majer Suchowlinski). Este último logrou transformar a "organização" numa corporação multinacional (graças a fornecedores como Sam Bronfman) ao abrir cassinos, clubes noturnos e casas de jogos em Cuba, nas Bahamas e em Londres, além de internacionalizar o circuito da prostituição.1
O psicopata e mafioso judeu, Meyer Lanski, em visita a Jerusalém...
Meyer Lansky era um fanático sionista, tendo contribuído com milhões de dólares do crime organizado para a agressiva campanha do lobby judeu na votação da ONU durante a partilha da Palestina e, transbordante da empáfia judia, escolheu para o seu epitáfio a frase que rancorosamente gostava de repetir: "Jamais me curvarei ante um cristão". E assim, com sócios como esses, as portas começaram a se abrir rapidamente para essa família de traficantes internacionais, os Bronfman.

Os herdeiros
Sam, o godfather, legou a seu herdeiro, Edgar Bronfman, uma estrutura tal que as bebidas Seagram's hoje são vendidas em mais de cento e noventa países e territórios. Afiliados e subsidiárias em quarenta países formam com eles o maior sistema de distribuição da indústria de bebidas alcoólicas do planeta. A Seagram's produz, comercializa e distribui mais de duzentas e trinta marcas de bebidas destiladas, mais de cento e oitenta marcas de vinhos, champagnes, ports, cherrys, e mais de cinqüenta marcas de cervejas e de outras bebidas, como refrescos e misturas com variados teores de álcool. Entre algumas das mais conhecidas, estão marcas como Crown Royal, Captain Morgan, Chivas Regal e Absolut Vodka.
Com o tempo, o primeiro herdeiro do império Bronfman legou a seu filho, Edgar Bronfman Jr., primo de Jeffrey Bronfman2, todas as condições para que expandisse as empresas Seagram's para áreas de multimídia e do entretenimento de massas, e assim surgiu um imenso conglomerado de mega-empresas, como a Warner Music, e que hoje abarca a MCA (empresa de entretenimento); a Universal Pictures (uma das maiores companhias cinematográficas do mundo); a Interscope Records (o maior promotor de um novo e estranho tipo de "música", a gangsta rap, cujas letras incitam explicitamente os negros a cometer atos de violência contra brancos); a Universal Music e a PolyGram (empresas discográficas, sendo esta última a maior da Europa). Com a compra da PolyGram, em 1998, Bronfman apropriou-se também da Deutsche Grammophon, da Decca-London e das empresas discográficas Philips. Entre os tantos "artistas" que os Bronfman já produziram, ou empresariam, figuram Madonna, e Xena: a Princesa Guerreira, entre outros famosos.
Quando a renda da PolyGram se somou às da MCA e da Universal, os Bronfman se tornaram donos do quarto maior império dos meios de comunicação, com renda anual em torno dos doze bilhões de dólares. Grupos como esses Bronfman, detentores da mídia mundial, realmente controlam os Estados Unidos e o mundo. Os Bronfman podem até se dar ao luxo de financiar simultaneamente dois candidatos à presidência dos Estados Unidos. Nas eleições americanas, nas quais Bush venceu, eles doaram a ambos os partidos, quantias praticamente iguais, o mesmo ocorrendo, evidentemente, agora durante a disputa Obama vs McCain.
Além de traficar bebidas e alucinógenos, a whiskey family está envolvida no controle da mídia internacional e a serviço da política dos Rothschild, com o apoio do Clube Bilderberg e da B'nai B'rith, que também é dirigida por Edgar Bronfman. Eis o sinistro tripé, a base da estrutura do poder da chamada Nova Ordem Mundial.
Samuel Bronfman (o terceiro da esquerda para a direita) reunido com líderes judeo-sionistas em Jerusalém, em 1956.
A expressão Nova Ordem Mundial é usada freqüentemente para referir a distensão e a reorientação das relações internacionais do pós-Guerra Fria mas, em realidade, esse nome refere o insidioso processo de despersonalização dos povos que eclodiu ao final do século XIX e, mais especificamente, a Grande Onda: esse avassalador movimento em escala gigantesca, de perversão e decadência da nossa Civilização, surgido nos EUA, já na década de 1950, e avançando pelo mundo afora.

Agentes de perversão e corrupção social
No caso dos Bronfman, à custa de quais maquinações teriam alcançado eles tamanho poder e fortuna? Sem dúvida alguma, através do sofrimento e da destruição da vida de milhões e milhões de famílias em todo o mundo. Agora contam também com os lucros astronômicos provindos de suas mega produções "artísticas", as quais seguem influenciando, de forma mórbida e perversa, outros tantos milhões de crianças e adultos em todo o mundo, tendo como protagonistas, "artistas" por eles patrocinados, que estimulam insistentemente o consumo das drogas. Com isso, lograram alastrar pelo planeta, o vício, a autodestruição e a mediocridade, atuando como perfeitos agentes dessa cabala de devassidão e degradação da humanidade.
Estima-se que cerca de 90% da população adulta do planeta, ou seja, aproximadamente cinco bilhões e meio de seres humanos, bebam álcool com alguma freqüência, sendo que aproximadamente 50% já apresentam problemas temporários devido a esse vício, e 10 a 15% são alcoólatras crônicos. O alcoolismo social é uma insidiosa forma de dependência, tolerada por quase todos e praticada pela maioria dos jovens e adultos nas sociedades "modernas e liberais", sendo a mais disseminada e a principal forma de toxicomania da atualidade.
Durante cinqüenta anos, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, acompanharam a vida de seiscentos homens para identificar as causas do alcoolismo, e o resultado está em The Natural History of Alcoholism Revisited (Cambridge, 1995) de George Eman Vaillant, com base na pesquisa da qual ele foi coordenador por duas décadas. Eis algumas de suas conclusões:
A minha principal convicção hoje é que o alcoolismo é um problema de dimensões trágicas ainda sub-dimensionadas. Em relação ao álcool, nenhuma medida efetiva vem sendo tomada. Só que, do ponto de vista da sociedade, o alcoolismo é um problema muito grave. Seu maior dano é a destruição de famílias inteiras. Para citar um só exemplo: nos Estados Unidos, 50% de todas as crianças atendidas nos serviços psiquiátricos vêm de famílias de alcoólatras. E grande parte dos abusos cometidos contra crianças têm raízes nesse vício. Sem sombra de dúvida é uma doença, resultante de um cérebro que perdeu a capacidade de decidir. Os japoneses têm um provérbio que diz: "Primeiro o homem toma uma bebida, e depois a bebida toma o homem." O indivíduo alcoólatra é alguém que perdeu a liberdade de escolha.
O alcoolismo relacionado à violência urbana e doméstica, aos acidentes de trânsito e de trabalho, e ainda, às inúmeras doenças é, atualmente, na maior parte do mundo, um dos maiores problemas no que diz respeito à saúde pública. Os gastos decorrentes do uso do álcool e de outras drogas estão entre os mais expressivos dessa área da administração pública. Para se estimar esses valores, as pesquisas têm se pautado, principalmente, nos custos com tratamento médico, na perda de produtividade dos trabalhadores consumidores de drogas e nas perdas sociais decorrentes de milhões de mortes prematuras.
Em 1997, o alcoolismo ocupava o quarto lugar no grupo das doenças que mais incapacitam. Os transtornos mentais associados ao uso de substâncias psicoativas, como as Psicoses e Síndromes de Dependência de álcool e de outras drogas, são o primeiro motivo de internações psiquiátricas.
Segundo pesquisa realizada pelo NIAAA – National Institute on Alcohol and Alcoholism Abusive, dos Estados Unidos, o consumo abusivo e persistente de álcool é uma importante causa de morbidade, um fator verificado em 68% dos homicídios culposos, 62% dos assaltos, 70% dos assassinatos, mais de 30% dos casos de suicídio e 44% dos roubos ocorridos no país (ALCOHOLALERT, 1997). Pesquisas ainda comprovam que  70% das vítimas fatais de acidentes de trânsito haviam consumido álcool, isso se não for em época de datas comemorativas como carnaval, Natal, ou a passagem de ano, as quais registram índices ainda maiores.
Para se ter uma idéia, no Brasil os gastos decorrentes direta ou indiretamente do alcoolismo, atingem a marca dos cento e oito bilhões de dólares por ano, ou seja, 7.9% do Produto Interno Bruto do Brasil. E nos Estados Unidos, conforme informações do NIAAA, a cifra chega a cento e noventa bilhões ao ano.
O mais alarmante é a tendência mundial que aponta em direção ao início cada vez mais precoce da dependência de drogas e álcool por parte de crianças e adolescentes. No Brasil, servem de referência os estudos realizados, desde 1987, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) sobre o uso de drogas por estudantes de 1º e 2º graus, e crianças e adolescentes em situação de rua. O último levantamento do CEBRID, realizado em 1997, revela que o percentual de adolescentes que já consumiram drogas entre os dez e os doze anos de idade é altíssimo: 51.2% usaram álcool; 11% usaram tabaco; 7.8%, solventes; 2% ansiolíticos e 1.8% já se utilizaram de anfetaminas. Nas dez capitais pesquisadas, cresceu a tendência para o uso constante de maconha entre crianças e adolescentes. O uso freqüente de cocaína e de álcool também aumentou em seis capitais. Quanto ao uso pesado de drogas, isto é, vinte vezes ou mais ao mês, também foi constatado um aumento nas dez capitais para a maconha e, para o álcool, em oito capitais. A situação agrava-se entre as crianças e adolescentes que vivem nas ruas.
É essa a perversa "arte" dos Bronfman que, ao mesmo tempo em que lograram a proeza de diminuir "magicamente" o tempo de envelhecimento do uísque para dois dias, lograram também diminuir drasticamente a qualidade e o tempo de vida de milhões e milhões de seres humanos e de suas famílias pelo mundo afora.
O alcoolismo é um dos mais graves e dramáticos problemas da nossa sociedade. O álcool é uma droga como a heroína e a cocaína; vicia, degenera e altera o estado mental das pessoas, levando-as a atos insensatos, violentos e até a cometer crimes. É um escândalo que as bebidas alcoólicas não sejam combatidas, mas sejam glamorizadas, e o seu uso incentivado no convívio social. A abstinência do álcool é considerada praticamente impossível frente aos perversos estímulos e armadilhas da publicidade e da propaganda; e os responsáveis por essa perversidade, são justamente os meios de comunicação social que, infelizmente, estão nas mãos daqueles mesmos agentes que destilam, fermentam e distribuem em escala mundial, o álcool, o vício e a decadência.3 

NOTAS:
1 O tráfico de mulheres brancas e de entorpecentes, a prostituição em larga escala, devidamente industrializada, é obra reconhecidamente judaica. Há uma sociedade internacional denominada Zwig Migdal, que explora esse rendoso negócio e contra a qual têm sido impotentes todas as polícias dos países corrompidos, ou judaizados e "liberais". Ver a documentação reveladora em Julio Alsogaray, La prostitutión en Argentine, Editora Denoel et Steele, Paris.
2 Jeffrey Bronfman, o cínico lobista e descarado traficante de alucinógenos, lança os seus tentáculos por todo o mundo, aliciando jovens e adultos numa rede internacional de cretinos lobotomizados e de ladinos agentes disfarçados como desapegados "ambientalistas" e defensores de "novas religiões" e "seitas primitivas". Repare no que esses estranhos mentores andam tramando sob o negligente olhar das autoridades, ou com a cínica cumplicidade de alguns políticos em Brasília: "Nutrindo as raízes"...
Esses "mentores" vão arrebanhando uns pobres mamelucos e índios completamente desenraizados, e depois de lhes ensinarem ridículos arremedos de "pajelanças" e de falsos rituais, vão convencendo, desde ingênuos adolescentes de classe média, até crédulos e distraídos universitários que, através do consumo de umas certas ervas e plantas alucinógenas, poderiam receber, entre vômitos e arrotos, "antigos saberes e profundos segredos transcendentais ocultos no seio da floresta"... e o "ministro"...
3 Ainda hoje a pequena e a média burguesia e uma certa classe média universitária, dita de esquerda, ou "bem pensante", teimam em negar o óbvio escancarado e fingir que não lhes diz respeito a orquestrada decadência da nossa sociedade.

