Dacar começa a compartilhar os primeiros
espaços, atividades e expressões da sua cultura com visitantes que
chegam para ajudar a construir o FSM.
Fotos: Antonio Pacor
Quem vier ao Fórum Social Mundial, com vontade de compartilhar
idéias, experiências e propostas para um outro mundo possível, e tiver
acolhida em alguma casa senegalesa, aprenderá também a compartilhar um
cebu djen.
Ao meio dia de cada dia, famílias se reúnem em torno desse prato
coletivo e popular, que consiste no preparo de um peixe com ervas, em
cuja água de cozimento são imersos diferentes legumes, gerando o caldo a
ser utilizado para o preparo do arroz. Tudo servido assim, com muitas
colheres que avançam sobre os bocados do cebu dijen
Dacar começa a compartilhar as primeiras casas com visitantes que
chegam para ajudar a construir o FSM. A casa de Lia, italiana que vive
no Senegal a maior parte do ano, ensinando costura e estilismo em uma
escola local, é uma delas. Procurada por outro italiano, o videomaker
Paco, que facilita coberturas de video do Forum, assegurou estadia para
vários colaboradores da comunicação.
E foi assim que cheguei a Dacar, conhecendo Lia e seus alunos, que
pensam em ir ao Fórum em busca de contatos de economia solidária, e com
quem conheci Abi, a senegalesa da foto que motivou a reunião de todas
essas pessoas em torno do prato mais apreciado do Senegal, preparado por
ela para nos dar as boas vindas.
Enquanto almoçamos, são naturais algumas notícias sobre o FSM, como o
informe de que Via Campesina trabalhará o tema da violência contra as
mulheres no campo, ou a confirmação da Assembleia que debaterá
perspectivas da comunicação. Reunirá gente da Africa, América Latina,
Europa, e quiça da Asia e Oriente Médio. O programa com todas as
atividades será impresso no domingo.
É o segundo dia que eu e Paco passamos na cidade que acolherá o Fórum
e já é possível sentir a ansiedade das pessoas encarregadas de
organizar as bases do evento, com aquele sentimento de toda véspera de
uma edição mundial, de que "tudo ainda está por fazer".
Nosso olhar esteve especialmente voltado para a comunicação,
procurando as conexões potenciais entre as redes que compartilham
informação sobre os temas do FSM e o trabalho local de cobertura e
propagação do evento. Na Enda, organização de referência do FSM em
Dacar, a equipe do escritório do FSM no Brasil já está ha mais dias e
trabalha na organização de informações, na distribuição de atividades
por eixos do FSM. No Centre Bopp, onde a comunicação se organiza, se
formam e desfazem pequenas rodas multilingues de pessoas que chegam para
ajudar.
Predominam no espaço os colaboradores locais do FSM e há uma certa
ansiedade em relação à infraestrutura. Voluntários falam dos intervalos
que algumas áreas da cidade enfrentam sem energia elétrica. Com os
preços elevados do petróleo e gás, que estão na base do abastecimento
local, o Senegal sofre. O problema afetará o FSM? Pessoas da organização
acreditam que não, porque as instalações da universidade dispôem de
geradores em caso de emergência.
A banda para internet é outra preocupação, que aliás se repete em
todos os eventos centralizados do FSM. Para assegurar um bom fluxo de
informações e pacotes audiovisuais do FSM para fora, é preciso garantir
um mínimo de conexão e isso deve ser assegurado pela organização local
junto à Universidade.
As coisas caminham, sob pressão e urgência, impulsionadas por lutas
inadiáveis por outro mundo possível. As conversas sobre credenciamento e
programa no Centre Bopp se misturam com outras, sobre gente que se
levanta no mundo, e particularmente na Africa, como os jovens da
Tunisia, com sua revolução Jasmin, a resistencia sarawi, ou a revolta da
Costa do Marfim. Também se fala de uma Diáspora africana que terá no
FSM uma oportunidade de voltar para casa. Um dia inteiro do FSM será
dedicado à Diápora.
Os jovens de Dakar sentem o peso da responsabilidade e se expressam
especialmente pela participação em atividades culturais - grande parte
delas terá lugar naquele mesmo Centre Bopp, segundo participantes da
Comissão de Cultura.
Neste sábado, haverá um concerto na capital senegalesa. Estarão no
palco músicos de várias áreas da cidade para lançar um cd que gravaram
em conjunto. A obra foi feita especialmente para acolher o FSM. Mil
cópias serão vendidas durante o fórum.
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