Parlamentares, financiados por grandes empresas da agricultura, colocam seus mandatos a serviço do latifúndio e do agronegócio
Depois
de conseguir emplacar a CPMI contra a reforma agrária, os setores
mais conservadores do Congresso Nacional passaram a escalar o seu
time de parlamentares. Foram convocados inimigos do povo brasileiro
para atuar na CPMI e nos bastidores. Esses parlamentares têm como
características o ódio aos movimentos populares e o combate à
reforma agrária e às lutas sociais no nosso país.
São
fazendeiros e empresários rurais, que foram financiados por grandes
empresas da agricultura e colocaram seus mandatos a serviço do
latifúndio e do agronegócio. Nas costas, carregam denúncias de
roubo de terras, desvio de dinheiro público, rejeição à
desapropriação de donos de terras com trabalho escravo, utilização
de recursos ilícitos para campanha eleitoral, devastação ambiental
e tráfico de influência.
Essa
CPMI faz parte de uma ofensiva desses parlamentares, que tem mais
três frentes no Congresso (veja box). Até o fechamento desta
edição, os nomes dos parlamentares indicados para a CPMI contra a
reforma agrária já tinham sido lidos, mas os trabalhos não tinham
começado. A CPMI pode se arrastar até junho de 2010.
Apresentamos,
abaixo, os deputados e senadores que estão na linha de frente na
defesa dos interesses da classe dominante rural.
KÁTIA
ABREU / Senadora (DEM-TO) / Suplente na CPMI
• Formada
em psicologia.
• Presidente
da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), eleita em 2008 para três anos de mandato. Foi presidente da
Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins
(1995-2005).
• Dona
de duas fazendas improdutivas que concentram 2.500 hectares de
terras.
• Apresentou
23 projetos no Senado e apenas três foram aprovados, mas
considerados sem relevância para o país, como a garantia de visita
dos avós aos netos.
• Torrou
60% das verbas do seu gabinete com propaganda (R$ 155.307,37).
• É
alvo de ação civil do Ministério Público na Justiça de Tocantins
por descumprir o Código Florestal, desrespeitar povos indígenas e
violar a Constituição.
• Integrante
de quadrilha que tomou 105 mil hectares de 80 famílias de camponeses
no município de Campos Lindos (TO). Ela e o irmão receberam 2,4 mil
hectares com o golpe contra camponeses, em que pagaram menos de R$ 8
por hectare.
• Documentos
internos da CNA apontam que a entidade bancou ilegalmente despesas da
sua campanha ao Senado. A CNA pagou R$ 650 mil à agência de
publicidade da campanha de Kátia Abreu.
RONALDO
CAIADO / Deputado Federal (DEM-GO)
• Formado
em Medicina.
• Foi
fundador e presidente nacional da União Democrática Ruralista
(UDR).
• É
latifundiário. Proprietário de mais 7.669 hectares de terras.
• Dono
de uma fortuna avaliada em mais de R$ 3 milhões
• Não
teve nenhum dos seus 19 projetos aprovados no Congresso.
• É
investigado pelo Ministério Público Eleitoral por captação e uso
ilícito de recursos para fins eleitorais. Não declarou despesas na
prestação de contas e fez vários saques “na boca do caixa”
para o pagamento de despesas em dinheiro vivo, num total de quase R$
332 mil (28,52% do gasto total da campanha).
• Foi
acusado de prática de crimes de racismo, apologia ou instigação ao
genocídio por classificar os nordestinos como “superpopulação
dos estratos sociais inferiores” e propor um plano para o
extermínio: adição à água potável de um remédio que
esterilizasse as mulheres.
ABELARDO
LUPION / Deputado federal (DEM-PR) / Titular na CPMI
• É
empresário e dono de diversas fazendas (três delas em São José
dos Pinhais).
• Foi
fundador e presidente da União Democrática Ruralista do Paraná.
• É
um dos líderes mais truculentos da bancada ruralista na Câmara dos
Deputados.
• Faz
campanha contra a emenda constitucional que propõe a expropriação
de fazendas que utilizam trabalho escravo.
• Apresentou
somente cinco projetos no exercício do mandato. Nenhum foi aprovado.
• Sua
fortuna totaliza R$ 3.240.361,21.
• Fez
movimentação ilícita de R$ 4 milhões na conta bancária da mãe
do coordenador de campanha. É réu no inquérito nº 1872, que
tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), por crime eleitoral.
