quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Eu vos convoco

Chegamos a um momento crucial. Se não dermos passos, se não tomarmos decisões, nossa mobilização irá para o espaço. Propostas, é claro, não faltam. Todas são bem-intencionadas, muitas oportunas, muitas inteligentes, algumas fora de hora, mas quase todas elas têm, em comum, a ansiedade. É compreensível. Quanto tempo faz que esses cidadãos esperam ser convocados a tomar uma atitude?
É preciso entender, porém, que este Movimento não tem recursos, não tem estrutura, não tem planejamento. Nasceu de um repente de um joão-ninguém (eu) que, por conta da indignação de parte da sociedade com o tipo de mídia que infesta o país, teve que fazer aquele repente tomar corpo no tranco.
Neste momento, recebo mensagens do país inteiro. É gente de São Paulo, do Rio, de Minas Gerais, de Goiás, do Ceará, da Bahia, de Alagoas, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Espírito Santo, enfim, do país inteiro e até do exterior. Todos querem organizar o Movimento em seus Estados. Mas como sair de zero para cem por cento em duas semanas e meia?
A quase totalidade de nós é composta por cidadãos comuns, desvinculados de partidos, que trabalham, que têm suas vidas para tocar e não têm tempo para se dedicar a fundo a uma idéia que apenas começa a tomar corpo.
Eu também não tinha tempo, mas vou ter. O fato é que, como já vazou para alguns sites na internet, fui questionado pela empresa em que trabalho quanto a meu engajamento na administração deste blog e dos assuntos que ele tem tratado. Expliquei que se trata de um assunto particular e que não via que relação poderia ter com a empresa, apesar de eu usar parte do tempo em que permaneço lá dentro, quando não estou viajando, para me dedicar ao que tenho me dedicado. Afinal, quem viaja a trabalho por quinze dias todos os meses, pegando vôos de noite, de madrugada, passando fins de semana enfurnado em hotéis a milhares de quilômetros de casa, em países que não o seu, não pode ser cobrado quanto ao uso de seu tempo. Ou, ao menos, não deveria...
Hoje (terça-feira), depois dos últimos acontecimentos, recebi proposta da diretoria de me desligar da empresa formalmente para "ter tempo" de me dedicar ao que chamaram de "hobby", mas eu continuaria prestando serviços à empresa como autônomo. Receberia minha indenização e, dali em diante, seria remunerado de acordo com a produção de desenvolvimento de negócios no exterior - como vocês sabem, dedico-me a viajar pela América Latina desenvolvendo negócios para essa empresa.
Proposta, ultimato, chamem do que quiser. O fato é que, na vida de todos nós, chega um momento em que temos que tomar decisões sérias que podem acarretar dissabores e problemas, por um lado, ou inconformismo e perda de amor-próprio, por outro.
Até o ano passado, fazia dezessete anos que eu não trabalhava para ninguém. Eu tinha um pequeno negócio, mas por conta de vicissitudes comerciais esse negócio afundou e tive que, depois de tanto tempo, buscar um emprego, pois trabalhar por conta própria já se havia tornado insuficiente para pagar as contas. E foi bom tomar essa decisão. Nos últimos catorze meses, fiz contatos por toda América Latina. Amealhei um patrimônio comercial intangível, porém vasto, pois é constituído pela amizade e pela confiança de meus clientes no exterior.
Nunca fui homem de ter medo de dar passos. Se fosse assim, eu ainda estaria carregando caixas como auxiliar de almoxarifado, profissão que abracei há 25 anos, quando me casei, e que me permitiu vir a ter meu próprio negócio dez anos depois.
Comecei bem, bem lá de baixo, apesar de ser oriundo da classe média alta, de ter estudado nas melhores escolas de São Paulo, tais como Dante Aligheri, São Bento e São Luis, pois me casei sem emprego, sem profissão e sem me formar. Eu era um garoto, mas já precisava sustentar a família recém-constituída, pois minha mulher havia engravidado e decidimos assumir-lhe a gravidez e uma vida em comum.
Foi a decisão mais acertada da minha vida. Tenho uma família maravilhosa. Os que compareceram à Manifestação conheceram minha primogênita, Carla. Um presente do Céu, bem como são meus outros filhos - Gabriela, André e Victoria - e minha neta, Letícia Maria.
Surgiu uma chance de voltar a ser dono do meu nariz. A empresa me prometeu continuar bancando minhas viagens e me dar uma ajuda de custo durante algum tempo. No entanto, minha família, sobretudo minha mulher, teme o futuro e desaprova minhas atividades "políticas", que não são políticas coisa nenhuma, pois não sou - e, friso, jamais serei - candidato a nada, a não ser a dono de minha consciência e senhor de meus ideais.
