Ignacio Ramonet - Carta Maior via Patria Latina
A
Venezuela e sua Revolução Bolivariana estão rodeadas hoje por nada
menos do que 13 bases estadunidenses na Colômbia, Panamá, Aruba e
Curazao, assim como pelos porta-aviões e navios de guerra da IV Frota.
Em outubro, o presidente conservador do Panamá, Ricardo Martinelli,
admite que cedeu aos EUA o uso de quatro novas bases militares. O
presidente Barack Obama parece ter deixado o Pentágono de mãos livres
neste tema. E o presidente venezuelano Hugo Chávez denuncia que está
sendo tramada uma agressão contra o país. O artigo é de Ignacio Ramonet.
Em
troca, o Pentágono escolheu quatro localidades para controlar a região:
Manta, no Equador; Comalapa, em El Salvador, e as ilhas de Aruba e
Curazao (de soberania holandesa). A suas – por assim dizer
–“tradicionais” missões de espionagem, acrescentou novas atribuições
oficiais a estas bases (vigiar o narcotráfico e combater a imigração
clandestina para os EUA) e outras tarefas encobertas: lutar contra os
insurgentes colombianos; controlar os fluxos de petróleo e minerais, os
recursos de água doce e a biodiversidade. Mas, desde o início, seus
principais objetivos foram vigiar a Venezuela e desestabilizar a
Revolução Bolivariana.
Após
os atentados de 11 de setembro de 2001, o Secretário de Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, definiu uma nova doutrina militar para enfrentar o
“terrorismo internacional”. Modificou a estratégia de deslocamento no
exterior, fundada na existência de enormes bases dotados de numeroso
pessoal. E decidiu substituir essas mega-bases por um número mais
elevado de Foreing Operating Location (FOL) e de Cooperative Security
Locations (CSL), com pouco pessoal militar, mas equipado com
tecnologias ultramodernas de detecção.
Resultado:
em pouco tempo, a quantidade de instalações militares estadunidenses no
estrangeiro de multiplicou, alcançando a insólita soma de 865 bases de
tipo FOL ou CSL distribuídas em 46 países. Jamais na história uma
potência multiplicou de tal modo seus postos militares de controle para
espalhar-se pelo planeta.
Na
América Latina, a reorganização de bases permitiu que a de Manta
(Equador) colaborasse com o fracassado golpe de Estado de 11 de abril
de 2002 contra o presidente Chávez. A partir daí, uma campanha
midiática dirigida por Washington começou a difundir falsas informações
sobre a suposta presença neste país de céculas de organizações como
Hamás, Hezbolá e até Al Qaeda.
Com
o pretexto de vigiar tais movimentos e em represália contra o governo
de Caracas que, em maio de 2004, pôs fim a meio século de presença
militar estadunidense na Venezuela, o Pentágono ampliou o uso de suas
bases militares nas ilhas de Aruba e Curazao, situadas muito perto das
costas venezuelanas, onde ultimamente tem se incrementado a visita de
navios de guerra dos EUA. Esse fato foi recentemente denunciado pelo
presidente Chávez:
“É
bom que a Europa saiba que o império norte-americano está armando-se
até os dentes, enchendo de aviões e navios de guerra as ilhas de Aruba
e Curazao. (...) Estou acusando a Holanda de estar preparando, junto
com o império yanqui, uma agressão contra a Venezuela” (1).
Em
2006, começa-se a falar em Caracas do “socialismo do século XXI, nasce
a Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA) e Hugo Chávez é reeleito
presidente. Washington reage impondo um embargo sobre a venda de armas
para a Venezuela, sob o pretexto de que Caracas “não colabora
suficientemente na guerra contra o terrorismo”. Os aviões F-16 da Força
Aérea Venezuela ficaram sem peças de reposição. Diante desta situação,
as autoridades venezuelanas estabeleceram um acordo com a Rússia para
dotar a sua força aérea de aviões Sukhoi. Washington denunciou um
suposto “rearmamento massivo” da Venezuela, omitindo que os principais
orçamentos militares na América Latina, hoje, são os do Brasil, da
Colômbia e do Chile. E que, a cada ano, a Colômbia recebe uma ajuda
militar estadunidense de 630 milhões de dólares.
A
partir daí, os acontecimentos se aceleram. No dia 1° de março de 2008,
apoiadas pela base de Manta, as forças colombianas atacam um
acampamento das Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC),
situado no interior do território do Equador. Quito, em represália,
decide não renovar o acordo sobre a base de Manta, que vencia em
novembro de 2009. Washington respondeu, no mês seguinte, com a
reativação da IV Frota (desativada em 1948, há 60 anos...) cuja missão
é vigiar a costa atlântica da América do Sul. Um mês mais tarde, os
Estados sulamericanos, reunidos em Brasília, replicam criando a União
de Nações Sulamericanas (UNASUL) e, em março de 2009, o Conselho de
Defesa Sulamericano.
Algumas
semanas depois, o embaixador do EUA em Bogotá anuncia que a base de
Manta seria transferida para Palanquero, na Colômbia.
Em
junho, com o apoio da base estadunidense de Soto Cano, se produz o
golpe de Estado em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya que havia
conseguido integrar seu país na ALBA. Em agosto, o pentágono anuncia
que terá sete novas bases militares na Colômbia. E, em outubro, o
presidente conservador do Panamá, Ricardo Martinelli, admite que cedeu
aos EUA o uso de quatro novas bases militares.
Deste
modo, a Venezuela e a Revolução Bolivariana se vêem hoje rodeadas por
nada menos do que 13 bases estadunidenses na Colômbia, Panamá, Aruba e
Curazao, assim como pelos porta-aviões e navios de guerra da IV Frota.
O presidente Obama parece ter deixado o Pentágono de mãos livres neste
tema. Tudo anuncia uma agressão iminente. Os povos da América Latina
consentirão que um novo crime contra a democracia seja cometido na
região?
(1) Discurso no Encontro da ALBA com movimentos sociais da Dinamarca, em Copenhague, dia 17 de dezembro de 2009
Ignacio Ramonet é jornalista, foi diretor do Le Monde Diplomatique entre 1990 e 2008.
Tradução: Katarina Peixoto
|
Um blog de informações culturais, políticas e sociais, fazendo o contra ponto à mídia de esgoto.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
EUA já têm 13 bases militares em torno da Venezuela
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário