Ampliar a quarta onda revolucionária. Por Narciso Isa Conde. Rca Dominicana |
A atual crise do capitalismo não é uma simples crise financeira e, em conseqüência, não será superada com injeções multimilionárias de dólares e euros, nem com a nova regulação do sistema financeiro combinada recentemente no G-20.
É uma crise sem precedente, de caráter sistêmico e estrutural. Uma multi-crise que tem provocado a maior de todas as crises do capitalismo mundial: uma real crise da civilização burguesa, de sobre-produção, financeira, do meio-ambiente, institucional militar, urbanista, tecnológica... que bota em risco a existência da humanidade.
As receitas de 29 não servem para esta crise. O keynesianismo fez sua própria crise e é ilusório restaurá-lo na direção de novos “Estados de Bem-estar”.
Esse capitalismo não volta por mais que se proponham os Estados “sem fundo” suprir partes dos fundos furtados pelos donos dos poderosos bancos de negócios e por mais que prometam ajudas financeiras via FMI, que nem de perto compensarão os estragos do capitalismo em crise.
Neste contexto, de não produzir-se mudanças estruturais em favor da autodeterminação e do trânsito a uma sociedade nacional e continental alternativa ao capitalismo, haverá de se expandir barbárie, açoitando com seu passo às nossas sociedades e agravando o sofrimento dos mais débeis. Porque nas condições de hoje qualquer receita destinada a salvar o capital, acaba batendo nos trabalhadores/as, os povos e os países dependentes.
Os imperialismos europeu e estadunidense vêm duramente por este continente. Vão concorrer pelo seu domínio como fator importante para, dentro da sua lógica egoísta, tentar atenuar sua intensa e prolongada depressão.
Suas graves carências de hidrocarbonetos, carvão, água, minerais estratégicos e biodiversidade, tendem a potencializar seu espírito conquistador e re-colonizador, independentemente das aparentes moderações proclamadas por suas administrações.
Não cederão nem a expansão militar na região, nem na determinação de explorar-nos mais intensamente. No político seus canhões estão colocados fundamentalmente contra a Venezuela, Bolívia e Equador e processos afins. Muito especialmente contra a Venezuela e também contra a heróica insurgência e a formidável resistência civil colombianas.
Por isso as agressivas declarações de Obama contra Chávez e a revolução bolivariana. Por isso perdura a ameaça de sua IV Frota e sua decisão de continuar financiando o Plano Colômbia-Iniciativa Andina, passando-lhe por cima a suas passadas objeções ao regime criminoso de Uribe. Essa é a avançada militar do império para conquistar a ambicionada Amazônia e tudo parece indicar que a nova administração estadunidense segue atada a esses desígnios.
Seu trato com Brasil é outro, porque o sabe mais aferrado ao seu projeto de grande nação em conciliação com o imperialismo, mais amarrado a ele que à unidade bolivariana. Porque o valora como fator de divisão ou moderação, dadas suas intenções de subordinar a outros desde os interesses da grande burguesia paulista, e dadas suas capacidades para atenuar a beligerância de alguns. Este explica porque junto com Lula na “Cúpula do G-20” participaram também da Argentina e do Chile e o presidente do México e foram excluídos Chávez, Correa e Evo, enquanto a Cuba a namora Lula para que se entenda com Obama.
Esta grande crise não tem fronteiras ao interior do planeta e desde as necessidades imperiais haverá de fomentar-se em nossos países, se não a entendemos como uma grande oportunidade de libertar-nos da dependência capitalista e para socializar nossas riquezas e capacidades, evitando que os corruptos poderes estabelecidos, divorciados dos interesses dos nossos povos, terminem imponde-lhe maiores sacrifícios. Agora sim é que é verdade aquele ditado da Rosa Luxemburgo: “Socialismo ou Barbárie!”
Esse reto passa por radicalizar as lutas, por aprofundar as reformas e transformações iniciais, por promover os combates em favor das mudanças revolucionárias de orientação socialista, por ampliar o mapa político da quarta onda revolucionária, por deslocar os governos de direita e radicalizar os de esquerda, por coordenar forças populares e lutas sociais e políticas, por abraçar uma estratégia revolucionária comum, por revitalizar o latino-americanismo e o internacionalismo, por superar os lineamentos que limitam a unidade e a integração fundamentalmente ao puramente estatal-governamental e por potenciá-la desde os povos e suas organizações.
Isto obriga a uma mudança positiva à solidariedade com a insurgência e a oposição de esquerda e progressista colombiana. A tratar os processos peruano, salvadorenho (sobretudo depois da recente vitória eleitoral) e mexicano e reverter desde os povos, desde as forças patrióticas e os governos auto-determinados, a contra-ofensiva imperial, jogando cada espaço e cada força os papéis que lhes são próprios.
Aqui em dominicana, estão em marcha uma nova onda de protestos e parece gestar-se uma grave crise de governabilidade se estas lutas seguem estendendo-se e aprofundando-se e se a podridão oficial segue seu agitado curso. O desafio é angustiante porque o retraso das forças políticas da mudança é enorme e a oportunidade é de ouro.
O caos prolongado ou o trânsito ao novo socialismo é o grande dilema da humanidade. Sinais ominosos de barbárie estão presentes dando-lhe mais pertinência ao pensamento de Marx e seus continuadores. Nunca antes o socialismo e o comunismo tinham tido tanta razão de ser. E essa verdade não deve estar alheia da nossa pátria.
Versão em português: Raul Fitipaldi, de América Latina Palavra Viva.
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