AVISO:
O artigo acima, Os Bronfman, não é de minha autoria, é um resumo de notícias e comentários sobre essa família de judeus russos, já divulgados por vários autores e em vários sites, alguns com opiniões e posições bastante diferentes das minhas. As informações sobre as atividades dos Bronfman, e de outros agentes judeo-sionistas, encontram-se em textos e artigos publicados e citados em livros, revistas e jornais de todo o mundo, e em inúmeros sites e blogs da internet e em vários idiomas sendo já, portanto, como também é esta apresentação, matéria e assunto de domínio público.
O site www.alfredo-braga.pro.br entende que qualquer espécie de direitos, comerciais ou autorais, sobre imagens ou textos que abordem o conluio judeo-sionista contra a nossa sociedade, são de domínio público, pois são provas de crimes de lesa-humanidade.
Se precisar de mais referências, poderá acessar os links a seguir: Canadian Jewish Congress, Jewish criminals, The Bronfmans crime families, The Bronfmans of Canada, Bronfman Center, Kosher Nostra.

Sacrifício às divindades do capital


Na guerra das bombas que explodem corpos assim como na guerra da economia, que explode vidas candidamente, os administradores das tragédias usam siglas inexplicáveis para justificar os motivos de tanto sacrifício.  Enquanto ao povo grego é imposta a falência e a miséria para “salvar” a nação, o novo governo técnico da Itália - que deve governar por período limitado, até as novas eleições -,   aprova decretos e pacotes severos de medidas para “livrar” o Bel Paese da crise econômica. Na Itália como na Grécia, e onde mais haja  preço alto a pagar, quem dá os mortos, como nas guerras, são os trabalhadores e seus filhos. “Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo quem conta os mortos”, escreve Eduardo Galeano.
O início de 2012 no país de Dante Alighieri e Michelangelo foi assinalado pelo despreparo para enfrentar o intenso frio que isolou comunidades e agravou o problema da energia.  Mas a população não sentiu apenas o peso do rígido inverno, que não poupou a mediterrânea Itália, fazendo gente do povo até duvidar das atemorizantes previsões  sobre o aquecimento global.  No contexto de novas pressões fiscais, demissões e aumento do desemprego, um drama bem menos divulgado pela mídia também golpeia a sociedade: o suicídio de trabalhadores e pequenos empresários,   que escolhem a morte à perda do trabalho e à bancarrota. Na Itália já se contam às dezenas os que sucumbiram ao desespero, afundados na lama de uma  crise que não nasceu da noite para o dia, tal qual meteoro catapultado do espaço sideral, como querem fazer crer os “metafísicos das finanças”, cujas vozes são apregoadas  pelos meios de comunicação  públicos e privados. 
Economista que sustenta o mercado, as liberalizações e o rigor das contas públicas, Mario Monti (professor e presidente da Bocconi, prestigiosa universidade privada italiana) substituiu, sem eleições, o descarado Silvio Berlusconi. Desde então, ele, seus ministros  e  assessores usam, para explicar as medidas de austeridade,  uma   terminologia  que Beppe Grillo (ator, ativista político e um dos blogueiros mais ‘visitados’ no mundo virtual) chama de “metáfisica da economia”, ou “metafisica das finanças”. Enquanto proliferam palavras sigladas na arte de produzir ilusionismo, providências inflexíveis  afligem os empregados - com congelamento salarial e aumento dos já pesados impostos, só para citar duas - e desesperam  os que  nem um trabalho tinham quando a crise foi finalmente admitida por governantes que até um dia antes asseguravam a solidez da  economia italiana.  Atingidos em cheio são os  trabalhadores jovens e velhos, os recém demitidos, a juventude desempregada (que nunca conseguiu um trabalho de verdade e vive de fugazes atividades precárias)  e, dulcis in fundo,  os aposentados.
O presidente da república, Giorgio Napolitano, em seu discurso para saudar a população no início do ano, reprisou a necessidade de enfrentar a crise aliando rigor financeiro e desenvolvimento, sempre com “espírito de sacrifício” e “ímpeto criativo”. Aparentando serenidade, Napolitano não poupou as arrogâncias nacionais do velho continente, lembrando ser indispensável um esforço conjunto de todos os países europeus para a recuperação da economia. Reiteirou, contudo, que a confiança não deve ser obscurecida pelo pessimismo e que nenhuma classe social pode se eximir do preço a pagar para o saneamento das contas públicas.
Napolitano denunciou o parasitismo, a corrupção e outra grave “patologia italiana”: a evasão fiscal, estimada em cerca de 180 bilhões de euros, em 2009, segundo dados de Tax Researh London, a pedido do grupo parlamentar europeu Alleanza Progressista dei Socialisti e dei Democratici. A recuperação desse valor evadido garantiria, nos cálculos de economistas, zerar a dívida pública italiana em pouco mais de 15 anos.
Decisões tomadas neste início de março para conter os chamados “salários de ouro” - de até  600 mil euros por ano, no caso de alguns altos dirigentes -   fixam um teto de 300 mil euros anuais para o salário de administratores públicos, mas  soam risíveis diante da situação dos trabalhadores empobrecidos. Além de os italianos receberem salários entre os mais rebaixados da zona do euro, neste início do ano já dispara o alarme do aumento do desemprego no país, que alcançou em janeiro, segundo o Istat (Istituto Nazionale di Statistica) o índice geral de 9,2% e o ápice de 31,1% entre os jovens.
Mas não é do patrimônio dos endinheirados que sai a obrigatória cota de privações que tanto Monti como Napolitano anunciam como única forma de “salvezza” do país. Enquanto a criação de um imposto para taxar as grandes fortunas aparece apenas em discursos políticos, mais uma vez, para a salvação da economia dos ricos, impõe-se aos pobres e remediados o sacrifício de suas vidas às divindades do capital.   É dos pobres, que têm pouco, mas são muitos, que se exige imolação para o pagamento de uma crise que nasce das entranhas do sistema capitalista.
Salvação dos bancos
As medidas de austeridade atiçam as classes populares, sabedoras de que a corda arrebenta sempre em suas mãos. Espicaçam também os ânimos de políticos jovens e maduros de todas as cores políticas.  Fabrizio Frosio, do Partito delle Aziende, Piccole e Medie Imprese (PDA), em carta aberta publicada no início do ano, denunciao suicídio de pequenos empreendedores e dispara:    “Incomodou-me  e chocou-me verdadeiramente a notícia de que a BCE (Banca Centrale Europea) coloque à disposição dos bancos europeus, a um custo próximo do zero,  mais de 400 bilhões de euros, que depois são vendidos a taxas usurárias aos comuns mortais e às pequenas empresas ainda ‘vivas’”. Frosio faz um apelo para que os italianos se rebelem contra as rapinas feitas “sem capuz” por instituições bancárias, seguradoras e organizações voltadas à recuperação forçada e desumana, que está levando a numerosos suicídios: “Basta  de bancos sem escrúpulos e cheios de cadáveres e sobretudo basta com as estratégias do grande ‘culto’ (aqui se refere a Monti), que, no final das contas,  se revela somente um ‘pobre homem’, rico apenas de poder e falsos amigos a salvaguardar.”
No último dia de fevereiro deste ano bissexto chegou  a notícia de que o Banco Central Europeu acabara de entregar a instituições bancárias  um total de 529,5 bilhões de euros, a uma taxa de 1%,  em 36 meses. Desse máxi empréstimo, do qual 139 bilhões terminaram nas mãos de bancos italianos, reclama  Antonio Di Pietro, líder do partido Italia dei Valori e crítico assíduo do governo técnico de Monti,  que, segundo ele, está se tornando “o governo da propaganda, de modo sóbrio,  mas mortal'. 
“Chega de favorecimentos aos bancos”, protesta Di Pietro, lembrando  que  se trata do segundo empréstimo de grande monta oferecido ao sistema bancário no prazo de dois meses.  O precedente, concedido em 21 de dezembro de 2011, foi de 489 bilhões de euros, dos quais um quarto do valor destinou-se a bancos italianos. Di Pietro destacou-se por sua liderança como magistrado e procurador da república no processo judicial que ficou conhecido como “Mani pulite” (Operação Mãos limpas). A investigação judicial, de grande amplitude, desencadeada nos anos 90, averiguou um devastador sistema de corrupção, financiamentos e atos ilícitos ligado ao mundo político e financeiro italiano, batizado de Tangentopoli” (“tangenti” eram propinas cobradas para conseguir  empréstimos, ganhar licitações ou fazer qualquer operação envolvendo valores ilegais).
Foram denunciados no processo ministros, deputados, senadores, empresários e até um ex primeiro ministro. Partidos históricos como Democrazia Cristiana desapareceram, políticos e industriais incriminados chegaram a cometer suicídio e os efeitos foram de tal envergadura a ponto de se  considerar que “Mani pulite” teria sido responsável pelo fim da Primeira República Italiana.
Sobre os empréstimos concedidos aos bancos no auge da crise atual, Di Pietro  declara,  no seu blog: “Este dinheiro deveria servir ao país e ao seu crescimento, não aos banqueiros e suas especulações. Os banqueiros já  embolsaram outro empréstimo multimilionário, especularam fartamente e encheram os bolsos às custas do Estado, deixando no desespero empresas e famílias que necessitavam de algum pequeno empréstimo.  O governo Monti tem o dever de impedir que este “joguinho” prossiga. Se aos bancos italianos são concedidas  essas vantagens excepcionais, eles têm que assumir a obrigação de usar os bilhões para impulsionar a Itália e não para se recapitalizarem”.
Em dois anos, segundo dados da CISL (Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori), 120 mil empreendedores artesãos e trabalhadores autônomos tiveram que fechar o batente. A estimativa é de que 60 mil empresas faliram, registrando um aumento de insolvência de 53% relativamente a 2008. Recentemente, em “L’UltimaParola”,  programa de debate político apresentado por Gianluigi Paragone e  transmitido pela  Radio Televisione Italiana (RAI) compareceu um dos invisíveis desta tragédia. O homem, desempregado, contou que não consegue mais um trabalho e já chegou ao fundo do poço. De tudo o que possuía, só conseguiu preservar seu velho automóvel, onde agora vive com a mulher e um  filho adolescente.     
Fim da linha

