terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

ANTIDEPRESSIVOS: PESQUISADORES ESCONDEM RESULTADOS NEGATIVOS

Blog do Azenha


Os fabricantes dos antidepressivos Prozac e Paxil nunca publicaram os resultados de cerca de um terço das pesquisas que conduziram para conseguir aprovação do governo, enganando médicos e consumidores sobre a verdadeira eficácia das drogas, uma nova análise descobriu.

Em pesquisas publicadas, cerca de 60% das pessoas que tomavam as drogas informaram ter tido alívio significativo dos sintomas da depressão, comparados com cerca de 40% daqueles que tomaram placebo (comprimido inócuo usado em testes científicos). Mas, quando os estudos menos positivos, que não foram publicados, são incluídos, a vantagem encolhe: as drogas são mais eficazes que os placebos, mas por uma margem modesta, de acordo com um estudo publicado quinta-feira pelo The New England Journal of Medicine.

Pesquisas anteriores haviam descoberto o mesmo tipo de distorção para uma variedade de medicações; e muitos pesquisadores questionam a eficácia dos antidepressivos. Mas a nova análise, revisando informações de 74 pesquisas envolvendo 12 drogas, é a mais completa até hoje. E documenta uma grande diferença: enquanto 94% dos estudos positivos (para as drogas) foram publicados, somente 14% daqueles com resultados decepcionantes ou incertos foram publicados.

A descoberta provavelmente vai inflamar o contínuo debate sobre como as pesquisas devem ser divulgadas. Em 2004, depois da revelação de que estudos negativos não haviam sido divulgados, um grupo de publicações concordou em não publicar os dados de pesquisas que não sejam primeiro registradas em um banco de dados público. Representantes das maiores empresas farmacêuticas anunciaram que as companhias começariam a divulgar mais informação, mais rapidamente, em seus próprios endereços eletrônicos.

E no ano passado o Congresso aprovou legislação que expande os tipos de estudos e a profundidade de informações que devem ser submetidos ao banco de dados operado pela Biblioteca Nacional de Medicina. A agência do governo que regulamenta o setor, FDA, dá acesso limitado aos dados de testes clínicos recentes, mas críticos dizem que o banco de dados é difícil de navegar.

"Isso é muito importante por duas razões", diz o dr. Jeffrey M. Drazen, editor-chefe do The New England Journal. "Um é que, quando você receita drogas, quer ter certeza de que está trabalhando com a melhor informação possível; você não compraria ações de uma empresa se soubesse apenas um terço da verdade sobre ela." Segundo, continuou o dr. Drazen, "devemos mostrar respeito às pessoas que participam de testes clínicos."

"Elas correm algum risco ao participar do teste e depois as companhias escondem as informações?", perguntou. "Esse tipo de coisa nos deixa realmente interessados na questão."

Alan Goldhammer, sub-vice presidente para assuntos regulatórios dos Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos da América, disse que o novo levantamento deixou de mencionar que a indústria e o governo já tinham dado passos para tornar a informação sobre testes clínicos mais transparente. "Isso tudo é baseado em informação de antes de 2004 e desde então nós acabamos com o mito de que as companhias têm qualquer coisa a esconder", ele disse.

No estudo, uma equipe de pesquisadores identificou todos os testes de antidepressivos entregues ao FDA para conseguir a aprovação de drogas de 1987 a 2004. Os estudos envolveram mais de 12.564 adultos testando drogas como o Prozac da Eli Lilly, o Zoloft da Pfizer e o Effexor da Wyeth.

Os pesquisadores obtiveram dados não publicados das drogas mais recentemente aprovadas no site da FDA. Para drogas mais antigas, eles foram atrás de cópias de estudos através de colegas e usando o Freedom of Information Act (lei americana que, através de ações na Justiça, pode garantir acesso a informações consideradas confidenciais). Os autores do levantamento pesquisaram em bancos de dados de pesquisas publicadas e também escreveram para as companhias que conduziram testes pedindo confirmação de publiação de pesquisas específicas.

Descobriram que 37 dos 38 testes clínicos que a FDA considerou com resultados positivos foram publicados. A agência considerou fracassados ou não-convincentes 36 dos testes, dos quais 14 foram publicados.

Mas 11 destes 14 artigos "indicaram resultado positivo", que não encontrava embasamento na revisão da FDA, segundo o principal autor, dr. Erick H. Turner, um psiquiatra e ex-funcionário da FDA que agora trabalha na Universidade de Saúde e Ciências de Oregon e no Centro Médico dos Veteranos de Guerra de Portland. Os co-autores foram pesquisadores da Kent State University e da Universidade da Califórnia em Riverside.

O dr. Turner disse que a divulgação seletiva de estudos favoráveis causa frustração nos pacientes. "Para aqueles que consideram tomar um antidepressivo, eu acho que a conclusão é de que devem ser mais cautelosos", ele afirmou, "e não devem ficar chocados se não houver efeito; nem pensar que há algum problema com eles".

Já os médicos, diz ele, "acabam perguntando, 'como é que essas drogas funcionam nos testes clínicos mas não respondem aqui no consultório?'"

O dr. Thomas P. Laughren, diretor da divisão de produtos de psiquiatria da FDA disse que faz tempo que a agência sabia que estudos favoráveis têm maior chance de serem publicados. "É um problema que enfrentamos há anos", ele disse numa entrevista. "Apóio acesso completo a todas as informações; a questão para nós é como fazer caber na bula" que acompanha a maior parte das drogas.

O dr. Donald F. Klein, um professor emérito de psiquiatria da Columbia, disse que os fabricantes de drogas não são os únicos relutantes a publicar resultados não convincentes. As próprias publicações e os autores também contribuem. "Se é informação privada e você não gosta do resultado, bem, nós não deveríamos ficar surpresos que alguns médicos nem submetem esses estudos para publicação", ele afirmou.



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