segunda-feira, 22 de março de 2010

Yeda e o sonho da ressurreição


Por Paulo Muzell

O tema da “ressurreição” é tão velho quanto o próprio homem, está presente na mitologia e nas religiões. Traz consigo a sempre alimentada esperança de superação da morte, além do mistério e da magia de um retorno inesperado. Das religiões o tema migrou para a literatura e daí para o cinema. Estórias de vampiros e vampiras há mais de cem anos se sucedem nas telas, adicionando ao tema a “pimenta” do terror e do sexo, formando uma mistura tão do agrado do grande público. Bom para a indústria do cinema e para Hollywood, que encontrou aí um inesgotável “filão” para ganhar dinheiro.
Mas o tema é, também, velho e recorrente na política. Ao examinarmos o passado político brasileiro – remoto ou recente – encontramos inúmeros episódios de “tentativas de ressureição”. Felizmente para nós, invariavelmente mal sucedidas. Aí estão os exemplos do Ademar de Barros e do Jânio Quadros, e mais recentemente, do Malluf e do Collor.
Pois é aqui, neste remoto Rio Grande é que surge a mais nova, insistente, quase frenética, tentativa de ressureição. A personagem-postulante, a ex-governadora em exercício busca, de todas as formas e com forte apoio da mídia cabocla – e em especial do Correio do Povo do grupo Record – a recuperação de sua combalida imagem.
Envolvida em denúncias de desvios antes mesmo de assumir, a arrogância, a presunção e o autoritarismo foram marcas registradas do seu (des) governo. O resultado não poderia ser outro: nos últimos meses teve a pior avaliação dentre todos os governadores do país, sendo sua rejeição a maior.
A mídia local tentou sempre preservá-la, protegê-la, atribuindo-lhe qualidades e méritos inexistentes. “Uma esplêndida recuperação das finanças estaduais”, “déficit zero”, equilíbrio fiscal, base para a “construção de um novo Rio Grande”, afirmaram e afirmam sem pejo, à exaustão. Tudo postiço. A dívida estadual e os encargos do seu serviço cresceram, aumentou o déficit previdenciário, o governo não aplica os mínimos constitucionais em Saúde e Educação. Só aí “alivia” o déficit, ao sonegar 2 bilhões a cada ano à área social. E, ainda assim, em 2009 o balanço das contas do Tesouro registra um déficit de 67 milhões de reais.
Ela esteve por cair, foi por pouco, salvou-a o apoio incondicional do dr. Simon e de sua turma do PMDB. É, o dr. Simon aquele mesmo que faz pose de paladino da ética e que há alguns atrás ameaçou renunciar seu mandato de senador, alegando “desencanto com a política”.
Neste início de 2010, “salva pelo congo” a personagem-postulante começa a encenar a “farsa da ressureição”. Não lhe falta o apoio midiático: todos os dias os veículos locais e, invariavelmente, o Correio do Povo apresenta em destaque a postulante em “um mundo cor de rosa”: anunciando superávits, inaugurando obras, prometendo investir 2,8 bilhões em 2010. Se examinarmos o balanço consolidado do Estado de 2009, verificaremos que foram aplicados em investimentos “no amplo senso”, incluídas aí as inversões financeiras apenas 660 milhões de reais, o que significa que para obras destinou-se algo na faixa dos 400 milhões. Como investir 2,8 bilhões em 2010? Isso é uma irresponsabilidade: é anunciar e prometer o impossível!
Fiquem descansados os gaúchos. Apesar deste “generoso apoio” do Correio do Povo e dessa lamentável mídia cabocla – que não noticia e analisa fatos, mas que monta e encena pantomimas - a desejada “ressureição” não vai ocorrer. Ela é apenas mais uma esperança vã.

Ilustrações: Sátiro-Hupper

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