Comunidade Software Livre e Lula iniciam revolução digital
É muito em termos absolutos (imagine um Maracanã lotado de estudantes) e pouco em termos relativos (há cerca de 48 milhões de alunos e professores em escolas públicas). Mas é só o primeiro passo de um projeto que deve crescer e que tem um objetivo nada modesto: acabar com o fosso digital que separa ''conectados'' e ''não conectados'', e que deixa os últimos alijados da revolução tecnológica em curso no planeta.
Trata-se do programa ''Um Computador por Aluno'', coordenado por assessores diretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e inspirado na organização ''One Laptop Per Child'' (OLPC), entidade que pertence a Comunidade de Software Livre e que promove o uso de computadores portáteis como ferramenta para revolucionar a educação em países pobres.
A OLPC está por trás do chamado ''laptop de 100 dólares'', aparelho de baixo custo idealizado nas pranchetas de cientistas do MIT (Massachussets Institute of Technology) e que está prestes a entrar em produção, com uma série de inovações tecnológicas. Seu custo, porém, foi recalculado para algo próximo de US$ 180.
Apesar de ter deflagrado a criação do programa no Brasil, a OLPC, com seu modelo XO, não tem mercado cativo - terá de concorrer com a Intel, que produz o Classmate PC, e a empresa indiana Encore, fabricante do Mobilis.
O governo deve estabelecer um preço máximo para a compra, além de exigir garantia de assistência técnica por três anos e uso exclusivo de software livre nas máquinas, disse José Luís Aquino, assessor da Presidência, em entrevista a Terra Magazine.
Concorrência
No início do ano, Cezar Alvarez, coordenador do projeto, disse que o preço de cada laptop ficaria ''em torno de US$ 200''. Se isso se confirmar, complica-se a situação da Intel, cujo Classmate custa aproximadamente o dobro.
De olho em um mercado que pode chegar a milhões de unidade, Intel e Encore tentaram ganhar a simpatia do governo com a promessa de montar no Brasil seus laptops - a OLPC, por sua vez, fará suas unidades em Taiwan. Mas o quesito ''produção nacional'' não terá peso na concorrência, afirma Aquino.
A OLPC é uma organização sem fins lucrativos, mas tambêm tem como prioridade vencer a concorrência - a eventual adoção do XO pelo país garantiria produção em escala, redução de custos (a meta de US$ 100 não foi abandonada) e visibilidade internacional para o projeto.
A entidade foi criada por Nicholas Negroponte, uma das estrelas do MIT, em 2005. Em poucos meses, o projeto de um laptop barato, resistente e inovador havia sido abraçada por empresas de tecnologia como AMD, Google e Red Hat.
Intel e Microsoft bombardearam a idéia desde o início - motivos econômicos não faltavam, dada a preferência pelo sistema operacional Linux e o uso dos chips da AMD. Depois de uma guerra verbal, a Intel hasteou recentemente a bandeira branca e até aderiu oficialmente à OLPC, provavelmente após negociar a utilização de algum de seus produtos no XO.
Rede ''mesh''
Desafiando os céticos, os designers e engenheiros da OLPC não só viabilizaram o barateamento radical dos laptops como ainda introduziram características exclusivas, como telas que podem ser lidas ao sol, uma nova interface gráfica e a chamada rede ''mesh''.
Numa rede mesh, cada laptop funciona ao mesmo tempo como receptor e emissor de sinais sem fio - computadores próximos conseguem ''conversar'', mesmo que ambas estejam desconectadas da internet.
Na prática, isso significa que os alunos podem fazer trabalhos em grupo e exibi-los em rede para toda a classe, por exemplo. Além disso, se houver conexão à internet, cada computador funciona como um difusor do sinal, o que amplia o alcance físico da rede.
Revolução didática
Ou seja, no lugar de livros didáticos os estudantes passarão a ter um laptop onde cada máquina é receptora e transmissora do sinal de rede de internet, sem ter a necessidade de um provedor intermediando o acesso a rede.
Com 150 mil máquinas recebendo e transmitindo sinais em diversas regiões do País a malha da rede engordará, pois além dos estudantes, qualquer computador com wireless (rede sem fio) poderá ter acesso a ela, mesmo sem pagar um provedor.
Mas esta é apenas a primeira etapa do projeto, o governo tem como meta chegar a 1 milhão de laptops. Até lá, lado a lado da superação da exclusão digital, estará dado outro desafio: afinal, como se darão as relações didáticas e pedagógicas na sala de aula quando esta terá como principal instrumento pedagógico um computador com acesso a rede?
Para responder esta pergunta estudantes universitários da área de educação se engajaram no projeto da OLPC. A expectativa é que para além da revolução digital, o ''Um Computador por Aluno'' também revolucione a educação no Brasil.
Fonte:Vermelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário