segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A ditadura da mídia monopolista mercantil

Emir Sader


O que mais chama a atenção na entrevista do Lula ao Estadão não são seus argumentos mas, antes de tudo, o fato de que o discurso do governo não chega à população. Oferece-se um cardápio aparentemente diferenciado de cronistas, de jornais, de revistas, de canais de televisão, de rádios, mas em nenhum deles a população fica conhecendo a opinião do governo, a justificativa dos seus atos, a palavra do presidente em que o povo majoritáriamente votou para eleger e reeleger como presidente do Brasil.

Os órgãos da mídia da oligarquia privada reivindicam publicidade do governo conforme o que seria a audiência que teriam nas pesquisas. E atacam violentamente qualquer recurso que o governo destine a órgãos públicos de divulgação ou à publicidade das ações do governo.

No entanto, qual é a pesquisa mais abrangente, em que o povo brasileiro, depois de muitos meses de campanha, dispondo de várias alternativas, se pronunciou sobre sua vontade política? O processo eleitoral do ano passado. O que esse processo apontou? Que Lula dispõe de ampla maioria – apesar da brutal oposição monopolista -, delegada democraticamente pelo povo brasileiro para governar o país. O que lhe impõe também a obrigação de relatar ao povo brasileiro sobre as realizações e os problemas do seu governo, o que deve fazer mediante órgãos públicos e divulgação na imprensa em geral.

Um dos maiores erros do governo foi o de minimizar a democratização dos meios de comunicação, como que aceitando que quatro famílias detentoras de meios privados, queiram deter o monopólio da formação da opinião pública. Para testar se há democracia e pluralismo na imprensa brasileira, podemos perguntar-nos: eram conhecidos publicamente os argumentos de Lula? Só na campanha eleitoral, quando as candidaturas dispõem de espaços públicos para se manifestar, independentemente da imprensa monopolista privada. No que depender desta só sua voz domina o espaço público.

Conhecemos a reiteração cotidiana dos argumentos da oposição, em que os jornais são cada vez mais parecidos entre si, as colunas dos jornais e da televisão parecem escritos pela mesma pessoa, em que os desígnios autoritários das quatro famílias se impõem na fabricação ditatorial das informações, em que a editorialização predomina sobre a informação.

Não há na imprensa o ponto de vista do governo, que é majoritário no país. A imprensa monopolista privada, assim, revela ser uma imprensa anti-democrática, não pluralista, que não respeita o direito da maioria, que não reflete a vontade e o interesse da maioria da população. É uma imprensa opositora, derrotada nas eleições gerais do país, de forma democrática e insofismável. Mas que insiste em afimar, de forma falsa, que representa “os interesses do país”, quando na verdade defendem os pontos de vista e os interesses derrotados, minoritários no Brasil.

Valem-se da força que o monopólio privado lhes concede para tentar impor esses interesses contra a maioria da população. Impedem que o ponto de vista majoritário seja expresso nos espaços que controlam. Tentam se situar como juízes da democracia, quando o que impera nas suas empresas é o nepotismo, a propriedade familiar, sem nenhum controle democrático, redações sem democracia, colunistas que escrevem na mesma linha de apoio à posição dos donos do jornal, noticiário totalmente editorializado, espaços sem pluralismo, nem debate entre posições diferenciadas, oposição politica cega, de direita, conservadora, anti-popular. Não há democracia nos meios de comunicação no Brasil, campo dominado por algumas empresas familiares, monopolistas, mercantis. São um núcleo homogêneo nos pontos de vista e nos interesses que defendem, que tem que ser derrotado pela combinação de políticas públicas democráticas, pluralistas, por iniciativas populares e democráticas fora do Estado, que representem os pontos de vista hoje dominantes no país, e que derrotem a hegemonia oligopólica nos meios de comunicação.

Sem democratização dos meios de comunicação, o Brasil nunca chegará a ser uma democracia.

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