Tom Zé - Tom Zé (1968)
01. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho d
01. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho de Portão
04. CatecFaixas:
1. São São Paulo
02. Não Buzine que Eu Estou Paquerando
03. Namorinho de Portão
04. Catecismo, Creme Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burriceismo, Creme Faixas
Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burricee Portão
04. Catecismo, Creme Dental e Eu
05. Curso Intensivo de Boas Maneiras
06. Glória
07. Camelô
08. Profissão Ladrão
09. Sem Entrada e Sem Mais Nada
10. Parque Industrial
11. Quero Sambar Meu Bem
12. Sabor de Burrice
Parque Industrial ou Satyricon de Tom Zé
Da companhia destes, "Tom Zé" havia sido alijado, ao sair de circulação. Como eles, foi gravado, em 1968, sob o signo da revolução e da liberdade criativa. Suas composições expõem as marcas - tipicamente tropicalistas - da surpresa e do sincretismo. Compassos se alternam, dão-se mudanças às vezes radicais de andamento. Estruturas por colagem e/ou montagem, as canções, fracionadas, misturam ritmos (exemplo: iê-iê-iê e música sertaneja, em "Sabor de Burrice), instaurando inesperadas atmosferas em uma mesma faixa. Tudo ilustrado paralelamente pelos arranjos.
Estes desempanham palel fundamental no encontro entre música popular e erudita contemporânea que o disco promove. Criados por Damiano Cozzela e Sandino Hohagen, maestros do grupo música nova, combinam elementos díspares - do folclore ao rock - num trabalho ao mesmo tempo antenado com a vanguarda e enraizado na tradição. As instumentações são inusuais. Um arsenal de ruídos - sinos, buzinas, despertadores - e sons variados - aleatórios, de fanfarras, etc - é convocado. Incorporam-se cacos, acasos, erros, além de narrações, conversas e discursos, sem contar vocais onomatopéicos. Resultado: cada faixa se torna um acontecimento sonoro-musical.
Mais relevante ainda talvez seja a forma como os arranjos se relacionam com as letras, como replicam às suas instigações, criando os climas por elas requeridos. Examine-se um detalhe de "Sem Entrada e Sem Mais Nada", por exemplo. Num dado trecho, acordes deliberadamente cafonas são tocados para comentar a expressão "cinco letras que choram", verso que, na canção, está se referindo a "FIADO" e também parodiando (no nível melódico inclusive) um antigo sucesso homônimo de Francisco Alves, co-intituladao "Adeus".
Importante, a propósito das citações, é que elas são sempre pertinentes, nunca gratuitas. E, mais do que serem várias, chama a atenção o leque de sua livre diversidade: do samba "Upa Neguinho" (em "Quero Sambar, Meu Bem") ao hino "Deus Salve a América" (na introdução de "Parque Industrial"), de "Cai, Cai, Balão" ao iê-iê-iê brega "Bom Rapaz" (em "Namorinho de Portão").
No centro de tudo, encontra-se naturalmente Tom Zé, singularizando-se já por suas qualidades de cantor - cujas interpretações assinalam, inteligentemente, o tom paródico e/ou irônico dos textos. De compositor - com uma formação sofisticada para um autor de canções à época, revelando conhecimentos hauridos no campo erudito. De músico - aberto a experimentações. De artista - com proposta e postura nova e ousada. De letrista - de versos provocativos, gozativos, satiricamente críticos.
Mais intensamente do que os damais poetas do tropicalismo - Caetano, Gil , Capinan e Torquato Neto -, Tom Zé usa e abusa de uma linguagem carregada de mordacidade e de tipo coloquial-irônico. Nesse sentido, ele foi o Tristan Corbiére do movimento. Como resistir ao humor de versos como: "Entrei na liquidação/ Saí quase liquidado"? ou a estes, desconcertantes: "Pois um anjo do cinema/ já revelou que o futuro/ da família brasileira/ será o hálito puro,.../Ah"!? ou à força do refrão de "Glória"? E há aqueles ainda que fazem uma declaração de princípios poéticos, valendo por um lema estético a ser seguido: "Quero sambar meu bem/ (...)/ Não quero é vender flores nem saudade perfumada/ (...) / Mas eu não quero andar na fossa/ cultivando tradição embalsamada".
Nodisco, não há uma só música que não seja característicamente crítica. Nem "São São Paulo, Meu Amor" - ode? - escapa a isso. E a vei satírica de Tom Zé investe implacavelmente contra vários alvos. Eis alguns deles. O capitalismo, na imagem do homem de negócios (em "Não Buzine que Eu Estou Paquerando"). A burguesia, ridicularizada em sua moral, seus hábitos e aspirações, na figura do chefe de família ("Glória"). A sociedade de consumo e as imagens-símbolo, publicitárias, do consumo ("Catecismo, Creme Dental e Eu" e "Parque Industrial"). As convenções, sociais e comportamentais ("Curso Intensivo de Boas Maneiras"), bem como as linguísticas ("Sabor de Burrice"): nesse último caso, a própria letra assume um discurso retórico-acadêmico, num emprego consciente do mau gosto para efeito crítico.
Em suma, o que Tom Zé não poupa é o limitado horizonte espiritual de sistemas e estilo de vida vazios e, com estes, seus praticantes. Tais fatores de fundo, aliado aos componentes formais do disco, colaboram para fazer dele uma obra audaciosa e desafiadora, de alguém que reúne senso crítico e estético ; um homem sertanejo de origem e forte de caráter, que se tornou um artista urbano e moderno (e que assim, acabou fazendo a "ligação direta [...] entre o rural e o experimental" para lembrar as palavras de Caetano sobre ele em "Verdade Tropical").
Agora, o Brasil passa a dispor, finalmente em CD, de mais um trabalho seu a servir de informação cultural qualitativa para as novas gerações. E os norte-americanos, os jovens em especial, já poderão contar com a referência de mais uma "nova" obra de relevo da escola de vanguarda que. para alguns deles, o tropicalismo se tornou.
Texto de Carlos Rennó, encartado no relançamento em CD.
Download Aqui: Tom Zé - Tom Zé (1968).