Livro conta histórias de vida e aborda problemas e
necessidades de transexuais e travestis (Foto: Osmar Bustos/Reprodução)
São Paulo - Os recentes casos de violência por suposta motivação
homofóbica, como os que envolveram jovens na avenida Paulista, em São
Paulo, em novembro passado, não são novidade na vida de travestis e
transexuais, afirma o pesquisador e jornalista, Aureliano Biancarelli.
Autor do livro "A Diversidade Revelada", que narra o dia a dia de
transexuais e travestis, ele relata que a violência contra essas pessoas
começa cedo, já na infância, e no interior da própria família e se
repete na escola e ao longo de toda a vida.
"A violência é uma constância na vida delas. Começa com uma violência
que é menos visível, mas mais danosa para a pessoa que é a violência
dentro de casa", pontua. Nem sempre travestis e transexuais sofrem
violencia física, mas em geral passam pela exclusão familiar. "Ou você
se enquadra no sexo que nasceu ou vai ser expulso de casa", acentua
Biancarelli.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, o jornalista explicou que a violência doméstica, física ou psicológica, acaba levando transexuais e travestis às ruas e à marginalidade. "Se vai para rua e é um travesti, um homossexual que quer viver como travesti, vai acabar caindo na marginalidade. A única coisa que vai encontrar no mercado de trabalho é a prostituição ou, raramente, vai encontrar trabalho como cabeleireiro", analisa.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, o jornalista explicou que a violência doméstica, física ou psicológica, acaba levando transexuais e travestis às ruas e à marginalidade. "Se vai para rua e é um travesti, um homossexual que quer viver como travesti, vai acabar caindo na marginalidade. A única coisa que vai encontrar no mercado de trabalho é a prostituição ou, raramente, vai encontrar trabalho como cabeleireiro", analisa.
De acordo com definições médicas citadas pelo antropólogo e pesquisador Bruno Cesar Barbosa em entrevista à Agência USP de Notícias,
uma ou
um travesti seria aquele que se comporta e se veste como o outro gênero,
mas não quer a cirurgia para mudar seu órgão sexual. Já os/as
transexuais, sentem a necessidade de fazer a cirurgia, pois se sentem do
outro gênero desde o nascimento.
As transexuais consideram que nasceram com o corpo errado. A mente age
como se fosse de um sexo e o corpo é de outro, por isso desejam fazer a
operação que recolocaria o corpo no lugar que deveria estar, diz
Biancarelli.
As mulheres trans nasceram com corpo de homem e se sentem mulheres.
Os homens trans conservam os órgãos femininos, mas pensam e agem como homens.
Segundo o pesquisador, uma ínfima porcentagem de famílias compreendem
e aceitam familiares transexuais ou travestis. Motivo que leva muitas
pessoas a viverem escondidas ou se relacionarem apenas dentro do mesmo
grupo.
Como exemplo do medo que ronda a vida dessa população, Biancarelli
cita a história de um homem trans, com corpo feminino, que perto de se
casar, prefere esconder da família da noiva sua condição de transexual.
Ou a história do professor de inglês, homem trans, que tem uma vida em
comum com uma professora da mesma área, mas vive sempre no "limiar do
risco", com receio de que colegas e familiares descubram a
transexualidade.
A rejeição social também impacta no estilo de vida de trans e
travestis."Eles têm medo do dia. Têm uma vida na escuridão", comenta.
"Quando escurece, aí se travestem, se enfeitam, mas durante o dia saem o
mínimo possível de casa. Elas não têm coragem de tomar Metrô, ou
ônibus, por exemplo", acrescenta em relação às travestis.
Discriminação
Biancarelli detectou que transexuais e travestis sofrem preconceito e
humilhação em ações simples do dia a dia, como ir ao banheiro ou
procurar um médico.
"Homem e mulher trans, como se vestem de mulher, utilizam banheiros femininos e todas elas relatam violência nessas situações porque mulheres reclamam se descobrem ou sabem. Da mesma forma não seriam aceitas com roupa de mulher em banheiro de homem", alega Biancarelli. Há casos de profissionais demitidos ou que tiveram de se submeter a usar "o banheiro dos fundos" para permanecer na empresa, informa o jornalista.
Ir ao médico é outra questão complicada para essa população. Primeiro, a transexual ou travesti é chamada pelo nome de homem, mas quem levanta e vai ao encontro do médico ou da enfermeira é uma mulher. Depois, os trans homens não têm ginecologista para atendê-los. "Não tem como ir a um ginecologista vestida de homem", argumenta o jornalista. Da mesma forma, é difícil para uma trans mulher ir ao proctologista. "Como iam procurar hormônio?", indaga o pesquisador.
"Homem e mulher trans, como se vestem de mulher, utilizam banheiros femininos e todas elas relatam violência nessas situações porque mulheres reclamam se descobrem ou sabem. Da mesma forma não seriam aceitas com roupa de mulher em banheiro de homem", alega Biancarelli. Há casos de profissionais demitidos ou que tiveram de se submeter a usar "o banheiro dos fundos" para permanecer na empresa, informa o jornalista.
