domingo, 26 de abril de 2009

A Revolução dos Cravos faz 35 anos




Depois de sexta-feira é 25 de abril... Trinta e cinco anos após a "Revolução dos Cravos" é tempo suficiente para se fazer um balanço dos danos causados pela feroz e permanente ofensiva mantida pelo grande capital e pelas fações mais reacionárias da Igreja, contra as grandes conquistas democráticas em curto espaço de tempo alcançadas.

Em duas linhas, o essencial das conquistas políticas foi mantido; mas o inimigo de classe — a política capitalista, os esmagadores grupos financeiros e a igreja, entrelaçados — conseguiu suprimir ou debilitar conquistas sociais e travar, até certo ponto, o curso dos movimentos reivindicativos.

Um exemplo, entre muitos outros: os direitos fundamentais, inscritos na Constituição da República, foram resguardados graças à resistência dos trabalhadores.

Já o mesmo não aconteceu com as formas de organização do trabalho ou da administração pública, alvos permanentes de violações e de saques, a ponto dessas metas se tornarem irreconhecíveis como frutos da legislação democrática de Abril.

O pleno emprego, a melhoria do nível e qualidade de vida dos trabalhadores ou a livre e saudável concorrência no comércio, tornaram-se simples acidentes de percurso e servem agora apenas para alimentarem o discurso político demagógico. O fosso entre os rendimentos é cada vez maior e a desonestidade pública impera em todos os escalões. Correm grandes riscos a paz social e as liberdades.

Tantos anos passados, o regime democrático continua por construir.

Mudar e fingir que não se muda ...

Na gramática capitalista, mudar é uma expressão ambígua. As grandes fortunas só mudam a face do mundo em proveito próprio e quando se trata de criar condições favoráveis ao desenvolvimento dos seus faraónicos interesses. O interesse geral é indiferente aos ricos. Na fase de enchimento político-econômico do grande capital, sentiam-se à vontade para repartirem entre si os lucros reservando, entretanto, suculentas migalhas do bolo para aqueles que melhor os serviam.

Nessa fase, acenavam com o milagre econômico e com a paz social, pilares fictícios da sua tese de reconciliação de classes.

Recebiam um poderoso impulso da área religiosa, nomeadamente por parte da Igreja Católica, profundamente interessada no êxito financeiro da classe capitalista dirigente na qual as religiões também se incluíam. E foi assim que o vampiro capitalista, apoiado na força desmedida da sua maioria parlamentar, alcançada no tempo das vacas gordas, tem vindo a devorar, grão a grão, os direitos e as liberdades conquistados pelo povo, em Abril.

A tirania do dinheiro avançou "pela calada", apoiada nas palavras ocas, na mentira e na demagogia que tudo promete e nada concretiza.

Inicialmente, os banqueiros prometeram o sucesso e a sociedade da abundância e conseguiram, com a sua retórica vazia de conteúdo, captar com mentiras alguns trabalhadores. Mas sobreveio a crise econômica e financeira mundial (que se sobrepõe à crise econômica e financeira nacional) e dispararam imparavelmente os números do desemprego, das falências, o agravamento do custo de vida e os impostos fiscais. É uma queda dramática que pode ser prelúdio de uma tragédia social.

É certo que "depois de amanhã é 25 de Abril", mas temos que aproveitar estas horas que vivemos para inverter o curso dos acontecimentos e reconquistar para Portugal uma sociedade democrática. Através do voto consciente e da firmeza da luta democrática e social. Pela mobilização colectiva dos trabalhadores e com a sua aberta intervenção na área política. Porque o povo quer e o povo sabe o que quer.

O mundo que nos rodeia está em constante e profunda mudança. Mas é preciso que mude o seu percurso no sentido dos interesses, das esperanças e dos direitos dos trabalhadores. Repugna olhar o que se passa no nosso país. Os ricos roubam e humilham os pobres impunemente. A Justiça não funciona. A mais descarada mentira pública é prato forte da classe política.

A Igreja é uma triste caricatura da sua própria doutrina. Fechou os olhos aos crimes do fascismo, antes do 25 de Abril. Depois, amontoou fortunas com a especulação financeira e através dos grupos econômicos e dos bancos que dirige.

Quer agora surgir aos olhos dos trabalhadores como anjo da reconciliação de classes.

Quando o dinheiro girava com abundância, a Igreja promovia a sociedade de consumo. Agora que alastram a fome e a miséria, a hierarquia católica vai procurar aparecer como grande senhora da sorte dos famintos. É outra vez a história medieval dos senhores da guerra de "pendão e caldeiro": exterminavam os povos, roubavam tudo o que podiam mas ofereciam aos sobreviventes um caldo cozinhado nos seus caldeirões.

Para que os pobres pudessem ganhar forças suficientes e continuassem a ser escravos dos seus senhores...

Texto: Por Jorge Messias, para o jornal Avante!

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