O ano de 2012 começou de forma trágica para muitas famílias italianas, feridas pela tragédia do suicídio de seus caros. Os desesperados que deram um fim à própria vida são predominantemente do até então próspero norte, mas também do já espremido sul. Somente nos primeiros dias de janeiro registraram-se 12 suicídios.  São emblemáticos casos como os ocorridos na meridional Trani, encantadora cidadezinha da Puglia, onde um homem de 49 anos se enforcou no depósito de sua empresa de climatizadores. Ao norte, em Gaggiano, na Lombardia, um eletricista de 64 anos, proprietário de uma pequena atividade, deu um tiro na cabeça. O que aparentemente levou os dois homens ao gesto extremo, segundo relatos da imprensa, foi a situação insustentável causada pela  pressão das dívidas e a certeza da  falta de saídas a curto prazo.
Talvez o que explique a decisão desses pequenos homens de negócios se suicidarem seja o fato de que eles eram, ao mesmo tempo, empregadores e operários. Frequentemente, seus empregados eram velhos conhecidos, que com eles conviveram  uma vida inteira, muitas vezes morando  no mesmo bairro ou até na mesma rua. Por isso, para esses pequenos empregadores, tomar a decisão de demitir não significa cumprir um rito impessoal, um gesto corriqueiro num mercado sem rosto humano.
No artigo “Gli imprenditori suicidi caduti sul lavoro”, publicado no jornal Corriere della Sera,   Dario Di Vico, autor do livro Piccoli -  La pancia del paese (Editora Marsilio, 2010), julga que é preciso considerar os pequenos empresários e artesãos que se suicidam como “caídos do trabalho”, aos quais se deve todo  o reconhecimento público. “Eles merecem pelo menos que as associações honrem sua memória, como se faz, justamente, em relação a um grande número de operários que terminam cruelmente seus dias na fábrica, esmagados por uma máquina ou intoxicados por algum veneno.”
Lendo as magras biografias dos suicidas, o jornalista – também autor de “Industrializzazione senza sviluppo” e “Profondo Italia” - descobriu que alguns deles já haviam sofrido golpes violentos em família ou na comunidade.  “O individualismo tinha se transformado, de poderoso fator de mobilização de energia, em nua e crua solidão”, avalia Di Vico.
Giuseppe Nicoletto, Paolo Trivellin, Walter Ongaro e outros “caídos do trabalho” citados por Di Vico em seu artigo, representam “casos de empreendedoria corajosa e batalhadora que o mercado conheceu dia a dia, na sua versão mais realista e seletiva,  e não naquela visão teórico-acadêmica que se pode encontrar em manuais de management.”
Geralmente, trata-se, na análise do autor de “Piccoli”, de ex-operários que, com muito sacrifício, tinham criado sua própria empresa e que, na nova condição de “patrões” não tinham esquecido o mundo e os sentimentos dos quais provinham.  E os dados sobre o emprego e a conjuntura econômica italiana parecem provar isso, reputa  Di Vico: “Os ‘Pequenos’, em toda Itália,  cortaram os postos de trabalho em proporção mínima em relação a quanto suas empresas perderam em termos de lucro no horribilis 2009.  A redução de   30%  (que é a média registrada para o período) nunca se tornou 30% a menos de empregados.”
Até o fim, descreve o jornalista, “os artesãos se recusam a dispensar seus próprios colaboradores, até chegarem, alguns, ao trágico paradoxo de se matar antes de demitir alguém com quem assumiram um compromisso na condição de empregadores. O famoso ‘pacto social’, termo que nunca falta nos discursos preparados pelos  ghost writer, os Pequenos  defendem assim. Com a própria pele.”
Conforme o autor, o que deve ser aclarado e apreendido a partir desses tristes fatos é que, nos vários sistemas de valores que existem nas sociedades modernas, alguns dominam a opinião pública, se afirmam em sua hegemonia e ditam estilos de vida.  Outros, ele conclui, “permanecem ocultos, são invisíveis aos demais ou objeto de ironias levianas, mas conservam teimosamente a coerência dos seus códigos de honra”.
É por isso que, para Di Vico   não  foi  excesso de trabalho que matou os Trivellin e os Ongaro: “O que  matou esses filhos de um calvinismo menor, e pelo que devem ser respeitados e recordados,  foi  excesso de ética”.
Bancarrota e suicídio

No cenário de falências, a setentrional Lombardia aparece na frente, seguida pelo Vêneto. A quebradeira atinge principalmente pequenas empresas, em grande número da área de construção civil. Do total, 75% dos empresários obrigados a fechar as portas tinham um volume de negócios não inferior a dois milhões de euros antes da crise, segundo estimam alguns institutos de pesquisa.    
A decadência econômica aparece relacionada com episódios de suicídio, revela uma pesquisa do Eures, relativa ao ano de 2009 e divulgada em janeiro de 2012. Entre os desempregados, pequenos empresários arruinados e aposentados empobrecidos uma constatação dolorosa emerge: um suicídio por dia.
De acordo com o instituto de pesquisas econômicas e sociais já  havia, na Itália,  desde 2009, um aumento significativo de suicídios (da ordem de 5,6% relativamente ao ano de 2008),  por motivos econômicos, e principalmente entre os homens, mais frágeis diante da perda do trabalho.  Foram registrados 2.986 suicídios ao longo daquele ano em que a crise econômica não se apresentava ainda em toda a  gravidade atual.  
A incidência entre os homens foi de 78,5% contra o percentual de 21,5% na população feminina, o índice mais alto registrado nas últimas décadas. Aparece, também, em constante aumento, nesta pesquisa, a predominância masculina entre as tentativas de suicídio. Segundo o Eures, o que parece caracterizar o fenômeno é a sua relação com o aumento do desemprego. Entre os suicidas de 2009, um total de  357 estavam sem trabalho.
Em termos relativos se evidencia o fato de que ter sido expulso do mercado de trabalho constitua um fator de impulso ao suicídio, pois se registraram 18,4 dos suicídios a cada 100 mil desempregados, contra 4,1 entre os que ainda estavam trabalhando quando puseram termo à própria vida.   

Também aponta uma conexão direta entre o fenômeno e a crise o fato de que  2009 registre o índice mais alto da década (198 casos, com um crescimento de 32% em relação a 2008 e de 67.8% relativamente a 2007). Em termos relativos, a pesquisa mostra que os suicídios por motivos econômicos chegam a representar, naquele ano, 10,3% do fenômeno, contra 2,9% registrados no ano 2000, pelos mesmos motivos. E este problema humano demonstra ser avassalador entre os homens, confirmando como a perda do papel social e da identidade como trabalhador possa golpear de modo fatal o mundo masculino.

Sem meias verdades 

A crise que se aprofunda fere também sem piedade o mundo feminino, atingindo, entre tantas mulheres, operárias que produziam míticas meias de seda que alimentaram o imaginário de gerações de italianos.   Dois dias depois do último natal, cerca de 250 trabalhadoras da Omsa, fábrica localizada em Faenza, na Emilia Romagna,  foram presenteadas, através de um fax, com a notícia da demissão.  As mulheres foram comunicadas de que, em  março de 2012, escancaram-se para elas as portas do desemprego. O estabelecimento industrial vai ser transferido para a Sérvia, onde os custos de produção são mais baixos e o operariado local submetido a um regime de exploração ainda maior. 
O otimismo que as trabalhadoras mantinham aceso apagou-se depois que as negociações fracassaram e elas ficaram diante da opção que a empresa lhes ofereceu: ficar em casa ou  transferir-se para a Sérvia, sujeitando-se às condições trabalhistas degradadas no país balcânico que a fábrica escolheu para aumentar seus lucros.
Alcançando rapidamente apoio público, as operárias lançaram na Web um apelo ao boicote da empresa, que, através de um comunicado, defende-se, alegando o princípio da “liberdade de empresa”. A Omsa argumenta que o fechamento do histórico estabelecimento de Faenza se deve à agressiva competição dos países com baixo custo de produção, que acolhem os empreendedores estrangeiros com uma cascata de incentivos econômicos.
Autor do livro “Mani bucate” (Editora Chiarelettere, 2011), o jornalista  Marco Cobianchi explica que a concorrência não é mais entre empresas livres, mas entre estados nacionais que se enfrentam com golpes de incentivos e subsídios. Ele afirma que não somente o menor custo do trabalho, mas sobretudo a chuva de subsídios, impensáveis em qualquer país da zona do euro, atraem as empresas para países como a Sérvia.  Cobianchi, que também escreveu “Bluff, perché gli economisti non hanno previsto la crisi e continuano a non capirci niente” (Orme Editore, 2009), lembra  que o motivo da Omsa é o mesmo que levou as empresas  Fiat, Generali, Intesa Sanpaolo, Unicredit, Benetton e Fantoni a se transferirem  para a Sérvia: os incentivos estratosféricos oferecidos pelo governo daquele país.
Em "Mani bucate", que Cobianchi apresenta como a primeira investigação sobre empresas mantidas com a ajuda do Estado -   há uma lista de  todos os incentivos que a Fiat obteve quando decidiu reabrir a sua “histórica” fábrica em  Kragujevac, o que causou, de fato, o fechamento do estabelecimento de Termini Imerese, na Itália. Ele escreve: “Precisei de três páginas de "Mani bucate"  só para per elencar  os títulos dos incentivos sérvios à Fiat, que,  sintetizando, tratam-se de isenções fiscais que vão dos   cinco mil  aos dez mil  euros anuais para cada vaga de trabalho criada no país (incentivo que também foi oferecido à  Omsa); una “free zone” que permite a importação dos pré-fabricados necessários para produzir os carros sem praticamente pagar taxas; nenhum imposto ao município de Kragujevac por dez anos; terrenos gratuitos para o conjunto de pequenas atividades industriais e comerciais que se desenvolverem em torno do grande complexo; vantajosos acordos comerciais firmados pela Sérvia com a Rússia, União Europeia e Estados Unidos que permitem exportação dos produtos para toda aquela área sem pagar taxas.”
As isenções fiscais de cinco a dez mil euros para cada emprego criado faz com que o custo da mão de obra, nos 12 primeiros meses, seja praticamente zerado, considerando que o salário médio de um operário sérvio é de cinco a seis mil euros por ano. E isso não é tudo, pois entre as  vantagens há também a isenção por dez anos de impostos sobre os lucros para investimentos superiores a sete milhões de euros ou para  empresas  que abram frentes de trabalho para 100 novos empregados.  
Enquanto isso, como denunciam sindicatos de trabalhadores, as regiões italianas nada fazem  para evitar a ida das empresas para fora. Na Emilia Romagna, onde se localiza a Omsa, sequer foi discutido um projeto de lei de 2010, que previa  punição para as que fossem  embora,  revogando incentivos retroativos até dez anos.Enquanto a proposta não sai da intenção e empresas emigram, contraditoriamente, multiplicam-se, patrocinados pela própria região, encontros e seminários. Os eventos servem para esclarecer como é conveniente, por exemplo,  “fare business” na Sérvia, onde investimentos diretos gozam de até 25% de financiamentos do governo a fundo perdido. Além disso, outra vantagem é o livre comércio entre a Sérvia e o trio Rússia-Bielorrússia-Czaquistão (170 milhões de pessoas), que permite exportar para aqueles mercados somente pagando reduzida taxa alfandegárias de 1%.
Brigadas teatrais

Nesse cenário de perdas e danos para os trabalhadores, as  operárias  da Omsa não esperam de braços cruzados a  data do desemprego coletivo e a atual promessa de  “cassa integrazione” (algo semelhante ao salário desemprego),  por seis meses. Além de  desencadearem uma mobilização em todo o país, através da internet, as operárias ousaram experimentar uma nova forma de luta. Abriram uma frente cultural para suas manifestações, através do teatro de rua e de um documentário.
As brigadas teatrais Omsa se comunicam com meia Itália. Vestidas de vermelho, elas expressam sua dor enquanto combatem, encenando o documentário “Licenciata!” (“Desempregada!”), nascido de sua experiência teatral.  Mulheres que passaram mais de 23 anos confeccionando e controlando a produção de meias,  entre as paredes da fábrica, agora percorrem estradas reais e virtuais, disseminando sua luta. Uma delas denuncia: “Eles vão para a Sérvia porque querem ganhar mais dinheiro, e pouco se importam com quem, sem lamentar-se, fatigou duramente 20 ou 30 anos. E talvez seja este o problema: sempre trabalhamos sem dizer nunca nada”.
Com o teatro, as trabalhadoras conversam com sua gente no meio das ruas, e com o documentário (já inscrito para concorrer ao prêmio  “Doc in Tour 2012 Emilia-Romagna”), alcançam o mundo.  Outra das operárias, que como as demais nunca havia feito teatro,   assim expressa o momento que está vivendo: “Você não é ninguém, 20 anos de sacrifício e permanece sendo apenas um número, aprisionado no braço da ‘morte’.” Ela se refere à   ‘morte civil’  dos que, fora do mercado de trabalho, nada mais contam. São apenas supérfluos.

