Ha’aretz – Tel-Aviv
É precisamente agora que o presidente palestino Mahmoud Abbas não
pode perder as esperanças, e não pelo doce discurso vazio que Shimon
Peres pronunciou na manifestação na última noite de sábado [07/11]
sobre pessoas perdendo as esperanças em Ramallah. Como se na residência
do presidente todos os dias fossem Carnaval, e não apenas quando ele
está fazendo as malas para sua viagem ao Brasil.
Abbas estava certo quando decidiu anunciar que em breve renunciaria:
é impossível manter negociações “sem condições prévias” enquanto o
povoamento [israelense sobre terras palestinas] está acontecendo. Por
42 anos Israel vem semeando condições prévias e feitos consumados por
todos os lados, marcando-os com telhas vermelhas e tornando o processo
de paz nada mais que uma negociação sem fim.
Mas antes que Abu Mazen [Abbas] desista, ele tem apenas mais um
trabalho a fazer: Ele precisa proclamar, unilateralmente, o
estabelecimento do Estado Palestino independente. Palestina agora.
Ambos os lados tem o direito de atuar unilateralmente. Abbas deve
isso a seu povo, a si próprio e a nós [israelenses]. Nesta semana,
saíram relatórios em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
considera tal possibilidade muito assustadora, e espera que os
americanos cortem o mal pela raiz. Mas o seu pesadelo é nossa única
chance para pôr um fim à ocupação em nossa época.
Quando ele declarar a independência, Abbas deve fazer um chamado aos
judeus que vivem no Estado Palestino para que preservem a paz e façam
sua parte na construção do novo país como cidadãos plenos e iguais,
gozando de representação justa em todas as instituições. David
Ben-Gurion não ficaria desapontado com um ato tão bonito de plágio da
sua Declaração de Independência.
E deste modo, Abbas se tornará o Ben-Gurion palestino. As condições
não eram menos nebulosas nem as circunstâncias mais seguras quando
Ben-Gurion declarou independência em 1948. Mas nosso pai fundador se
arriscou, e temos sorte de que o tenha feito.
O risco que Abbas estaria tomando é muito menor. Dos 192
estados-membro das Nações Unidas, mais de 150 reconheceriam uma
Palestina livre, e esta logo se tornaria o 193º. Embora a posição dos
Estados Unidos seja desconhecida, é difícil acreditar que Barack Obama
concordaria em arrastar de volta seu país ao isolamento agora que recém
começou a fazer parte do mundo novamente.
E o que faria Netanyahu? Invadir e reconquistar a Cisjordânia?
Restaurar o governo militar no Muqata [sede da Autoridade Nacional
Palestina] em Ramallah?
E que ordens Ehud Barak daria a seu exército? A Sérvia não ousou
invadir Kosovo após sua declaração de independência, e mesmo a grande
Rússia não se permitiu permanecer no território soberano da Geórgia
após a guerra.
Imediatamente após a declaração, comemorações começariam na capital,
Jerusalém do Leste, e pessoas de todas as partes do mundo se uniriam a
eles, inclusive israelenses. As massas da Casa de Ishmael desfilarão
alegremente pelos bairros da cidade, e especialmente naqueles em que
foram evitados por pessoas com pretensões sacerdotais. Isso terá de ser
alegre sem nenhuma manifestação de violência, nem sequer uma pedra
arremessada.
Esta semana, telefonei a Abbas, depois de não haver falado com ele
por pelo menos quatro anos. Contei-lhe tudo que estou escrevendo agora.
Também lhe contei mais uma coisa: o que aconteceu com o muro em Berlim
20 anos atrás, e com o Apartheid alguns meses depois, também acontecerá
com a ocupação: entrará em colapso, mesmo se tentativas para reforçá-la
forem feitas com unhas e dentes.
Yossi Sarid
Tradução: Felipe Martini
Para acessar o texto original, clique aqui
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