sábado, 9 de fevereiro de 2008

Quando os opostos se atraem
Duas histórias distintas, embora antagônicas, no comentário do filme “O Gângster” de Ridley Scott
Texto: Elizandro Duarte
Divulgação






Numa luxuosa casa na cidade mais importantedo mundo,

o anfitrião recebe seus convidados para um jantar de gala.

No cardápio, estão os vinhos mais delicados que o dinheiro pode
comprar, além de carnes macias e suculentas
e toda a sorte de saladas e acompanhamentos. Tudo impecavelmente
servido em pratos de cristal fino e talheres de prata. A mãe, irmãos e
sobrinhos vestem o que há de mais moderno e caro – o que não
necessariamente significa bom gosto. O sorriso no rosto é a
manifestação mais visível do sentimento de felicidade que se
apodera do homem que proporciona à sua família momentos de tão
rara beleza. A consciência de que tudo ali fora realizado através do
dinheiro sujo do tráfico de drogas e da morte de muitas pessoas
parece em nada incomodar o bom andamento do jantar.
Há alguns pares de quilômetros dali, na mesma cidade, outro

homem prepara seu jantar. Juntando o que resta na geladeira com

um pouco de batatas fritas velhas, ele tenta fazer uma espécie

de sanduíche. A cozinha apertada, onde tenta tornar duas fatias

de pão com um pouco de recheio numa refeição decente, não

difere do restante da casa, decorada com o mobiliário mais barato

disponível no mercado. A consciência da importância do seu trabalho

e a certeza de que sua honestidade como policial é mais um motivo

de raiva do que de orgulho entre seus companheiros de distrito

também em nada influencia sua refeição.

“O Gângster”, dirigido por Ridley Scott, conta essas duas

histórias distintas que, embora antagônicas, invariavelmente

estão destinadas a se cruzarem. No papel do criminoso Frank

Lucas, está Denzel Washington. Sempre bem vestido, alinhado,

educado e disposto a meter uma bala na cabeça de quem

não segue as regras do seu jogo, Lucas se tornou o traficante

de drogas mais procurado dos Estados Unidos no início da

década de setenta. Com as táticas aprendidas com a máfia

italiana e com seu mestre que morre logo nos minutos iniciais do

filme, Frank Lucas construiu um verdadeiro império. Num

audacioso esquema que trazia a heroína pura do Vietnam em

aviões oficiais do exército americano, Lucas com sua elegância

e carisma se tornou o mais poderoso traficante de Nova Iorque.

O papel do homem da lei, por sua vez, cabe a Russell Crowe.

Para o detetive Richie Roberts a lei existe para ser cumprida.

Num universo de autoridades corruptas, subornadas pelos dólares

dos traficantes e satisfeitas com a propina que lhes cabe,

somente um policial incorruptível e disposto a perder amigos e

até mesmo a própria família é capaz de fazer um pouco de justiça.

Lucas e Roberts são os opostos perfeitos. O criminoso é elegante

e bem humorado. O policial é desleixado e rabugento. O traficante

é um homem de família, adora a mãe e cuida dos irmãos como

um pai. O detetive é negligente com a ex-esposa e esquece

até de ver seu único filho. Richie Roberts encontra uma

bolada em dinheiro sem marcas e devolve. Frank Lucas

oferece a mesma bolada para Roberts deixá-lo livre.

Apesar de atuarem junto somente nos minutos finais, é

no duelo entre as atuações de Washington e Crowe que o

filme se fortalece e, de fato, ganha vida. A direção de Scott

reflete a sobriedade e maturidade de um cineasta repleto

de sucessos avassaladores e fracassos retumbantes. Provando

que os opostos se atraem o diretor cria um filme clássico

de mocinhos e bandidos. Muito embora, às vezes, fica difícil

perceber onde começa a bondade de um ou acaba a maldade do outro.

Ficha técnica:

O Gângster

Título Original: American Gangster

Ano: 2007

Direção: Ridley Scott

Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe

Mais detalhes em: http://www.imdb.com/title/tt0765429/

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