Filme sobre mutilação genital feminina estreia na Alemanha
Todos
os anos, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), por
volta de 3 milhões de meninas são vítimas de mutilação genital. A
modelo somali Waris Dirie foi uma delas. No apogeu de sua carreira, ela
chocou a opinião pública com a revelação de que fora circuncidada
quando menina.
Desde
que Dirie quebrou o tabu do silêncio, ela escreveu vários livros sobre
sua vida, iniciando uma luta contra a circuncisão feminina. Flor do Deserto já vendeu 11 milhões de cópias e sua filmagem representou a Alemanha no último Festival de Cinema de Veneza.
No mes de outubro, Desert Flower
(Flor do Deserto) estreou nos cinemas alemães. No filme dirigido por
Sherry Hormann – que nasceu nos EUA, estudou em Munique e vive em
Berlim – a top model etíope Liya Kebede faz o papel de Waris Dirie.
História cinematográfica
Dirie
foi uma dos 12 filhos de uma família nômade da Somália. Aos 13 anos
escapou de ser vendida como esposa para um homem de 60 anos, por cinco
camelos. Após fugir para Mogadíscio, seguiu para Londres, acompanhando
seu tio diplomata.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Dirie luta há mais de dez anos contra mutilação genital feminina
Como
autodidata, ela aprendeu a ler e a escrever. Ao ser descoberta por um
fotógrafo para uma campanha da cadeia McDonald's, cinco anos mais
tarde, Dirie ganhou fama mundial.
Na
película, a vida da pequena pastora de ovelhas no seio da família
nômade somali-muçulmana aparece primeiramente como um paraíso romântico
africano. Após um salto de muitos anos no tempo, ela é mostrada
perambulando sem-teto pelas ruas de Londres, trabalhando como faxineira
até ser descoberta por um fotógrafo famoso.
Cenas
de sua meteórica carreira de modelo são alternadas com flashbacks de
seu passado traumático e sangrento. Hormann afirmou que o que lhe
interessou na história de Dirie foi o fato de "não ser uma vítima".
"Ela está atuante até hoje", observa a diretora.
Prática disseminada
Apesar
de ser mais conhecida por comédias românticas, Hormann deixou claro que
a principal mensagem do filme no estilo de "gata borralheira" é séria:
denunciar que a prática da mutilação genital feminina ainda está
bastante disseminada.
Dirie
tinha apenas cinco anos quando foi obrigada a passar pela terrível
experiência. Uma cena no filme mostra uma garota chorando, retida,
enquanto uma mulher corta partes de sua genitália com uma lâmina de
barbear. A ferida é então costurada com um fio grosso, deixando um
pequeno orifício para passagem de urina.
A OMS
estima que, em todo o mundo, cerca de 150 milhões de mulheres foram
vítimas de circuncisão – uma prática utilizada para impedir o prazer
sexual feminino. Na Etiópia, três quartos da população feminina é
vítima da cruel tradição, informa a organização internacional.
Hormann
filmou longos trechos do filme em Djibuti, país com grande população
somali. Ela conta que a equipe de filmagem sofreu grande hostilidade
por parte da população local, e teve que providenciar segurança pessoal.
"As
pessoas nos odiavam, nos jogavam pedras porque éramos brancos que
vieram para falar sobre a mutilação genital", disse Hormann. "E quando
Waris apareceu – isso os provocou ainda mais."
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: 'Flor do deserto' é mais do que história de 'gata borralheira'
Passividade mundial
A
diretora explicou que sua principal motivação para o filme foi chamar a
atenção para um problema que não existe somente em outras partes do
mundo, mas também cada vez mais na Europa.
"Imigrantes
trazem consigo essa tradição para seus novos lares. Isto é muito
preocupante", disse Hormann. "Por isso esperamos que o filme ajude a
aumentar o grau de conscientização sobre o tema."
É isso
o que Waris Dirie tem feito há mais de uma década. A ex-top model é
embaixadora especial da ONU contra mutilação feminina e estabeleceu uma
fundação com o fim de chamar a atenção para o problema.
"O
mundo sabe que essas mutilações são erradas, mas até agora não se fez
muita coisa. Não entendo por que o mundo fica só olhando", declarou
Waris Dirie no Festival de Veneza. E advertiu: "Em algum lugar do mundo
uma menina está sendo mutilada agora. A amanhã, o mesmo destino espera
mais outra menina".
CA/dpa/ap/epd/ots
Revisão: Augusto Valente
Revisão: Augusto Valente
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