Vozes do alto

Em outras partes do Bel Paese homens levantam a voz para defender seu trabalho.  No Aeroporto Leonardo da Vinci de Roma, em Fiumicino, pelo menos mil trabalhadores correm o risco de perder o trabalho, segundo denunciam os sindicatos de categoria. A arriscar a pele são os que atuam na Divisione Tecnica Alitalia, por causa de uma controvérsia ligada a trabalhadores da Argol, organização que desde 1994 se encarrega da movimentação de componentes aeronáuticos e  da logística relacionadas à operação da companhia aérea Alitalia.
Stefano Monticelli, secretário regional da Filt-Cgil (Federazione Italiana Lavoratori Trasporti)  declarou à imprensa que se está diante de uma incongruência: enquanto o aeroporto de Fiumicino assinala um constante crescimento, os trabalhadores vivem diante da ameaça concreta de demissões e precarização. Os dirigentes sindicais ligados ao setor entendem que este problema localizado é apenas a ponta do iceberg de uma situação mais alarmante, relacionada ao desrespeito de cláusulas sociais, o que coloca em perigo também  4500 trabalhadores da Alitalia, atualmente em “cassa integrazione”, e aos quais poderia não ser garantida a recolocação. La “cassa integrazione” é uma ajuda econômica às empresas em dificuldades por parte do governo, que substitui o empregador no pagamento do salário de trabalhadores ou complementa o salário de operários que trabalham em horário reduzido.
O que também preocupa os trabalhadores italianos é que os seus contracheques,  segundo estudos do Eurispes, relativos a 2010, estão entre os mais rebaixados da Europa. Entre 30 países, a Itália ocupa o 23º lugar, com um salário médio anual de 21.374 dólares, superando países como Portugal (19.150 dólares por ano). Na classificação da Ocse (Organizzazione per la  Cooperazione e lo Sviluppo Economico) entre os dez primeiros classificados  se encontram : Coreia do Sul (39.931 dólares anualmente), Reino Unido (38.147), Suiça (36.063), Luxemburgo (36.035), Japão (34.445), Noruega (33.413), Austrália (31.762), Irlanda (31.337), Países Baixos (30.796) e Estados Unidos (30.774).
Comparativamente com outros trabalhadores europeus, os italianos recebem um salário 44% inferior ao de um  inglês e 19% mais baixo do que o de um grego. Enquanto os empregados sentem o peso dos salários rebaixados, a pior situação é vivida pelos que não têm nenhum trabalho.  Conforme registro do Istituto di Statistica Nazionale, o desemprego, em janeiro de 2012, atingiu a marca de 9,2%, o  pior índice desde 2004.   A condição mais penosa  é a dos jovens: um deles, a cada três em busca de trabalho,  não consegue uma ocupação. Para agravar o problema, as novas regras aprovadas no governo Monti, relacionadas à aposentadoria, aumentam o tempo de serviço, forçando os  mais velhos a ficarem mais tempo no mercado de trabalho.
Na Itália, mandar um trabalhador para a rua não é tão difícil como em países do norte europeu, como a  Alemanha, por exemplo, onde hoje é possível demitir somente por  justa causa. E deve ficar ainda mais fácil se forem aprovadas as reformas trabalhistas propostas pelo governo técnico, como a mudança do Artigo 18 do Statuto dei Lavoratori.  Tal artigo garante que a demissão é válida apenas se acontece por justa causa ou motivo justificado. Se faltarem tais pressupostos, um juiz do trabalho declara a ilegitimidade do ato e ordena a reintegração do trabalhador na mesma função que ocupava antes.
A mudança que o governo Monti propõe prevê que trabalhadores  contratados por tempo indeterminado teriam que passar por um período probatório de seis meses, no qual não seriam tutelados,   segundo o que assegura hoje o artigo 18 (reintegração no posto de trabalho e ressarcimento por danos causados em caso de demissão discriminatória).
Isso significa que durante os seis meses probatórios o empregador poderia livremente demitir sem justa causa ou por motivo justifificado. De modo que, sem as garantias do Artigo 18, os demitidos não mais poderiam dirigir-se ao juiz para obter reintegração ou qualquer ressarcimento. Outra grave mudança, mesmo para os que viessem a superar os seis meses de prova, é que a empresa teria a faculdade de demitir por motivos econômicos ou de organização, pagando apenas uma indenização compatível com o tempo de serviço. Só ficariam livres deste perigo os contratados por tempo indeterminado e já tutelados pelo artigo 18.   
Enquanto no outro lado do oceano, nos Estados Unidos, um empresário pode mandar embora um empregado sem nenhum problema e sem ter qualquer obrigação de reintegrá-lo,   o professor Monti avança no processo de flexibilização das relações de trabalho na  Itália.  E, para chegar a isso, parece contar com um aliado importante: o presidente da república Giorgio Napolitano.

O governo garante que vai ouvir os representantes dos trabalhadores, separadamente, mas já deixou claro que decidirá sozinho, sem aceitar vetos. Susanna Camusso, líder da Cgil (Confederazione Generale Italiana del  Lavoro), em manifestações públicas e declarações à imprensa, tem sido categórica: “No artigo 18 não se toca, sobre este ponto nós não negociamos.” Em encontro com a ministra do Trabalho, Elsa Fornero, a sindicalista disse que a central está disposta a dialogar, desde que o artigo 18 permaneça intocado, pois se trata de uma conquista histórica para salvaguardar os direitos dos trabalhadores e impedir  demissões.
Horror econômico

A luta de homens e mulheres para preservar seu trabalho, o drama dos demitidos de todos os cantos, o desespero dos desempregados, as mortes dos “caídos por excesso de ética”, assim como as incontáveis batalhas perdidas por  trabalhadores em todo o mundo,  fazem pensar no  “horror econômico”,  expressão criada pela escritora francesa Viviane Forrester,.  Ela é autora de numerosos livros, entre eles  “L’Horreur Economique”, publicado  em 1996, e que em poucas  poucas semanas foi  comprado por mais de 160 mil pessoas. Traduzida em várias línguas, a obra figurou entre as mais lidas naquele ano, tendo sido erguida como uma bandeira por operários e desempregados em suas manifestações.
Forasteira no mundo dos “metafísicos da economia”, a escritora retrata, no seu denso ensaio sobre o “horror econômico” que massacra os viventes,    a angústia da exclusão através do olhar dos desempregados.  Deve-se lembrar, escreve a autora de “Uma estranha ditadura” e “O crime ocidental”,  como é “pouco importante a sorte das almas e dos corpos camuflados nas estatísticas e usados apenas como um modo de calcular.”
Ao desvelar, com seu texto contundente, a globalização da pobreza, Viviane Forrester faz tremer quando  nos leva a  constatar que já se superou a fase da  exploração do humano gênero até a última fronteira da miséria. Na ótica das potentes classes dirigentes da economia privada,  já foi ultrapassado o limiar insustentável em que a multidão de deserdados é  simplesmente considerada supérflua.
 
“Não subalternos nem reprovados: supérfluos E por essa razão, nocivos. E por essa razão...”

Islândia iniciou o julgamento do neoliberalismo

Produzido por The Week,   
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Geir Haarde, primeiro ministro da Islândia em 2008, quando se deu a derrocada bancária no país, está a ser julgado por um tribunal especial. No banco dos réus está pela primeira vez a política neoliberal que originou a bancarrota.

Durante o governo de coligação direitista e social democrata de Geir Haarde, os bancos faliram, a economia entrou em colapso. Mais do que julgar o homem que à frente do governo não conseguiu evitar a dramática situação no pequeno país, os juízes tentam apurar o que se passou e as circunstâncias que provocaram a crise. O tribunal considera que não é possível responsabilizar unicamente o ex-primeiro ministro pelo que se passou.
Da sua acusação constam o facto de não ter feito nada para evitar a debandada dos estabelecimentos financeiros, de não feito com que o banco online Icesave tivesse o estatuto de filial britânica, o que teria permitido transferir o problema da falência para Londres e evitado ao país a realização de dois referendos e a decisão dos islandeses de se recusarem a pagar por dívidas que não são suas. Este problema está actualmente no Tribunal Europeu de Justiça.
Juízes e cerca de 60 testemunhas têm reflectido durante o julgamento – que não é transmitido em directo pela TV mas está a ser seguido por milhares de islandeses através da internet – sobre as causas de uma situação que não surgiu em 2008 por geração espontânea mas sim pela deriva neoliberal a que o governo sujeitou o país.
Em causa estão, principalmente, a privatização das quotas de pesca que proporcionou aos armadores fortunas incalculáveis, um investimento em cascata no estrangeiro, quase sempre com maus resultados, uma privatização desastrosa dos bancos feita frequentemente segundo métodos corruptos e de clientelismo. A este processo seguiu-se uma onda de concessão de créditos bancários sem critérios nem garantias proporcionando, à escala do país, problemas semelhantes aos que se registaram nos Estados Unidos com a bolha imobiliária e o subprime.
Nesta fase, os bancos concederam um volume global de crédito que superou em 11 vezes o PIB islandês; quando o primeiro ministro decretou a sua falência era impossível salvá-los. Além disso, os islandeses não o permitiram e recusaram-se a assumir as dívidas alheias.
A resposta dos islandeses à crise não alinhou pelos caminhos impostos pela União Europeia aos Estados membros, pelo que hoje a Islândia, apesar de sofrer os efeitos de uma forte austeridade económica e de uma acentuada quebra no consumo, conseguiu salvaguardar o Estado social, o desemprego está em sete por cento e as entidades patronais não foram além de limitar o trabalho extraordinário para conseguirem evitar os despedimentos.
Geir Haarde, político direitista e considerado um fundamentalista neoliberal, tem 64 anos e abandonou a carreira política. Incorre numa pena de dois anos de prisão. Mais do que um chefe de governo incapaz de dirigir o país – é a acusação a que corresponderá a pena que vier a ser aplicada – no banco dos réus está a política neoliberal.

sábado, 10 de março de 2012

O massacre colombiano


Dan Kovalik*
 
Julgava-se que a Guatemala detinha o primeiro lugar no continente americano no que diz respeito a massacres de massas. Mas o regime colombiano pulverizou este record e os EUA estão perfeitamente informados sobre a situação. Mais, são colaboradores, apoiantes e cúmplices activos dos fascistas colombianos que estão a levar a cabo o genocídio de populações indígenas.

