Entrevista
Secretário de Educação ao Jornal do Comércio
08.02.11
Nos próximos quatro anos, a Secretaria de Educação
do Estado (SEC) terá à
sua frente um professor. José Clóvis Azevedo acredita
que a educação no Rio Grande do Sul deve se aproximar
cada vez mais do Ministério da Educação (MEC),
para potencializar seus projetos. Até o final do primeiro semestre
de 2012, todas as salas de aula de lata serão extintas, melhorando
a estrutura física da rede escolar. A aproximação
com o Cpers também é uma meta da atual gestão.
Azevedo acredita que o protagonismo dos educadores auxiliará
a pasta na formatação de políticas de educação
mais eficazes.
Jornal do Comércio - Quais são os principais desafios
para a sua pasta nos próximos anos?
José Clóvis Azevedo - São muitos. Na realidade
cada frente na secretaria é um grande desafio. Mas podemos apontar
como os principais a recuperação física das escolas,
a regularização funcional e a melhoria salarial dos professores.
Estes são os maiores porque exigem grandes investimentos e não
podem ser feitos de uma só vez. É preciso um tempo e um
processo gradual para que sejam cumpridos.
JC - Qual é o papel da SEC na implantação do turno
integral nas escolas?
Azevedo - Nós ainda não conversamos com o MEC sobre a
formatação deste projeto, mas queremos participar. Pretendemos
formar uma parceria com o ministério no sentido de viabilizar
algumas experiências-piloto localizadas, de articulação
entre o Ensino Médio (EM) de formação geral e o
Ensino Técnico Profissional. É de nosso interesse e é
uma proposta correta, pois dialoga com os objetivos da maioria da qualidade
do EM. Pode ser uma saída para a motivação da juventude
e nós queremos avançar neste projeto.
JC - O senhor acredita que a sintonia do governo do Estado com o federal
facilita o trabalho nas duas esferas?
Azevedo - Sem dúvida facilita. O ministério possui muitos
projetos que ainda não foram potencializados aqui no Estado.
Tivemos nos últimos anos uma subutilização dos
recursos colocados à disposição pelo governo federal
para a educação no Rio Grande do Sul. Devemos fazer o
contrário, vamos superpotencializar esses recursos. Juntamente
com o MEC, definiremos as melhores formas que nos habilitem a tomar
esses recursos.
JC - Historicamente a SEC sempre travou quedas de braço com
a representação dos professores. Já houve alguma
aproximação com o Cpers?
Azevedo - Não houve nenhuma tratativa ainda, pois estamos há
pouco tempo no cargo. O que importa é a disposição
em concretizar o diálogo permanente e a discussão das
questões educacionais. Não só as questões
imediatas e coorporativas, mas também as políticas de
educação. Queremos ouvir o Cpers e a contribuição
do sindicato, a fim de trabalhar com o protagonismo de cada professor
e professora, e isto passa pela relação institucional.
Passa também pela relação com a sua entidade de
classe, pela qual nós temos o maior respeito.
JC - O senhor falou desta aproximação do professor e
da valorização da categoria. O Estado tem algum projeto
de cursos de aperfeiçoamento para a classe?
Azevedo - Já estamos discutindo aqui na secretaria um pré-projeto
de formação permanente dos professores que queremos desenvolver
em todo o Rio Grande do Sul. Mas, antes de transformar em um projeto
definitivo, vamos discutir com os nossos principais parceiros que são
as universidades. Formaremos uma parceria com todas estas instituições
para ajustar a nossa proposta com as necessidades e interesses das universidades,
e a partir daí buscar a parceria do MEC para suprir com recursos
através do financiamento e também na parte de conteúdo
destes programas.
JC - Qual é a meta de recuperação da estrutura
das escolas? Quais os projetos?
Azevedo - Temos algumas emergências, em torno de 30, mas ainda
estamos realizando um diagnóstico de toda a rede. Vamos levar
uns 60 dias para formatar um relatório mais preciso. A partir
destes dados, montaremos um plano de recuperação física
da rede para o período de quatro anos. A cada ano, realizaremos
uma etapa significativa deste projeto. E, ao mesmo tempo em que recuperarmos
cada espaço físico, queremos modernizar tecnologicamente
as unidades. É um processo de investimento pesado, mas que faremos
de forma gradativa, porém firme.
JC - Qual é o valor destinado à Educação
para o orçamento deste ano?
Azevedo - Em números redondos são R$ 4,6 bilhões. Deste total, R$ 4,2 bilhões já estão comprometidos com a folha de pagamento, restando apenas R$ 400 milhões para investimento e custeio.
