Israel: defensores dos direitos humanos temem “caça às bruxas”
Editado por Carlos Gorito - Le Monde – Paris
JERUSALÉM – Os especialistas falam de um clima de “caça às bruxas”,
e Gideon Levy, editor independente do jornal Haaretz, não
hesita em denunciar a orientação “macartista” do movimento Im Tirtzu.
Defendendo os “valores do sionismo”, este lançou uma violenta
campanha contra o New Israel Fund (Novo fundo israelense, NIV), uma
fundação que financia as principais organizações de defesa dos direitos
humanos israelenses, e sua presidente, a professora Naomi Chazan.
Segundo o Im Tirtzu, que recebeu o poderoso apoio do jornal popular Maariv,
o NIV financia as dezesseis organizações não governamentais (ONG) que
forneceram “92% das referências negativas” contidas na
relação do juiz sul-africano Richard Goldstone, o qual acusa Israel de
ter cometido “crimes de guerra” durante a guerra de Gaza entre
dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Conhecido por sua orientação de
extrema direita, o Im Tirtzu está próximo dos meios evangélicos
americanos.
Ele acaba de obter uma primeira vitória: Naomi Chazan, editora
respeitada do Jerusalem Post já há dez anos, recebeu
um e-mail anunciando-lhe que seu vínculo havia terminado. Mas o
confronto não acabou: na Knesset, o Parlamento israelense, vários
deputados comandam uma ofensiva brutal, qualificando as ONGs visadas de “traidoras”
pertencendo a uma “quinta colônia”.
Uma proposta de criação de comissão de inquérito parlamentar foi
apresentada, com o objetivo de desvelar as fontes de financiamento do
New Israel Fund. Ele, que foi criado em 1979, tem sua sede em
Washington. Recebe doações dos judeus americanos, e
direcionou após sua criação mais de 200 milhões de dólares a numerosas
organizações que partilham os ideais de democracia e de justiça social.
Entre elas temos B’Tselem, Breaking the Silence, a Associação pelos
Direitos Cívicos em Israel, o Comitê Público contra a Tortura, Médicos
pelos Direitos do Homem, Yesh Din, Adalah, Hamoked, etc., ou seja, as
principais organizações que defendem os direitos dos Palestinos, dão a
palavra aos soldados israelenses amordaçados pela censura militar e, de
uma maneira geral, conduzem o combate da liberdade de expressão.
Movimento de repressão
Em nome de treze dessas organizações, a B’Tselem escreveu ao
presidente Shimon Pérès, ao primeiro ministro, Benyamin Nétanyahou, e ao
porta-voz da Knesset, Reuven Rivlin, para denunciar uma “campanha
crescente e sistemática”. “Uma democracia não deve reduzir ao
silêncio as vozes críticas; defender os direitos do homem é vital”,
sublinha esse manifesto.
As organizações humanitárias israelenses temem que a campanha do Im
Tirtzu se insira em um movimento mais geral de repressão, como aquela
que atinge os militantes palestinos e israelenses que protestam contra a
“cerca de segurança” e as expulsões de famílias palestinas do bairro de
Cheikh Jarrah, na parte leste de Jerusalém.
Laurent Zecchini
Tradução de Liziane Mayer
Para acessar o original clique aqui
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