quarta-feira, 18 de julho de 2007

Tragédia Brasil

Laerte Braga


Quaisquer que venham a ser as conclusões sobre o acidente com o Airbus da TAM na noite de 17 de julho, vários aspectos têm que ser levados em conta sobre a aviação e o Brasil. A crise que explodiu com a queda do avião da GOL, em outubro do ano passado, abre um cenário trágico, deplorável, e transforma em vítimas pessoas inocentes, ao largo desse processo de transformação do Brasil numa imensa Roça de Cana.

O primeiro ponto a ser considerado é que todas as debilidades de infra-estrutura no País, crônicas, agravaram-se a partir do governo FHC. O Brasil foi deixado de lado na sanha privatista do governo tucano, na corrupção desmedida do governo tucano. Não foram só os aeroportos em todo o seu conjunto, mas também as rodovias, tudo.

O segundo é a absoluta incapacidade do presidente Lula de sair da camisa de força em que se colocou nesse amontoado de alianças que implicou em figuras como Carlos Wilson na presidência da INFRAERO. Estende-se a todo o governo e o episódio do mensalão foi apenas a grita de Roberto Jefferson que não se conformou em perder um cargo chave no controle dos "negócios", no caso uma diretoria de FURNAS.

Ou seja, por qualquer ângulo que se veja, por quantos pontos se levante, o modelo político e econômico está falido e não existe remédio capaz de dar jeito.

Fala-se muito nas vaias ao presidente Lula no Rio de Janeiro. Foram, evidente, armadas e orquestradas no esquema César Maia. Mas estenderam-se e pouco a mídia falou nisso, às delegações da Bolívia e da Venezuela. Excluo as vaias aos norte-americanos (acontecem em qualquer parte do mundo).

Um avião não derrapa no dia anterior ao desse grande acidente de terça-feira e outro cruza uma avenida de mais ou menos 40 metros e se espatifa/explode contra prédios comerciais e da própria companhia, a TAM, se algo não estiver errado.

A princípio as reformas das pistas não foram concluídas e a pressão da crise no setor fez com que a INFRAERO as liberasse sem os devidos cuidados.

O que isso tem a ver com Renan Calheiros, por exemplo? Com FHC? Com Lula? Com a falência do modelo?

Renan foi ministro da Justiça de FHC, votou a favor de todas as privatizações. FHC largou o Brasil como casa abandonada e vendeu o patrimônio público e Lula, malgrado um ou outro esforço aqui e ali, não faz nada que não seja o assistencialismo. O neoliberalismo populista.

Empresas como a INFRAERO foram e são tratadas como moeda de troca no jogo político. É por aí o pulo do gato. O negócio não é funcionar, é garantir o futuro.

As vaias às delegações da Bolívia e da Venezuela? A disputa pelos destroços do Estado brasileiro, onde as vítimas não se circunscrevem aos passageiros do avião da TAM, mas a todos os brasileiros no processo crescente de banalização e transformação do ser/cidadão/pessoa em mercadoria, foi montada, pacientemente pela GLOBO e grande mídia, exatamente porque Bolívia e Venezuela contrariam interesses de gente como Renan, como FHC, como Lula, porque presidentes como Evo Morales e Chávez cuidam dos interesses de seus países.

GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, tucanos, democratas, não são diferentes de nada que transforma o Estado brasileiro num grande e trágico acidente. São porta-vozes dos principais acionistas.

Vai ser um feito e tanto se Lula sair inteiro desse massacre. O que existe é briga por um botim e o acidente com o avião da TAM vai ser usado nessa briga. O loteamento de cargos como a INFRAERO, onde as denúncias de corrupção se estendem para todos os lados.

A tragédia é no Brasil inteiro. As chamas estão crepitando em todo o País. Os prédios estão desabando por todos os lados.


Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Ilustração: Táia Rocha

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