Azevedo - Em números redondos são R$ 4,6 bilhões. Deste total, R$ 4,2 bilhões já estão comprometidos com a folha de pagamento, restando apenas R$ 400 milhões para investimento e custeio.
JC - Há um prazo para acabar com as escolas de lata?
Azevedo - Três delas serão desativadas até março.
E as quatro restantes, durante o primeiro semestre do ano que vem. As
obras já estão em andamento e até junho de 2012
serão extintas todas as salas de aula de lata.
JC - Algum trabalho específico em parceria com a prefeitura de Porto Alegre?
Azevedo - Já tive uma reunião com a prefeitura, onde
tratamos do fim da permuta de pessoal e de projetos como o ProJovem.
Conversamos também sobre o transporte dos alunos que a prefeitura
da Capital já faz com o Ensino Fundamental. Vamos fazer um projeto-piloto
no Ensino Médio para transportar alunos da periferia para escolas
localizadas no Centro. Faremos juntamente com a prefeitura porque eles
já possuem todos os critérios do processo que passa por
convênios com as empresas de ônibus.
JC - Tem alguma região do Estado que requer um olhar mais cuidadoso?
Azevedo - A Região Metropolitana, com certeza. Não que
as outras regiões não mereçam cuidados ou que não
tenham questões graves a serem resolvidas em diversas áreas.
Mas é na Região Metropolitana que a situação
se agrava mais em termos da rede escolar, de equipamentos, de material
didático e de bibliotecas. Precisamos ter uma intervenção
muito grande nesta área.
JC - Existe algum projeto para construção de novas escolas?
Azevedo - Não. O nosso problema não está em expandir
a rede. Temos hoje uma situação nova no Brasil. Está
havendo uma diminuição do público jovem e um envelhecimento
da população. Portanto, temos uma diminuição
da demanda dos ensinos Fundamental e Médio, embora o EM ainda
não tenha sido universalizado. Temos que universalizar a Educação
Infantil, que é de responsabilidade das prefeituras, o EM e o
Ensino Superior são de responsabilidade do MEC. Nosso problema
não está na expansão e sim na qualidade. Investir
em equipamentos, professores, bibliotecas e informatização.
JC - O Estado possui defasagem no número de professores em alguma
área?
Azevedo - O Estado tem alguns problemas específicos, que é
a falta de professores formados ou interessados nas áreas de
Química, Física e Matemática. É um problema
antigo, a que queremos dar um tratamento especial neste projeto de formação.
Em um quadro geral, não temos falta de professores. O nosso problema
é o grande número de educadores contratados. Aquilo que
era emergencial virou prática constante. Precisamos fazer concurso
público.
JC - Qual é o problema da contratação?
Azevedo - Primeiro que é uma relação de trabalho
precarizada. É um contrato que se extingue e todo final de ano
tem de ser renovado. O professor ganha pelo número de aulas dadas,
dessa forma ele não tem tempo para reuniões, não
consegue se integrar com a comunidade. O nosso objetivo é gradativamente
substituir a relação de contrato pela relação
de nomeados e efetivos, com carga horária prevista pela lei.
JC - Qual é o foco central neste primeiro momento?
Azevedo - O nosso principal objetivo é fazer com que o ano letivo
se inicie com tranquilidade. Sem faltas ocasionais de professores, com
acomodações para os alunos e com o fornecimento de todo
o material necessário.
JC - Ao assumir a secretaria, o senhor recebeu relatórios da
antiga gestão. Teve algum ponto mais deficitário ou alguma
área que não tenha recebido a devida atenção?
Azevedo - Eu acho que seria muito difícil ou, quem sabe, cômodo
fazer uma crítica ao governo passado. Mas, talvez, o que a gente
possa apontar como uma questão mais séria seja a não
potencialização da relação com o governo
federal e a não utilização plena dos recursos disponibilizados
pelo MEC.
JC - Por outro lado, houve algum projeto do governo anterior que terá
continuidade na sua gestão?
Azevedo - O processo de informatização das escolas e
a modernização da alimentação dos dados
via internet, em uma rede integrada para todo o Estado, deverá
ser continuado e ampliado. Nós temos um novo projeto, fomos eleitos
para isso, mas temos que ter um espírito republicano de não
zerar todos os processos que estão em andamento. Temos que aproveitar
tudo de bom que o antigo governo fez e corrigir aquilo que não
tenha sido benfeito ou potencializado. Na área da tecnologia
houve avanços positivos, mas a área de formação
de professores deixou muito a desejar.
fonte: Jornal
do Comércio 08.02.11
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