Conservo, ainda, o escritório em que tinha minha pequena empresa antes de ela parar suas atividades. É uma sala de três por quatro metros na zona Sul de São Paulo. A sala fica numa casa em que amigos, ainda de meu tempo de solteiro, têm um escritório de contabilidade. Quando fui trabalhar na empresa em que trabalho, eles disseram que quando eu precisasse da sala ela estaria lá me esperando. E a empresa em que trabalho vai instalar telefone, computador, fax, enfim, uma estrutura mínima. Daí por diante, será por minha conta, mas claro que com as promessas que recebi de financiamento de viagens e ajuda de custo inicial.
Assim sendo, quando voltar de viagem, em duas semanas, terei como organizar meu tempo da forma que bem entender. E parte desse tempo será usado em prol do Movimento dos Sem-Mídia.
O MSM é uma idéia que se entranhou em minha alma. É um ideal que acalento há anos. Hoje, durante uma longa entrevista que dei por telefone a um jornalista do portal Terra, expliquei que minhas propostas para a mídia não se resumem a questões políticas. Há questões ideológicas e culturais, por exemplo. A mídia, neste país, em minha opinião é responsável por grande parte de seus males. A programação televisiva ao rés do chão - "O povo quer lixo? É lixo que daremos ao povo" -, a pregação midiática de um modelo econômico exaurido, injusto, predatório, nefasto à maioria pobre e miserável dos brasileiros...
Diante desses novos fatos, apresento-lhes minha convocação para o próximo passo do MSM. Quero propor um encontro dos militantes de São Paulo e do Rio de Janeiro em São Paulo num auditório, para que sejam discutidas todas as questões inerentes ao processo de materialização - inclusive jurídica - do Movimento.
Proponho votarmos uma proposta de estatuto que debateremos aqui nas próximas duas semanas e que será apresentada para votação. Proponho elegermos uma diretoria e a constituição dos diretórios do Rio e de São Paulo. Não será, claro, evidentemente, uma proposta de criação de partido político - jamais! Quero constituir uma organização juridicamente legalizada que pautará suas ações pelo estrito respeito à lei. E sua forma de atuação será discutida de forma a tornar-se a mais ampla possível.
O Movimento dos Sem-Mídia, proponho que, paulatinamente, comece a discutir a qualidade de tudo o que a mídia veicula. Os meios de comunicação podem fazer zilhões de vezes mais pelo país do que fazem. Imaginem se, em lugar de lixos televisivos como o programa do Faustão ou do Gugu Liberato, tivéssemos uma programação educadora e envolvente aos domingos. Imaginem meios de comunicação que promovessem amplos debates político-ideológicos que contemplassem todas as visões sem exponenciar algumas e oprimir outras. Imaginem uma mídia responsável.
Já tenho nomes e telefones de mais de cem pessoas, mas ainda falta muita gente. Vários dos que compareceram à Manifestação ainda não se manifestaram. E cada um desses e dos que nos apóiam e não puderam comparecer à Manifestação, podem se juntar à Assembléia que proponho para o dia 13 de outubro (sábado) num auditório na capital paulista. Convocando o evento com antecedência tão grande, estou certo de que os que não vieram à Manifestação de sábado passado, certamente virão. Minhas filhas Carla e Gabriela irão me ajudar nos preparativos durante minha viagem.
Se todos nos juntarmos num local adequado, com microfones, cadastrando todos os militantes, votando um estatuto, elegendo uma diretoria, nosso Movimento será irreversível. Agora é com vocês. Se me concederem uma vez mais vossa confiança e apoio, garanto que envidarei todos os esforços para que nossos ideais se espalhem, aí sim, para todo o Brasil.

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Carta publicada hoje (quarta-feira) no Painel do Leitor da Folha de São Paulo:

Manifestação
"Como leitor da Folha, soube que, no sábado passado, houve uma manifestação em frente ao prédio da Folha, manifestação esta que tinha por finalidade cobrar ética e imparcialidade dos meios de comunicação -o que, na minha opinião, deixou de existir faz tempo.

Soube também que os manifestantes entregaram um manifesto à recepção do jornal, mas, quando li a reportagem, não estava claro qual o conteúdo do manifesto -nem havia detalhes sobre a manifestação e seus participantes.
A Redação do jornal não acha que a sociedade tem interesse em saber do que se trata? A Folha, ao ocultar certas informações, não acha que pode estar dando razão a esse movimento?"
EDINALDO GONÇALVES (São Paulo, SP)

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Creio que deixei dúbio um ponto: o MSM será constituído em todo o Brasil e, desde pronto, os militantes de outros Estados que têm mantido contato conosco já integram o movimento. No caso do Rio, apesar de a Assembléia constitutiva vir a ocorrer em São Paulo, que é onde o Movimento tomou corpo e realizou seu primeiro Ato, será constituído da mesma forma que aqui, até porque a Manifestação mais importante ocorrerá na capital carioca, diante da Globo.

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