O que está em jogo em 2010 |
Editorial do Correio da Cidadania
Lulistas sinceros acreditam que o presidente está realizando um avanço
social maior do que o próprio Getulio Vargas. Os que divergem desse
ponto de vista não sabem "o que realmente está em jogo em 2010".
Portanto, o ponto a discutir com eles diz respeito a esta questão.
O fenômeno Lula tem um efeito social real, independentemente do êxito ou
do fracasso do seu governo.
O caso dele é semelhante ao de Obama. É o fato de um negro ocupar a Casa
Branca que tem um efeito não identificável diretamente, mas certamente
muito forte, na sociedade norte-americana. Os Estados Unidos não serão
os mesmos depois de Obama, independentemente do que vier a acontecer com
a sua administração: o povo negro percebeu que "pode".
A ascensão de um "pau de arara" à Presidência da República tem o mesmo
significado: o povo percebeu que pode chegar lá. Portanto, o Brasil
pós-Lula não será o mesmo. Mas o Brasil será esse?
Para quem se considera socialista esta não é a pergunta chave para
definir o que está realmente em jogo em 2010, e sim esta outra: ao
término do governo Lula, o Brasil estará mais próximo ou mais distante
da ruptura socialista?
Cientes de que a resposta só pode ser negativa, os lulistas levantam a
questão do futuro do Brasil mais em termos de ameaça aos que divergem da
sua posição do que de esperança de grandes avanços, porque estão
cansados de saber que, no pós-Lula, as políticas econômicas não serão
muito distintas das atuais, seja eleito qualquer dos candidatos do campo
da ordem estabelecida.
Fica valendo, portanto, apenas a ameaça: se a esquerda assumir uma
postura divisionista, os tucanos vencerão e anularão todas as conquistas
proletárias.
Ora, todos sabemos que, na medida em que o campo da ordem – hoje
preponderante – for se tornando hegemônico, as conquistas da classe
operária em épocas passadas irão sendo anuladas uma a uma. Não por outra
razão, aliás, a campanha de 2010 está sendo diligentemente montada para
atingir dois objetivos: incutir na mente do eleitorado que as coisas
estão melhorando e que não há qualquer alternativa ao sistema
capitalista.
Se a direita lograr atingir esses dois objetivos, a hegemonia neoliberal
estará totalmente consolidada. O próprio povo passará a entender que,
para poder melhorar de vida, os capitalistas têm que ser atendidos em
todas as suas reivindicações. Claro que isto não significará o fim do
socialismo porque o socialismo existirá enquanto um homem explorar
outro. Mas adiará seu retorno à agenda política do país e isto
representará milhões de pessoas esmagadas pela truculência do sistema.
Portanto, o que está em jogo em 2010 é a possibilidade (longínqua, mas
real) de desarmar essa armadilha por meio de uma denúncia e de uma
proposta alternativa que consigam sensibilizar uma parcela significativa
do eleitorado.
Não façamos ilusões quanto ao tamanho dessa parcela. Não será grande.
Porém, se criar uma base para expansão da proposta socialista, já
representará um avanço político.
Na verdade, trata-se de uma tarefa quase impossível, dada a brutal
desproporção entre os recursos dos candidatos do campo da ordem e os
candidatos socialistas. Contudo, é a única saída autêntica para quem,
perfeitamente a par da extrema debilidade da esquerda, vê na campanha
eleitoral uma oportunidade mínima, porém valiosa, de lançar sementes
para combater a consolidação da hegemonia burguesa.
Não venham, pois, os lulistas com cobranças históricas antecipadas. O
que a história responsabilizará, isto sim, serão aqueles que não
souberam ler corretamente a conjuntura.
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