sábado, 21 de fevereiro de 2009

Expondo o crime organizado

Luiz Carlos Azenha

Desde os atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, ganhou força o movimento que busca limitar a atuação dos paraísos fiscais, diante da preocupação de que grupos terroristas poderiam fazer uso deles para financiar suas atividades.

Walter Maierovitch, especialista no combate ao crime organizado, diz que estudos recentes sobre o destino do dinheiro sujo -- da sonegação fiscal, da corrupção, do tráfico de drogas e armas -- mostram que o grosso da lavanderia, ao contrário do que se acreditava, está instalada nos centros financeiros tradicionais como Nova York, Miami e Londres.

Já escrevi sobre o livro The Dirty Politics of African Oil, do jornalista Nicholas Shaxson. Ele faz uma excelente análise sobre o nexo entre o dinheiro da corrupção na África, o financiamento de campanhas políticas na França e em outras "metrópoles" e os paraísos fiscais.

Agora estamos diante do caso do banqueiro texano Robert Allen Stanford, que praticamente assumiu o controle de um paraíso fiscal caribenho -- Antigua -- e é suspeito de ter dado um golpe na praça de 8 bilhões de dólares, dinheiro que tirou de milionários da Venezuela e de outros países do continente. Stanford tinha fortes conexões políticas nos Estados Unidos.

Quem quiser ler a respeito pode ir ao New York Times.

Aproveitem para ler também sobre o desespero dos investidores que foram enganados por Bernard Madoff, que deu um golpe de 50 bilhões de dólares na praça. Está aqui.

E sobre a ação do governo americano que pode obrigar o banco suiço UBS a divulgar o nome de 52 mil clientes que usaram os serviços do banco para sonegar o pagamento de impostos nos Estados Unidos escondendo o dinheiro em paraísos fiscais, especialmente nas Bahamas. Está aqui. O banco corria o risco de ser acusado criminalmente e decidiu entregar o nome de alguns clientes. Mas a Justiça americana quer mais.

Um trecho do artigo do New York Times:

"Um memorando de 2004, por exemplo, descreve como o UBS criou centenas de corporações laranjas onde seus clientes podiam esconder dinheiro do Imposto de Renda. Uma mensagem eletrônica mandada naquele ano capturou parte da linguagem em código usada por banqueiros do UBS. No mundo deles, "um parafuso" significava 250 mil dólares, enquanto "um cisne" era 1 milhão. Cores eram usadas para identificar certas moedas. Laranja, por exemplo, representava o euro; azul, a libra britânica. Várias mensagens demonstram que o UBS indicava advogados e contadores na Suiça e em outros lugares que abriam as contas secretas para os clientes".

A investigação criminal nos Estados Unidos envolve 19 mil clientes que tinham 20 bilhões de dólares depositados no banco e podem ter sonegado 300 milhões de dólares por ano graças ao UBS.

Meu ponto é que esses casos ilustram o vale-tudo em que se transformou o sistema financeiro desde que os ideólogos do neoliberalismo decidiram "tirar o estado das costas" da elite.

Eu sinceramente esperava encontrar uma cobertura maior na mídia corporativa brasileira a respeito desses casos que só na aparência são desconexos.

Depois lembrei que será difícil: afinal, é a mesma mídia que presta serviços de relações públicas ao banqueiro Daniel Dantas e sua clientela.


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