O Fórum Social Mundial 2011 começa dia 6 de fevereiro em Dakar,
Senegal. O encontro ganhou uma nova agenda com a onda de protestos
populares que já atingiu a Tunísia, o Egito, o Iêmen e a Jordânia. O
mais significativo de todos, sem dúvida, é o Egito, em função do que o
país representa em termos geopolíticos no Oriente Médio. Egito e Arábia
Saudita são dois pilares centrais da aliança EUA-Israel na região. Uma
mudança de regime político em um desses dois países pode significar um
terremoto político. Washington, Tel Aviv e alguns outros governos árabes
sabem disso, obviamente, e estão com as barbas de molho. Na noite desta
terça, o presidente dos EUA, Barack Obama, cobrava de seu até aqui
aliado egípcio, Hosni Mubarack, o “início imediato da transição”
política no país. Vão-se os anéis para assegurar a permanência dos
dedos. A velha história. E os EUA temem o pior. Olham para o Egito, a
Árabia Saudita, a Jordânia e a Palestina com indisfarçável pânico.
Quem ouve a voz dos milhões de egípcios que perderam o medo da
repressão e foram para as ruas sabe que o pior é a manutenção do atual
regime, financiado e armado pelos Estados Unidos há décadas. Enérgico na
denúncia e na cobrança por democracia quando se trata de países como o
Irã – ou na “implantação da democracia” a ferro e fogo, no caso do
Iraque -, os EUA silenciam quando se trata das suas ditaduras amigas no
Oriente Médio, especialmente no caso do Egito e da Arábia Saudita. Ou
silenciavam, ao menos, já que agora foram obrigados a se manifestar.
Desta vez, os malabarismos linguísticos e semânticos não conseguem
esconder a natureza do problema. E a natureza do problema no Egito não
reside no fundamentalismo islâmico ou nas aspirações sociais e políticas
da Irmandade Muçulmana. O problema reside em um regime autoritário e
corrupto, apoiado e sustentado pelos EUA, que governa para um pequeno
grupo, deixando milhões de pessoas vivendo na pobreza (cerca de 20% da
população vive abaixo da linha da pobreza).
A aplicação da consigna do FSM aos problemas dessa região coloca a
seguinte questão: “Outro Oriente Médio é possível?”. O que está
acontecendo no Egito mostra que o castelo das autocracias apoiadas e
sustentadas pelos EUA é menos sólido do que parecia. Milhões de jovens,
homens e mulheres, estão nas ruas dizendo que é possível, sim. E
necessário. Basta que os líderes ocidentais supostamente defensores da
democracia deixem de financiar aqueles que não querem que os povos
destes países escolham o seu destino. Deixem a democracia entrar no
Oriente Médio. Não é essa a promessa universal do Ocidente? E seja o que
Deus quiser. Ou o que Alá quiser!
O povo egípcio não está rua por questões religiosas. Está na rua
porque, entre outras coisas, decidiu cobrar as promessas civilizatórias
do Ocidente: democracia, liberdade, prosperidade, justiça social. As
consequências desses protestos são incertas. Neste exato momento, a
turma dos anéis está em campo para tentar salvar os dedos do modelo
atual. Mas uma coisa parece definitiva: o povo egípcio perdeu o medo e
decidiu mudar os rumos do país. Essa é uma força muito difícil de ser
detida e costuma ter um impacto profundo na vida das nações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário