“Ao fim de oito anos de presença neste país, as forças internacionais, dirigidas pela NATO desde 2003, estão longe de ter atingido os resultados pretendidos, principalmente por causa da «falta de uma estratégia coerente baseada nas realidades da história, da cultura e da política do Afeganistão», de acordo com esse relato tornado público no domingo, dia 2 de Agosto”.
Os deputados britânicos acabam de fazer um relatório esmagador sobre a missão militar internacional no Afeganistão. Ao fim de oito anos de presença neste país, as forças internacionais, dirigidas pela NATO desde 2003, estão longe de ter atingido os resultados pretendidos, principalmente por causa da «falta de uma estratégia coerente baseada nas realidades da história, da cultura e da política do Afeganistão», de acordo com esse relato tornado público no domingo, dia 2 de Agosto.
A comissão dos assuntos externos da câmara dos Comuns põe em causa «a importante falta de sensibilidade cultural» de alguns militares da coligação, cujos danos «serão difíceis de reparar». É de opinião que «os erros evitáveis, assim como as reacções impensadas, a dispersão ou os atropelos nas tomadas de decisões tornam actualmente” a tarefa muito mais difícil. Os deputados estão preocupados sobretudo com os problemas suscitados pelo uso da força aérea pelo exército americano, sublinhando que os tiros de mísseis dos aviões telecomandados americanos sobre objectivos situados no Paquistão “comprometeram a reputação dos Estados Unidos”.
"PLANIFICAÇÃO IRREALISTA"
O relato lamenta também que o esforço de guerra não esteja mais bem repartido entre os vários países. A reputação da NATO enquanto aliança militar poderá ser “fortemente abalada” se não houver uma repartição mais justa do esforço, acham os seus autores, “A incapacidade de alguns dos países para contribuir para que o fardo seja repartido exerce uma tensão inaceitável sobre uma meia dúzia de países”, insistem.
Quanto ao posicionamento britânico na província de Helmand, é prejudicado por uma “planificação irrealista ao mais alto nível” e por uma “falta de coordenação entre os serviços de Whitehall [o governo]”. Os soldados britânicos foram enviados para o Iraque para combater o terrorismo internacional, ou dedicam-se presentemente a objectivos como a luta contra o tráfico de drogas e a insurreição, sublinha o relatório que lamenta a ausência de “orientações claras” (ler também o artigo do Guardian sobre este tema).
Este relatório foi publicado num período difícil para o governo de Gordon Brown, cuja acção no Afeganistão é fortemente criticada por causa da explosão de baixas nas fileiras britânicas. O mês mais mortífero, desde o início do conflito, para o exército britânico foi o mês de Julho, com 22 soldados mortos e numerosos feridos, recorda o site do Times.
RECEIOS DE VIOLÊNCIAS PÓS-ELEITORAIS
O Afeganistão assiste a um reacender da violência numa altura em que se perfilam as eleições presidenciais e provinciais a 20 de Agosto. Neste fim-de-semana foram mortos em ataques dos insurrectos, cinco soldados da NATO, dos quais três americanos e um francês. Só no sábado, foram mortos no sul e no norte do país dezanove afegãos, dos quais doze insurrectos, três polícias e quatro soldados.
E o governo afegão receia presentemente tumultos pós-eleitorais semelhantes aos que ocorreram no Irão. “O ministério do interior reagirá com firmeza contra todos os que tentarem impor a sua vontade pelas armas (…) ao povo do Afeganistão”, foi o anunciado num comunicado difundido no domingo.
Este texto foi publicado no diário francês Le Monde
Tradução de Margarida Ferreira
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