Há muito que se julgava que a Guatemala detinha o primeiro lugar no continente americano no que diz respeito a massacres de massas na nossa época moderna – 200 000 vítimas nos anos 1980, em 94% dos casos assassinadas pelo Estado com o apoio de Washington e em aliança com os esquadrões da morte. Mas, infelizmente, constata-se agora que a Colômbia pulverizou este record e, conforme Wikileaks revela, os EUA estão perfeitamente informados sobre a situação.
Num telegrama de 19 de Novembro de 2009 intitulado “2009-2010 International Narcotics Control Strategy Report” (Relatório estratégico sobre o controlo internacional de narcóticos 2009-2010), a embaixada dos EUA em Bogotá reconhece, como dado acessório, a horrível verdade: foram registadas 257 089 vítimas dos paramilitares de extrema-direita. E, tal como Human Rights Watch assinalou no seu relatório anual de 2012 sobre a Colômbia, esses paramilitares continuam a actuar de braço dado com os militares apoiados pelos EUA.
Mesmo para aquele que conhecem a Colômbia este número é arrasador. A primeira vez que deparei com este número foi no livro “Cocaïne, Death Squads, and the War on Terror” (Cocaína, esquadrões da morte e a guerra contra o terrorismo), do qual falei neste sítio há algum tempo, e que cita um jornalista independente que afirma que cerca de 250 000 vítimas foram mortas pelo para-Estado colombiano. Nesse sublinha-se que este número foi ocultado porque as vítimas foram enviadas para salgadeiras ou para fornos crematórios de tipo nazi.
Fica agora a saber-se que há pelo menos dois anos os EUA têm conhecimento de tudo acerca destes crimes. O que não provocou qualquer mudança na política estado-unidense relativamente à Colômbia – o país receberá durante os próximos dois anos 500 milhões de dólares de ajuda destinada ao seu exército e à sua polícia – e não impediu Obama de defender, e de concretizar no ano passado, o Tratado de comércio livre com a Colômbia.
Tal como sucedeu na Guatemala nos anos 1980, a violência atingiu em particular as populações indígenas – facto reconhecido igualmente pela embaixada dos EUA nos telegramas revelados por Wikileaks. Esta violência dirigida contra indígenas continua aliás a aumentar. A embaixada estado-unidense reconhece-o num telegrama de 26 de Fevereiro de 2010 intitulado “Violence Against Indigenous Shows Upward Trend” (A violência contra indígenas manifesta tendência a crescer). Por causa desta violência há 34 grupos indígenas que se encontram á beira da extinção; portanto, esta violência pode ser classificada como genocida.
Este telegrama de 2010 explica que “os assassínios de indígenas aumentam pelo segundo ano consecutivo”, um aumento de 50% em 2009 relativamente a 2008. O telegrama explica ainda que “os indicadores de violência contra os indígenas agravaram-se novamente em 2009. Segundo a Organização nacional indígena de Colômbia (ONIC) as deslocalizações aumentaram 20% (de 3 212 para 3 649), os desaparecimentos forçados aumentaram mais de 100% (de 7 para 18), e as ameaças aumentaram mais de 3 000% (de 10 para 314). A ONIC regista igualmente um aumento no recrutamento forçado de menores por parte de todos os grupos armados ilegais, mas não fornece dados numéricos sobre este ponto.
A embaixada, baseando-se num estudo publicado pela antropóloga Esther Sánchez – estudo que o governo estado-unidense financiou -, assinala que os militares e paramilitares tomam os indígenas por alvo porque eles são “frequentemente vistos como colaboradores das FARC uma vez que coabitam nos mesmos territórios”; e é precisamente a presença de militares colombianos nos territórios indígenas que “transfere o conflito para o jardim dos indígenas”, o que constitui uma ameaça para a sua existência. Ora a embaixada recusa a ideia de uma retirada dos territórios indígenas por parte do exército colombiano, sublinhando que uma reivindicação nesse sentido apresentada pela tribo awa é “inaplicável”.
“Inaplicável”, explica a embaixada, porque este território necessita de estar sob controlo uma vez que contém numerosas riquezas. A embaixada estado-unidense reconhece explicitamente que “os investimentos de capital nos hidrocarbonetos”, bem como na borracha e na palmeira produtora de óleo – o que quer dizer exactamente os investimentos que explicam as decisões militares de Washington e o Tratado de comércio livre – conduzem directamente à violência contra os indígenas. E isto sucede, explica a embaixada, porque os povos indígenas “provavelmente não abandonariam terras tidas como sagradas nas suas identidades culturais”. Ou seja, que não franqueariam voluntariamente a porta à exploração capitalista.
Tudo isto mostra que os EUA e a Colômbia continuam a defender opções militares e a conduzir políticas económicas que, segundo a própria opinião dos EUA, conduzem a um genocídio. Na realidade é a própria embaixada estado-unidense que reconhece que o genocídio é absolutamente necessário para alcançar os seus objectivos.
Isto significa que os EUA mentem quando fingem interessar-se pelos direitos humanos. Os EUA têm o atrevimento de excluir Cuba da Cimeira das Américas por causa do direitos humanos; mas é o país que acolhe esta Cimeira – a Colômbia – que por todas as razões deveria ser apontado a dedo pelo seus resultados excepcionalmente maus no que diz respeito a direitos humanos. Na verdade, são os próprios EUA quem deveria ser denunciado, porque apoiam o brutal regime colombiano. Mas como são os EUA que domina o mundo, isso também pareceria “inaplicável”.

* Advogado norte-americano e activista dos Direitos Humanos
 

GRÉCIA: MERCADOS FESTEJAM O FUNERAL DE UMA NAÇÃO


Saul Leblon no CARTA MAIOR

Mercados e bolsas festejam o acordo fechado nesta 5ª feira entre a Grécia e os bancos credores, que concederam ao país um desconto médio de 50%, em troca de garantias e reformas que asseguram o pagamento do passivo restante.

Há razões para a banca comemorar: a adesão dos bancos ao desconto de 50% representa, no fundo, o oposto do que transparece e se alardeia. Trata-se de uma gigantesca transfusão, talvez a mais radical desde o Tratado de Versalhes, do sangue de um povo a credores pantagruélicos e interesses assemelhados. Uma derrota superlativa da democracia grega, que marcará a história do país por décadas; e provavelmente destruirá seu sistema representativo, marcado por traição nacional maiúscula.

As eleições parlamentares de abril agora podem funcionar como a espoleta dessa bancarrota. O processo consumado nesta 5ª feira compromete a vida da atual geração, a dos seus filhos e a dos netos que um dia eles terão. Em troca de um desconto sobre uma dívida impagável -- contraída num intercurso entre governos irresponsáveis e banqueiros cúmplices-- o Estado grego assinou uma espécie de testamento à favor dos mercados. Em seguida, consumou o suicídio político da democracia. A partir de agora, e por prazo indeterminado, a Grécia rende-se ao papel de protetorado das finanças internacionais. Um protetorado a ser alardeado como paradigma de bom comportamento.

Um diretório nomeado pelos mercados terá poderes legais para monitorar a tosquia do país, com direito a vetar orçamentos e redirecionar recursos prioritariamente ao pagamento de banqueiros. O que a coalizão socialdemocrata e conservadora fez foi municiar-se de um álibi internacional para sancionar um arrocho salarial indecente -o salário mínimo foi ineditamente reduzido; como ele, as pensões;demissões maciças da ordem de 150 mil funcionários públicos estão em marcha (15 mil já foram efetuadas este ano); privatizações e cortes na saúde e educação desencadearam surtos de suicídios e fome nas escolas. A entrega de crianças pobres a orfanatos é a tragédia mais recente protagonizada por famílias desesperadas.

Compare-se com o que fez a Argentina de Kirchner há nove anos para se ter a medida da regressividade acatada por Atenas. Em 2003, a Argentina era uma espécie de Grécia da América do Sul. Desacreditada aos olhos de seu próprio povo, balançava como um 'joão bobo' nas mãos do capital especulativo interno e externo. Nestor Kirchner herdou do extremismo neoliberal uma taxa de pobreza de 60% sobre uma população de 37 milhões de argentinos.

A dívida de US$ 145 bilhões, impagável, corroía seu sistema financeiro. Os credores sobrevoavam a nação argentina à espera do melhor momento para arrancar os seus olhos e o que lhe restasse ainda da carne, como fizeram nesta 5ª feira com a Grécia. O cerco internacional era avassalador. A diferença é que Nestor Kirchner não se dobrou: impôs um desconto unilateral e incondicional de 75% da dívida aos credores --ganhou margem de soberania, portanto, ao contráreio da rendição grega espetada em sacrifícios brutais. Com independência, a Argentina desvalorizou o câmbio, congelou tarifas, destinou a receita crescente a programas sociais e de fomento; não ao pagamento à banca, como reza a rendição grega.

A taxa de pobreza recuou a 10% da população. A economia argentina foi a que mais cresceu no hemisfério ocidental na última década. Cristina foi reeleita em 2011 com apoio esmagador. Os desdobramentos virtuosos desse braço de ferro são espertamente omitidos pela crítica conservadora que tenta desmerecer os ganhos econômicos e sociais da soberania argentina, ao mesmo tempo em que edulcora o escalpo da sociedade grega. E o faz por uma razão compreensível: eles realçam as dimensões catastróficas dos desastres em marcha na Grécia, Espanha, Portugal e outros, submetidos à dose dupla de um purgante ortodoxo inútil, que o êxito da nação latinoamericana derrotou e desmoralizou.

‘Está claro, hoje, o caráter político-eleitoral das obras de Transposição do Rio São Francisco’

  Gabriel Brito e Valéria Nader,da Redação   do CORREIO DA CIDADANIA

Parte fundamental da agenda de grandes obras do país, a Transposição do Rio São Francisco sempre foi um polêmico assunto, que a exemplo de outros colocam na mesa interesses empresariais, eleitoreiros e, o que deveria ser o mais importante, das populações que habitam a bacia do Velho Chico. Atualmente paralisadas e em situação de certa penúria, as obras em questão voltam a ser alvo da atenção do público, uma vez que foram vendidas como salvação para os “sedentos” habitantes do semi-árido brasileiro.

A fim de aprofundar o debate em torno dessa drástica transformação que se pretende promover na região, o Correio da Cidadania entrevistou Ruben Siqueira, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Bahia e há mais de três décadas envolvido nas questões sociais do Nordeste. Para ele, estamos diante da repetição de velhas histórias, nas quais a aliança entre o poder político e econômico joga com a “cultura da seca” mitificada nacionalmente, quando “a questão essencial do Nordeste não é a água, mas a terra”.

A afirmação se explica quando Siqueira se aprofunda no detalhamento de projetos elaborados por movimentos sociais e até por órgãos oficiais, como a Agência Nacional de Águas e seu respectivo Atlas do Nordeste, que apontam soluções diversificadas para as especificidades dessa vasta região. Ao invés da Transposição, tais movimentos e estudos oferecem diversas opções de aproveitamento da água, desde uma rede de açudes, já existente, até o famoso projeto de 1 milhão de cisternas.

A propósito de tal iniciativa, comandada pela ASA (Articulação do Semi-Árido) e também pela Articulação Popular São Francisco Vivo (que reúne cerca de 300 entidades), verificou-se novamente no final do ano passado como os interesses político-econômicos deturpam as soluções para a falta de abastecimento -  a oligarquia local tentou abortar o projeto original e substituí-lo por outro que contemplava empresas suspeitas, possivelmente ligadas aos Coelho, da família do ministro da Integração Nacional.