Ir ao médico é outra questão complicada para essa população. Primeiro, a transexual ou travesti é chamada pelo nome de homem, mas quem levanta e vai ao encontro do médico ou da enfermeira é uma mulher. Depois, os trans homens não têm ginecologista para atendê-los. "Não tem como ir a um ginecologista vestida de homem", argumenta o jornalista. Da mesma forma, é difícil para uma trans mulher ir ao proctologista. "Como iam procurar hormônio?", indaga o pesquisador.
Saúde
Segundo o jornalista, travestis e transexuais têm a saúde muito
precária. Entrevistas realizadas com a população mais jovem aponta que
apesar de não procurarem cuidados médicos há vários anos, em geral ainda
não manifestaram problemas. Entretanto, a faixa etária mais velha
sofre com graves problemas de saúde.
"Já esperava ouvir relatos de humilhações e maus-tratos sofridos pela
população LGBT... Só não esperava que o amor e o companheirismo
sobrevivessem com tanta força entre esses personagens", diz Biancarelli.
Da população que procura o centro de acolhimento do Centro de
Referência da Diversidade (CRD) na rua Major Sertório, centro da
capital paulista, quase metade estava infectada e outra metade nunca
havia feito exames, por isso não sabe seu estado de saúde real.
Biancarelli diz que as travestis acabam bebendo muito e usando drogas diariamente para aguentar a precariedade em que vivem. "Na noite você as vê cheirando cocaína, às 21 horas. Uma das coisas que o hotel ou boate condiciona é que ela incentive o cliente a beber e o cliente quer que ela beba também", conta.
Também é frequente que clientes queiram que a prostituta use drogas com ele. "Eles estão usando crack, então elas acabam caindo no crack rapidamente", elucida. "Elas precisam de mais serviços de saúde", afirma o jornalista.
Biancarelli diz que as travestis acabam bebendo muito e usando drogas diariamente para aguentar a precariedade em que vivem. "Na noite você as vê cheirando cocaína, às 21 horas. Uma das coisas que o hotel ou boate condiciona é que ela incentive o cliente a beber e o cliente quer que ela beba também", conta.
Também é frequente que clientes queiram que a prostituta use drogas com ele. "Eles estão usando crack, então elas acabam caindo no crack rapidamente", elucida. "Elas precisam de mais serviços de saúde", afirma o jornalista.
Amor
Ao acompanhar o dia a dia do Centro de Referência da Diversidade, o
pesquisador diz que se surpreendeu com as inúmeras histórias de amor
vividas por transexuais e travestis. A maioria das mulheres e homens
transexuais sonha com casamento, família e quer a mudança de sexo.
"Elas querem uma vida mais regrada, recolhida", esclarece. "Vi vários
casos de trans casadas, estabelecidas. Impressionou o número de trans
que tinham relacionamentos", enfoca. O jornalista também encontrou
muitas travestis casadas ou namorando transexuais, michês, cafetões.
"Já esperava ouvir relatos de humilhações e maus-tratos sofridos pela
população LGBT... Só não esperava que o amor e o companheirismo
sobrevivessem com tanta força entre esses personagens. No Centro de
Referência da Diversidade é comum ver casais de mãos dadas, ela
travesti, ele heterossexual, os dois morando na rua. Em todos os
relatos, em meio a histórias de maus-tratos, abandono e discriminação,
há sempre uma história de amor", revela em trecho do livro "A
Diversidade Revelada".
Na publicação, Biancarelli acentua que "respeito e os cuidados
psicológicos e médicos a essa população dependem de um amadurecimento da
sociedade. Vai do conhecimento e da atenção médica, que inclui
cirurgias complexas e reordenações do serviço público, aos avanços em
termos da legislação e até mesmo às interpretações do Judiciário",
sublinha.
Serviço:
Em São Paulo, funciona desde 2009 o primeiro ambulatório de saúde exclusivo a travestis
e transexuais, junto ao Núcleo de DST do CRT/Aids. O local conta com
atendimento especializado em urologia, proctologia e endocrinologia
(terapia hormonal), avaliação e encaminhamento para implante de próteses
de silicone e cirurgia para redesignação sexual. De segunda a sexta,
das 14h às 20h. Rua Santa Cruz, nº 81, na Vila Mariana, São Paulo.
Também na capital paulista funciona o Centro de Referência da Diversidade (CRD), administrado pelo Grupo pela Vidda/SP, em parceria com a prefeitura. O CRD oferece assistência, capacitação, geração de renda, convivência e cultura para profissionais do sexo, gays, lésbicas, travestis, transexuais e pessoas que vivem com HIV e aids em situação de vulnerabilidade e risco social. Fica na rua Major Sertório, 292/294, República. Telefone: 3151-5786. E-mail: crdiversidade@uol.com.br
Também na capital paulista funciona o Centro de Referência da Diversidade (CRD), administrado pelo Grupo pela Vidda/SP, em parceria com a prefeitura. O CRD oferece assistência, capacitação, geração de renda, convivência e cultura para profissionais do sexo, gays, lésbicas, travestis, transexuais e pessoas que vivem com HIV e aids em situação de vulnerabilidade e risco social. Fica na rua Major Sertório, 292/294, República. Telefone: 3151-5786. E-mail: crdiversidade@uol.com.br
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