Em meados de fevereiro, Lula recebeu 3,5 mil prefeitos em Brasília para negociar e anunciar medidas de auxílio às prefeituras. Em meados de abril, agora, Yeda Crusius – governadora do Rio Grande do Sul – reuniu cerca de 350 prefeitos do Estado para anunciar medidas de auxílio às prefeituras. Aparentemente fatos similares, para a Zero Hora eles são como água e vinho, como verdade e mentira, como Jornalismo B e ZH.
No primeiro caso, o título da matéria principal da cobertura de ZH no dia do encontro foi “De olho em 2010, governo abre os cofres”. Agora, no dia em que Yeda recebeu os prefeitos, “Yeda corteja prefeitos em Porto Alegre”, com a seguinte linha de apoio: “Piratini faz encontro em momento de queda das verbas federais” (grifo meu). Notas algo estranho? A abordagem é semelhante? Por que o evento de Lula é eleitoreiro e o de Yeda não? Esse tipo de questão permeia as matérias inteiras.
O início da “reportagem” sobre Lula, é assim: “De olho nas eleições de 2010, o governo preparou um megafeirão (…)”. Na edição do dia 6 de abril: “Em lua-de-mel com prefeituras, a governadora Yeda Crusius apresentará hoje ações (…) que podem amenizar efeitos nocivos da crise nas cidades”. Há algo podre no reino da Zerolândia. ZH, como parte da grande imprensa, chamou as medidas de Lula de “pacote de bondades”. Depois dessa ridicularização, passou a criticar a suposta super-exposição proposital de Dilma. “Entusiasmado com o crescimento de Dilma nas pesquisas, o governo prepara um palanque para a ministra. A iniciativa não parece constranger os prefeitos”. Deveria?
Depois, segue forçando a barra para mostrar que o encontro com os prefeitos é apenas para alavancar a candidatura da petista. Isso em 10 de fevereiro. Em 6 de abril, ZH diz, sobre o encontro de Yeda: “O objetivo é aproximar o Piratini das administrações municipais”. Ué! Ainda no lead da matéria de agora, “A estratégia é mostrar o Estado como principal parceiro num momento em que se reduzem os repasses federais”. Estratégia de quem, cara-pálida? Só do governo Yeda ou da ZH também?
A mesma matéria, sem assinatura, fala do bom relacionamento do governo com os prefeitos, e lista os méritos de Yeda que levaram a isso. É a agregadora, a líder maior! E complementa, falando sobre a queda do Fundo de Participação dos Municípios: “(…) tem gerado descontentamento dos prefeitos em relação ao governo Lula”. Salve-nos do sapo barbudo, Yedinha!
Cada parágrafo dessas matérias vale uma aula de jornalismo ou uma monografia. Pela falta de espaço, vou deixar alguns de fora, mas há uma questão que não pode faltar. Olhe, compare, e tire suas conclusões:
10 de fevereiro (encontro de Lula com os prefeitos): “Os demais temas foram escolhidos a dedo para seduzir a plateia: educação, saúde, habitação e saneamento”.
6 de abril (encontro de Yeda com os prefeitos): “Aliados esperam que Yeda detalhe o destino de R$ 700 milhões liberados para investimentos. Programas nas áreas de habitação, infraestrutura, estradas, irrigação e pagamentos em dia do Consulta Popular devem ser destacados”.
No dia seguinte aos encontros, depois de títulos insossos, a matéria referente a Lula começa assim: “Em mais uma tirada para identificar (…) Dilma Rousseff com o PAC (…)”, enquanto a que fala sobre Yeda apresenta: “Cinco dias depois de um estremecimento (…), a governadora abraçou o prefeito José Fogaça num gesto de apaziguamento”.
Entre muitas palavras pró-Yeda, algumas aqui: “Yeda foi aplaudida ao prometer que todos os acessos municipais serão asfaltados até o final de gestão…”; “O Piratini fez um balanço positivo da gestão…”; e “Yeda indicou ações (…) como o repasse de R$ 68 milhões a 300 hospitais filantrópicos municipais, construção de 100 unidades básicas de saúde e 10 mil casas”.
Outro momento interessante é quando a repórter (Marciele Brum) escreve, referente à possibilidade de criação de um fundo anti-crise: “Ela (Yeda) se comprometeu em formar um grupo de trabalho para cobrar a medida da União”. Mais uma vez, é Yedinha nos salvando do sapo barbudo.
No dia 11 de fevereiro, dia seguinte ao encontro de Lula com os 3,5 mil prefeitos, ZH ainda tenta ridicularizar, idiotizar a primeira-dama Marisa Letícia. Já em um olho, diz que “Dona Marisa Letícia não demonstrou desenvoltura”. Depois, repete a frase, e tenta demonstrar sua suposta inutilidade.
Na mesma matéria, ZH tenta aplicar o mesmo processo ao presidente. Depois de reproduzir declaração dele criticando alguns jornais, lembra, de passagem, que Lula disse em uma entrevista que não lia jornais. Como se esse fosse o cerne da questão. A verdadeira discussão que deveria ser criada em torno da declaração de Lula resume o que esse post tentou mostrar, e é óbvia, só não entende quem não quer – caso de ZH, que faz questão de se fazer de idiota enquanto faz isso com os leitores. O que Lula disse, sobre a cobertura que os principais jornais do país fizeram de seu encontro com os prefeitos, foi o seguinte:
- Fiquei triste como leitor, porque abusaram de minha inteligência e pensam que o povo é marionete e pensa como boi, como manada. Mas acabou o tempo em que alguém achava que poderia influencia uma eleição por ser formador de opinião.
Créditos: Alexandre Haubrich
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