O segredo de muitos olhos Mireya Castañeda
• O segredo dos seus olhos, o
mais recente filme do argentino Juan José Campanella,
protagonizado pelos muito reconhecidos Ricardo Darín,
Guillermo, Francella, e Soledad Villamil, foi
escolhido para inaugurar o 31º Festival
Internacional do Novo Cinema Latino-Americano.
Chegou a Havana com muitos avais, entre eles, ter
sido indicado pela Academia das Artes e Ciências
Cinematográficas da Argentina para o Oscar.
O filme fez sucesso na Argentina, o
qual sempre é um aspecto importante: que os filmes
da região tenham distribuição, presença nas telas e
no espectador. O segredo dos seus olhos
esteve a ponto de bater o recorde histórico de
bilheteria de mais dois milhões de espectadores que
o filme icônico de María Luisa Bemberg, Camila,
em 1984, interpretado por Susú Pecoraro.
Campanella, além de diretor, foi o
roteirista de quatro filmes muito conhecidos: O
Mesmo Amor, a Mesma Chuva, O Filho da noiva
(indicado para o Oscar em 2001 como o Melhor filme
de fala não-inglesa), Clube da Lua e agora
também O segredo dos seus olhos.
Este novo filme, no concurso pelo
Prêmio Coral do Festival de Havana, conta a história
de um homem recém-aposentado, Benjamín Chaparro, que
depois de trabalhar a vida toda como empregado num
Tribunal Penal, resolve escrever uma novela, um
thriller que decorre em Buenos Aires, em 1974,
baseada numa história real, da qual foi testemunha e
protagonista. É, aparentemente, a história de um
assassinato.
Com essa história, Juan José
Campanella fala dos caminhos que transitou a
sociedade argentina, da impunidade à repressão na
década de 1970, o restabelecimento da justiça e da
democracia nos últimos anos.
"ERNESTO GUEVARA"
Outro filme argentino, que é exibida
fora de concurso, em estreia mundial, é o
documentário Ernesto Guevara, do reconhecido
cineasta Tristán Bauer, do qual Alfredo Guevara,
fundador do Icaic e do festival, disse que tenta
mostrar uma faceta mais humana do guerrilheiro.
Em entrevista coletiva, o presidente
do encontro cinematográfico argumentou que o
documentário mostra gravações inéditas da vida
íntima e amorosa do Che que guardava a viúva, Aleida
March, e —assinalou— "os que fomos amigos do Che,
sabemos o que ele era: o guerrilheiro, o exigente —
às vezes, azedo, isso nunca foi dito — mas ao mesmo
tempo, com uma imensa humanidade".
Tristán Bauer trabalhou no projeto
durante mais de uma década e teve acesso a arquivos
secretos do exército da Bolívia — que executou o Che
em outubro de 1967 — e aos do Centro de Estudos "Che
Guevara", de Cuba.
Entre os sete filmes que fez
sobressai o muito premiado Iluminados pelo Fogo
(2005), que inaugurou o Festival de Havana em 2006 e
o meia-metragem Evita, o Túmulo Sem Paz (1997).
DAWSON ILHA 10
Fora do concurso, exibe-se também o
novo filme de Miguel Littín, Dawson Ilha 10,
do Chile, que participa da concorrência aos prêmios
das academias norte-americana e espanhola, ou seja,
ao Oscar e ao Goya.
Protagonizada por Benjamín Vicuña, o
filme narra fatos reais acontecidos após o golpe de
Estado de Pinochet, quando os colaboradores diretos
do presidente Salvador Allende foram presos e
desterrados a uma ilha do Pacífico, situada a uma
centena de quilômetros do continente.
Dawson Ilha 10 baseia-se no
relato autobiográfico de Sergio Bitar, que fez parte
do grupo de altos funcionários constitucionais
enviados para esse campo de concentração cercado de
mar, quando foi ministro de Minas de Allende (depois,
ministro de Obras Públicas com a atual presidente
Michelle Bachelet).