Siqueira declara que uma paralisação das obras poderia recolocar na mesa o debate sobre questões decididas ‘de cima’, com maior participação popular e alternativas, inclusive muito mais baratas, de promoção do abastecimento na região. No entanto, para que tal “utopia democrática”, como define, seja levada adiante, será preciso restabelecer as mobilizações de 2007 e contar com maior organicidade dos movimentos interessados, algo a seu ver pulverizado com a afirmação do lulismo em nossa política.

Correio da Cidadania: Ao lado da visibilidade que grandes e polêmicas obras, como a hidrelétrica de Belo Monte, tem recebido por parte de movimentos ambientalistas e de variados veículos de comunicação, os grandes e os alternativos, tem sido observado incômodo silêncio sobre as obras de Transposição do rio São Francisco. Como está, em primeiro lugar, o andamento deste projeto hoje?

Ruben Siqueira: Ultimamente conseguimos provocar a paralisação das obras de extensão dos canais. Tem havido destaque público, tanto na mídia eletrônica quanto nos jornais, como numa série de reportagens do Jornal do Commercio. A paralisação das obras é isso que tem aparecido na imprensa. São 14 lotes de obras, dois não começaram e, dos começados, há muito pouco avanço, quase todos parados. Os mais antigos, já dados por concluídos, começaram a ter problemas de infiltração, rachaduras, desbarrancamento, e terão de ser reconstruídos. O eixo-leste, em Custódia e Sertânia, Pernambuco, é exemplo.

E o posicionamento dos consórcios, das empreiteiras, é de que são necessários novos aportes, sendo que o governo já garantiu o valor de 36% de sobrepreço na obra, em relação ao custo inicial. Assim, configura-se aquilo que criticávamos em termos de pressa, açodamento, na decisão de fazer a Transposição, naquele período de 2007. O que eles alegam é que a realidade é diferente, ou se impôs sobre os projetos iniciais.

O governo fez os lotes, abriu concorrência e apressadamente concedeu Licenças Ambientais e de Instalação, exatamente na época das maiores mobilizações nossas, em 2007, com marchas a Brasília, caravana contra a Transposição com participação de várias entidades, a greve de fome de d. Luiz Cappio, ocupação de canteiros de obra. Depois, o Supremo decidiu a questão com pressa, parcialmente, em favor da obra. Porém, até hoje não julgou a Ação Civil Pública contra a obra, essa está lá até agora parada.

Portanto, esse açodamento todo é o que agora redunda na paralisação e nos defeitos que já se detectam na obra. Tudo fruto de pressão político-eleitoral, acordos políticos com empreiteiras como Odebrecht, OAS, Mendes Junior. Provavelmente relacionados a financiamentos de campanha, promessas futuras de mais aportes de recursos, como vemos agora, e vitórias eleitorais através de campanhas do tipo “vamos levar água a mais de 2 milhões de sedentos”. Não é à toa que Lula teve a maior vitória eleitoral em 2006 nessa região.

Está claro o caráter político-eleitoral da obra, o que volta a se confirmar agora, pois estamos em mais um ano eleitoral, nos municípios. Há um descontentamento nas regiões, pois se criou muita ilusão e expectativa sobre movimentação econômica, empregos... E as pessoas já perceberam que é algo falacioso, uma vez que as empreiteiras mal cumpriram seus mal feitos e já caíram fora.

Assim, as críticas que nós dos movimentos, da academia, fazíamos à Transposição se confirmam, até pelo tratamento do governo em relação à questão neste momento.

Correio da Cidadania: Tendo em vista esta correlação predominante de forças políticas e econômicas, que impactou na concepção, andamento e, agora, paralisação das obras, haveria algo mais na conjuntura atual a determinar uma desaceleração tão evidente das obras?

Ruben Siqueira: A paralisação, em primeiro lugar, se deve às Olimpíadas, Copa do Mundo e outras obras do PAC, já que as empreiteiras que compartilham o feudo da construção civil, e o próprio país, correram pra lá, pois afinal são projetos mais datados. Como a Transposição nunca se conclui e pode durar uma eternidade, bastava fingir um começo, sendo que muitos pensam que nunca se concluirá.

Assim, a paralisação se relaciona com os recursos já gastos e a priorização de outros negócios e obras no país, e de quebra facilita a criação de situações que emparedem o governo, obrigando-o a soltar mais dinheiro, como vemos no anúncio de mais 1,6 bilhão de reais para retomar as obras, acrescidos ao custo inicial de 5 bilhões, em clara relação também com o calendário eleitoral.

E já se instalou uma queda de braço a respeito dos erros de engenharia, do material de qualidade inferior que foi usado e das pequenas camadas de concreto que já descascaram, racharam facilmente, mostrando a economia que as empreiteiras fizeram. Fora o superfaturamento em obras de quase todos os lotes, não é de hoje que o Tribunal de Contas pega no pé.

Tanto as empreiteiras e os grupos econômicos como o próprio governo jogam com o calendário eleitoral, e este último sabe que precisa mostrar alguma eficiência, manter acesa na mente do povo a idéia das águas do São Francisco como solução da seca.

Correio da Cidadania: Pelo quadro descrito, estamos claramente começando a pagar o preço, ou o sobrepreço, da pressa e do desrespeito aos trâmites legais para aprovação da obra, dentro de parâmetros adequados de qualidade e avaliação. Trata-se do velho jogo das empreiteiras, que começa com as construções a toque de caixa para, em seguida, contar com o dinheiro fácil do governo?
Ruben Siqueira: Sim. E por tocarem as obras, elas são importantes. Já o governo, tem que cavar buraco, mostrar trabalho. Usam do poder que têm, um oligopólio que funciona na base da pressão e do lobby. É um jogo de compadre, e nesse aspecto o atual governo não é diferente do governo FHC, que também tocava a obra nesses moldes. Quem tem o poder econômico é quem tem o poder político. E isso não mudou. Assim, o setor popular fica encalacrado nesse jogo, pois, no tempo de FHC, o movimento popular tinha mais condição de agregar forças com outras pressões sociais que ocorriam.

Por exemplo, em 2001 fizemos uma marcha com cerca de 12 mil pessoas em Bom Jesus da Lapa. Os discursos dos deputados federais Jaques Wagner, Walter Pinheiro, de outros deputados estaduais de então do PT, eram virulentos contra a Transposição. E naquele ano o lago Sobradinho, maior lago artificial do mundo, para aproveitamento hidrelétrico, atingiu só 5% de capacidade por causa da seca. A situação já não é tão grave, mas tem se repetido muito, demonstrando a vulnerabilidade do rio.

De acordo com o centro de estudos climatológicos da Califórnia, em pesquisas meteorológicas, o São Francisco está entre os oito rios mais degradados do mundo nos últimos 50 anos, e o que mais perdeu vazão nesse período, 35%. Isso está sendo demonstrado pela realidade de cada ano do rio. Naquele ano, foi o próprio rio quem impediu o governo FHC de seguir com esse jogo da Transposição, pois não dava pra começar a obra num rio com os cactos à vista.

Portanto, hoje em dia, o jogo, o lobby, em torno da Transposição é igual ao daquela época, impondo-se novamente. Aliás, segundo o professor João Abner, que tem estudos e dados muito firmes a respeito da obra, o lobby da Transposição – que junta políticos, empreiteiras, grupos econômicos, grupos da agricultura irrigada – é como um vírus inoculado no Estado brasileiro. Quando o governo é fraco, o vírus se manifesta, por estar mais sujeito a tais pressões. E acho interessante tal analogia, pois se comprova novamente.

Correio da Cidadania: A que você atribui o silêncio geral anteriormente mencionado? Acredita que o movimento ambientalista mais autêntico seja realmente menos incisivo nas críticas à Transposição do que às grandes hidrelétricas, no sentido de dissecar a obra ao público, mostrando as irregularidades, lobbies e jogos de interesse? Por quê?

Ruben Siqueira: Creio que isso tenha a ver com o imaginário que se construiu historicamente no país acerca do que é o Nordeste e o semi-árido: tempo ruim, ingrato, que depende do investimento federal. Aliás, foi daí que se constituíram as maiores fortunas do país. Os grupos Jereissati, Queiroz Galvão, OAS, Odebrecht, entre outros, alguns dos maiores do país, de expressão internacional, são nordestinos. A origem de tanta riqueza e patrimônio tem a ver com a indústria da seca, desde a época dos desvios da Sudene, essas coisas. É algo que está na mente do empresário brasileiro, do político tradicional, colocando na cabeça da população a história de que é por aí mesmo que deve ser feito. Assim, tivemos muitas obras hídricas ineficientes, que se prestaram a tal jogo.

E existe uma contradição: em nome disso se constituiu o DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), e simplesmente se construiu a maior rede de açudes públicos do mundo, com 70 mil açudes no semi-árido, com capacidade de acumular muito mais do que a Transposição anuncia. É claro que há a sazonalidade, a temporalidade dessa água, pois é a característica do semi-árido: não é a falta de chuva, e sim a irregularidade das águas. Pode chover muito numa semana, noutra não, ou pode ter quatro meses muito chuvosos. Ou ainda um ano de intensas chuvas, que chega a ser prejudicial. Estou aqui há 30 anos e já vi muita roça se perder por excesso de chuva. Portanto, é um quadro de incerteza, não de seca. Mas continuam jogando com essa idéia.

E isso ocorreu também nas migrações de mão-de-obra, na constituição do exército de reserva dos pólos industriais do centro-sul, na construção de Brasília, majoritariamente realizada por nordestinos, também no ciclo da borracha no Norte... São coisas que fazem parte do nosso histórico, dos nossos sensos comuns, talvez seja isso que diminua a atuação de algumas correntes ambientalistas etc. É difícil se contrapor, quem vai ser contra “levar água aos sedentos”?

Correio da Cidadania: Criou-se e se consolidou a “cultura da seca”?

Ruben Siqueira: Sim, em torno da política, da indústria da seca, construiu-se a cultura da seca. E pra isso contribuiu a música de Luiz Gonzaga, a literatura de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, os quadros de Portinari... Produziu-se todo um ideário, até na cultura nacional. É muito recente o pensamento diferente sobre o semi-árido, coisa de 30 anos, no sentido de convivência e compreensão do local, já mais relacionado ao ambientalismo e com a idéia da ecologia ‘pegando’ mais na sociedade - a idéia de conhecer melhor como funcionam os biomas, que se constituem de vários ecossistemas. A Embrapa diz que são 72 sertões dentro do sertão semi-árido, micro-climas diferentes, com lugares onde chove mais que outros; a maior parte tem solo raso, mas existem regiões de solo mais profundo, mais sedimentado, favorecendo o acúmulo de água e evitando a evaporação. Pois o grande problema aqui é uma evaporação maior que a precipitação. Essa é a definição principal do semi-árido, mais científica, ambientalista.

O movimento social, como a ASA (com mais de 70 entidades sindicais, sociais, pastorais), se juntou, mesmo sem força política, em cenários mais dominados pelas ONGs, ficando com uma certa característica de executor de política pública. Bem ou mal a ASA já construiu 350 mil cisternas, de captação de água de chuva, algumas por 1300 reais, armazenando seguramente 16 mil litros de água, para uso de uma família por seis, oito meses. É solução? Ainda não, mas é parte dela, significa que na região é possível viver com água de qualidade para todas as necessidades. Livre dos discursos que sempre permearam a indústria da seca. Esse é o verdadeiro embate na questão, pois dizem que “somos contra levar água pra sedentos”... É bem o contrário.

