Revolução sem armas | | | |
Osvaldo Russo | |
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São vários os revolucionários – muitos deles tombados pela boca dos fuzis - que inspiram as lutas camponesas de massas no Brasil e na América Latina. É inútil a tentativa inverossímil de desacreditar e minimizar a importância histórica de líderes revolucionários da resistência popular como Ernesto Che Guevara, já que nem mesmo os seus algozes e maiores inimigos ousaram desmoralizá-lo diante da história.
Lembrando palavras de Fidel Castro, ao contrário dos tempos de Sierra Maestra, hoje a revolução depende menos da força das armas e mais da ponta do lápis ou do bico da caneta; mais do saber dos livros e menos do fogo dos canhões. A educação e a cultura são estratégicas para as transformações sociais e econômicas no mundo globalizado pela expansão do capital monopolista, mas que também se dão pela consciência humanista e ambiental, criando novas contradições para a continuidade do império capitalista mundial.
Cuba, sufocada pelo boicote dos Estados Unidos, continua dando exemplos significativos na educação e na saúde, reveladores da importância que o regime comunista cubano atribui ao ensino em todos os seus níveis. Isso e o incentivo à cultura podem garantir autonomia da população cubana em relação ao seu futuro. Não importa por quais mudanças terá que passar o país, se as bases do conhecimento e da cultura construídas são sólidas e capazes de resistir às ameaças do capitalismo belicista, desagregador e suicida.
No Brasil, a maior resistência popular à hegemonia do neoliberalismo pode ser vista no PT, mesmo com as contradições na coalizão do governo Lula, na CUT e no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cujas lutas não se restringem à defesa da reforma agrária, no sentido apenas da redistribuição massiva das terras aos trabalhadores rurais. O MST sabe que é preciso a luta para mudar o modelo agrícola baseado na hegemonia do agronegócio e na destruição do meio ambiente, sem o que não há como proteger e desenvolver a agricultura camponesa de base familiar. E sabe, igualmente, que sem acesso a educação de qualidade isso estará fora do seu alcance.
Nas homenagens ao Che, por ocasião dos 40 anos de seu assassinato em solo boliviano, estavam presentes a bandeira e a representação dos Sem Terra simbolizando a importância histórica do líder socialista para as lutas sociais no Brasil e na América Latina. Hoje, não mais pelo uso das armas, mas pela luta democrática de massas, que tem na educação, na cultura e na política as alavancas principais para a transformação da sociedade.
Durante as atividades do 5º Congresso do MST, realizado em Brasília, crianças e adolescentes sem terrinha promoveram debates e manifestações em defesa da educação de qualidade no campo. Estiveram presentes no acampamento improvisado o ministro da Educação e outras autoridades. Recentemente, no Recife, os sem terrinha foram recebidos pelo governador, a quem reivindicaram melhoria na educação do campo em Pernambuco.
Na alfabetização e na formação básica, profissional e universitária, o MST prepara os seus quadros dirigentes e a sua base social para os desafios não só do presente em relação à reforma agrária e aos acampamentos e assentamentos, mas também para enfrentar os desafios do futuro que exigem melhor formação educacional e capacidade técnica para viabilizar novo modelo de desenvolvimento sustentável, que respeite o meio ambiente e produza alimentos saudáveis para a segurança e a soberania alimentar da população.
A revolução na educação deve começar pelo ensino básico e, para isso, são necessárias outras armas – silenciosas - que resolvam os problemas do aprendizado e da evasão escolar. Essa nova revolução exige investimentos para além do Bolsa Família, do Fundeb, do piso nacional dos professores e da eliminação progressiva da DRU. É preciso investir na formação e mudar a concepção do ensino valorizando a cidadania, a solidariedade e temáticas como meio ambiente e direitos humanos, com professores motivados e escolas bem cuidadas, equipadas e em tempo integral - nas cidades e no campo.
Osvaldo Russo, estatístico e ex-chefe de gabinete do Ministério da Educação, é diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
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