Miguel Littín é um cineasta muito
conhecido, fundador do novo Cinema Latino-Americano,
ganhador de numerosos prêmios por filmes como A
Viúva de Montiel e O Recurso do Método.
Atas de Marusia e Alsino e o Condor
foram indicados para o Oscar em 1976 e 1983,
respectivamente, como melhores filmes estrangeiros.
A sua carreira cinematográfica começou em 1969, com
O Chacal de Nahueltoro, filme que fez sucesso
de bilheteria e que teve também impacto no âmbito
social e político.
Após o golpe de Estado e o
estabelecimento da ditadura de Augusto Pinochet,
teve que se exilar em 1973, domiciliando-se no
México e mais tarde, na Espanha. Em 1985, teve a
chance de voltar de maneira clandestina ao Chile e
executar um temerário projeto de filmagem sobre a
realidade política do seu país, intitulado Ata
Geral do Chile. Quando voltou à Espanha e
terminou seu trabalho, o Prêmio Nobel de Literatura
Gabriel Garcia Márquez propôs-lhe escrever a
história do seu filme, publicada sob o título Aventura
de Miguel Littín clandestino no Chile.
Retornou à temática latino-americana
com Sandino, de 1991, dirigiu Náufragos
em 1994 e retomou o estilo de epopeia popular com
Terra do fogo em 2000.
Que trouxe Coppola?
Francis Ford Coppola, que noutras
ocasiões esteve no Festival de Havana, agora enviou
o seu filme Tetro, filmado na Argentina, e
considera-se uma nova viagem do diretor de O
Poderoso Chefão pelo tema habitual da família
vista como uma versão reduzida da sociedade com
todos seus conflitos e suas reconciliações.
O filme, em preto e branco, conta a
história de dois irmãos afastados há anos, que se
reencontram em Buenos Aires para encarar um segredo
que mudará para sempre o modo da sua relação.
A lista do elenco é impressionante:
Vincent Gallo, o estreante Alden Ehrenreich, as
espanholas Maribel Verdú e Carmen Maura, o austríaco
Klaus Maria Brandauer e os argentinos Rodrigo de la
Serna, Letícia Brédice e Mike Amigorena.
Quando Tetro foi exibido em
Cannes, o público que lotou a sala gostou muito dele,
mas não convenceu a crítica, a qual assinalou que o
roteiro dedicou muito tempo às peripécias, até
chegar a duas horas e sete minutos de duração, uma
atuação desigual, e algumas passagens coreográficas
gratuitas.
Parece que o mais convincente de
todos os atores é a espanhola Maribel Verdú, que
sabe chegar ao espectador com sua figura sofrida de
amante sacrificada do protagonista, Tetro, encarnado
por Vincent Gallo.
Coppola, a quem devemos muitos
títulos, como a trilogia de O Poderoso Chefão
e Drácula, fez recentemente 70 anos e sua
carreira conta tanto com sucessos quanto com
fracassos. Tetro é o primeiro filme baseado
numa história original sua, desde A Conversação,
ganhador da primeira Palma de Ouro em 1974 no
Festival de Cannes, a segunda foi há 30 anos com
Apocalypse Now.
Quanto a Drácula, há mais. O
Festival fará uma Exibição Especial da versão de
Drácula de George Melford, a versão latinizada
do filme feita em 1931 por Tod Browning, com Bela
Lugosi como protagonista.
Alfredo Guevara salientou que essa
versão foi encontrada nas abóbadas da Cinemateca de
Cuba e a considerou melhor que a original.
Anunciou que agora será projetada,
mas com o violonista e compositor Gary Lucas tocando
ao vivo, em estreia mundial, sua partitura para o
Drácula latino.
Muitas pessoas estão assistindo
filmes em Havana: os filmes em concurso, fora de
concurso, as mostras, os panoramas, Latino-Americano
e Contemporâneo e as homenagens (neste ano,
exclusivamente para o cinquentenário do Icaic). Qual
será o segredo? •
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
domingo, 6 de dezembro de 2009
FESTIVAL INTERNACIONAL DO NOVO CINEMA LATINO-AMERICANO
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