Como diz o d. Cappio, se isso fosse mesmo a real solução da sede eu faria greve de fome a favor, não contra. Acontece que sabemos muito bem quais são os interesses em jogo, porque difundem essas idéias. Mas são interesses difusos aos da população, levando a Transposição para regiões populosas do semi-árido. A transposição passa pelos vales úmidos, não vai aos lugares secos, vai na direção dos rios Jaguaribe, Piranhas, Açu e Paraíba, quatro rios que terão suas águas potencializadas pela Transposição – se um dia for concluída, se um dia terminar esse jogo político-econômico-eleitoral, quem sabe um dia ela se conclui dentro de outra perspectiva...

Pois um gasto maior que a Transposição será para levar a água para onde ela é de fato necessária. A rede de 70 mil açudes, de mais de 100 anos, sofre do mesmo problema. As águas estão evaporando, não vêm sendo usadas porque estão dentro de latifúndios - ao poder local não interessa distribuir essa água, e sim manter o povo refém da política eleitoreira.

O jogo continua, não mudamos, mesmo no século 21. Optamos, ou melhor, eles optaram pela Transposição, que é a continuidade das grandes obras que não são solução. É apenas mais empoderamento para os poderosos de sempre. E até hoje as matérias que se fazem a respeito padecem dessas ambigüidades. O problema que se coloca hoje não é de questionamento da Transposição em si, e sim do paradeiro das obras, degradação dos canais, atrasos, falhas da obra.

Ainda mais em ano eleitoral, vão todos prometer que são amigos do rei, ou da rainha, e vão conseguir dar seqüência à Transposição. Agora, vão dar um gás na obra, vão retomá-la, porque senão a coisa complica para eles, tanto em relação aos grupos econômicos quanto em relação à população... Mas se é pra valer não dá pra saber... Já vamos para três anos e meio de obras e a coisa está neste estado. Talvez na próxima eleição, daqui a dois anos, revivamos a mesma situação. A coisa avança, pára, avança...

O professor Apolo Lisboa, da UFMG, declarou a convicção de que a Transposição não começaria. Se começasse, não terminaria. Se terminasse, não funcionaria. Se funcionar, não levará água a quem precisa. Parece meio sacana dar tantas hipóteses, fica mais fácil acertar uma, mas, pelo andar da carruagem, parece que o prognóstico dele pode se confirmar.

Correio da Cidadania: Diante das paralisações e atrasos no andamento da obra, você acha que seria positiva uma interrupção, tendo-se em mente que, afinal, estamos diante de uma obra extremamente controversa?

Ruben Siqueira: Eu acho que, do ponto de vista do debate e do confronto de idéias, a paralisação seria boa – é certo que não queríamos sequer o início das obras. Seria possível repensar as coisas, ver a fundo o que o semi-árido precisa.

O Atlas do Nordeste, feito pela ANA (Agência Nacional de Águas), propõe obras múltiplas, descentralizadas, de baixo, médio e alto custo, para resolver a necessidade de abastecimento humano, em todo o semi-árido. Primeiro fizeram o Atlas para cidades com mais de 5000 habitantes. Depois, para as cidades com populações abaixo disso. E quais são essas obras? Muitas delas são as tais adutoras para distribuir as águas acumuladas. É a parte que falta da política hídrica, que queira ou não existe através da rede de açudes.

Por exemplo, Pernambuco, Distrito Federal e Paraíba são os três estados de pior equação hídrica, isto é, mais população que capacidade hídrica. Boa parte das obras previstas no Atlas para Pernambuco tem o São Francisco como fonte, inclusive está sendo feito o canal do sertão. A Paraíba também está fazendo. Sergipe já leva água do São Francisco para Aracaju, que está fora da bacia, através de adutoras, que inclusive tiveram sua capacidade duplicada para atender a demanda de desenvolvimento de Aracaju. É o que defendíamos, que não se fizesse a Transposição, e sim a adução das águas necessárias ao abastecimento do eixo leste. No eixo norte não faz sentido.

O canal que sai do Castanhão, no rio Jaguaribe (Ceará), o maior açude do país, tem capacidade de 6 bilhões de metros cúbicos e, segundo o professor João Abner, toda a água da Transposição é a exata transpiração do Castanhão. A água acumulada, que não se usa, é igual à água que vai ser transposta, 128 metros cúbicos por segundo, no máximo. Portanto, fizeram um canal que não funciona – o Canal da Redenção, Canal do Trabalhador –, que leva água do Castanhão pra Fortaleza. Aquilo é um exemplo do que pode ser a Transposição. O governo Ciro Gomes fez em seis meses o Canal do Trabalhador, quando do colapso hídrico de Fortaleza, mas não funcionou, uma mega-obra que não ajudou até hoje.

Recentemente, o movimento social levantou a lebre de que o povo era proibido de pegar água desse canal, havia vigilância, câmera, segurança armada. Fizemos tanto barulho que hoje podem pegar. Foi uma conquista, porque era um escândalo, tratava-se de água que as pessoas precisavam captar pra uso doméstico, para os animais. E a idéia da Transposição é mais ou menos a mesma que denunciamos nesse caso.

Correio da Cidadania: Uma eventual interrupção da obra abriria caminho para estas propostas alternativas, além de mais efetivas, tendo em vista a real conformação hídrica e climática do nordeste?

Ruben Siqueira: Essa é a nossa esperança, a nossa proposta. A coisa é complicada, tem muita corrupção, projetos mal feitos, portanto, mais argumentos para colocarmos em discussão. Vamos fazer como o d. Luiz Cappio propôs: vamos chamar a academia, os movimentos, a sociedade, também os empresários, todos os interessados, e discutir isso abertamente, com transparência, democracia, pra encontrar a melhor solução. Mas é utopia democrática, porque na prática não será assim. De toda forma, fica a chance de fazer a educação política do povo, que só sofre deseducação hoje em dia.

Todo esse trabalho maravilhoso, de formiguinha, dos movimentos sociais do Nordeste, de pensar essas idéias, entender e saber lidar com a natureza como ela é, e conseguir tirar proveito, corre risco, pois vem gente que fala “pra que vou querer cisterna, barragem subterrânea? O São Francisco vem aí”. Eu ouvi isso!

Esse é o problema. Pelo menos enquanto CPT, somos agentes educadores do povo, do crescimento, da politização e consciência popular. Essa briga toda, no final das contas, tem isso por trás, fazer o povo tomar conhecimento da realidade do semi-árido e dizer claramente o que quer, compreendendo o interesse do capital. Agora, na base da imposição de cima, fica difícil.

Se a paralisação das obras permitisse fazer esse debate, retomaríamos o lugar em que ficamos parados lá atrás, na época das maiores mobilizações. Quando as obras começaram, o movimento social, a articulação popular São Francisco Vivo, com mais de 300 entidades, nos juntamos com um Fórum no Ceará, chamado “Por uma nova cultura de água e contra a Transposição”. Também se fez algo semelhante na Paraíba e no Rio Grande do Norte, principalmente na região dos rios Piranhas-Açu e Apodi, um movimento social forte, sindical, com apoio da Cáritas, CPT, algumas ONGs, assim como na chapada do Apodi, Ceará, onde já foram mortos agricultores que fizeram denúncias sobre a contaminação do rio por agrotóxicos. E eles resistem lá, não querem a água da Transposição, os pequenos agricultores, criadores, apicultores, multicultores têm essa posição firme.

A maior miséria do Nordeste está na beira do São Francisco. E isso continua. Ter água perto não tem significado progresso, saúde, educação. Mas não é essa a discussão que está posta, o governo quer que o grande eixo do desenvolvimento do Nordeste seja o São Francisco. Só que é o contrário!

Assim, quando começaram as obras, deslocamos o foco mais para os atingidos, no vale do Jaguaribe, região de Muricy, Brejo Grande, por onde entra o canal do eixo norte. O rio Salgado é de pequenos imigrantes. Quando começou a obra, perderam a safra. Quem perdeu a casa, não ganhou nova, não foi devidamente indenizado, ou ganhou indenização, mas já com problemas. Depois, fizemos um grande encontro de atingidos pela Transposição em Campina Grande, 2010, mas não deslanchou. Por duas razões: a dificuldade de disputar a opinião pública, trabalhando em cima das contradições, e a falta de parceria, já que o próprio movimento social não encampou muito essa luta.

Correio da Cidadania: Estamos, portanto, a seu ver, em um momento de baixa organicidade, no campo à esquerda e entre os movimentos sociais? Quanto à esquerda, você a sente desconectada da vida real das pessoas, de seus conhecimentos locais e herdados através das gerações, de modo a ouvir e se organizar sob novas dinâmicas, mais afeitas à participação de tais grupos?

Ruben Siqueira: O MST, por exemplo, nunca entrou muito nessa luta. É que, na beira do São Francisco, em PE, em uma das áreas há a maior quantidade de assentamentos, em fazendas de gente que obteve financiamento do Banco do Brasil no passado para plantar mandioca; e plantou maconha. Depois disso, essas terras viraram assentamentos.

Fizemos dois grandes mutirões, com ajuda do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), nos juntamos e fomos às regiões por onde passariam os canais, a fim de conversar com o povo e levar informações, debates, de modo a criar consciência e educação política.

Mas, depois disso, vieram as eleições e, para se ter uma idéia, no Fórum que citei do Ceará, todo mundo era envolvido com o PSOL. Depois das eleições, acabou a luta contra a Transposição. Não houve seqüência, ou seja, tivemos muitas dificuldades no nosso próprio campo, o que persiste até hoje. Descobrimos que o desenvolvimentismo de esquerda tem uma face pior que o de direita, porque tenta disciplinar o movimento social e controlar o papel a ser executado por eles, seus questionamentos.

O que fazemos na beira do São Francisco? Trabalhamos com contradições. Por exemplo, energia eólica. Trabalhamos com os atingidos por ela. É uma maravilha? Não é bem assim, está desgraçando áreas inteiras, pastagens, comprometendo nascentes dos poucos rios perenes da Chapada Diamantina. A mineração lasca com tudo por aí, em vários territórios de populações tradicionais, indígenas, quilombolas. Ou seja, nos últimos tempos, quem lutou na bacia do São Francisco foram os habitantes originários, indígenas, quilombolas. E, mesmo assim, só se conseguiu um decreto de terra quilombola, não saiu nada para reforma agrária. É difícil, no nosso próprio campo, ter uma unidade e pensamento crítico em relação ao governo.

Quando pisam no calo dessas pessoas, moradores locais, elas levantam. Quando aparece uma mineradora pra tomar territórios, o pessoal se levanta, se mobiliza. Mas falta quem organize, qualifique e leve a resistência espontânea a outro patamar.

Correio da Cidadania: Você diferenciaria, de algum modo, os últimos governos diante dessa obra, começando por FHC, passando por Lula e culminando com Dilma?

Ruben Siqueira: Como falamos no início, existe uma linha comportamental estratégica em relação à Transposição, que não mudou até hoje. Eu diria que a grande diferença dos governos Lula e Dilma para o de FHC é exatamente essa que mencionei, de ter menos unidade e contundência do nosso lado, da resistência popular, de proposição de alternativas.

O Programa 1 Milhão de Cisternas começou no governo FHC, e avançou bastante nas cisternas. Depois, no governo Lula, era pífio, mas depois houve uma retomada, porque perceberam que ficariam abaixo do governo tucano.

Há uma estratégia política fundamental nisso, subterrânea, nada transparente: o jogo entre poder econômico e político. A indústria da construção civil, cimento, ferro. Estamos falando de Votorantim, Gerdau, das grandes empreiteiras. É absurdo o que as empreiteiras cresceram. Isso não mudou. Não vemos diferença. Pelo contrário.