• Sofre
duas representações por apresentar - em troca de benefícios
financeiros – uma emenda para as transnacionais Nortox e Monsanto
na Câmara, liberando o herbicida glifosato.
• A
Nortox e a Monsanto financiaram a sua campanha em 2002. A Nortox
contribuiu com R$ 50 mil para o caixa de campanha; já a Monsanto
vendeu ao parlamentar uma fazenda de 145 alqueires, por um terço do
valor de mercado.
• Participou
de transação econômica fraudulenta e prejudicial ao patrimônio
público da União em intermediação junto à Cooperativa
Agropecuária Pratudinho, situada na Bahia, para adquirir 88 máquinas
pelo valor de R$ 3.146.000, das quais ficou com 24.
• Deu
para parentes a cota da Câmara dos Deputados, paga com dinheiro
público, para seis voos internacionais para Madri e Nova York.
ONYX
LORENZONI / Deputado Federal (DEM-RS) / Titular na CPMI
• Formado
em medicina veterinária. É empresário.
• Membro
da “Bancada da Bala”, defendeu a manutenção da venda de armas
de fogo no Brasil durante o referendo do desarmamento.
• Gastou
64,37% da verba do seu gabinete com propaganda (R$ 230.621) .
• Campanha
financiada por empresas como a Gerdau, Votorantin Celulose, Aracruz
Celulose, Klabin e Celulose Nipo.
• Teve
apenas um projeto aprovado em todo o seu mandato.
ALVARO
DIAS / Senador (PSDB-PR) / Titular na CPMI
• Formado
em história. É proprietário rural.
• Foi
presidente da CPMI da Terra (2003/2005), que classificou ocupações
de terra como “crime hediondo” e “ato terrorista”.
• Não
colocou em votação pedidos de quebra de sigilos bancários e
fiscais de entidades patronais, que movimentaram mais de R$ 1 bilhão
de recursos públicos. Não convocou fazendeiros envolvidos
em
ações ilegais de proibição de vistorias pelo Incra.
• Divulga
na imprensa de forma ilegal fatos mentirosos sobre dados sigilosos
das entidades de apoio às famílias de trabalhadores rurais para
desmoralizar a luta pela reforma agrária.
• Não
declarou R$ 6 milhões à Justiça Eleitoral em 2006. O montante é
referente à venda de uma fazenda em 2002.
LUIS
CARLOS HEINZE / Deputado Federal (PP-RS)
• Formado
em engenharia agrônoma.
• É
latifundiário. Dono de diversas frações de terras, totalizando
1162 hectares.
• Fundador
e primeiro-vice-presidente da Federação das Associações de
Arrozeiros do Rio Grande do Sul (1989-1990).
• Seus
bens somam mais de R$ 1 milhão.
• Nenhum
dos seus projetos foi aprovado durante esta legislatura.
• Campanha
foi financiada pela fumageira Alliance One, responsável por diversos
arrestos irregulares em propriedades de pequenos agricultores.
• Defendeu
o assassinato de três fiscais do trabalho em Unaí (MG), declarando
que “os caras tiveram que matar um fiscal, de tão acuado que
estava esse povo...”, justificando a chacina promovida pelo
agronegócio (2008).
• É
contra a regularização de terras quilombolas (descendentes de
escravos), que representaria, para ele, “mais um entulho para os
produtores rurais”.
VALDIR
COLATTO / Deputado Federal (PMDB/SC)
• Formado
em engenharia agrônoma. Proprietário rural.
• Foi
superintendente nacional da Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB) (2000-2002).
• Foi
superintendente estadual do Incra em Santa Catarina (1985-1986) e
secretário interino da Agricultura de Santa Catarina (1987).
• Desapropriou
área de 1.000 hectares para fins desconhecidos na mata nativa quando
presidiu o Incra, causando prejuízos de R$ 200 milhões para o
poder público.
• Apresentou
projeto que tira do Poder Executivo e do Poder Judiciário e passa
para o Congresso a responsabilidade pela desapropriação de terras
por descumprimento da função social.
• É
contra a demarcação das terras indígenas e quilombolas.
• Autor
do projeto que transfere da União para estados e municípios a
prerrogativa de fixar o tamanho das áreas de proteção permanente
nas margens dos rios e córregos. Com isso, interesses econômicos
locais terão maior margem para flexibilizar a legislação ambiental
e destruir a natureza.
• É
um dos pivôs de supostas irregularidades envolvendo o uso da verba
indenizatória na Câmara dos Deputados.
(Fonte:
Jornal Sem Terra, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST)
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