Correio da Cidadania: Portanto, seria a velha questão, quando se divide a resistência e a crítica, é muito mais fácil passar o trator por cima.

Ruben Siqueira: Exato. Não existe resistência, não há um acúmulo de luta contra o PT. Somos muito críticos, portanto, do papel desempenhado pelo governo.

Se pegarmos para análise o programa Avança Brasil do FHC e o compararmos com o PAC, vamos ver que é a mesma coisa. É tudo pra fora. Ferrovia Transnordestina, aeroportos, portos, rodovias para chegar a uma saída para o Oceano Pacífico... Eu me lembro de uma crítica da professora Tânia Bacellar, na época de FHC, numa reunião em Recife, na qual ela foi a principal palestrante. Ela mostrava esta conexão: um desenvolvimento voltado para fora. Não é pra dentro, potencializando o país, criando mais mercado interno, progresso para o povo. É para a globalização, os mercados externos.

E hoje o Brasil continua desempenhando papel subalterno, com a diferença que se aproveita do momento econômico mais favorável. Não é nada social, ambiental, não estão nem aí pra isso. Basta ver como tudo piora nesse sentido, o Código Florestal que se tenta aprovar. Aqui na Bahia, mas em outros estados ocorre o mesmo, acabaram com as prerrogativas do Conselho Estadual de Meio Ambiente, passando-se muitas delas para os municípios. E passar estes atributos para o poder local dá no mesmo que extinguir tais prerrogativas... Veja o Código Florestal, o que é aquilo? É acabar com a lei que nunca cumpriram, legalizar a ilegalidade do passado e torná-la legal no futuro, de modo a manter as mesmas depredações que vemos.

A não ser pela queda da unidade do movimento social, não há muita diferença entre os governos citados. Aí vem a conversa de que é difícil se opor a esse governo porque o adversário principal é pior... Eis o quadro.

Claro que ajuda o fato de lutar com os de baixo, da base, e não nas intermediações políticas, o que de alguma forma mantém uma firmeza do movimento. Mas falta articulação. Por isso fazemos um esforço danado, pelo menos na bacia, de juntar atingidos pela mineração, projetos de energia, hidrelétrica, nuclear, do parque eólico, do agrocombustível, e tratar de descortinar o que acontece conosco, que necessidade de produzir energia é essa? Pra quem? Isso ainda temos bastante chance de fazer, apesar das dificuldades.

Correio da Cidadania: A respeito do atual governo, o que teria, finalmente, a dizer sobre a polêmica, para não dizer escandalosa, suspensão da entrega das cisternas do projeto que visava instalar 1 milhão delas no semi-árido?

Ruben Siqueira: Foi escandaloso. Temos um ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que é de Petrolina, e um projeto político ligado ao Eduardo Campos, governador nordestino de maior sucesso, do bloco da base aliada, do poder. E pra viabilizar tal projeto sacrificam algo que é a face mais avançada do ponto de vista político e ambiental no Nordeste, no caso, o programa 1 Milhão de Cisternas, além do Projeto 1 Terra + 2 Águas (P1+2), como propusemos, e eles descaracterizaram completamente. Era um projeto de reforma agrária no semi-árido, terra pra todos e duas águas, para casa e para produção. Só quiseram dar a segunda água, da produção, mas nunca quiseram dar a terra.

Aí entra a luta da ASA, e a questão essencial do Nordeste, que nunca foi a água. A questão essencial do Nordeste é a terra. Pra se ter idéia, o semi-árido baiano é o maior do Brasil, mais ou menos metade do semi-árido está na Bahia. Cerca de 90% dos agricultores baianos do semi-árido têm menos de 100 hectares. A própria Embrapa diz que uma família da região precisa, para viver em condições ideais, de 300. Portanto, o problema aqui é terra, não é água. Até porque quem tem terra tem “mais chuva”, mais subsolo, mais possibilidades de captar água, de ter rios temporários, veredas... Mas isso não se quer discutir e encarar.

Portanto, a dificuldade do P1+2 foi essa: mexer na terra. Porém, aí vamos mexer no núcleo do poder da República. Coisa que nesse país não pode.

Fato é que, quando o governo federal viu a besteira que ia fazer, recuou. Percebeu que a manobra das cisternas tinha muito a ver com o projeto regional, do ministro, que visava ficar mais conhecido para depois ser candidato ao governo de Pernambuco. Dizem que a empresa que faria as cisternas de plástico, muito mais onerosas e que viriam de fora, era de gente ligada a ele. Porque os Coelho são uma família envolvida em vários setores da política e da economia. Denunciou-se que as empresas que fariam as cisternas de plástico no lugar das cisternas da ASA são ligadas ao grupo dos Coelho. Não duvido, mesmo que não haja comprovação.

É o exemplo claro do que foi citado no início. A indústria da seca ainda faz e realimenta o poder no Nordeste. Em função de uma candidatura, um projeto político, manipula-se a água e suas respectivas políticas públicas.

Valéria Nader, economista e jornalista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Kelli Mafort: É preciso unificar a luta da mulher do campo e a urbana

 Vanessa Ramos página do MST

Há tempos que as mulheres brasileiras não seguem o exemplo das “Mulheres de Atenas”, de Chico Buarque. “… Quando fustigadas não choram, se ajoelham, pedem imploram mais duras penas; cadenas…”. Em vez disso, hoje as mulheres lutam, juntam forças, fazem exigências e protestos.
Mesmo com todos os problemas que ainda persistem em relação às questões de gênero em nossa sociedade, as mulheres têm se mostrado fortes e desafiadoras ao se colocarem na linha de frente de muitas lutas e, assim, dão passos largos para transformações históricas na sociedade.
O dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, simboliza também o dia internacional de lutas das mulheres do campo e da cidade. “Toda vez que as mulheres se põem em movimento dentro das organizações, ajudam-nas a trilhar por um caminho de ofensiva, que é o caminho dos trabalhadores”, avalia Kelli Mafort, do Setor de Gênero do MST, que atua no estado de São Paulo.
Em entrevista à Pagina do MST, Kelli conta como as mulheres se posicionam em relação a algumas questões políticas, sobre a violência contra a mulher e sobre as distintas lutas que participam.
Leia abaixo a entrevista.

Qual é o objetivo da Jornada de Lutas das Mulheres neste ano?

A jornada tem como temas principais a questão do veto da presidenta Dilma às alterações do Código Florestal. Essas alterações apenas favorecem os ruralistas e o agronegócio. Então, já estamos nos mobilizando para exigir o veto da Dilma.
Outro tema também presente é a questão dos agrotóxicos. Esse já foi um tema discutido no ano passado e que persiste, dada à posição que o Brasil ocupa no cenário mundial, como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, favorecendo principalmente as empresas ligadas à produção de venenos.
Além disso, a jornada também pauta a paralisia da Reforma Agrária. O ano de 2011 foi um dos piores anos da Reforma Agrária. Queremos reverter esse quadro, pois o Estado brasileiro tem se organizado para dar suporte ao agronegócio. As mulheres vão às ruas no dia 8 de março para denunciar essa situação de privilégio e exigir que a Reforma Agrária saia do papel.

Como vocês se posicionam e discutem no campo a questão da violência contra a mulher?

A questão da exploração, no caso das mulheres, está inserida, em geral, na classe trabalhadora. Por isso, quando falamos em gênero no MST, também está ligado a questão da classe. São as mulheres inseridas na classe trabalhadora. Ainda vivemos numa sociedade patriarcal. A nossa luta é contra a sociedade patriarcal e contra a sociedade capitalista. O capital opera em diferentes dimensões e também na questão do patriarcado. A violência a qual as mulheres são submetidas são expressadas de diferentes formas. A violência física, a violência doméstica é uma dessas formas, mas, na realidade, a nossa luta é contra todos os tipos de violência contra as mulheres.

Por que o sistema capitalista afeta principalmente as mulheres?

O sistema capitalista afeta principalmente as mulheres porque a luta por uma igualdade de direito, na caso das mulheres, é uma luta que não pode ser efetivada dentro desse sistema. A luta histórica do feminismo tem a bandeira da emancipação. No entanto, uma igualdade substantiva, que não é uma igualdade superficial, só na aparência, só é possível com alteração do modelo de sociedade.
Essa luta fica mais forte, mais intensa, no dia 8 de março. Apesar disso, muito ainda se faz o uso inadequado desse dia, como um dia de embonecar a mulher, além de uma série de deturpações do que é o dia 8 de março. Pra gente, o dia 8 de março é um dia internacional de lutas, uma vez que os nossos direitos de igualdade não foram alcançados e não serão alcançados nessa sociedade.
A história tem mostrado que quando os trabalhadores e as trabalhadoras se colocam em movimento, eles obtém conquistas. Não podemos esquecer que somos a maioria da população. Acho que a gente precisa ter essa concepção e acreditar que podemos ser muito mais feliz do que somos na sociedade atual e pra isso, temos que nos organizar, nos colocar em movimento.
A luta não pode ser só pela Reforma Agrária. A luta tem que ser por uma transformação social não só do MST, mas também de outras organizações e de outras mulheres que não estão ainda engajadas em nenhuma organização. A gente precisa se dispor a fazer trabalho de base, a se movimentar para garantir essas conquistas.

A luta da mulher do campo está separada da luta da mulher urbana?

Sem dúvida, é preciso uma unificação. As ações do dia 8 de março desse ano já revelam essa indicação. Em vários estados, as ações das camponesas vão acontecer junto às trabalhadoras urbanas. Por exemplo, a indignação com o despejo das famílias do Pinheirinho, uma ação que aconteceu no estado de São Paulo, no município de São José dos Campos, é um tema que está bastante presente na nossa jornada, que representa também a luta dos movimentos sociais de uma maneira geral.
Nossa luta é contra a repressão do Estado, contra a repressão aos trabalhadores. Isso mostra que não é uma luta somente do campo ou que há diferenças na luta do campo e da cidade. A própria ação que aconteceu nesta terça-feira (6), no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, da ocupação do Ministério da Fazenda, foi uma ação do MST, da Via Campesina e das trabalhadoras urbanas. Várias outras ações 
também estão nessa direção.

De que forma as camponesas pretendem contribuir para a construção da soberania alimentar no país?

A partir de 2006, a ação que nós realizamos na empresa Aracruz, no Rio Grande do Sul, foi um marco tanto da mudança na forma da luta do dia 8 de março como também uma luta que revelou as alterações no meio rural. Hoje, nós temos um campo organizado para o capital, que não garante a soberania alimentar.
A ação de 2006 revelou um campo com pouca gente, de reprodução do capital e para empresas do agronegócio. As mulheres se organizam para dizer que não é esse o campo que nós acreditamos. Defendemos um campo que garanta a soberania alimentar, que seja um espaço da reprodução da vida e não da reprodução do capital.

Qual o papel da mulher na luta pela Reforma Agrária?

Tem uma canção que diz “ser mulher, a luta vai pela metade”. Nós acreditamos nisso. Além disso, tem uma questão na base material da luta das mulheres que ajuda a puxar o Movimento para uma ofensiva ousada, uma vez que a exploração das mulheres trabalhadoras é dupla. Ela é dupla no sentido de que é uma exploração da classe, mas também há uma violência contra a mulher. A nossa manifestação da luta também é dupla.
Essa dupla exploração puxa as mulheres para ações mais ousadas e com isso ajuda a puxar o interior das organizações, sejam elas do campo ou da cidade. Toda vez que as mulheres se põem em movimento dentro das organizações, ajudam-nas a trilhar por um caminho de ofensiva, que é o caminho dos trabalhadores.